Uma grande concentração de urânio (material radioativo)
podendo chegar a oito vezes acima do normal, foi encontrada na
água extraída de poços que abasteciam o distrito de Trapiá,
em Santa Quitéria, no Ceará. Trata-se de resultados de testes encomendados pelo
Governo do Estado que indicaram os dados, que geraram bastante surpresa. A
reportagem assinada por Thiago Rodrigues, foi publicada em primeira mão pelo
jornal A VOZ, do Ceará, na segunda-feira (14/10). As informações foram
apresentadas na ocasião em uma audiência pública na comunidade, que reuniu a
Secretaria de Saúde municipal e estadual, Defesa Civil entre outras
instituições.
Os dados não estão completos; é necessário saber desde quando há
essa contaminação, de onde veio, se há ligação com o material da jazida de Itataia
(distante 90km em linha reta) e qual potencial danoso. A medição indicou que o
grau encontrado em algumas amostras pode chegar de sete a oito vezes acima do
parâmetro normal. Como medida de emergência, todos os poços foram interditados.
O pedido feito pelas autoridades é que a população consuma apenas da adutora,
que deve começar a funcionar a partir desta semana ou de outras fontes
legalizadas. Até lá, Trapiá segue sendo abastecido com caminhões-pipa de água
potável da Companhia local. “Paralelo a isso, um trabalho de investigação mais
minucioso será feito nos próximos dias. Uma equipe do Ministério da Saúde, em
parceria com a Sesa, será enviada ao distrito, onde submeterá a mais análises e
exames nos moradores, para verificar se houve contaminação com o material.
Observando a série histórica de anos anteriores, a Secretaria de Saúde não
identificou casos de câncer ou alguma anormalidade de doenças na região, que
levantasse suspeita”.
VISTORIA FAZ UM ANO -
A preocupação com a mina de urânio,
localizada em Santa Quitéria, com área de influência direta em Itatira, Catunda
e Boa Viagem, municípios localizados no Sertão Central cearense, reuniu no dia
20 de setembro de 2023 representantes da Fiocruz Ceará, por meio da Coordenação
de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (CAAPS), da área de Saúde e Ambiente e
do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM). Os relatos sobre
doenças como câncer e outras questões relacionadas à saúde chamaram a atenção
pela gravidade. O BLOG também encontrou vídeos nas redes sociais respaldando a
preocupação dos envolvidos na questão.
Com 10 anos de atuação, o movimento
nacional surgiu no Pará em luta contra a Vale e hoje atua em 14 estados
brasileiros, incluindo o Ceará. O grupo não se coloca contrário à mineração,
mas busca que a prática esteja a serviço da população, com respeito ao meio
ambiente. A Mina pertence a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB).
Considerada a quarta maior mina de urânio do mundo, a de Santa Quitéria esteve
embargada pelo Ibama por comprometer questões como a saúde e a água, segundo os
participantes da reunião. Na reunião realizada no ano passado, foram
apresentadas duas grandes demandas para a Fiocruz: a preocupação com a água e
com a saúde.
Para ter ideia, segundo os dados apresentados pelo grupo, um
terço do território do estado do Ceará está envolvido em processos minerários e
isso representa uma extensão muito considerável de terras para a exploração,
por exemplo, do cobre”, avaliava Fernando Carneiro, pesquisador da Fiocruz
Ceará. Outra preocupação da comunidade relatada pelos representantes do
MAM é a percepção no aumento significativo de diversos tipos de cânceres na
região, principalmente no raio próximo à mina, maior que em outras regiões do
Ceará.
Já há uma preocupação se, nas condições ambientais atuais, com a
radiação natural, se já há efeitos na saúde, além do temor com que a possível
exploração da mina viria a prejudicar mais ainda essa população”, informava
Vanira Pessoa, coordenadora da CAAPS. Além do câncer, eles falaram muito do
medo das malformações fetais e da incidência de casos de abortos espontâneos e
partos prematuros que também percebem na população local”, acrescenta. Dentre
as solicitações para parceria entre a Fiocruz Ceará e o MAM, o desenvolvimento
de um estudo epidemiológico de base na população de área de influência da mina
para avaliar impactos futuros na saúde, em caso de reativação. Além deste
estudo, também sugeriu a formação para o SUS no território, tanto para agentes
comunitários e populares quanto para profissionais da Estratégia Saúde da
Família, buscando identificar esses impactos na saúde com o avanço da
mineração.
FOTO/FONTE: MATÉRIA DE ABERTURA JORNAL A VOZ – REPORTAGEM DE THIAGO
RODRIGUES –
SEGUNDA FONTE, EM 20/09/2023 - FIOCRUZ CEARÁ – MINA/ INB – JORNAIS
LOCAIS –
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