segunda-feira, 13 de maio de 2024

Angra 1: fuga de vapor em equipamento provoca o desligamento da usina

 


Uma fuga de vapor em um trocador de calor do circuito de água de alimentação principal de Angra 1 provocou o desligamento da usina nuclear às 15h04 desta segunda-feira (13/5). O vazamento ocorreu em um dos trocadores de calor que reaproveitam o vapor d'água que já passou pela turbina geradora e servem para melhorar o desempenho da geração de energia elétrica. 

Segundo a Eletronuclear, trata-se de um equipamento do sistema secundário sem ligação com o reator da usina. 

Técnicos da companhia “estão trabalhando no reparo do equipamento e inspecionando o outro equipamento que trabalha em conjunto com o danificado”. E mais: “Os trabalhos incluem também a pesquisa da causa raiz do problema”. 

A Eletronuclear garante que Angra 1 pode retornar a operar normalmente, com total segurança, com apenas um destes trocadores de calor. “Este equipamento serve para otimizar a eficiência da produção de energia. Com eles, a companhia consegue um ganho de mais 4% na produção de energia elétrica”, informou a companhia. 

Os equipamentos integram a parte convencional de Angra 1, e o “incidente não representa nenhum risco para a segurança nuclear”. Informou ainda que “não houve qualquer risco ao meio ambiente, aos trabalhadores e à população”. 

FOTO: ANGRA 1 – ELETRONUCLEAR - 

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sábado, 11 de maio de 2024

Angra 1: "Missão Salto" da AIEA desembarca na central nuclear para avaliar segurança e envelhecimento da usina

 


A “Missão Salto”, da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com sede em Viena, na Áustria, desembarca na Central Nuclear de Angra dos Reis, na primeira semana de junho, para avaliar se a usina Angra 1, comprada da norte-americana Westinghouse na década de 70 e inaugurada em 1985, tem condições técnicas e seguras de superar o seu envelhecimento e durar mais duas décadas. Em projetos de melhorias de segurança e modernização de sistemas e equipamentos da usina de 2024 até 2028, os investimentos previstos giram em torno de R$ 3 bilhões.

Muito mais será preciso. A Eletronuclear está negociando um empréstimo-ponte (mútuo) de cerca de R$ 800 milhões, em condições de mercado com os seus principais acionistas (ENBPar e Eletrobras) para financiar os investimentos já realizados em 2024 e aqueles ainda previstos no ano em curso. Trata-se de solução a curto prazo, enquanto a companhia negocia o financiamento efetivo com o banco norte-americano Eximbank dos aportes necessários até 2028 para finalizar a modernização da usina. 

 

A licença de operação de Angra 1 termina no dia 23 de dezembro. O processo de obtenção da renovação da Licença de Operação (LO) de Angra 1, foi solicitada à Comissão de Energia Nuclear (CNEN, oficialmente em 2019. Em 2023, a Eletronuclear submeteu 16 relatórios à CNEN, contendo, entre outras coisas, avaliações aos fatores de segurança definidos pela AIEA. Segundo a Eletronyclear, a partir das avaliações, a CNEN emitiu 166 exigências, que foram analisadas e respondidas pela equipe técnica da companhia, com suporte da empresa Amazul em abril deste ano.

Com base nesse processo, foi realizada a revisão da terceira e última Reavaliação Periódica de Segurança (RPS) antes do fim da vigência atual da usina - 23 de dezembro de 2024. “O documento foi apresentado inicialmente à CNEN em dezembro de 2023”, informou a Eletronuclear. “Trata-se da documentação produzida pela empresa a cada dez anos para assegurar que a usina continue operando com segurança e confiabilidade. Dessa vez, o material obteve foco no processo chamado de Long Term Operation (LTO) - em português Operação de Longo Prazo”.

Entre os itens analisados neste documento, estão o desempenho de segurança, planejamento de emergência e impacto radiológico no meio ambiente, sistema de gerenciamento e cultura de segurança, qualificação de equipamentos e o uso da experiência de outras usinas.

Além deste método de avaliação, a Eletronuclear também utiliza o processo americano chamado de License Renewal Aplication (LRA), administrado pela Nuclear Regulatory Commission (NRC) para demonstrar a capacidade de Angra 1 em operar por mais duas décadas.

Duas revisões já foram feitas, e uma terceira está em andamento.

“O processo de negociação com o órgão deve se estender até o final deste ano para finalizar essas etapas. Mas a empresa está preparada e segue tendo diálogo constante com a Cnen. Estamos conseguindo demonstrar que Angra 1 poderá continuar operando com eficiência e segurança”, aponta José Augusto do Amaral, superintendente de Engenharia de Apoio à Operação e responsável pela LTO.

 

A Missão Salto estará na centra nuclear de 4 a 13 de junho. A “Salto” precedida de três missões anteriores preparatórias: a primeira em 2013, a segunda em 2018 e a terceira em 2022.

 

Entre as medidas para esticar a vida de angra 1 por mais duas décadas, constam: a troca dos geradores de vapor, aplicação de sobrecamada de solda - conhecida como weld overlay - nos bocais do pressurizador, troca da tampa do vaso de pressão do reator e substituição dos transformadores principais. Também foram implementados alguns programas, como o gerenciamento do envelhecimento, gerenciamento da obsolescência, além de inspeções e manutenção de sistemas, estruturas e componentes da usina. 

 

Angra 1 opera com um reator de água pressurizada (PWR), com 640 megawatts de potência, o equivalente a 10% da energia elétrica consumida pela cidade do Rio d e janeiro.  Angra 1 já foi desligada mais de 40 vezes por problemas diversos como ações judiciais, defeitos em equipamentos, entre outros.

Segundo a Eletronuclear, em 2023, Angra 1 gerou 4,78 milhões de MWh. O fator de carga (Load Factor) - que representa a energia elétrica líquida realmente entregue ao Sistema Interligado Nacional dividida pela capacidade de Angra 1 - dos últimos 5 anos é de 88,24%. Ou seja, é como se a usina tivesse operado 322 dias por ano em sua capacidade máxima.

A central atômica foi adquirida da empresa americana Westinghouse sob a forma de “turn key”, como um pacote fechado, que não previa transferência de tecnologia por parte dos fornecedores. “No entanto, a experiência acumulada pela Eletronuclear em todos esses anos de operação comercial, com indicadores de eficiência que superam o de muitas usinas similares, permite que a empresa tenha, hoje, a capacidade de realizar um programa contínuo de melhoria tecnológica e incorporar os mais recentes avanços da indústria nuclear”, assegura a companhia.

Questões preocupantes giram em torno da central Nuclear de Angra dos Reis onde funciona também a Angra 2, comprada no pacote do acordo Nuclear com a Alemanha. Conforme auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU), sem depósito definitivo (CENTENA) para armazenar rejeitos de baixa e média atividade de Angra 1 e Angra 2, as centrais atômicas terão de ser desligadas em 2028.

As Unidades de Armazenamento a Seco (UAS) onde os elementos combustíveis usados (urânio irradiado) estão sendo depositados, têm capacidade para operar até 2045. E depois? Sem investimentos em recursos humanos, na formação e qualificação de especialistas, o preço a pagar poderá ser bem mais alto. FOTO: CENTRAL NUCLEAR DE ANGRA – ELETRONUCLEAR – COLABORE COM O BLOG – SEIS ANOS DE JORNALISMO INDEPENDENTE – CONTRIBUA VIA PIX: 21 99601-5849 – CONTATO – malheiros.tania@gmail.om

   

 

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Segredos sobre instalação radioativa em Buena, da INB, podem ser revelados com acordo confidencial

 


Pela primeira vez, informações confidenciais guardadas a sete chaves sobre a unidade que durante décadas extraiu e guardou material radioativo, em Buena, 2º distrito do município de São Francisco de Itabapoana, região turística da Costa Doce, do Estado do Rio, podem ser reveladas a partir de Acordo de Confiabilidade firmado entre a empresa interessada e a Indústrias Nucleares do Brasil (INB), proprietária da instalação.  A empresa que assinar o acordo sigiloso para a cessão de uso da Unidade de Descomissionamento de Buena (UDB) -identidade oficial -, terá que manter o mais absoluto sigilo sobre a instalação. A quebra do dever de confidencialidade obrigará a empresa a pagar a INB indenização de valor mínimo de R$ 11 milhões. 


Se o negócio não for fechado, a empresa terá que destruir todos os documentos que contenham ou reflitam as informações confidenciais. Fontes consultadas pelo BLOG comentaram que a INB deve ter mesmo muitas informações secretas sobre Buena. Desde a década de 50, pelo menos,   toneladas de areias monazitas, (ricas em urânio e tório), foram subtraídas das  praias do Espirito Santo, Bahia e Buena e transportadas para serem processadas na Orquima, no Brooklin paulista, sucedida pela Nuclemon; depois, INB, nas quais centenas de operários se contaminaram, adoeceram e morreram vítimas de radiação. Em 2006, os sobreviventes se uniram a formaram a Associação dos Trabalhadores da Produção Nuclear (ANTPEN) para lutar por seus direitos, até hoje não reconhecidos pela Justiça. 

TREINAMENTO PARA EMERGÊNCIA. 

No edital para o negócio, a INB determina que se o interessado quiser testar a “capacidade de beneficiamento mineral de seu material na planta da UDB, deverá tomar algumas providências no momento do agendamento da visita técnica. Os testes devem ter duração de dois a três dias úteis, podendo demandar a manutenção corretiva de alguns equipamentos durante o período. A quantidade de concentrado de minerais pesados deve ser de no mínimo 20 toneladas de propriedade do interessado, com acompanhamento de no máximo cinco profissionais. O teste ficará por conta de profissional da INB nos equipamentos da UDB para determinar a porcentagem de recuperação das frações úteis de ilmenita, zirconita; monazita e Rutilo. 

“Todo o material usado e o rejeito de minerais pesados decorrentes do teste solicitado deverá ser recolhido posteriormente pelo interessado, que será igualmente responsável pelo transporte de envio com a respectiva documentação, bem como pela retirada e transporte do material pós teste podendo a INB exigir depósito prévio em garantia em valor equivalente aos custos reativos a retirada e transporte do material para destinação final”, frisa a INB no documento.  Na visita técnica, para o acesso, os interessados poderão ser submetidos a curso e treinamento para emergências, exigência da área de salvaguarda e segurança da INB. 

No edital da INB, consta que as visitas técnicas poderão ser agendadas durante um período de aproximadamente 30 dias iniciando no dia 8 de janeiro até 8 de fevereiro de 2024. O aviso para a oferta pública para a cessão de uso da Unidade de Buena permanece hoje (10/05/2024) no site da empresa. 

CONTRATO CONFIDENCIAL - 

Na cláusula primeira, a INB informa que o objetivo do Acordo de Confiabilidade é “disciplinar as condições para a revelação de informações confidenciais e definir as regras relativas ao seu uso e proteção”. Na segunda, explica que confidenciais significa “toda e qualquer informação, documento, correspondência, respostas e questionamentos ou quais outros que sejam prestadas, não se limitando a informações técnicas, financeiras, operacionais, econômicas, jurídicas, comerciais de marketing, engenharia, por exemplo. Na quarta, deixa bem claro que tudo deve ser “mantendo sempre estrito sigilo acerca das informações”. 

Na terceira clausula, sobre as limitações da confidencialidade consta no item 3.1: “As estipulações e obrigações constantes deste acordo não serão aplicadas à informação que seja de domínio público no momento da revelação ou após a revelação; já esteja em poder da parte receptora no momento de assinatura do acordo como resultado de sua própria pesquisa; seja revelada em razão de norma legal, ordem judicial ou por determinação de autoridade competente por meio de questionamento oral, interrogatório, requisição de informações, citações, investigações ou outra forma, somente até a extensão necessária ao seu cumprimento, , devendo a parte receptora notificar, o quanto antes” a INB. No edital da INB, de 2023, consta que as visitas técnicas poderão ser agendadas durante um período de aproximadamente 30 dias iniciando no dia 8 de janeiro até 8 de fevereiro de 2024. O aviso da oferta pública para a cessão de uso da Unidade de Buena permanece hoje (10/05/2024) no site da empresa. 

DEPRESSÃO E FALECIMENTOS - 

Em maio do ano passado, o BLOG, divulgou reportagem sobre casos de funcionários da UDB doentes com AVC, depressão e falecimentos, ameaça de falta de água, agravada por cerca de três quilômetros de tubulação perdidos, a falta de informações sobre o destino de equipamentos fora de uso, alguns dos problemas envolvendo a desativação da unidade. O BLOG publicou fotos exclusivas na ocasião mostrando o cenário de abandono da instalação. 

Contatada na época, a direção do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Prospecção, Pesquisa e Extração de Minérios Estado do Rio de Janeiro (Sindimina-RJ),  declarou que “não compactuava com atitudes da INB,  pois sem chances de escolha, empregados de Buena foram transferidos para Caetité, na Bahia, a 1.200 Km de distância, enquanto havia outras unidades da empresa em Rezende (RJ), Caldas (MG) e na sede, no Rio. Dos 320 funcionários do passado, hoje restam apenas 39. 

Na reportagem do ano passado, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) informou que possui “regulamentos específicos para nortear o descomissionamento de instalações nucleares, radioativas e minero-industriais”. A atuação da CNEN, conforme informou a Comissão, abrange requisitos tais como “descontaminação de área gerenciamento de resíduos e rejeitos radioativos e monitoramento ambiental, bem como procedimentos para garantir a proteção radiológica dos trabalhadores e da população circunvizinha”. 

Mas para onde irão os equipamentos e demais as sucatas de Buena? “A destinação dos materiais radioativos presentes na instalação deve ser indicada pelo operador (INB), cabendo à CNEN avaliar a conformidade com as normas aplicáveis e, caso necessário, estabelecer exigências relacionadas ao armazenamento seguro do transporte dos mesmos”, afirmou a CNEN.  Portanto, acrescentou a Comissão, o operador – INB-, “deve submeter relatórios específicos detalhando as etapas envolvidas e procedimentos a serem executados, para garantir que todas as medidas de segurança estejam sendo tomadas e que os materiais radioativos estejam sendo manuseados e transportados de acordo com as normais aplicáveis”. 

HERANÇA MALDITA - 

A herança da Orquima, sucedida pela Nuclemon, fechada em 1992, ficou sob a responsabilidade da INB.  Uma parte do material procedente de Buena também foi levado, principalmente nas décadas de 50 e 60, clandestinamente para outra unidade da INB em Caldas, Minas Gerais. Há depósitos com material radioativo da Nuclemon na Usina de Interlagos e sitio em Botuxim, em São Paulo, sem solução até hoje. 

Oficialmente, em documento obtido pela reportagem, a INB avisava que estava em “processo de finalização de suas atividades de produção em Buena. De acordo com o cronograma, a previsão era de encerramento das atividades em dezembro de 2023, inclusive com a redução do quadro de empregados atuando na localidade”, informou em nota, sem mencionar o número de trabalhadores que seria dispensado.E acrescentava: “Dessa forma, a INB somente terá condições de continuar fornecendo água para os moradores do entorno da UDB, até o mês de julho de 2023”. 

ACÚMULO NO PÁTIO - 

Segundo informações oficiais, a UDB atua no processo de separação e na comercialização dos minerais pesados conhecidos como ilmenita, zirconita, rutilo e monazita, extraídos de reservas minerais formadas pela regressão do mar – paleopraia. 

“Como as reservas estão esgotadas, a produção da Unidade se restringe atualmente à recuperação e comercialização do minério que ficou acumulado no pátio, junto à usina de beneficiamento primário e também às várias frações de minerais que foram estocados durante os últimos anos”, admite a estatal. 

O QUE SÃO - 

A ilmenita (titanato de ferro), a zirconita (silicato de zircônio) e o rutilo (dióxido de titânio) são importantes insumos para várias indústrias: a ilmenita é usada em indústria de pigmentos, ligas metálicas e proteção do revestimento de autoforno; a zirconita é usada em indústria cerâmica; e o rutilo é usado na fabricação de tintas e na indústria de eletrodos para solda. 

A monazita é basicamente um fosfato de terras raras, urânio e tório. Esse fosfato é matéria prima importante na produção de terras raras, que são insumos para a fabricação de produtos como baterias recarregáveis, televisores, catalisadores automotivos e equipamentos de craqueamento de petróleo. 

BUENA -

O município possui uma área de 1 122,438 quilômetros quadrados, desses 60 quilômetros são de litoral com falésias de até dez metros de altura, é o quinto maior município em extensão territorial do Rio de Janeiro e o município mais oriental do estado. E segundo as estimativas do censo demográfico pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019 a sua população era de aproximadamente 42 205 habitantes. Possui o segundo pior índice de desenvolvimento humano entre os municípios do estado, atrás somente de Sumidouro. O município é constituído de três distritos, São Francisco de Itabapoana (sede)Itabapoana e Maniva

FOTO: BUENA – 

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quarta-feira, 8 de maio de 2024

PROJETO CENTENA: TCU alerta para "elevado risco operacional" na Central Nuclear de Angra, sem depósito para rejeitos radioativos

 


Relatório de fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU) divulgado nesta quarta-feira (8/5) alerta mais uma vez: a falta de um depósito definitivo, o CENTENA, para armazenar rejeitos de baixa e média radioatividade, até 2028, colocará a Central Nuclear de Angra dos Reis “em elevado risco operacional”, contrariando a recomendação da norma de segurança da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).  O Acordão do TCU reitera que a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) tem prazo de 180 dias para tomar uma série de providências para que o projeto Centena seja realizado.  O mesmo prazo foi dado na primeira auditoria, em fevereiro, conforme o BLOG divulgou na ocasião.

 De acordo com o primeiro alerta do TCU, as usinas nucleares poderão parar de funcionar até 2028; além de inviabilizar autorizações para Angra 3, em obras desde 1984. Os depósitos estão operando próximos da capacidade limite: Angra 1, o limite deve ocorre em até 2028; e Angra 2, em 2036. No documento do TCU divulgado hoje, segundo a fiscalização, os estudos de seleção de local realizados pela CNEN não permitem garantir, nesta etapa, a confirmação definitiva do terreno como sitio apropriado a abrigar um repositório definitivo de rejeitos radioativos. “Informa que estudos mais detalhados serão realizados, conforme o desenrolar do processo de licenciamento nuclear, de tal forma que, se for constatada a inviabilidade da implantação de um depósito definitivo no terreno, “regride-se à etapa de seleção do local”. rio de fiscalização

No meio, não faltam comentários sobre a falta de estruturada da CNEN para levar o projeto adiante: há carência de funcionários, como fiscais. A CNEN continua exercendo as funções de regulação, execução e fiscalização do setor, o que poderia ter sido resolvido com a criação da Autoridade Nacional de Segurança Nacional (ANSN), que não saiu do papel. O BLOG publicou outras matérias sobre o CENTENA, no passado denominado Repositório Nacional de Rejeitos Radioativos de Baixo Níveis de Radiação (RBMN).  

INSUFICIÊNCIA DAS AÇÕES - 

O TCU frisa a necessidade de interação entre a CNEN e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “A equipe de fiscalização constatou a insuficiência das ações adotadas pela CNEN para a implantação do empreendimento até 2028, em função da interação insuficiente da CNEN junto ao MCTI para uma tempestiva decisão em relação do local onde o empreendimento será construído. A decisão sobre o terreno onde o Centena será implantado é etapa critica deste o projeto e tem sido aguardada desde 2021, sendo que o impasse de dois anos sobre a escolha impede o processo sobre outras etapas do empreendimento como a elaboração de projeto básico e executivo, bem como a atuação nos processos de licenciamento ambiental e nuclear”, destaca o TCU.

 UM POUCO DA HISTÓRIA. 

Em fevereiro deste ano o BLOG divulgou matéria sobre o Centena, com alertas do TCU.  A falta de depósito para abrigar os rejeitos é um dos maiores entraves para o governo, que buscava uma solução junto ao Exército Brasileiro (EB), que teria o terreno no Estado do Rio de Janeiro. Na ocasião, o prefeito do município de Paty do Alferes, no interior do Estado, confirmou ao contato do Exército brasileiro visando viabilizar o projeto na região, em área da União. Juninho Bernardes (Solidariedade) disse que estava preocupado e contra “essa eventual instalação no município, uma vez que este é uma região agrícola e qualquer contaminação poderia gerar dano ambiental severo e ainda problemas de saúde”. Paty do Alferes realiza um dos mais importantes eventos turísticos do Estado: A Festa do Tomate. 

O levantamento e a análise de imóveis públicos vêm acontecendo desde 2013, quando a CNEN firmou termo de cooperação com o EB. Em 2015, foi feito um contrato de consultoria com a Andra, empresa de gerenciamentos dos rejeitos radioativos da França (já mencionada por nossa reportagem em 2020). O levantamento foi concluído em 2017. Sem solução para o projeto CENTENA, o Tribunal de Contas da União (TCU), segundo fontes do setor nuclear, fez auditoria em todo o processo e fixou prazos para a CNEN e outros órgãos do governo apresentarem uma solução para caso. 

OPERAÇÃO SUSPENSA - 

A operação de Angra 1 e Angra 2 poderá de fato ser suspensa e a licença de operação de Angra 3 pode não ser emitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), caso, até 2028. Este é o prazo previsto para o esgotamento da capacidade de armazenamento para rejeitos de baixa e média radioatividade, do Centro de Gerenciamento de Resíduos (CGR), para Angra 1 e angra 2, de reponsabilidade da Eletronuclear. Os primeiros rejeitos gerados por Angra 1 são armazenados dede o início da operação em 1985. A maior demora na transferência deste material para o Centena, “aumenta a chance de os embalados serem danificados, com risco de contaminação e exposição radiológica”. Essas informações, já mencionadas, constam em documentos do TCU, datados de dezembro último, enviados à CNEN. “Em quatro anos a operação do CGR se tornará crítica. O volume de recursos seria de R$ 130 milhões, a partir de 2023, mas terão que ser atualizados. 

DÉCADAS DE ATRASO - Técnicos reiteraram nos documentos que decorridos quarenta anos de operação da primeira usina nuclear, Angra 1, o Brasil ainda não dispõe de um local para deposição de rejeitos de baixo e médio níveis de radiação. Assim, a implantação do Centena implica uma solução definitiva para a deposição segura de rejeitos radioativos de baixo e médio níveis de radiação do país”, assinalam. Segundo a documentação, o Centena receberá todos esses rejeitos provenientes da operação das usinas nucleares, do futuro Reator Multipropósito Brasileiros (RMB) e de aplicações na medicina, indústria, pesquisa e meio ambiente.

O projeto contempla também laboratórios de pesquisa e desenvolvimento para avaliação de qualidade dos insumos e produtos e monitoramento do comportamento dos componentes do sistema de deposição. Foi projetado para atingir capacidade total por meio da construção de seis módulos de deposição com capacidade de 10.000 metros cúbicos cada com vida útil estimada sessenta anos pata recebimento de rejeitos e de trezentos anos de período de guarda institucional. A capacidade estimada do repositório até o final de sua operação é de até 60.000 metros cúbicos. 

ADIAMENTOS SUCESSIVOS – 

O projeto começou em 2007, no Programa de Aceleração do Crescimento, na área de ciência e Tecnologia. Problemas não faltaram. A indefinição sobre o local que abrigará o Centena é mais um impasse para o início da construção.  Ao longo do processo de seleção de local, segundo os documentos, a data de conclusão do projeto, inicialmente prevista para 2013, foi adiada par 2017; em seguida, para 2024, depois para 2025 e, por fim, prorrogada para 2028, “já com fortes indícios de que esta meta não será alcançada”, disseram as fontes. A previsão de conclusão do processo de licenciamento ambiental está marcada para dezembro de 2024, “compreendendo um período de quase dois anos, do qual resta apenas um ano”. 

“Outra preocupação diz respeito à qualificação e expertise dos contratados para a execução de projeto da monta do Centena, de forma a torna-lo efetivo, dada sua importância para o setor nuclear e para o país”, informaram as fontes. O projeto teve início em 2009, tendo se passado mais de quatorze anos, com avanço pouco significativo. “Eventual contratação de agentes com baixa qualificação para implementação desse projeto poderia alongar ainda mais o prazo de execução. A expectativa do setor em relação a entrega é grande já que os depósitos da Eletronuclear e da própria CNEN têm capacidade limitada”. 

FOTO: Maquete Centena - CNEN - 

Leia as matérias exclusivas sobre o assunto publicadas pelo BLOG: 

Dia 05/02/2024 - Projeto Centena: usinas nucleares podem parar em quatro anos por falta de deposito para rejeitos. Exército já contatou município de Paty de Alferes que é contra; 

Dia 05/02/2024 – PROJETO CENTENA: Prefeito de Paty do Alferes confirma contato feito pelo Exército e avisa que não quer depósito de material radioativo na cidade, responsável pela Festa do Tomate; 

Dia 16/02/2024 – CNEN usa disfarces e carros descaracterizados em visita a local preferencial para rejeitos radioativos; 

Dia 27/10/2020 - Depósito definitivo para rejeitos radioativos: Clédola de Tello fala sobre atrasos, entraves e perspectivas; 

Dia 26/10/2020 – País abriga três mil instalações radioativas e trinta unidades nucleares operando com fontes de radiação. COLABORE COM O BLOG – SEIS ANOS DE JORNALISMO INDEPENDENTE. CONTRIBUA VIA PIX: 21 99601-5849 – CONTATO: malheiros.tania@gmail.com

 

 

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Angra 1 e 2: elementos combustíveis usados (urânio) são transferidos para UAS; estimada em US$ 50 milhões

 


Começou esta semana a segunda etapa de transferência de elementos combustíveis usados (urânio irradiado) das usinas Angra 1 e Angra 2, para a Unidade de Armazenamento a Seco (UAS), na Central Nuclear de Angra. A operação confirmada há pouco pela Eletronuclear abre espaço para novas recargas nas piscinas das unidades. Segundo fontes, os elementos combustíveis passam pelo crivo da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com sede em Viena, na Áustria, liderada pelas grandes potências, como os Estados Unidos, por conta de suas aplicações além do ciclo da produção de energia elétrica, podendo servir como plutônio. Em 2018, a previsão era de que a UAS custaria cerca de US$ 50 milhões. 


A Eletronuclear frisou que os combustíveis usados “não são considerados rejeitos radioativos, pois ainda contêm grande potencial energético que pode ser reaproveitado no futuro, destacando que países como a Rússia, França e Japão já reciclam esse material. A primeira fase de transferência começou no dia 26 de abril e está prevista para terminar no dia 30 de setembro. Serão transferidos apena os elementos de Angra 2. Segundo a Eletronuclear, a movimentação dos combustíveis de Angra 1 para a UAS acontecerá em 2025 e em 22026, quando a segunda fase estará concluída. Esta ação permitirá, assegurou a companhia, que os combustíveis usados serão transferidos para os cascos de armazenamento, construídos em aço e concreto, abrindo espaço nas piscinas para receber novos elementos. Assim, a companhia espera aumentar a vida útil das duas piscinas. De angra 1, em 20 anos; e de Angra 2, em mais 10 anos, segundo Júlio Cesar dos Santos, coordenador da segunda campanha da UAS.  


BRASIL CONSTRÓI DEPÓSITO PARA COMBUSTÍVEL NUCLEAR DE ANGRA 1 E ANGRA 2. A notícia foi divulgada pelo BLOG no dia 4 de agosto de 2018. 

Cerca de US$ 50 milhões era a previsão na época sobre o custo do empreendimento. A vencedora da concorrência para a construção foi a Holtec, com sede em Camden, Nova Jersey, nos Estados Unidos. A Holtec é fornecedora de equipamentos e sistemas para a indústria de energia, especializada na concepção e fabricação de peças para reatores nucleares. 

Participaram da licitação e perderam as empresas americanas Nac e Areva. O governo tem que construir a UAS, porque o esgotamento da capacidade de armazenamento das piscinas, onde o combustível fica depositado, ocorrerá em julho de 2021, no caso de Angra 2I; e em dezembro do mesmo ano, em Angra I. A UAS terá capacidade para armazenar o combustível até 2045”, afirmavam as fontes ao BLOG.

 FOTO 1: Retirada dos elementos combustíveis da piscina de resfriamento durante a primeira campanha de transferência em 2022. 

FOTO 3: Visão panorâmica da central nuclear em abril de 2023, com a UAS no canto inferior. 

F0TO 2: UAS, em 2022. FOTOS DA ELETRONUCLEAR – 

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quinta-feira, 2 de maio de 2024

Academia Nacional de Engenharia empossa dez titulares, entre eles, a premiada Olga Simbalista

 


A Academia Nacional de Engenharia (ANE) empossou, na última segunda-feira, dia 29, no Rio de Janeiro, seus dez novos membros titulares e um membro correspondente que foram eleitos em Assembleia Geral Extraordinária. Entre eles, que passaram a integrar o grupo de Membros Titulares da ANE, está a engenheira eletricista e nuclear e ex-presidente e atual conselheira fiscal da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN) Olga Simbalista. Uma das poucas mulheres a ocupar cargos de chefia no setor nuclear brasileiro, ela já recebeu doze prêmios por sua atuação na promoção dos direitos da mulher e, em 2014, foi eleita Personalidade do Ano 2014 pela WEB da ONU. Engenheira elétrica com mestrado em engenharia nuclear, Olga Simbalista, em 2019, festejava 40 anos de trabalho no setor. Presidiu a Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), de 2016 a 2018. Recebeu o Prêmio Full Energy de Personalidade do ano, em 2017, e, em 2018. 

Na conversa com o BLOG, há quatro anos, não se esquivou em falar sobre machismo. Ela acha que a questão ficou no passado, quando foi preterida para um cargo no qual teria que viajar com colegas engenheiros. “As esposas não gostariam que seus maridos viajassem com uma jovem engenheira”, contou. Discriminação? “Explícita nunca senti, apenas uma sombra do teto de vidro, em alguns momentos de indicações para funções de direção”. (Trecho de entrevista publicada pelo BLOG, em 18/01/2019).

NOVOS TITULARES -

Segundo informações do site da ABEN, os demais eleitos são Carlos Eduardo Pereira (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS), Cláudia Villa Diniz (Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG), Consuelo Alves Frota (Universidade Federal do Amazonas – Ufam), Diana Cristina Silva de Azevedo (Universidade Federal do Ceará – UFC), Ernesto Heinzelmann (executivo), José Martins Godoy, João Carlos de Oliveira Mello (Thymos Energia), Marcio Soares de Almeida (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Coppe/UFRJ) e Sérgio Rolim Mendonça (Universidade Federal da Paraíba – UFPB). Para Membro Correspondente foi eleito Corrado Piasentin. 

O ingresso na ANE é feito por indicação dos membros titulares. Os nomes são encaminhados para as Comissões de Seleção e de Ética que avaliam os currículos e selecionam os novos membros, a partir de critérios pré-estabelecidos. Os nomes selecionados são aprovados em Assembleia Geral Extraordinária. Fundada em 1991, no Rio de Janeiro, a ANE é um instituto destinado a promover o debate, a reflexão, a disseminação e a proposição de ideias e políticas relacionadas com a formação de engenheiros, a tecnologia, a inovação e as relações da engenharia com as ciências. 

Divulgação Assessoria de Comunicação Social da Academia Nacional de Engenharia (ANE)

FOTO: Acervo pessoal. 

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quarta-feira, 1 de maio de 2024

IRD comemora 52 anos; no roteiro, Chernobyl, Fukushima e Zaporithzia. Dos 150 servidores, 80 podem se aposentar. Leia a entrevista exclusiva.

 


O Instituto de Radioproteção e Dosimetrias (IRD), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), comemora 52 anos de fundação como Ponto Nacional de Alerta (PNA) para a Convenção de Pronta Notificação de Acidentes Nucleares. Também compõe o  Sistema Internacional de Monitoramento da Organização para o Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares (CTBTO).Atuou nas atividades radiológicas dos acidentes de Chernobyl (1986), Fukushima (2011) e agora, na usina de Zaporithzia; além da tragédia com o césio-137, em Goiânia (1987). É imenso o roteiro de atividades relevantes do IRD, sediado em área verde da Avenida Salvador Allende, 3773 - Barra da Tijuca. Entre eles, como alavancar um banco de dados de radioatividade no Brasil e participar de mapeamento de radiação nos solos brasileiros, parceria com o Serviço Geológico do Brasil. “Os estudos são feitos principalmente por alunos de doutorado, e até o momento já foram mapeados os estados de Pernambuco, Espírito Santo, Alagoas e o arquipélago de Fernando de Noronha. Estão em andamento estudos sobre os estados do Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio de Janeiro, Sergipe e Rio Grande do Norte. 

“O país possui condições geológicas favoráveis à ocorrência de urânio e tório. Já temos depósitos de urânio mapeados, como o do Rio Cristalino no estado do Amazonas e Pitinga no estado do Pará. Cabe ressaltar que o Brasil, com apenas 25% do território nacional mapeado para urânio, está entre as 10 maiores reservas identificadas no mundo.”  São algumas das informações do diretor do IRD, André Quadros, em entrevista exclusiva ao BLOG. Carioca de Lins de Vasconcelos, viveu parte de seus 52 anos no Méier. Foi perito da Agência Internacional de Energia Atonia (AIEA), com sede em Viena, na Áustria; tem mestrado e doutorado na área de informação técnico-cientifica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ingressou na CNEN por concurso público e se orgulha do que faz, comandando 150 funcionários, mas faz um alerta. “Esse numero por si só já é aquém das necessidades do Instituto. Porém, o dado é ainda mais preocupante se considerarmos que cerca de 80 desses servidores atendem a critérios legais para aposentadoria imediata, fato que pode levar o instituto a perder conhecimento e capacidade técnicos fundamentais para o país”. Eis a entrevista: 


BLOG:
 A Direção do IRD considerou “natural” reunir em um único evento a comemoração do Dia da Proteção Radiológica e do Aniversário do Instituto, que tem na proteção radiológica a sua principal área de competência, ao lado da dosimetria e da metrologia das radiações ionizantes. Como está sendo realizada a proteção radiológica no Brasil? Como o IRD vem atuando? 

ANDRÉ QUADROS:  A proteção radiológica está estruturada em um sistema destinado a proteger as pessoas e o meio ambiente dos efeitos adversos da exposição às radiações ionizantes. No Brasil, o sistema de proteção radiológica é conduzido por normas e regulamentos estabelecidos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão responsável por regular e fiscalizar as atividades nucleares no país. Esse arcabouço regulatório visa garantir que as atividades nucleares sejam conduzidas de forma segura e em conformidade com padrões internacionais. Além disso, a CNEN realiza inspeções regulares para garantir o cumprimento dessas regulamentações. 

BLOG: Muito complexo.

ANDRÉ QUADROS: Sim. No entanto, devido à complexidade envolvida nestas atividades, a CNEN reconhece a importância de contar na sua tomada de decisão com as organizações de apoio técnico e científico (TSO) para melhoria da segurança nuclear. É neste contexto que se insere o IRD, organização de suporte técnico científico da CNEN, único em sua área de atuação no país.

BLOG: Relate mais um pouco sobre o desenvolvimento da pesquisa. 

ANDRÉ QUADROS: Para contribuir com a segurança nuclear, o IRD precisa desenvolver pesquisa científica e tecnológica de qualidade, além de estar atualizado com as melhores práticas e avanços internacionais na área de proteção radiológica. O conhecimento técnico-científico do IRD deve ser mantido no nível mais elevado possível, permitindo ao instituto fornecer as melhores respostas para as questões apresentadas pela sociedade brasileira. Essa é a grande contribuição do IRD, ser um repositório de conhecimento e soluções, gerando e disseminando conhecimento e tecnologia para que o uso das aplicações nucleares no país aconteça dentro de um elevado nível de proteção radiológica. Por isso, comemorar o aniversário do IRD no Dia da Proteção Radiológica, com a realização do seminário técnico-científico, intitulado “Proteção Radiológica, Segurança e Sustentabilidade nas Aplicações de Tecnologias Nucleares”, foi um ato natural, mas também um momento importante e muito especial. O seminário técnico-científico abordou temas relevantes e desafiadores para a área de Proteção Radiológica, e contou com a participação de especialistas nacionais e internacionais, autoridades do setor, servidores, alunos, representantes de empresas e instituições e outros interessados no tema. Como sabemos o aniversário do IRD acontece no dia 21 de março, mas, o evento deste ano nos permitiu confirmar que a comemoração no dia 15 de abril, Dia da Proteção Radiológica, faz todo sentido e esperamos repetir essa dobradinha nos próximos anos. 

BLOG: Como o Brasil está posicionado nesta área no mundo? 

ANDRÉ QUADROS: De maneira geral, é possível afirmar que a proteção radiológica no Brasil segue padrões internacionais e é focada na prevenção de riscos dos efeitos estocásticos e no controle para que os efeitos determinísticos sejam evitados. Outro aspecto importante na implementação do Sistema de Proteção Radiológica no país é a promoção da cultura de segurança em todas as atividades que envolvem exposição à radiação ionizante. Então, a meu ver, o IRD é um ator importante nesse processo sendo responsável pela aplicação e disseminação dos princípios e práticas da proteção radiológica. 

BLOG: Na comemoração oficial o Sr. disse que  o “evento marca uma nova fase do IRD, que busca reforçar o seu papel histórico como referência na capacitação, na pesquisa e nas ações de proteção radiológica, dosimetria e metrologia das radiações ionizantes, atuando cada vez mais como organização de suporte-técnico científico de instituições e órgãos de Governo, no que se refere a questões envolvendo as radiações ionizantes.” O que representa a nova fase? O orçamento é suficiente?

ANDRÉ QUADROS: O IRD foi criado em 1972 e até 2008 atuou como unidade de suporte técnico-científico da atual Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear (DRS) da CNEN, responsável pela regulação e fiscalização de instalações radiativas e nucleares e atividades relacionadas ao uso das radiações ionizantes.  A partir de 2008 (Portaria CNEN/PR nº 01/2008), o IRD passou a estar subordinado a Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD), retornando a DRS em 2016 (Resolução CD/CNEN 210/2016) e novamente voltando à DPD em 2018 (Resolução CD/CNEN 232/2018), permanecendo nessa diretoria até o momento. 

BLOG: Como ficará o IRD com a oficialização da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN)? 

ANDRÉ QUADROS: Instituída pela Lei 14.222/2021 e o Decreto 11.142/2022, que aprova a estrutura regimental dessa nova autarquia,  o IRD será integralmente incorporado a ANSN como uma organização de suporte técnico-científico (Sigla em inglês TSO), seguindo modelo semelhante ao empregado nos EUA, Canadá e Japão e previsto em documentos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), como o TECDOC 1835. O IRD, como TSO Interno da ANSN, irá permitir que o regulador tenha capacidade técnica e analítica disponível, emitindo pareceres técnicos, subsidiando a tomada de decisão durante os processos de licenciamento e controle. 

BLOG: Fará muita diferença? De que forma? 

ANDRÉ QUADROS:  Não menos importante, o IRD como TSO interno é uma garantia de que não haverá conflito de interesse nas demandas do regulador encaminhadas ao Instituto, visto que, diferente de outras unidades da CNEN, o IRD não prestará serviço para empresas e instituições reguladas. Na ANSN, sendo subordinado ao seu Diretor-Presidente (QUE AINDA NÃO FOI NOMEADO – NOTA DO BLOG) - o IRD não precisará celebrar acordos de cooperação ou qualquer outro tipo de instrumento para dar suporte ao regulador. Esse modelo também irá fazer com que o IRD opere sistemas e utilize os mesmos procedimentos adotados pelo regulador.

BLOG: Outros benefícios? 

ANDRÉ QUADROS: Assim, penso que nesse novo modelo será disponibilizada uma maior capacidade técnico-científica ao regulador, permitindo maior agilidade nas respostas, sem conflito de interesses e maior transparência, promovendo melhores condições para a garantia da segurança das atividades e instalações do setor nuclear. Neste momento, em que pese o IRD ainda estar subordinado a DPD, com autorização do Presidente da CNEN, estamos provendo o alinhamento e o aumento gradual da participação do Instituto no suporte à DRS. Como exemplo, cito a participação do IRD na recém aprovada revisão da principal norma do setor nuclear brasileiro, Norma 3.01, e no suporte técnico na avaliação da documentação exigida no licenciamento de instalações, como por exemplo às relacionadas ao Projeto Santa Quitéria (PARA EXTRAÇÃO DE URÂNIO E FOSFATO, NO CEARÁ) . 

BLOG: Voltamos à questão do orçamento. 

ANDRÉ QUADROS: Frente aos desafios impostos ao IRD, não podemos considerar o orçamento suficiente. Porém, estamos em transição para compor a estrutura orçamentária da DRS, que tem sua origem na arrecadação da Taxa de Licenciamento e Controle. Assim, esperamos no próximo ano a expansão do nosso orçamento para patamares mais condizentes com as necessidades do Instituto, visando a capacitação continuada de nossos servidores, atualização de equipamentos frente às novas tecnologias e reforma da infraestrutura laboratorial. 

BLOG: Qual o valor social do IRD? 

ANDRÉ QUADROS: O IRD tem como missão atuar com excelência nas áreas de radioproteção, dosimetria e metrologia, gerando e disseminando conhecimento e tecnologia para o uso seguro das radiações ionizantes, visando a melhoria da qualidade de vida no país. Como instituto singular na área proteção radiológica, desenvolve pesquisas e mantém cursos de curta duração e programas de pós-graduação, lato e strictu sensu com cerca de 260 teses e dissertações apresentadas, gerando e disseminando conhecimento, contribuindo para a sociedade com a formação de mão de obra qualificada. Além disso, como Centro Regional de Treinamento da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), recebe em seu curso de Pós-graduação lato-sensu, com bolsa da AIEA, alunos de língua portuguesa oriundos de países do continente africano. Para os brasileiros disponibiliza bolsas de estudos, por meio de programas da CAPES e da CNEN, visando contribuir para a formação especializada no país. 

BLOG: O que mais? 

ANDRÉ QUADROS: O IRD realiza treinamento de equipes de órgãos como Defesa Civil, Forças Armadas, Bombeiros, Visas, Polícia Federal e outros, e atua na preparação e resposta a emergências radiológicas e nucleares. Ao fornecer rastreabilidade metrológica ao Sistema Internacional de Referência (SIR/BIPM), possibilita a calibração de instrumentos e o fornece fontes radioativas certificadas, assim, o IRD possibilita que pacientes submetidos a procedimentos com uso de radioisótopos recebam a dose adequada e trabalhadores recebam as menores doses possíveis de radiação.  Entendo também que o IRD tem um papel tranquilizador e orientador no que se refere a segurança nas diversas situações de exposição às radiações ionizantes. Para tanto, vemos a realização de pesquisas como algo fundamental e a transparência nas nossas ações e análises um compromisso com a sociedade. 

BLOG:  Como está o projeto da Comissão Preparatória da Organização para o Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares (CTBTO) para monitorar radionuclídeos na atmosfera e detectar precocemente a realização de qualquer teste nuclear? 

ANDRÉ QUADROS: A Comissão Preparatória da Organização para o Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares (CTBTO) tem o objetivo de preparar a entrada em vigor desse Tratado, inclusive mediante a construção de um sofisticado Sistema Internacional de Monitoramento. Como parte desse sistema, o IRD opera desde 2003 uma estação de monitoração de radionuclídeos em particulado (RN-11), denominado RASA, de origem norte-americana, e outra para medição de gases nobres, denominada SAUNA, de fabricação sueca. Na semana anterior a comemoração do aniversário do IRD e Dia da Proteção Radiológica, comissão do CTBTO visitou o Centro Regional de Ciências do Nucleares do Nordeste (CRCN-NE), unidade de pesquisa da CNEN, para realização de avaliações visando a implantação no país de uma segunda estação de monitoramento de radionuclídeos (RN-12).

BLOG: Sabemos que houve uma visita no local. 

ANDRÉ QUADROS:  Na semana do dia 15/3 o IRD também recebeu a visita dessa mesma comissão para avançar no processo de certificação do Laboratório de Radiometria Ambiental do Instituto (RL-04), para que esse componha a rede de laboratórios de análises do CTBTO. Essas ações são contribuições efetivas do Brasil para a operacionalização do Tratado e permitem que o país tenha acesso aos dados produzidos por toda a rede de monitoramento do CTBTO, que deverá ser composta por 321 estações de monitoração e 16 laboratórios localizados em diversos países. 

BLOG:  Quantas atividades executa e para quais clientes nacionais e internacionais? 

ANDRÉ QUADROSO IRD está gradativamente retrocedendo na prestação de serviço para que possa atuar como uma autêntica organização de suporte técnico-científico (TSO). Queremos cada vez mais difundir nossos conhecimentos e transferir tecnologias, fomentando o surgimento de novas empresas para prestação de serviços de qualidade nas áreas de atuação do IRD. Não devemos concorrer com os laboratórios prestadores de serviços da área de radiações ionizantes. Somente seria razoável o IRD manter serviços em áreas onde não há atuação de outras empresas e instituições ou quando não for possível o atendimento da demanda nacional.  Até porque o IRD é responsável pela autorização e acompanhamento do desempenho desses laboratórios por meio do Comitê de Avaliação de Ensaio e Serviços de Calibração (CASEC/IRD). 

BLOG: Pode exemplificar? 

ANDRÉ QUADROS: Por exemplo, na metrologia das radiações ionizantes, uma de nossas prioridades é o provimento de rastreabilidade metrológica aos laboratórios de calibração com radiação ionizante e que dependem da nossa atuação para se manterem rastreados ao Sistema Internacional de Medidas (SI). Neste ano, o IRD suspendeu a prestação de serviço de calibração de dosímetros clínicos utilizados em radioterapia. Esse serviço, que já era realizado por laboratório do IPEN/CNEN – SP, agora passa também a ser realizado por um laboratório privado. Por outro lado, o IRD deseja disponibilizar serviços especializados não só para a CNEN, ou para a futura ANSN, mas também para outros órgãos do Estado, mediante acordos de cooperação ou instrumentos similares, algo semelhante a parceria histórica que já realiza com o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), mediante Termo de Designação. Nesse sentido, é com bastante otimismo que vemos a possibilidade de colaborar cada vez mais com órgãos como Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Ministério da Saúde, Secretaria Naval de Segurança Nuclear e Qualidade (SecNSNQ/Marinha) e outros. 

BLOG:  O que há sobre radioatividade ambiental no Brasil? 

ANDRÉ QUADROS: A presença de radionuclídeos no meio ambiente pode ter duas origens, uma de fonte natural e outra proveniente de atividades humanas. Alguns radionuclídeos antropogênicos são produzidos principalmente por testes de bombas na atmosfera, descargas de centrais nucleares e acidentes nucleares, que podem se constituir em problemas ambientais em escala local. Porém, em termos globais, a fonte natural é a principal contribuição para a radioatividade no planeta. No Brasil, existem áreas com radioatividade natural elevada, como no planalto de Poços de Caldas/MG ou nas areias monazíticas de Guarapari/ES.

BLOG: O que temos hoje sobre mapeamentos no País? 

ANDRÉ QUADROS: O país possui condições geológicas favoráveis à ocorrência de urânio e tório. Já temos depósitos uraníferos mapeados, como o do Rio Cristalino no estado do Amazonas e Pitinga no estado do Pará. Cabe ressaltar que o Brasil, com apenas 25% do território nacional mapeado para urânio, está entre as 10 maiores reservas identificadas no mundo. A exposição à radiação natural é a principal fonte de exposição para a população mundial.

BLOG: E no Brasil? 

ANDRÉ QUADROS: No Brasil, os estudos de caracterização da radioatividade são ainda insuficientes tendo em vista a dimensão continental do país. Visando contribuir com a caracterização da radioatividade, o IRD em 2013 iniciou o projeto GEORAD (Banco de dados de Radioatividade no Brasil) com o objetivo de integrar os dados de radioatividade no país por meio de um banco de dados georreferenciado, que reúne dados obtidos de levantamentos bibliográficos ou fornecidos por instituições de pesquisa e universidades. Outro projeto importante é o MAPRAD (Mapeamento da radioatividade nos solos brasileiros), desenvolvido em parceria com o Serviço Geológico do Brasil (SGB, antiga CPRM), que objetiva mapear a distribuição de elementos radioativos naturais e Cs-137 nos solos brasileiros. Os estudos são feitos principalmente por alunos de doutorado, e até o momento já foram mapeados os estados de Pernambuco, Espírito Santo, Alagoas e o arquipélago de Fernando de Noronha. Estão em andamento estudos sobre os estados do Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio de Janeiro, Sergipe e Rio Grande do Norte. 

BLOG: Conte sobre a experiência em relação ao acidente de Goiânia? 

ANDRÉ QUADROS: O IRD teve participação fundamental na resposta ao acidente radiológico de Goiânia, ocorrido em 1987, principalmente nos aspectos de radioproteção. Podemos citar: a monitoração de pacientes e o controle ocupacional nos hospitais de Goiânia e no Hospital Naval Marcílio Dias (HNMD), a descontaminação dos pacientes e a estimativa de doses de radiação (monitoração individual externa e interna, dosimetria citogenética e reconstrução de doses). O acidente radiológico de Goiânia foi e continua sendo o ponto de inflexão na área de preparação e resposta a emergências de origem nuclear e radiológica no mundo. As lições lá identificadas influenciaram as bases das recomendações internacionais sobre o tema. 

BLOG:  Guerras também mobilizam o IRD; em relação à usina de Zaporizhzhia, na Ucrânia, há algum trabalho? 

ANDRÉ QUADROS - O IRD acompanha a situação na usina de Zaporithzia, na Ucrânia, por meio dos informes periódicos emitidos pela AIEA e estamos prontos a colaborar com as autoridades governamentais caso sejam encaminhadas eventuais solicitações de prestação de assistência na área de proteção radiológica. É importante comentar que os efeitos deste conflito levaram a AIEA a intensificar e fortalecer ainda mais o seu trabalho técnico na Ucrânia, com o objetivo de estabilizar a situação e prevenir incidentes ou acidentes nucleares naquele país. Para alcançar esse objetivo a AIEA tem enviado pessoal técnico para atividades nas instalações nucleares da Ucrânia. Os participantes desta força tarefa, que trabalham nas ações de presença contínua aquele país, foram recrutados nos estados membros e se somam ao staff permanente da Agência, cumprindo missões que duram de 25 a 40 dias. Os participantes são especialistas e peritos, reconhecidos mundialmente e trabalham na observação e elaboração de relatórios que subsidiam os informes emitidos pelo Diretor Geral da AIEA. 

BLOG: Algum brasileiro? 

ANDRÉ QUADROS: Sim. Dentre estes especialistas, um deles é servidor de carreira do IRD, com mais de 27 anos de experiência em monitoração gama ambiental, análise e coletas de amostras ambientais, atendimento e resposta a emergências de origem nuclear e radiológica e em detectores de radiação. 

BLOG:  O IRD atuou de alguma forma no acidente de Chernobyl? 

ANDRÉ QUADROS: Sim. Após acidentes nucleares severos como Chernobyl e Fukushima, onde extensas áreas agrícolas e de pastagem são afetadas, é importante o estabelecimento de controles sanitários para verificação de contaminação radioativa nas importações provenientes dos países afetados.  No caso de Chernobyl, o IRD foi acionado para verificar um carregamento de carne congelada vinda de um país europeu. A contaminação radioativa foi confirmada e o carregamento embargado. O mesmo tipo de verificação sanitária foi estabelecido no Brasil após o acidente de Fukushima, com a verificação de produtos provenientes do Japão, nos anos posteriores ao acidente. As análises foram realizadas no IRD e no IPEN. Destacamos que o instituto é o Ponto Nacional de Alerta (PNA) para a Convenção de Pronta Notificação de Acidentes Nucleares. Essa Convenção foi criada em 1986, no âmbito da AIEA, justamente como resposta à ausência de notificação do acidente nuclear de Chernobyl à comunidade internacional. O Brasil aderiu imediatamente à mesma, tendo sido ratificada pelo Congresso Nacional em 1991. 

BLOG: Como atua hoje em relação às Agência Internacional de Energia Atômica?  

ANDRÉ QUADROS: O IRD é uma fonte de especialistas, que participam de diversas missões e reuniões técnicas, e também de instrutores para treinamentos da Agência. Além disso, o Instituto incentiva que seus servidores participem dos cursos técnicos disponibilizados pela AIEA, com o objetivo de manter seus quadros atualizados. O próprio IRD hospeda cursos coordenados pela AIEA.  Como exemplo, cito o curso que aconteceu na semana da comemoração do aniversário do IRD, que teve como objetivo formar avaliadores oriundos da America Latina e Caribe para atuarem no serviço de avaliação de proteção radiológica ocupacional (ORPAS/AIEA). O Instituto também mantém o curso de Pós-graduação lato-sensu em parceria com a AIEA, para países de língua portuguesa. Em decorrência dessa parceria, o IRD receberá em junho deste ano a missão EduTA/AIEA, a partir da qual a Agência irá avaliar o nosso Centro Regional de Treinamento em Radioproteção. 

BLOG:  IRD trabalha com resposta à emergência? 

ANDRÉ QUADROS: O IRD realiza uma grande quantidade de atividades, por exemplo, atua nas áreas de radioproteção ocupacional, ambiental e do paciente, fundamentais no processo de licenciamento, fiscalização e desenvolvimento do arcabouço regulatório do setor nuclear. Além disso, atua também na área de dosimetria, realizando atividades de monitoração interna e externa e mantém o cadastro nacional de doses ocupacionais. Realiza investigação relacionada à exposição a doses elevadas. Mantém equipes de averiguação de ocorrência e resposta a emergência. Por designação do INMETRO, o IRD é o responsável pelo padrão de referência nacional para a metrologia das radiações ionizantes, nas áreas de nêutrons, radionuclídeos e dosimetria. O Instituto realiza atividades de pesquisa e mantem cursos de curta duração e programa de pós-graduação lato e strictu sensu. Para que essas atividades possam ser executadas, o IRD conta ainda com as áreas de administração, recursos humanos, tecnologia da informação, proteção radiológica e segurança do trabalho, mecânica, eletrônica e gestão da qualidade. 

BLOG: Quantos funcionários? É o Suficiente? 

ANDRÉ QUADROS: Para realizar todas essas atividades, o IRD conta hoje com cerca de 150 servidores. Esse número por si só já é aquém das necessidades do instituto. Porém, esse dado é ainda mais preocupante se considerarmos que cerca de 80 desses servidores atendem os critérios legais para aposentadoria imediata. Esse fato, pode levar o instituto a perder conhecimento e capacidades técnicas fundamentais para o país. 

BLOG:  O IRD estava participando de um consórcio internacional para a elaboração de programa de mestrado em Descomissionamento e Remediação Ambiental. O projeto contava com a participação de instituições de Portugal, Bélgica, Noruega, e EUA, e foi apresentado para financiamento, pelo programa Erasmus da Comunidade Europeia.? Aconteceu? 

ANDRÉ QUADROS: É verdade. O IRD disponibiliza bolsas de estudo para seus alunos de pós-graduação, por meio de programas da CAPES e da própria CNEN. A implementação do Minder, Programa de Mestrado Internacional em Descomissionamento e Remediação Ambiental, será uma importante contribuição do IRD para o Brasil e demais países. Atualmente, em processo de avaliação pela CAPES, o Minder irá permitir que brasileiros assistam disciplinas nos diversos países participantes, por meio de bolsas de estudos concedidas no âmbito do programa Erasmus, mantido pela Comunidade Europeia.  Em contrapartida, o IRD irá ministrar disciplinas na sua área de atuação recebendo alunos de outros países, sendo essa uma grande oportunidade de aprendizado, mas também de intercâmbio cultural. É importante também lembrar que o Brasil tem um programa nuclear com cerca de 60 anos e, assim, possui instalações que começam a chegar ao final do seu ciclo de vida. Por isso, ganha em importância a formação de especialistas no país na área de descomissionamento e remediação ambiental. 

BLOG: A sua mensagem para quem deseja se especializar em radioproteção? 

ANDRÉ QUADROS: A proteção radiológica é uma área multidisciplinar e como tal está aberta a profissionais com formação básica em áreas diversas do conhecimento, em nível técnico e superior.  No Brasil, existe um importante mercado para esse tipo de profissional, valendo lembrar que, atualmente, o país possui cerca de 3.500 instalações radiativas e nucleares ativas. Esse número cresceu aproximadamente 5% desde 2018. Para a segurança das aplicações da energia nuclear na medicina, indústria, serviços, pesquisa, segurança, geração de energia elétrica ou outras, faz-se necessária a atuação de profissionais da área de proteção radiológica. Esse mercado de trabalho em expansão está acessível para profissionais aptos e ávidos por trilhar o caminho do conhecimento e da aplicação das técnicas de proteção radiológica em prol da segurança da sociedade. 

PERFIL: 

ANDRÉ QUADROS: Carioca, nascido em Lins de Vasconcelos, bairro da Zona Norte do Rio; passou grande parte no Meier, na mesma região.  “Minha mãe é formada em Ciências Contábeis e meu pai é oficial reformado do Exército, formado em Farmácia e Medicina pela UFRJ. É curioso e motivo de felicidade adicional saber que ele possui pós-graduação lato sensu em radioisótopos, pela UERJ, e, em 1983, recebeu autorização da CNEN para uso laboratorial de radioisótopos in vitro”, comentou. Servidor concursado da CNEN, tecnologista sênior, tendo tomado posse em fevereiro de 1997. Formado em Ciência da Computação, com mestrado e doutorado na área de informação técnico-científica, pelo IBICT / UFRJ, com tese na área de planejamento de emergências nucleares. 

Na CNEN, exerceu cargos comissionados nas três Diretorias Executivas (DGI, DPD e DRS) e no Gabinete da presidência da Comissão. Antes de assumir a Direção do IRD, exercia o cargo de Assessor da Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear. “No IRD, como servidor, tive a satisfação de colaborar na área de Metrologia das Radiações Ionizantes. Já atuei como perito da AIEA e consultor de Tecnologia da Informação do Foro Iberoamericano de Organismos Reguladores Nucleares”, comentou. Está na Direção do IRD desde em novembro de 2023. Tem 52 anos, sendo 32 anos dedicados ao serviço público e 27 desses trabalhando na CNEN. 

(FONTES: ASCOM CNEN/IRD) - 

(FOTOS: Diretor IRD, crédito à Bianca Wendhausen – Foto Laboratório de Espectrometria de Massa para a identificação de elementos radioativos em amostras – crédito a Eduardo Zappia). 

A REPRODUÇÃO DE PARTE OU DE TODO O CONTEÚDO DA ENTREVISTA DEVE SER CREDITADA A ESTE BLOG - 

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