Definitivamente não serviu de lição a crise no fornecimento de energia, que gerou um apagão no País. Isso há vinte anos, por falta de chuvas para abastecer as hidroelétricas, fonte renovável de menor custo da matriz energética brasileira. O fantasma da crise energética volta a nos preocupar. Estamos diante de uma nova crise no setor, que nas últimas duas décadas foi tímido na diversificação da nossa matriz. O governo de plantão repete os anteriores, culpa o clima e usa a mesma estratégia para evitar o apagão. Resultado: o consumidor vai pagar o pato.
A partir de julho a bandeira tarifária será reajustada em 52%, o que representa, na prática, aumento na conta de luz mensal. A escassez de água nos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste, responsável por 70% da força hidráulica em território nacional, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), faz com que a energia se torne mais cara, por que o sistema necessitará da produção de energia via termoelétricas, mais caras e nocivas ao meio ambiente.
O anúncio do governo do lançamento de um programa de incentivo para que o consumo diminua, não chega a ser o racionamento de 2001 e 2002, mas desenha-se uma nova crise, resultado das sucessivas falhas no sistema nacional que revela a insegurança energética que vem de longe, e continua prejudicando o desenvolvimento do País. A história se repete, perpetuando uma incerteza econômica que já poderia ter sido superada há muito tempo.
Não há como negar o despreparo da gestão da energia no Brasil, sem oferta necessária para o seu crescimento. Pior: essa realidade se revela num cenário de sombras, num instante de baixa na economia, especialmente em razão da pandemia. Diante disso, não é a melhor solução aumentar o custo da energia para os consumidores, que em consequência terá que conviver também com o risco de alta da inflamação, como profetizam os economistas, em razão do encarecimento do custo de vida, provocado pela energia mais cara.
Como anuncia o governo, o aumento da tarifa extra deve vigorar até novembro, quando a chuva chegar e encher os reservatórios. Enquanto isso, é justa a preocupação da população com os possíveis racionamentos e o aumento do custo de vida. Ao considerar que a evolução do sistema elétrico dará conta do suprimento de energia e que não haverá crise.
O governo bota fé na campanha para reduzir o
consumo na indústria e grandes empresas e no aumento da taxa que afetará os
lares brasileiros. Mesmo diante de tantos desafios, o ministro das Minas e
Energia, Bento Albuquerque ganhou poderes adicionais para gerir uma crise
desse tamanho, de acordo com a Medida Provisória publicada esta semana. A fé
não costuma falhar, mas não dá para confiar que não viveremos hoje, a mesma
insegurança por falta de energia elétrica, que vivemos no passado.
Autor: Mário Moura, jornalista.