quinta-feira, 30 de novembro de 2023

IPEN-CNEN interrompe produção do radiofármaco MIBG para manutenção de equipamento: situação será normalizada na semana de 11/12

 


O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), paralisou a produção de do radiofármaco MIBG (agente bloqueador de neurônios adrenérgicos), por conta da complexa manutenção de um equipamento que envolve o processamento de materiais radioativos que exigem normas específicas de proteção radiológica. Em nota, o IPEN informou que a interrupção da produção do MIBG (Metaiodobenzilguanidina), a partir da semana de 10 de outubro, foi comunicado às clínicas. Segundo o Instituto, a produção será normalizada a partir da semana de 11 de dezembro.  

O último lote produzido, de número 340, foi distribuído na semana de 3 de outubro. Segundo o IPEN, clientes poderão colocar pedidos na próxima semana. 

“Compreendemos e nos solidarizamos à angústia das famílias, reafirmando nosso compromisso com a população brasileira. Durante o período mais crítico da pandemia, nossos servidores não interromperam uma única vez a produção, mesmo correndo riscos e dependendo da logística de voos internacionais”, divulgou o IPEN. O MIBG é análogo de aralquilguanidina do neurotransmissor adrenérgico norepinefrina, normalmente usada como radiofármaco. Atua como agente bloqueador dos neurônios adrenérgicos. 

FOTO: IPEN – 

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quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Desligada, Angra 1 entrou em estado de "Evento Não Usual", o primeiro da escala de emergência da Central Nuclear.

 


A usina nuclear Angra 1 entrou em estado de Evento Não Usual, o primeiro da escala de emergência da Central Nuclear. Às 8h50, de hoje (22/11), os operadores da sala de controle perceberam uma falha na alimentação de um barramento elétrico de 4.16 Kv, que alimenta equipamentos auxiliares da usina. Angra 1 está desligada para a troca de combustível (urânio enriquecido). Segundo a Eletronuclear, de imediato foram tomadas providências para recuperar a condição operacional do barramento, o que ocorreu às 11h52. 

“A usina se encontra em situação segura e os trabalhos da parada de reabastecimento prosseguem normalmente. O incidente não representou nenhum risco radiológico para os trabalhadores e o meio ambiente’, informa a nota da companhia. 

VAGA- LUME - 

Angra 1 foi um dos empreendimentos mais criticados do governo militar. Depois de uma série de adiamentos, a usina foi inaugurada em 1981, ou seja, nove anos após o início de sua construção. Outros entraves fizerem com que a usina só entrasse em operação comercial em 1985. Dados oficiais do governo naquela época estimavam que Angra 1 tenha custado US$ 2 bilhões. Isso, sem levar em conta os gastos com a manutenção e os reparos de equipamentos. 

Ao longo dos anos a central atômica já foi desligada umas 35 vezes por problemas técnicos, defeitos em equipamentos e ações judiciais. Por causa desse acede e apaga, a usina ganhou o apelido de “vaga-lume”. A Eletronuclear garante que a instalação é uma das mais seguras do mundo e destaca a sua performance: em 2016, produziu 5,1 milhões de MWh, “a melhor geração da sua história”. Depois, gerou 4,2 milhões de MWh, “uma de suas melhores marcas, a despeito de ter ficado parada por quase 60 dias, entre agosto e outubro de 2017, por conta da troca dos seus transformadores principais, durante a parada para reabastecimento”. 

FOTO: Angra 1 – Leia no Blog: Em 18/04/2018, “Angra 1 deve ter mais 20 anos de vida útil”; em 08/08/2019, “Angra 1: mais 20 ano de vida útil”; em 06/08/ 2020, “Angra 1: problemas técnicos desligam a usina duas vezes em menos de 30 dias”, entre outras. Leia também outras matérias no BLOG sobre a usina Aagra 1, comprada dos norte-americanos.

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sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Angra 2 volta a gerar energia

 


A usina nuclear Angra 2 foi reconectada ao Sistema Interligado Nacional (SIN) nesta quinta-feira (16/11), às 9h25, após passar pela parada programada de reabastecimento de combustível (urânio enriquecido), iniciada em 25 de setembro. A usina tem capacidade para gerar 1.350 Magawatts (MW). Quando opera 100% sincronizada ao SIN, Angra 2 produz o equivalente a 20% da energia consumida na cidade do Rio de Janeiro. Cerca de dois mil profissionais estiveram envolvidos na operação de troca de combustível de Angra 2, e em mais de cinco mil outras atividades que foram realizadas no período.

Entre as atividades: a modernização da proteção elétrica dos transformadores principais e do gerador principal, além da substituição do rotor do gerador principal, que pesa 200 toneladas, informou o superintendente de Angra 2, Fabiano Portugal. 

ANGRA 1 – 

A usina Angra 1 foi desligada no dia 28/10 e está prevista para voltar a operar no dia 16/12. A parada também foi programada para reabastecimento de um terço de combustível, além de cerca de 4.800 outras tarefas. O trabalho se estende por 50 dias e conta com a participação de aproximadamente 1.300 profissionais nacionais e internacionais. 

São, portanto, 3.300 profissionais contratados para trabalhar nas duas unidades atômicas. No caso de Angra 1, o tempo de parada será um pouco maior, visto que estão serão executadas atividades já programadas no projeto de extensão de vida útil da usina por mais 20 anos, informou a Eletronuclear, gestora das centrais nucleares. 

Há cerca de cinco anos a compra do combustível nuclear feita a Indústria Nucleares do Brasil (INB girava em torno de R$ 280 milhões. Nada mais foi informado sobre este valor atualizado. Também não se tem informações sobre as contratações dos profissionais (2 mil para Angra 2 e 1.300 para Angra 1). Quando o Brasil terá condições de empregar quase ou 100% de brasileiros? 

(FOTO: Eletronuclear). 

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quinta-feira, 16 de novembro de 2023

A economia do hidrogênio e a tecnologia nuclear; protagonismo do IPEN/CNEN, por Marcelo Linardi (II parte)

 


Na primeira parte de meu artigo mencionei as considerações sobre as possibilidades de utilização da energia do hidrogênio como base energética tem se intensificado. Discussão acelerada por acontecimentos como a invasão da Ucrânia pela Rússia, colocando entraves ao comércio de gás natural na Europa e, não menos importante, a aceleração das mudanças climáticas, refletida em eventos do clima extremos por todo o planeta, causando muita destruição, mortes e prejuízos incalculáveis à humanidade. Nesta segunda parte, o foco é mais a questão nuclear no Brasil, suas utilizações em usinas nucleares, por exemplo, e a importância do protagonismo do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (IPEN-CNEN). Como todo período de transição tecnológica, dúvidas e afirmações superficiais surgem costumeiramente. E no uso da tecnologia do hidrogênio e a tecnologia nuclear, não seria diferente. Entretanto, temos que considerar fatores importantes, que podem influenciar, significativa e positivamente, a evolução tecnológica em questão, como ocorreu em outras épocas com outras tecnologias. Nada é estanque e afirmações precipitadas só servem para confundir e mascarar a realidade.

 Fato é que as mudanças no clima planetário têm causa antropogênica, comprovada pela ciência, e as ação para mitigar as emissões de gases de efeito estufa precisam entrar em planejamentos energéticos nacionais de uma maneira mais efetiva em relação aos últimos anos. Algumas afirmações prematuras ou precipitadas são discutidas a seguir, sem, entretanto, esgotar o assunto. 

O hidrogênio é muito perigoso? Ora, esse medo ocorreu com os derivados do petróleo há 100 anos. A ciência e a tecnologia aprenderam a manuseá-los de maneira segura ao longo do tempo. A mesma curva de aprendizado se espera para o manuseio e armazenamento seguros do hidrogênio. Já existem várias empresas que oferecem produtos seguros nesta questão. Há um experimento interessante, onde dois carros são jogados em alta velocidade contra uma parede, cujo respectivo vídeo está disponível na internet. O carro a gasolina explode, causando mais danos que os causados no carro a hidrogênio/célula a combustível, que não chega a explodir, mas sim queimar num jato de chama. 

A mineração para as baterias e as células a combustível são sujas e a demanda de metais é insana? É possível também processar uma mineração e uma metalurgia verdes, com técnicas ambientalmente limpas. Além disso, a evolução tecnológica pode reduzir quantidades de metais nobres, utilizando nanotecnologia, por exemplo, ou ainda ativando processos eletroquímicos termicamente, reduzindo, ou mesmo eliminando a necessidade de metais nobres. 

A tecnologia é ainda muito cara? Sim, é verdade. Ainda! Assim como ocorreu com a indústria automotiva, a taxa de redução de custos vai ser acelerada com a produção em massa e o aumento do mercado específico (verde), seguindo, inclusive, determinações legais em certos países ou regiões. Temos exemplos na Europa, que, aliás, vai limitar, num futuro próximo, o licenciamento de automóveis poluentes.

 Não adianta nada fazer algo aqui, pois o processo é global e outras nações não colaboram? Se pensarmos assim, o fim do mundo está já anunciado. Temos que fazer nossa parte, repetimos, em que pese nossa matriz elétrica bastante renovável, bem acima da média mundial. As ações governamentais, como já mencionado, podem acelerar esta questão. 

Todo o processo é ineficiente? Em alguns casos sim, é verdade, sob o ponto de vista termodinâmico, mas a eficiência do carro a combustão interna a gasolina, do poço à roda, é de menos de 15%. E isso tudo para transportar o próprio veículo, sendo os passageiros uma ínfima fração deste. O fato é que outra variável entra em ação, o caráter ambiental, deixando a eficiência energética em segundo plano. Importante salientar, também, que as tecnologias de hidrogênio vão conviver, por um bom tempo, com as tradicionais. Essa transição pode ser saudável para a economia, embora não o seja para as mudanças climáticas. Só o tempo dirá em que taxa de crescimento a transição ocorrerá, pois são muitas as variáveis envolvidas. Certo é que já está ocorrendo! 

Neste momento, temos que pontuar as possíveis contribuições da tecnologia nuclear para a chamada Economia do Hidrogênio que podem ser divididas em três grandes eixos de atuação. O primeiro trata da produção térmica do hidrogênio; o segundo diz respeito à aplicação de técnicas nucleares tanto para a caracterização de materiais na área como para produção de novos materiais (ou propriedades de materiais) via radiação e o terceiro relaciona-se com a possiblidade de aproveitamento do hidrogênio produzido nas instalações de produção de cloro nas usinas nucleares. O cloro é utilizado na purificação biológica da água de refrigeração dos reatores tipo PWR (Pressurized Water Reactor), principalmente.

Considerando a produção de hidrogênio a altas temperaturas, a fonte térmica nuclear é estável, limpa e possui grande capacidade produtiva. A combinação dessa fonte de calor com a produção térmica de hidrogênio é hoje em dia uma base real de estudo e pesquisa em todo o mundo. Os reatores nucleares do tipo HTGR (High Temperature Gas-cooled Reactor), que utilizam o gás hélio como refrigerante, são uma excelente opção para este fim. A temperatura máxima do combustível pode atingir cerca de 1260ºC e a temperatura do gás de saída para o sistema de transferência de calor é da ordem de 785ºC. 

Com o aquecimento do sistema de eletrólise por meio de um reator nuclear HTGR, com eletrólise a 850ºC, pode-se atingir até 50 % (rendimento total de energia consumida em relação à energia gerada para produção de hidrogênio). Esse nível de rendimento é superior ao da eletrólise a frio, na ordem de 27 % para eletrólise alcalina. Este fato mostra o ganho de produção de hidrogênio que o aquecimento induz no processo de eletrólise a quente, utilizando-se uma energia menos nobre (térmica) que a elétrica, que pode vir de reatores nucleares. 

Segundo estudos já existentes, pode-se propor, a partir de construções específicas para uma planta industrial, com base em aquecimento nuclear, um sistema HTGR associado ao processo de eletrólise a quente, para produção de hidrogênio de alta pureza, de forma eficiente e em grandes quantidades. 

Vale lembrar que a energia térmica de reatores nucleares também pode ser útil em combinação com eletrolisadores do tipo SOEC (Solid oxide Electrolic Cell), derivadas da célula a combustível tipo SOFC (Solid Oxide Fuel Cell), com eficiências da ordem de 70 %. Por fim, ainda existe a possibilidade de aproveitamento do hidrogênio produzido como subproduto da eletrólise da água do mar para produção de hipoclorito de sódio, do sistema de cloração da água de refrigeração das Centrais Nucleares, em geral. 

Quanto às técnicas nucleares, lembro que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) realizou, em 2008, a primeira reunião em sua sede em Viena, Áustria, sobre o tema, entre outras, das quais participei, abrangendo os três eixos citados. Este encontro gerou um Relatório de distribuição restrita da IAEA, sob número 08CT03399. 

Inúmeras técnicas nucleares ou que utilizam radiação, como espectroscopia de aniquilação de pósitrons (PAS-Positron Annihilation Spectroscopy), microscopia de varredura por tunelamento (STM-Scanning Tunnelling Microscopy), microscopia eletrônica (SEM e TEM) e ferramentas de Testes Não-Destrutivos, têm papel importante na caracterização de materiais atualmente, que vão desde o nível atômico até a escala macroscópica. 

Algumas das melhores técnicas podem ser fornecidas por aceleradores. Consequentemente, essas técnicas analíticas têm um grande impacto nos estudos de materiais nanoestruturados, metais leves e ligas, e materiais eletrônicos, entre outros. Uma importante ferramenta para caracterizar as propriedades e desempenho dos materiais é a Análise por Feixe de Íons (IBA). 

Outra é a radiação síncrotron que, assim como os feixes de nêutrons, íons e elétrons, pode ser usada para a caracterização de materiais em tempo real. Com esta tecnologia, podem ser enfrentados vários desafios tecnológicos e de investigação específicos da utilização de determinados materiais em aplicações relacionadas com a energia.

 Uma outra aplicação importante para a área do hidrogênio é a utilização de neutrografia para o estudo da distribuição de água em células a combustível de baixa temperatura de operação, aproveitando o fato de que nêutrons “enxergam” moléculas de água, diferentemente de raios-X. Estes dados são muito importantes, pois o afogamento de canais das células são um problema grave de perda de eficiência. 

Além disso, pode-se aproveitar o resultado da radiólise de soluções aquosas para produzir agentes fortemente redutores, como elétrons solvatados e átomos de hidrogênio, para a produção de nanoestruturas metálicas, estabilizadas por outros agentes, via redução eletroquímica de metais de interesse em eletrocatálise para células a combustível.

Nesta área, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) da Comissão nacional de Energia Nuclear (CNEN) produziu algumas patentes e publicações científicas, utilizando radiações gama, beta e também feixe de nêutrons e de elétrons, para a produção de catalisadores nanoestruturados e membranas trocadoras de íons, para aplicações em células de baixa temperatura de operação. Destaco mais adiante o papel de maior importância do IPEN, no campo da tecnologia do hidrogênio, que deve ser democratizado para conhecimento e reconhecimento de toda a sociedade. 

Quanto ao aproveitamento do hidrogênio na produção de hipoclorito de sódio, cito como exemplo o caso brasileiro. Obviamente, este aproveitamento pode ser feito em qualquer instalação semelhante. As usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, operadas pela Eletronuclear, utilizam a água do mar como fluido refrigerante no circuito terciário de refrigeração (condensadores). O hipoclorito de sódio é adicionado a este fluido refrigerante de forma a atuar como biocida para evitar o crescimento de bioincrustação (biofouling) nos equipamentos e tubulações desse circuito terciário. O hipoclorito de sódio é produzido continuamente, através de um sistema que realiza a eletrólise da água do mar. O subproduto da produção do hipoclorito de sódio pela eletrólise é o gás hidrogênio, o qual está sendo, atualmente, totalmente liberado para atmosfera. 

Dois sistemas de eletrólise operam nas centrais nucleares: Angra 1, com produção de uma quantidade de hidrogênio; e outro em Angra 2, com outra produção de hidrogênio. Somando os dois sistemas, Angra 1 e Angra 2, há um lançamento contínuo de hidrogênio para a atmosfera da ordem de 140 Nm3/h. O que isto representa? Que essas quantidades não são desprezíveis. E mais: caso seja construída Angra 3, esse volume lançado para a atmosfera passa para 260 Nm3/h. 

Uma célula a combustível do tipo PEM utiliza cerca de 0,66 Nm3/h de hidrogênio por kW elétrico produzido. Logo, a disponibilidade de hidrogênio produzido nas usinas permite obter uma potência de aproximadamente 210 kW. 

Portanto, uma possível aplicação dos sistemas de produção de energia distribuída seria a utilização da energia elétrica na vila residencial de Praia Brava, resultante do aproveitamento do hidrogênio, via células PEM. Neste caso, a energia elétrica gerada pelas células a combustível poderia complementar a rede local e poderia, ainda, gerar água quente, por exemplo, para hospedagem. 

Vimos aqui que a chamada Economia do Hidrogênio não é um simples sonho. Pode ser realidade. As perguntas que devemos fazer são apenas: “Quando?”, “Em que penetração de mercado?” e “A que preço?”. Embora uma “Economia do Hidrogênio” madura pressuponha soluções técnicas e econômicas para a produção, armazenagem e utilização do hidrogênio, nada impede que soluções parciais para cada uma destas áreas possam ser implementadas separadamente e a seu tempo.

A demanda global de energia é crescente, enquanto a preocupação com o meio ambiente e mudanças climáticas se tornam imperativas. Esta combinação única de tendências cria inúmeras oportunidades para o hidrogênio entrar numa matriz energética nacional como um armazenador complementar de energia elétrica.

 No Brasil, em particular, há necessidade de desenvolvimento de uma tecnologia nacional, segundo o nosso mercado específico, que possui características diferentes de outros países, como a utilização de outro vetor energético: o etanol. A opção brasileira pelo hidrogênio obtido do etanol deveu-se a vários fatores, que tornam esta escolha interessante. O etanol é um combustível líquido, de fácil armazenamento e transporte, já havendo no Brasil toda a infraestrutura para a sua produção, armazenamento e distribuição em todo o território nacional. Além disso, o etanol possui outras características muito importantes, como ser pouco tóxico e ser um biocombustível, portanto, renovável. É um insumo rico em hidrogênio.

 A aplicação estacionária, ou seja, a geração distribuída de energia elétrica com células a combustível, representa um enorme potencial de crescimento e uma oportunidade ímpar à indústria nacional, mesmo com empresas estrangeiras concorrendo. Insere-se aí o fornecimento de energia elétrica a regiões isoladas do país, aumentando a qualidade de vida destas comunidades. Outro nicho de mercado promissor é a aplicação veicular, com os carros e caminhões elétricos híbridos, ou mesmo os “puros”, movidos a células a combustível/hidrogênio. 

Toda mudança global vem acompanhada de oportunidades de sucesso e crescimento. Com o binômio células a combustível/hidrogênio não será diferente. Portanto, compete aos atores: governos, universidades, institutos de pesquisa e empresas a tomada de decisões estratégicas, no momento certo, para se destacarem a assumirem posições privilegiadas no futuro. Enfatizando, mais uma vez para finalizar, os obstáculos à introdução da chamada Economia do Hidrogênio não se configuram como dificuldades intransponíveis. O Brasil já possui o seu roteiro para a Economia do Hidrogênio e um programa nacional de pesquisa e desenvolvimento para esta tecnologia. Neste artigo, portanto, é preciso destacar o papel do IPEN/CNEN em todo o processo de pesquisas e da economia do hidrogênio que estamos tratando. 

IPEN – PROTAGONISMO

A criação do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN0, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), em 1956, está relacionada diretamente à área de energia. Esta área do conhecimento permeia vários Centros de Pesquisa do instituto até os dias de hoje. O Instituto vai além da bancada, pois tem vocação para projetos de pesquisa e desenvolvimento que levam a produtos, protótipos e/ou processos até escala piloto, favorecendo assim a Inovação Tecnológica, como demonstra seu passado, no desenvolvimento da tecnologia nuclear no país.

 Os recursos orçamentários para custeio e investimento das atividades do IPEN são repassados pela CNEN. Além dos recursos advindos da CNEN, o IPEN capta recursos junto a Fundações de Apoio à Pesquisa, Agências de Fomento, nacionais e internacionais, e por intermédio de parcerias com empresas e outras instituições públicas. 

A Instituição sente-se orgulhosa de ter contribuído, de maneira significativa, para o desenvolvimento da Economia do Hidrogênio no Brasil, com realizações cientificas e tecnológicas, no período de 1998 até a atualidade. Em consequência destas realizações, o IPEN/CNEN tornou-se referência nacional e internacional na área, como comprovam as parcerias institucionais e projetos de inovação tecnológica estabelecidas com empresas nacionais e estrangeiras como, por exemplo, Nissan e Shell. 

Todas as atividades científicas e tecnológicas contaram com a valiosa contribuição dos alunos, em todos os níveis, desde a Iniciação Científica, até o Pós-doutoramento, inseridos no Programa de Pós-Graduação IPEN/USP. Nesta área, especificamente, oito cursos foram oferecidos na primeira década do século XXI, a saber: Introdução à Tecnologia de Células a Combustível; Tópicos em Eletrocatálise para Células a Combustível de Baixa Temperatura; Eletroquímica: Princípio e Aplicações; Engenharia Eletroquímica e Reatores Eletroquímicos; Tópicos Avançados em Células a Combustível: Materiais; Tópicos Avançados em Células a Combustível: Fenômenos de Transporte; Projeto e Análise Técnico-Econômica para Células a Combustível e Tecnologia do Hidrogênio para Aplicação em Células a Combustível. Um cálculo aproximado, revela um total de 330 alunos (80 doutorandos, 130 mestrandos, 100 alunos de Iniciação Científica), além de 20 pós-doutorados, que obtiveram formação relacionada à Economia do Hidrogênio no IPEN/CNEN na última década. 

Como consequência desta atuação exitosa, o IPEN/CNEN tem aumentado, recentemente, e de maneira significativa, a qualidade de suas publicações em periódicos internacionais, além de apresentar uma média anual de 280 publicações em periódicos internacionais, 152 patentes depositadas, 25.000 itens no Repositório Digital e Índice-h de 90. A localização de uma Incubadora de empresas de caráter tecnológico no Campus do IPEN que, por sua vez, está dentro da USP, ambos na maior cidade industrial do Brasil, cria um ambiente profícuo em Ideias e Inovação Tecnológica, com características únicas.

Este quadro atual é fruto de 65 anos de trabalho sério e comprometido com a melhoria da qualidade de vida da população brasileira. Um futuro de sucesso do IPEN depende, fortemente, de ações políticas de continuidade. 

PERFIL -

 MARCELO LINARDI - Pesquisador Emérito do IPEN, no Centro de Células a Combustível e Hidrogênio; graduado em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas (1983), com mestrado em Ciências Nucleares pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (1987), doutorado em Engenharia Química - Universitat Karlsruhe (1992) e Pós-Doc pela Universidade de Darmstadt, Alemanha em 1998; autor de vários livros, entre eles, “O IPEN e a Economia do Hidrogênio”, Editora SENAI, 288p, São Paulo, 2022. Exemplares podem ser solicitados, gratuitamente, em superintendente@ipen.br 

(Foto: Acervo pessoal) – 

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quarta-feira, 15 de novembro de 2023

A economia do hidrogênio e a tecnologia nuclear, por Marcelo Linardi (I parte)

 


"Nos últimos anos a discussão sobre as possibilidades de utilização da energia do hidrogênio como base energética tem se intensificado. Essa discussão foi acelerada, recentemente, por acontecimentos como: a invasão da Ucrânia pela Rússia, colocando entraves ao comércio de gás natural na Europa e, não menos importante, a aceleração das mudanças climáticas, refletida em eventos do clima extremos por todo o planeta, causando muita destruição, mortes e prejuízos incalculáveis à humanidade

O vetor energético hidrogênio representa uma ótima possibilidade como substituto, setorialmente, para os combustíveis fósseis, no Brasil e no mundo, em que pese o fato de a nossa matriz elétrica já ser em torno de 85% renovável, segundo o próprio Presidente Lula, em discurso recente na Assembleia Geral da ONU. Nenhuma dessas informações é novidade, fato que nos conduz ao objetivo deste artigo.

Especialistas alegam que a opção renovável não importa ao Brasil neste momento, ou ainda que a introdução de carros elétricos não resolveria o problema das emissões nocivas ao meio ambiente ou tampouco que se trata de uma energia limpa, devido à mineração maciça de seus insumos. Pondera-se ainda, que o hidrogênio é inviável economicamente - e também energeticamente – sendo apenas um sonho a desejada Economia do Hidrogênio. 

Todas essas afirmações são, no mínimo, apressadas ou mesmo superficiais. Portanto, temos por objetivos tecer algumas considerações sobre esses assuntos, sem esgotá-los, definir alguns termos e, por fim, listar algumas possíveis contribuições que a tecnologia nuclear pode fornecer neste desenvolvimento tão crucial neste momento da humanidade.

 Visando, então, a definição do conceito de Economia do Hidrogênio recorre-se ao desenvolvimento tecnológico ao longo da história. A humanidade passou por vários períodos de utilização de diferentes fontes primárias de energia. Podemos citar, por exemplo, a madeira como a primeira fonte primária de energia utilizada pelo homem. Segue-se a este período a era do carvão que, associada a desenvolvimentos tecnológicos, possibilitou a revolução industrial.

Denomina-se então a Economia do Carvão para este período da história, onde grande parte da energia que alimentava a economia provinha do carvão. Seguiu-se, posteriormente, a Economia do Petróleo/Gás Natural, que é a que vivemos hoje. É interessante notar que houve uma descarbonização progressiva das fontes primárias de energia.

Décadas atrás sonhou-se com uma Economia Nuclear, que por motivos diversos (como: a não-aceitação pública, após os acidentes de Chernobyl e Fukushima, além de questões de não-proliferação de armas nucleares) não aconteceu. 

Portanto, define-se a Economia do Hidrogênio como sendo a economia, cuja fonte energética principal (mais de 90%), que move essa economia, num certo período da humanidade, provenha do vetor energético hidrogênio, que por sua vez, pode ser obtido de diversas fontes primárias de energia, preferencialmente, de origem renovável, em detrimento à de origem fóssil.

 Outra observação interessante se faz necessária e diz respeito à geografia. Todos os recursos naturais de fontes de energias primárias estavam ou estão localizados em determinadas regiões do planeta, beneficiando, naturalmente, os países destas regiões. Este fato gerou e gera conflitos político-econômicos e até guerras. 

Por outro lado, a obtenção do gás hidrogênio tem um caráter bastante flexível, sendo este fato uma de suas características mais interessantes. Ele pode ser obtido a partir de energia elétrica (via eletrólise da água), pelas fontes: hidroelétricas, geotérmicas, eólica e solar fotovoltaica, todas geológicas, ou também da eletricidade de usinas nucleares. Também pode ser obtido da energia da biomassa (via reforma catalítica ou gaseificação, seguido de purificação), como: etanol, lixo, rejeitos da agricultura, por exemplo.

A fonte de hidrogênio mais viável economicamente é, entretanto, o gás natural. Seguramente, o gás natural fará, como fonte principal de hidrogênio, uma transição, uma ponte, entre o hidrogênio não renovável e o renovável, também conhecido como hidrogênio verde, ou ainda, de baixo carbono. Essa transição é bem-vinda, pois suaviza a transição tecnológica e já traz benefícios em termos de eficiência energética, se compararmos à simples queima do gás metano. 

A rota do etanol como insumo renovável para a obtenção de hidrogênio é particularmente importante ao Brasil. Talvez o único país que pode explorar esta linha de produção, no mundo, em grande escala, devido às suas características, aliás as mesmas que geraram o sucesso do Proálcool, após o desenvolvimento dos carros Flex. Esta flexibilidade em relação à sua obtenção permite que cada país escolha sua melhor maneira de produzir o hidrogênio, segundo suas próprias disponibilidades.

 Em uma plena economia do hidrogênio, as emissões poluidoras seriam insignificantes; a eficiência de conversão energética químico/elétrica seria pelo menos o dobro da atual e os conflitos geopolíticos, de origem energética, poderiam ser atenuados (fato inédito na humanidade). 

Alguns pontos críticos para o desenvolvimento da Economia do Hidrogênio podem ser citados. O hidrogênio é um vetor energético, ou seja, não está disponível na natureza, precisando ser obtido de uma fonte primária que o contenha, elevando obviamente, o seu custo. Este fato tende a ser minimizado com a produção em grande escala. 

Outro ponto crítico seria a segurança em seu manuseio, armazenamento e transporte. Entretanto, a tecnologia pode equacionar este aspecto, como ocorreu com outros tipos de combustíveis no passado. Há também uma necessária mudança de paradigma na indústria, onde toda forma de produção de energia e de meios de transporte têm de ser modificada. O sistema atual de geração centralizada de energia elétrica para um sistema híbrido, incluindo a geração distribuída tem que ser considerado também, envolvendo toda a necessária regulamentação de sistemas de segurança e confiabilidade (vide recente apagão elétrico nacional).

 A degradação do meio ambiente é a grande força motriz para a implementação da Economia do Hidrogênio, cujas consequências, como o aquecimento global, são insustentáveis a médio e longo prazos.  Neste ponto, um paralelo faz-se útil. A maturidade tecnológica nos tempos iniciais da invenção do automóvel a gasolina pode ser comparada nos dias atuais ao binômio célula a combustível/hidrogênio. Não havia infraestrutura para a rolagem dos automóveis, que tinham, por sua vez, preços proibitivos. A gasolina não era nem abundante nem barata e, tampouco, se encontrava “em cada esquina”. Muitos a temiam, devido à sua inflamabilidade. 

Pois bem, aproximadamente cem anos depois, o automóvel tornou-se accessível, existem estradas para sua rolagem e pode-se abastecê-lo em qualquer lugar (sem medo), ou seja, aprendemos a lidar com o combustível e com a produção em massa. Com o crescimento do mercado, os preços caíram. Esta mesma curva de aprendizado pode ser pensada e aplicada à nova Economia.

A seguinte reflexão é de suma relevância para planejamentos de políticas energéticas nacionais. Como o hidrogênio poderá ser obtido de diversas maneiras, qualquer país ou região do planeta poderá obtê-lo. Neste caso, com a introdução da Economia do Hidrogênio, ter-se-ia, pela primeira vez na história da humanidade, uma democratização das fontes primárias de energia, o que seguramente gerará mais progresso e menos tensões políticas.

 Associado a estas ações está o desenvolvimento intensivo da tecnologia de células a combustível, visando sempre à redução de custos para aplicações diversas. As metas de custos a serem atingidas variam para cada classe de aplicações: gerações estacionárias de energia elétrica, aplicações portáteis e eletrotração ou transporte em geral. Salienta-se aqui apenas o caráter econômico da tecnologia e não os ambientais, que podem, num futuro próximo, ser tão importantes na nossa sociedade como o financeiro.

Concluindo esta seção, os obstáculos à introdução da chamada Economia do Hidrogênio não configuram dificuldades intransponíveis, ao contrário, apontam um elenco de oportunidades para o surgimento no país de novas empresas de bens e serviços, como demonstrado pelas tecnologias emergente do setor. Este energético (o hidrogênio) pode, em médio prazo, dependendo de políticas, de seu desenvolvimento tecnológico e da abertura de novos mercados, desempenhar um papel importante no cenário mundial de energia.

 Quem pretende entender as prováveis e promissoras mudanças no cenário energético futuro, que incluirão, na matriz energética mundial, parcelas crescentes de renováveis e, neste filão, a energia proveniente do hidrogênio, deve conhecer o seu conversor por excelência, a célula a combustível. Estas são os dispositivos mais apropriados para a utilização do hidrogênio como vetor energético.

As tecnologias do binômio hidrogênio/células têm-se desenvolvido bastante nos últimos anos, encontrando aplicações diversas como geradores de energia para meios de transporte (eletrotração para automóveis, caminhões e outros veículos, bem como trens, barcos e outros), para unidades estacionárias (edifícios, condomínios, hospitais, repartições públicas, bancos, torres de comunicação, etc.) e para fins portáteis (laptops, celulares, dispositivos militares, etc.).

 Os grandes diferenciais são o baixo (ou nenhum) impacto ambiental e a alta eficiência. Embora a tecnologia de células a combustível não esteja ainda completamente madura e estabelecida (custos, durabilidade), verifica-se que a sua implementação no mercado já começou. Entretanto, é crescente o desenvolvimento da área de novos materiais para equacionar os desafios finais dessa tecnologia.

Resumindo, o hidrogênio já está em fase de implantação e testes em diversos setores energéticos, pavimentando uma possível futura Economia do Hidrogênio, como no setores automotivo, marítimo, da aviação, de fertilizantes (amônia a partir de hidrogênio verde), siderurgia verde, mineração verde (que pode ser a resposta para a obtenção de insumos para baterias e células a combustível), cimento verde, combustíveis híbridos, entre outros.

 Enfatizando, mais uma vez para finalizar, os obstáculos à introdução da chamada Economia do Hidrogênio não se configuram como dificuldades intransponíveis. O Brasil já possui o seu roteiro para a Economia do Hidrogênio e um programa nacional de pesquisa e desenvolvimento para esta tecnologia. Um indício da abrangência e seriedade do assunto foi a realização de um evento recente pala ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) em São Paulo. Com a participação de 150 profissionais, o encontro teve o título de “Inteligência, meio ambiente e mudanças climáticas: transição energética – desafios e oportunidades para o país” da qual participamos, entre vários especialistas no assunto. Portanto, o tema é sério, estratégico e merece grande respeito e consideração". 

PERFIL - 

MARCELO LINARDI - Pesquisador Emérito do IPEN, no Centro de Células a Combustível e Hidrogênio; graduado em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas (1983), com mestrado em Ciências Nucleares pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (1987), doutorado em Engenharia Química - Universitat Karlsruhe (1992) e Pós-Doc pela Universidade de Darmstadt, Alemanha em 1998; autor de vários livros, entre eles, “O IPEN e a Economia do Hidrogênio”, Editora SENAI, 288p, São Paulo, 2022. Exemplares podem ser solicitados, gratuitamente, em superintendente@ipen.br

(FOTO: Arquivo pessoal)

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Mineração e recursos naturais: o desafio da preservação diante da exploração de terras raras, por José Edilberto da Silva Resende

 


A mineração tem um papel importante na sociedade, porém, representa um desafio que requer responsabilidade e engajamento de todos. A exploração de recursos naturais sem considerar a sustentabilidade coloca em risco o legado que deixaremos para as gerações futuras. É nossa responsabilidade lidar com essa ameaça com sabedoria e cautela, visando à preservação do meio ambiente e o bem-estar das novas gerações. 

No cenário do 1º Simpósio de Terras Raras, conduzido pela Comissão de Direito Ambiental da OAB Poços de Caldas em 25 de outubro, mais de 100 participantes, incluindo empresários, pesquisadores, organizações sociais, cidadãos e representantes do poder público, reuniram-se para abordar avanços, desafios e projeções sobre a mineração de Terras Raras. Um dos principais enfoques foi a estreita relação entre academia e indústria, além da importância dos recursos minerais para a transição energética, dentre outros temas emergentes. 

Conforme publicação da (CPRM) - Informe de Recursos Minerais, Série Minerais Estratégicos, nº 02, intitulada, Avaliação do potencial de Terras Raras no Brasil. / Organizado por Lucy Takehara. – Brasília: CPRM, 2015, o interesse na exploração dos elementos terras raras (ETR) deve-se às oscilações que ocorreram no seu mercado nos últimos anos. Isto fez com que, em diversos países, empresas de mineração buscassem por novos depósitos ou reabertura /reavaliação de minas paralisadas e depósitos potenciais. Neste sentido, os órgãos governamentais de diversos países passaram a incentivar o desenvolvimento da cadeia produtiva deste bem mineral. 

No Brasil, diversos setores públicos e privados iniciaram debates para viabilização da exploração ao consumo de elementos de terras raras (ETR). Dentro do Plano Nacional de Mineração 2030, coube ao Serviço Geológico do Brasil (CPRM), entre outras questões, a identificação de alvos de minerais estratégicos para a indústria de alta tecnologia. O potencial brasileiro para ETR é grande. Hoje, o país tem a segunda maior reserva mundial com 22 Mt (milhões de toneladas) de reserva lavrável de óxidos de terras raras (OTR). Esta reserva poderá ser maior quando os projetos em desenvolvimento finalizarem os seus estudos de viabilidade econômica. Apesar de já ter produzido compostos de elementos terras raras (ETR) até início dos anos 2000, a partir das monazitas de placers marinho. 

Estes cenários, no entanto, não colocam o país em vantagem em relação aos demais países, visto que há necessidade de forte investimento no desenvolvimento das rotas tecnológicas de cada depósito. Isto porque cada mineralização exige rotas adequadas ao tipo de minério de forma a ser economicamente viável, pois são processos caros, de baixo rendimento e altamente poluente. Monazitas de placers marinhos referem-se a depósitos de areia que contêm minerais pesados, como a monazita, encontrados em ambientes marinhos, mais especificamente em leitos de rios, praias ou costas de oceanos. A monazita é um fosfato de terras raras que pode conter elementos como tório, urânio, lantânio, cério e outros elementos de terras raras. Considerando a relevância e o interesse pelos (ETR) justifica acessar o Informe de Recursos Minerais para entender o potencial identificado pela CPRM à época e motivo de atual expectativa na solução e caminho para transição energética.

O Decreto-Lei N° 227, conhecido como o "Código de Mineração", é a principal legislação que regulamenta a exploração de recursos minerais no Brasil. Este marco legal define o subsolo e a superfície como áreas distintas, estabelece a diferenciação entre pesquisa (atividades exploratórias para descobrir recursos minerais) e lavra (exploração comercial), e determina requisitos para concessões ou autorizações governamentais. 

Os concessionários têm direitos para explorar minerais, mas também têm obrigações de segurança, ambientais e financeiras, incluindo taxas e royalties. O código ressalta o princípio do desenvolvimento sustentável, priorizando a proteção ambiental e minimização de impactos negativos. Além disso, regulamenta a participação de empresas estrangeiras, exige o registro das empresas de mineração e estipula taxas e royalties baseados na produção e receita obtida com a exploração de minerais.

 A extração de terras raras, um processo fundamental na obtenção dos elementos químicos conhecidos como "terra rara", envolve uma série de etapas. Começando com a mineração, onde as terras raras são frequentemente encontradas em minerais como a monazita e bastnaesita, a atividade inclui o tratamento do minério para concentrar esses elementos. Essa fase envolve procedimentos como trituração, moagem e flotação para separar os minerais de terras raras dos indesejados. Posteriormente, ocorre a extração química dos elementos a partir do minério, usando processos como lixiviação ácida. 

Após a extração, o concentrado passa por refinamento para separar os elementos individuais. Esses processos podem ter impactos ambientais significativos, devido ao uso de substâncias químicas e ao descarte de resíduos. O uso de tecnologias de mineração e processamento mais sustentáveis e a gestão adequada de resíduos são essenciais para minimizar os impactos no meio ambiente durante a extração de terras raras, garantindo a preservação dos ecossistemas locais e a sustentabilidade a longo prazo. 

Ao considerar o background no contexto da mineração, é possível implementar estratégias mais eficazes de gestão ambiental, planejamento de recuperação de áreas degradadas e mitigação de impactos ambientais adversos associados às atividades de mineração. O entendimento das condições e características pré-existentes possibilita a implementação de práticas de mineração mais responsáveis e sustentáveis, visando a preservação e o equilíbrio do meio ambiente. 

Com 16% das reservas mundiais de terras-raras, o Brasil, no entanto, não produz esses elementos. Esta lacuna tem impulsionado esforços conjuntos entre governo, empresas mineradoras, consumidores e pesquisadores, visando posicionar o país como um produtor significativo desses elementos, superando os desafios inerentes à consolidação de uma cadeia produtiva de terras-raras em território nacional. 

A utilização das terras-raras é vital para a transição energética global. Estes elementos desempenham um papel crucial na fabricação de tecnologias verdes, como turbinas eólicas, veículos elétricos, painéis solares, entre outros dispositivos fundamentais para a redução da dependência de combustíveis fósseis. No entanto, a mineração desses recursos pode gerar impactos ambientais significativos, desde a degradação do solo até a contaminação de águas subterrâneas, o que pode prejudicar ecossistemas locais e a saúde das comunidades vizinhas. 

O "status quo ante" é o estado anterior, referindo-se às condições pré-existentes ou ao equilíbrio inicial antes da ocorrência de um determinado evento ou atividade. Utilizado como referência na mensuração de impacto ambiental, representa as condições ambientais ou o estado natural antes de qualquer intervenção humana. Neste contexto, a ausência de degradação ambiental atua como uma unidade de medida para avaliar a variação ou mudança resultante de atividades humanas, onde a manutenção desse estado inicial reflete a inexistência de impactos negativos.

Esta dinâmica assemelha-se ao conceito de "homeostase", um princípio biológico que se refere à capacidade de um sistema em manter um equilíbrio interno estável, compensando ou contrabalançando as perturbações. Na medida em que a ausência de degradação preserva o equilíbrio ambiental, esse princípio reflete a homeostase, onde as atividades humanas buscam minimizar ou neutralizar as mudanças prejudiciais no ambiente, mantendo-o em um estado de equilíbrio similar ao original, antes da intervenção humana.

 O “Projeto Caldeira é considerado único no mundo devido ao alto teor comprovado de Terras Raras em argila iônica”. De acordo com a Meteoric Caldeira Mineração Ltda, durante apresentação no Simpósio. 

A mineração de terras raras a partir da argila iônica apresenta vantagens significativas, como o método de lavra em cavas raras superficiais sem a utilização de explosivos, reduzindo potencialmente o impacto ambiental decorrente de práticas mais agressivas. Além disso, o preenchimento das cavas sem rejeitos ou estéreis contribui para a reabilitação do terreno minerado, atendendo às regulamentações brasileiras sobre a restauração de áreas impactadas. O processo de dissolução em Sulfato de Amônia, sem a presença de elementos radioativos, promove uma abordagem de processamento mais sustentável e menos agressiva ao meio ambiente, alinhando-se com as preocupações de minimização de impactos químicos e energéticos na indústria. 

No entanto, há desafios a serem considerados. A implementação de novas técnicas de mineração, apesar de menos invasivas, requer avaliações ambientais e monitoramento contínuos para mitigar riscos desconhecidos. A incerteza em torno dos impactos ambientais potenciais dessa abordagem exige uma atenção cuidadosa, considerando o princípio da precaução para prevenir danos que não se tem certeza de que não ocorrerão, além de um acompanhamento rigoroso para garantir a conformidade com a legislação ambiental. 

Dessa forma, a justificativa para explorar terras raras a partir da argila iônica precisa ser cuidadosamente ponderada em relação aos princípios da prevenção e precaução. Enquanto os benefícios potenciais dessas práticas são consideráveis, é essencial adotar medidas preventivas e precautelares para minimizar os riscos e garantir que a exploração se alinhe com a sustentabilidade ambiental e a conformidade legal.

Após a análise criteriosa dos impactos e desafios ligados à extração de terras raras da argila iônica, é evidente a urgência de adotar medidas preventivas e cautelares em consonância com os princípios da prevenção e precaução. A preservação dos recursos hídricos é essencial para a sustentabilidade, sendo um legado valioso tanto para as gerações atuais quanto para as vindouras. A colaboração entre sociedade, autoridades governamentais e setores industriais se torna imperativa para encontrar soluções que atendam às demandas do presente sem comprometer a integridade ambiental nem o bem-estar das futuras gerações. 

É crucial destacar a relevância da proteção das águas minerais de mesa e sulfurosas, consideradas patrimônios inestimáveis, sendo vitais para a saúde e o equilíbrio humano. Essas fontes hídricas, por sua importância, não podem, em hipótese alguma, ser ameaçadas, particularmente por atividades de mineração que possam afetar sua pureza e disponibilidade. A manutenção e preservação desses recursos representam um compromisso inegociável para garantir a continuidade de uma fonte vital de bem-estar humano e, portanto, devem ser protegidos de qualquer potencial risco ou dano advindo da atividade mineradora. 

A continuidade da discussão, sensibilização e a implementação de práticas inovadoras são fundamentais para salvaguardar a preservação desses recursos, garantindo um futuro mais equilibrado e sustentável para o planeta e suas comunidades. 

PERFIL - 

JOSÉ EDILBERTO DA SILVA RESENDE - Advogado, membro da Comissão de Meio Ambiente e Construção da OAB-MG/Subseção Poços de Caldas, Coordenador Adjunto do CBH do Rio Grande na Câmara Técnica de Integração e Legalidade (CTIL), Presidente do CBH do Rio Mogi/Pardo. Auditor da Norma ISO 14.000 com ênfase na Certificação em Sistema de Gestão Ambiental.  Membro da Associação Poços Sustentável e do Observatório Social Poços Sustentável e titular da Comissão das Águas da Câmara de Vereadores de Poços de Caldas pela OAB-MG-PCS. 

FOTO: Arquivo pessoal – 

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Amianto: "No Brasil, Mario Necci ainda espera por justiça", por Francesco Bertolucci

 


No Brasil, ainda se extrai amianto. Em 2020, o país produziu uma quantidade de 71.200 toneladas, e é o quarto país produtor no mundo, atrás da Rússia (720 mil toneladas), Cazaquistão (227 mil toneladas), e China (120 mil toneladas). Assim como nos Estados Unidos, no Brasil considera-se o dano moral. Para aqueles que trabalham nos setores metalúrgicos ou de construções, a indenização é obtida mais rapidamente e pode chegar a um valor de 500.000 dólares em caso de mesotelioma. "Temos pouquíssimos processos no setor marítimo", afirma Fernanda Giannasi, engenheira e uma das fundadoras da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA), "e muitas vezes chega-se a acordos. Foi o caso de dois engenheiros holandeses que trabalhavam no estaleiro Verolme. Eles recusaram-se a ir ao Tribunal ou de transformar os casos em publicidade. Os dois morreram de mesotelioma. É difícil, no Brasil, convencer engenheiros ou trabalhadores especializados a denunciar para obter justiça”.

Mario Necci, engenheiro naval, nascido em 1945, romano que viveu em La Spezia, Liguria, e depois no Brasil, denunciou em 2015. "Seguimos o conselho de uma amiga advogada", explica a esposa Bianca que ainda mora lá. "Depois da aposentadoria, começou a ter problemas", continua. "Após termos ido a vários hospitais, durante um exame viram algo nos pulmões: mesotelioma". O amianto o acompanhou durante todos os seus anos de trabalho. "Meu marido", explica Bianca "trabalhou pela Transroll Navegação de 1981 até 2013. Quando chegamos ao Brasil, ele trabalhou em um navio que vinha da Espanha, o Pioneiro, que era cheio de amianto". 

Bianca viu o marido trabalhar com este material. "Seis meses após nossa mudança para o Brasil, fui visitá-lo em Fortaleza", afirma ela "e o encontrei na sala máquinas enquanto estava consertando uma caldeira com amianto. Quem sabe a quantidade que ele inalou? Não havia equipamentos de proteção". Durante o processo, algumas testemunhas declararam que Necci mandava outros em seu lugar, enquanto ele permanecia no escritório. "Então, como é possível ter dois passaportes cheios de carimbos como ele tinha?" pergunta Bianca. 

"Ele estava sempre embarcado em algum navio". Em 2020, após cinco anos de agonia, Necci não resistiu mais. "Meu marido morreu quando já não conseguia mais caminhar; ele sufocava", lembra. O processo ainda não terminou. Mario e sua esposa pediram ajuda à Itália mas ninguém os escutou. "O único órgão que fez algo foi o INAIL (Instituto Nacional de Seguros para Infortúnios no Trabalho), que nos garantiu uma pequena compensação" diz Bianca, "mas pelo resto, nós imigrantes somos apenas um número. O processo está indo muito mal. Para poder curar meu marido, vendemos tudo e em seu enterro, éramos apenas três pessoas. Nem uma nota de pêsames por parte da empresa. Não me importo com o dinheiro, quero somente justiça. Mas sei que nunca irei obtê-la".

Tradução de artigo publicado no jornal duário "II Manifesto", com sede em Roma, no dia 9 de novembro de 2023. Traduzido por Marzia Necci, filha de Mario Necci. Reprodução autorizada pela ABREA. 

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terça-feira, 14 de novembro de 2023

Angra 2: retorno ao Sistema Integrado Nacional (SIN) adiado para esta quarta-feira (15/11)

 


A Eletronuclear adiou para esta quarta-feira (15/11) a retomada da usina nuclear Angra 2 ao Sistema Integrado Nacional (SIN) prevista inicialmente para segunda-feira (13/11). A usina foi desligada no dia 25/9 para a troca de combustível (urânio enriquecido) e para desenvolver mais de cinco mil atividades. Cerca de dois mil profissionais entre brasileiros e estrangeiros estão envolvidos nos serviços programados. 

Já a usina Angra 1 foi desligada no dia 28/10 e está prevista para voltar a operar no dia 16/12. A parada também foi programada para reabastecimento de um terço de combustível, além de cerca de 4.800 outras tarefas. O trabalho se estende por 50 dias e conta com a participação de aproximadamente 1.300 profissionais nacionais e internacionais. São, portanto, 3.300 profissionais contratados para trabalhar nas duas unidades atômicas. 

No caso de Angra 1, o tempo de parada será um pouco maior, visto que estão serão executadas atividades já programadas no projeto de extensão de vida útil da usina por mais 20 anos, informou a Eletronuclear, gestora das centrais nucleares. 

Há cerca de cinco anos a compra do combustível nuclear feita a Indústria Nucleares do Brasil (INB girava em torno de R$ 280 milhões. Nada mais foi informado sobre este valor atualizado. Também não se tem informações sobre as contratações dos profissionais (2 mil para Angra 2 e 1.300 para Angra 1). Quando o Brasil terá condições de empregar quase ou 100% de brasileiros.

 (FOTO: Angra 2 - Eletronuclear). 

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segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Alexandre Silveira visita obras de Angra 3, que estão embargadas; sem acerto de contas de R$ 264 milhões ainda

 


O Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, fez nesta segunda-feira (13/11) uma visita técnica às obras da usina nuclear de Angra 3, que estão embargadas pela Justiça. O prefeito Fernando Jordão e o secretário de Governo e Relações Institucionais, Claudio Ferreti, participaram, além de autoridades federais e estaduais. O impasse sobre verbas continua. Em meados deste ano, a Eletronuclear se comprometeu com a prefeitura de Angra dos Reis a pagar uma dívida no valor de R$ 264 milhões, a título de compensações socioambientais pela construção de Angra 3, conforme o BLOG publicou no dia 14/7. 

Pelo acordo, a Eletronuclear quitaria a dívida com a prefeitura de Angra em cinco parcelas, até 2027, data prevista para o início das operações da central nuclear. Mas, segundo a prefeitura, a Eletronuclear ainda não pagou a dívida. Além disso, o próprio presidente da Eletronuclear Eduardo Grand Court, no cargo desde o ano passado, admitiu não ter condições de pagar a dívida e vem esticando a data de inauguração da central atômica – que depende de R$ 20 bilhões – para 2028. 

FICOU EM DESACORDO -


Em abril deste ano, a Prefeitura de Angra dos Reis embargou as obras da usina nuclear de Angra 3. O motivo para a paralisação da construção foi a mudança de projeto urbanístico de Angra 3, que ficou em desacordo com a proposta inicialmente aprovada pelo governo do município. A Prefeitura irá conceder um novo alvará de construção para Angra 3 quando as modificações no projeto forem aprovadas. 

Em outubro de 2009, a Eletronuclear e a Prefeitura de Angra dos Reis assinaram um termo de compromisso para o repasse de recursos a serem usados em projetos socioambientais na cidade. Foi a contrapartida à cessão do terreno pela Prefeitura para a construção de Angra 3. Em valores atualizados, essa contrapartida em compensações socioambientais atinge R$ 264 milhões.  

Angra 3 também não recebeu verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal: foi apenas decidido que terá que passar por um estudo de viabilidade. Este fato desanimou bastante componentes do setor nuclear. Porém aumentam as pressões pela retomada das obras da usina e de outros empreendimentos do setor, como a exploração de urânio. Audiência púbica, na Câmara dos Deputados, na Comissão de Minas e Energia, sobre "potencial da energia nuclear na descarbonização da matriz energética", há poucos dias, reuniu lideranças de empresas e entidades do setor, e do governo passado, como o ex-ministro Bento de Albuquerque, que enalteceu a iniciativa do deputado Júlio Lopes. 

LULA EM ANGRA 3

Durante a visita nesta segunda-feira ao canteiro de obras da central nuclear, o presidente da Eletronuclear , Eduardo Grand Court, adiantou: "O ministro Alexandre Silveira também disse que quer trazer o presidente Lula para uma visita à Angra 3, de maneira a atender os anseios das prefeituras com o apoio dos deputados federais”. 

Fato é que o prefeito Jordão quer resolver a questão da contrapartida: 

"Um dos objetivos da visita de hoje foi debater normas técnicas e judiciais para a realização das contrapartidas necessárias a fim de que a construção da usina nuclear, que está paralisada, seja retomada”, informou.

 - Recebemos o ministro de Minas Energia, juntamente com os prefeitos de Paraty e Rio Claro. Foi uma conversa muito produtiva e agora vamos aguardar, pois a obra de Angra 3 só trará benefícios para o país. A obra é importante, mas para isso precisamos que a Eletronuclear cumpra seu compromisso junto aos municípios – afirmou Jordão. 

No auditório do Observatório Nuclear, o ministro Alexandre Silveira discursou sobre o desejo de retomar em breve as obras. Ele reiterou o compromisso do governo federal em investir em fontes de energia limpa e segura, destacando a importância estratégica das usinas nucleares para garantir a estabilidade no fornecimento de energia nas próximas décadas. 

- Hoje vim pessoalmente para conversar e discutir com os prefeitos e responsáveis pela Eletronuclear normas técnicas e judiciais para realização das contrapartidas necessárias para que as obras sejam retomadas. A energia nuclear é uma fonte de baixa emissão de carbono, contribuindo para os esforços de combate às mudanças climáticas. A conclusão de Angra 3 ajudará o Brasil a cumprir suas metas de redução de emissões, alinhando-se aos compromissos internacionais. Já não há mais discussão sobre a necessidade de salvaguardarmos o planeta. O Brasil, sem dúvidas, nos próximos dez anos terá uma grande oportunidade de possuir uma economia verde. E a energia nuclear faz parte, porque além de não poluir, é fundamental para o nosso sistema, porque é uma energia firme”, disse o ministro.

 “Essa visita foi fundamental, porque o ministro deixou clara a importância do empreendimento, assim como a negociação dos parlamentares”, afirmou Eduardo Grand Court.  O evento contou ainda com a presença do presidente da ENBpar, Luis Fernando Paroli, do presidente da Eletrobras, Ivan de Souza Monteiro, dos deputados Julio Lopes, Max Lemos e Reimont Luiz Otoni, dos prefeitos das cidades do entorno da central nuclear. 

FOTO: ASCOM PREFEITURA DE ANGRA DOS REIS - 

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ANM faz visita de inspeção na Unidade de Concentrado de Urânio em Caetité (BA)

 


Fiscais da Agência Nacional de Mineração (ANM) realizaram a primeira visita de inspeção na Unidade de Concentração de Urânio (URA) da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Caetité/BA, no início de outubro. A notícia foi divulgada nesta segunda-feira (13/11) pela INB. A retomada da produção de urânio em Caetité vem sendo anunciada desde 2018, assim como alertas sobre os riscos de contaminação feitos por especialistas do setor nuclear, conforme o blog vem divulgando.

A inspeção da ANM teria sido um encontro dos fiscais com os profissionais da INB sobre a estrutura da unidade, funcionamento e esclarecimentos de dúvidas quanto ao s procedimentos da empresa. Fiscais da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) também acompanharam a inspeção.

Em maio de 2023, a CNEN, até então responsável por essas fiscalizações, informou à INB que a ANM passaria a executar a fiscalização das estruturas de mineração da URA. A mudança de órgão regulador e fiscalizador decorre da promulgação da lei 14.514 de dezembro de 2022. A Unidade segue sendo fiscalizada pela CNEN, nos quesitos radiológicos, e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) quanto aos aspectos ambientais.

RETOMADA ANUNCIADA EM 2018. 

Há exatos cinco anos (14/11/2018) a direção da INB anunciou aos empregados da empresa em Caetité (BA), que uma etapa importante para a retomada da produção de urânio seria iniciada no dia 12 de dezembro deste ano. “A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) concedeu autorização para a realização dos testes operacionais dessa planta química já beneficiando as rochas de urânio que estão no pátio”, informou a empresa.

 Já naquela época os trabalhados em Caetité estavam parados há mais de três anos, ou seja, desde 2015, aguardando a licença da CNEN. “Com a retomada da produção, a dependência nos recursos do Tesouro tende a diminuir ainda mais, além dos ganhos com a geração de empregos, aumento de recolhimento de impostos e, ainda, a redução de compras de urânio no exterior”, informou a INB. Mas parece que a expectativa não teria ido adiante. E mais, especialistas no setor nuclear, além de entidades civis, passaram a fazer vários alertas.

 RISCOS DE CONTAMINAÇÃO - 

Casos de câncer na população próxima a jazidas de urânio; acidentes que contaminaram parte de rios e solo; caminhão tombado, deixando amostras de rochas com material radioativo pelas praças onde crianças brincaram. São alguns dos relatos de um dos maiores conhecedores da trajetória nuclear brasileira, com participação ativa em pesquisas de campos, nos últimos 30 anos: o professor Célio Bermann, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP).  Ele conversou com o BLOG em 6 de outubro de 2020. Eis um resumo da entrevista. 

Doutor em Engenharia Mecânica na área de Planejamento de Sistemas Energéticos pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mestre em Engenharia de Produção na área de Planejamento Urbano e Regional pela COPPE/UFRJ e graduado em Arquitetura e Urbanismo pela USP, ele não poupou as ações para a retomada da exploração urânio e o projeto de construção de uma usina no Nordeste. “O quadro é caracterizado pela desinformação, resultado desta incapacidade do setor nuclear de se abrir, permanecendo como “Caixa preta”.  Indagado sobre a pretensão do governo, naquela época, de retomar a exploração da mina de urânio do Engenho, em Caetité, na Bahia; e se era confiável o histórico de segurança no setor da mineração de urânio no Brasil, ele respondeu:

 “O Brasil teve o primeiro local de exploração de urânio em Caldas (MG) cuja mina se encontra atualmente esgotada. Essa exploração do minério deixou uma barragem com rejeitos que coloca em risco a região em caso de rompimento. Vários casos de câncer nos trabalhadores da mina foram notificados pelos serviços de saúde local, muito embora a relação causa-efeito com a exposição a material radioativo nunca tenha sido estabelecida. A partir do ano 2000, o local de exploração de urânio no país passou para os municípios de Lagoa Real e Caetité (BA), onde a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) explorou o minério até 2014. Nessas minas também não faltaram problemas graves ligados à mineração do material radioativo”, disse Bermann.

 Ele confirmou os problemas de saúde e foi adiante: “Casos de câncer na população local provocados pelo contato com a radiação e danos ao ambiente. Entre 2000 e 2009, houve pelo menos cinco acidentes que contaminaram parte dos rios e solo da região, de acordo com um relatório da Secretaria de Saúde da Bahia. Mesmo assim, em outubro de 2019 a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) emitiu licença autorizando operações na mina do Engenho, que é parte da usina de beneficiamento nuclear da INB em Caetité. Com isso, a exploração do urânio na região foi retomada”. 

A justificativa pela mineração de urânio é de que vai gerar muitos recursos, perguntamos. E a resposta foi taxativa: “O que parece explicar essa obsessão pela exploração do urânio é o fato de o Brasil possuir reservas estimadas em 309.200 toneladas, o que situa o país como uma das maiores reservas do mundo. Mas creio que esta retomada tem a ver com a decisão estratégica de cunho militar de controle de todo o ciclo nuclear, iniciando com a exploração do urânio para alcançar propósitos de uso pacífico, sempre alegados, mas de difícil controle social. O objetivo econômico não deve ser a razão desta retomada, pois o preço do minério no mercado internacional não deixou de cair, notadamente após o acidente de Fukushima no Japão, em março de 2011”, afirmou. 

 PROVÍNCIA MINERAL - 

Dados oficiais da INB informam que a unidade ocupa uma área de 1.700 hectares, localizada em uma província mineral com recursos que chegam a 87 mil toneladas de urânio e onde estão identificados 17 depósitos minerais. De 2000 a 2015, a INB Caetité produziu 3.750 toneladas de concentrado de urânio a partir da extração a céu aberto de uma dessas jazidas – a mina Cachoeira. A mina que se encontra em operação hoje é a mina do Engenho. 

(FOTO: INB)

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