terça-feira, 19 de agosto de 2025

Unidade de operação de urânio em Caetité (BA) tem primeiro exercício simulado em quase 30 anos

 


Um ano e meio depois de um vendaval ter paralisado as atividades da planta da Unidade de Concentração de Urânio (URA) da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Caetité/BA, foi realizado na última quinta-feira (14/08) um exercício simulado de emergência ambiental na instalação, que já estava operando após reparos. O simulado teve cenário hipotético com chuvas intensas, vazamento de licor de urânio e resgate de ave. Foi o primeiro simulado desde a fundação da URA, criada em 1988 para impulsionar a produção de energia nuclear no Brasil e incorporou empresas que faziam parte da Nuclebrás, responsável pelo acordo nuclear Brasil-Alemanha. 

A URA, especificamente, foi iniciada em 1998. Lá é onde ocorre a mineração e beneficiamento do minério de urânio, segundo a INB, há 15 dias sob a presidência do engenheiro Marcelo Xavier. 

A URA está instalada nas proximidades da única mina de urânio em operação no Brasil. De lá, saíram recentemente toneladas de yellow cake (urânio forma de pó ou pasta) para a Rússia realizar duas etapas de conversão: urânio na forma de gás (hexafluoreto) e o enriquecimento; que retornaram ao Brasil, via Posto do Rio de Janeiro, rumo a INB em Resende (RJ) para a etapa final de transformação em pastilhas e, em seguida, serem inseridas em varetas, para os reatores das usinas nucleares Angra 1 e angra 2, no completo Nuclear de Angra dos Reis. 

CENÁRIO HIPOTÉTICO. 


O cenário hipotético inicial foi de chuvas intensas na região, seguidas por um vazamento de licor de urânio e do resgate de uma ave. O exercício simulado reuniu equipes do licenciamento e de emergências ambientais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e, pela primeira vez, da Agência Nacional de Mineração (ANM). Ao todo, 16 profissionais desses órgãos participaram da atividade. 

“Embora ciente da realização do exercício, a INB não foi informada previamente sobre qual situação seria simulada. A partir de uma sala de crise, os fiscais deflagraram diferentes cenários e acompanharam, em tempo real, a atuação das equipes da empresa para restabelecer a normalidade”. 

A analista ambiental do Ibama e representante junto ao Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON), Illona Sá: “Esperamos que outras edições futuras do treinamento possam evoluir ainda mais, aprimorando protocolos, aproximando pessoas, testando situações e processos, de forma a contribuir com a prevenção e atendimento às emergências ambientais”, disse. 

O gerente de Segurança, Radioproteção e Meio Ambiente (GSRAM.M), Lupicino Teixeira, destacou que o bom resultado alcançado está conectado com o trabalho de preparação e o alinhamento sinérgico das equipes de comunicação, brigada de emergência, controle ambiental, segurança e radioproteção.

LEIA NO BLOG -  

24/01/2024 - INB tem que informar sobre contaminação de urânio em Caetité (BA); refletores sem funcionar levam vigilantes a usarem lanternas em rondas noturnas

13/01/2024 - Vendaval paralisa planta de produção de urânio de Caetité

(FOTO/fonte – INB) – 

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sexta-feira, 8 de agosto de 2025

A Nuclep, fruto do acordo nuclear Brasil - Alemanha, é alvo de auditoria do TCU, que revela grave crise de gestão e aciona o MME

 


Fruto do Acordo Nuclear Brasil- Alemanha, que completou 50 anos em julho, a Nuclep (Nuclebras Equipamentos Pesados), em Itaguaí (RJ) está sob auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União), que concluiu anteontem (6/8), que a estrutura da estatal está superdimensionada. O TCU determinou que o Ministério de Minas e Energia (MME) apresente, em 180 dias, uma proposta para a manutenção ou reestruturação da estatal. A Nuclep foi fundada para produzir equipamentos pesados que seriam destinados às oito usinas atômicas previstas no “contrato do século”. Mas apenas Angra 2, inaugurada em 2001, funciona; enquanto Angra 3 com 67% das obras concluídas, continua com destino incerto. Angra 1 foi comprada dos EUA. 


A Nuclep ocupa uma área de um milhão de metros quadrados e um vasto conjunto de máquinas. Dispõe de heliponto próprio com local de pouso e decolagem, e terminal marítimo privativo.  A informações sobre a situação da Nuclep são antigas. Desde 2020, nos bastidores, há a aposta de que a empresa permaneceria como estava por falta de investidores, diante da crise financeira mundial. Em abril de 2020, a Nuclep foi colocada no Programa Nacional de Desestatização. Foi retirada do Programa em 2023. Russos visitaram a Nuclep recentemente. Mesmo sem o sinal verde do governo sobre a continuidade das obras de Angra 3, no ano passado, a Nuclep assinou contrato com a empresa Tubacex, na Áustria, para o fornecimento de 67 km de tubos de aço inoxidável e sem solda para as obras da usina nuclear.  A entrega final dos equipamentos estava prevista para o início de 2025. 

Em maio deste ano, a presidência da Nuclep foi ocupada por Alexandre Vianna Santana, após a exoneração de Carlos Henrique Silva Seixas. Alexandre Vianna, que já atuava como diretor industrial da empresa, é capitão de mar e guerra da Marinha do Brasil. 

AUDITORIA - 

A auditoria do TCU também aponta para uma dependência de recursos do Tesouro Nacional em torno de 90% nos últimos cinco anos. Conforme documentos nos sites do Governo, o TCU determinou que a estatal, no prazo de 360 dias, reestruture o seu modelo de apropriação de custos e centralize os seus processos em um único sistema, conectado ao SIAF (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal). 

Nos últimos anos a Nuclep diversificou as suas operações para outros segmentos energéticos, com destaque para óleo e gás, conforme informações no site da empresa. Em 2023, apenas 2,8% da produção foi voltada para o foco original da empresa. Mas a auditoria concluiu que atuar no setor de óleo e gás não garante a sustentabilidade da estatal. Segundo projeções da própria Nuclep mesmo com quase 100% de ocupação da capacidade produtiva com projetos de baixo valor agregado, a receita gerada não seria compatível com a sua alta estruturação. 

NUCLEP NA BALANÇA - 

Dia 15/4/2020 – O governo assinou o decreto nº 10.322, incluindo a Nuclep no Programa Nacional de Desestatização. Estava fabricando equipamentos de alta tecnologia para o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP). No final de 2019 foi contratada pela Amazônia Azul Tecnologias de Defesa (Amazul) para fabricar o Bloco 40, protótipo do Reator Nuclear que está sendo desenvolvido pela Marinha para o Submarino de Propulsão Nuclear (SN-BR). 

Dia 16/02/2023 - Os funcionários da Nuclep realizaram manifestações exigindo a exoneração do presidente da empresa, o contra-almirante Carlos Henrique Silva Seixa e de toda a diretoria militar da empresa. Seixas havia sido nomeado diretor administrativo no governo de Michel Temer, julho de 2016; acumulou a presidência interinamente em abril de 2017; em dezembro do mesmo ano foi nomeado presidente; mantido no cargo durante toda a gestão do então presidente Jair Bolsonaro. Nesse meio tempo, o número de empregados caiu de 1058 para 762. 

Dia 7/04/2023 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva retirou a Nuclep do Programa Nacional de Desestatização. 

Dia 14/04/2024 – Russos visitam a Nuclep - Representantes da Rosatom Energy Projects, empresa russa com sede em Moscou, e responsável pelo complexo energético nuclear no país, visitaram a Nuclep no dia 10/4/2024, visando novas parcerias como a expansão e produção de equipamentos ao desenvolvimento do setor nuclear brasileiro. 

Dia 21/08/2024 - Nuclep assina contrato com empresa Austríaca e compra equipamentos para usina nuclear Angra 3. O contrato foi assinado pela Nuclep com a empresa Tubacex, na Áustria, para o fornecimento de 67 km de tubos de aço inoxidável e sem solda para as obras da usina nuclear de Angra 3. Os equipamentos, projetados para resistir a pressões, calor e transporte extremos, têm a certificação KTA - Nuclear Safety Standards Commission - destinada ao setor nuclear, segundo a direção da Nuclep. A entrega final dos equipamentos está prevista para o início de 2025. O deputado federal Júlio Lopes participou da comitiva que visitou a empresa na Áustria, no ano passado. 

FOTOS: NUCLEP – COLABORE COM O BLOG – SETE ANOS DE JORNALISMO INDEPENDENTE – CONTRIBUA VIA PIX: 21 99601-5849 – CONTATO: malheiros.tania@gmail.com 

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Trabalhadores vítimas de radiação ganham na Justiça direito a plano de saúde sem interrupção; processo segue por indenização

 


Depois de uma luta de cerca de 20 anos na Justiça, pelo menos 55 sobreviventes das dezenas de operários que ficaram doentes e morreram devido ao trabalho com material radioativo, na Nuclemon/SP, sucedida pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), não terão mais interrompido o direito a um plano de saúde para tratar de suas enfermidades, em geral, o câncer; e poderão continuar com o processo inicial visando à indenização pelos danos causados às suas vidas. A decisão, nesta quarta-feira (6/8), foi tomada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), 8ª Turma, tendo como relator o ministro Sérgio Pinto Martins, e os votos da ministra Dora Maria da Costa e do desembargador José Pedro de Camargo. 

A informação é do advogado Luís Carlos Moro, voluntário na causa das vítimas da radiação. “A importância desse julgamento é que ele estabelece a tese de que, em casos tais, especialmente na Indústria Nuclear, a prescrição se conta apenas a partir da ciência inequívoca dos efeitos finais da exposição dos trabalhadores às condições agressivas de trabalho. Muito relevante para todo o conjunto desses trabalhadores”, informou o advogado, que atua no processo 0093900-49.2005.5.02.0012.


Diversas vezes as vítimas tiveram o plano de saúde suspenso pela INB e o tratamento foi paralisado, “causando desespero e problemas indescritíveis”, comentou o advogado. Os últimos sobreviventes fazem parte de uma lista incontável de trabalhadores que ao longo dos anos foi morrendo.

EM BENEFICIO DOS EUA- 

Tudo começou entre as décadas de 40 e 50, quando o governo brasileiro iniciou a operação danosa para operar com material radioativo, as areias monazíticas, subtraídas das praias do litoral da Bahia, do Espirito Santo e Rio de Janeiro. Em 1954, o governo inaugurou oficialmente a Orquima, no Brooklin, em São Paulo. Lá, bem antes da inauguração, operários enganados passaram a manusear material radioativo como o urânio e o tório. Toneladas de material nuclear foram vendidos para os Estados Unidos. 

A empresa passou a ser chamada de Usina de Santo Amaro (Usam) e na década de 70, de Nuclemon. A quantidade de trabalhadores doentes chamou a atenção da médica Maria Cruz de Oliveira Castellano, que atendia no posto de saúde da região. As denúncias chegaram à fiscal do trabalho, engenheira Fernanda Giannasi, incansável nas inspeções à instalação, com representantes do Sindicato dos químicos. Diante das sérias irregularidades, Fernanda conseguiu o fechamento da Nuclemon.

Fernanda produziu relatórios, fotos e as informações que deram início ao processo contra a empresa. Foram anos de muita luta até que em 2006, um incansável grupo formado pela fiscal do trabalho, a médica e algumas vítimas fundou a Associação Nacional dos Trabalhadores na Produção Nuclear (ANTPEN), presidida por José Venâncio Alves, que trabalhou na Nuclemon. 

“A decisão tomada pela Justiça hoje é um sopro de esperança diante da vergonhosa situação que as vítimas enfrentaram durante tantos anos, enquanto a INB vira e mexe cortava o plano de saúde e recorre contra o direito dos trabalhadores já tão sofridos. Agora, vamos em frente”, comenta o advogado. 

(A saga dos operários me levou a escrever o livro Cobaias da Radiação – a história não contada da marcha nuclear brasileira e de quem ela deixou para trás). 

FOTOS: OCTAVIANO INÁCIO DE OLIVEIRA – FALECIDO COM CÂNCER, DEPOIS DE GRANDE SOFRIMENTO - REUNIAO DA ANTPEN – COLABORE COM O BLOG – SETE ANOS DE JORNALISMO INDEPENDENTE – CONTRIBUA VIA PIX: 21 99601-5849.

Faz 80 anos que os EUA atiraram suas bombas atômicas contra Hiroshima e Nagasaki, no Japão

 


Durante a Segunda Guerra Mundial o Planeta assistiu à tragédia e ao horror provocados pelas bombas atômicas norte-americanas, que destruíram Hiroshima e Nagasaki, no Japão. A primeira era uma bomba de urânio, de 12 quilotons, lançada no dia 6 de agosto de 1945 sobre Hiroshima, cidade que, na época, estava com uma população de 350 mil habitantes. Sob os efeitos imediatos e posteriores à explosão, pelo menos 140 mil pessoas morreram até o final daquele ano. A explosão que ocorreu 510 metros acima do centro de Hiroshima, provocou um imenso clarão, cegando instantaneamente milhares de pessoas. Eram 8h15 da manhã (hora do Japão) e os Estados Unidos mostravam ao mundo a força invencível de sua nova arma: a bomba atômica.


Três dias depois, foi a vez do bombardeio de Nagasaki, que matou 74 mil pessoas de uma população total de 280 mil. A bomba de plutônio, de 22 quilotons, arrasou sete quilômetros quadrados da cidade. Foi às 11h02, a 507 metros do solo. Até hoje não há certeza absoluta quanto ao número de vítimas das bombas atômicas, porque a radiação pode provocar doenças crônicas, como o câncer, que se manifestam anos depois. 

ÚLTIMA GERAÇÃO - 

Para lembrar o horror provocado pelas bombas e homenagear as vítimas, o Japão ergueu o Memorial da Paz, com fotos e imagens das cidades destruídas, de rostos e corpos deformados pela radiação. Recentemente, foi doado ao Museu um vídeo sobre a cidade de Hiroshima, dez anos antes do lançamento da bomba. O vídeo está no YouTube. 

A última geração de sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki tem sido incansável em prestar depoimentos e continuar denunciando a tragédia. Há décadas, os “hibakusha” - (pessoas afetadas pela bomba”) - pedem o fim das armas nucleares. Segundo o Ministério da Saúde do Japão, existiam até 2020, cerca de 136.700 sobreviventes. Muitos eram bebês ou estavam sendo gestados quando as bombas devastaram as cidades. Em 2020, eles tinham em torno de 80 anos e criaram o “No More Hibakusha Project”, que trabalha para preservar arquivos e depoimentos para as próximas gerações.  

Eles temem que o tema possa estar se perdendo. Para manter viva a memória da tragédia provocada pelas bombas, preocupados com o desaparecimento da memória coletiva, eles contam com a campanha de filhos, netos e demais familiares de sobreviventes. 


O comerciante Takashi Morita, um dos sobreviventes da bomba que atingiu Hiroshima, morreu no dia 12 de agosto de 2024, em São Paulo. A morte foi comunicada em uma nota de pesar divulgada nas redes sociais da Escola Técnica Estadual (Etec) de Santo Amaro, Zona Sul, que leva o nome de Takashi desde 2019. Morador de São Paulo desde 1956, Takashi ficou conhecido como um hibakusha. Em 6 de agosto de 1945, ele tinha 21 anos e era soldado da polícia militar japonesa. 

PODERIO - 

Em julho de 1995, às vésperas das comemorações do cinquentenário do fim da Segunda Guerra, um dos pais da bomba de Hidrogênio, o físico norte-americano Edward Teller, participou de um debate sobre a primeira explosão atômica experimental, realizada no deserto do Novo México. Durante o debate Teller afirmou que os EUA poderiam ter evitado os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, lançando, em vez disso, uma bomba na baia de Tóquio somente para demonstrar seu poderio nuclear. A explosão na baia, disse o físico, poderia ter sido feita a 10.000 metros de altura e seria capaz de provocar “apenas lesões oculares”. Teller atuou no Projeto Manhattan (nome simplificado do Manhattan Engineering Project) que produziu a primeira bomba atômica, sob o comando do exército norte-americano. 

Em 1945, segundo ele, os cerca de 200 cientistas que trabalharam no projeto pediram que fosse realizado somente um bombardeiro para intimidar o Japão, porém o diretor do Manhattan, Robert Oppenheimer, não quis tomar uma posição. Uma das versões conhecidas é de que os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki representaram o castigo pelo ataque japonês a Pearl Harbour, em dezembro de 1941. 

PERDEU A CORRIDA - 

Versões e acusações não faltaram ao longo dos 80 anos do ataque dos EUA às cidades japonesas.  Em julho de 1995, aos 84 anos, o físico e militar japonês reformado, Tatsubaro Suzuki, revelou que os japoneses também haviam trabalhado para fabricar a bomba atômica durante a Segunda Guerra, fazendo enormes progressos na parte teórica, embora tenham perdido a corrida por falta de investimentos e instalações adequadas. O principal problema havia sido o fracasso no isolamento do urânio- 235 em nível satisfatório. Suzuki relatou que 50 cientistas participaram do projeto, dispondo de US$ 2,5 milhões (valor da época) doados pela família imperial japonesa. 

A quantidade de cientistas era pouca, se comparada ao número de pessoas que trabalhava no Manhattan. “Se o projeto japonês contasse com mais recursos, teria resultado na fabricação da bomba atômica em um ano”, afirmou o cientista, dizendo ainda que o imperador Hirohito jamais assumiu a responsabilidade pelo programa. Fato é que Hiroshima e Nagasaki são as piores lembranças sobre a utilização da energia nuclear. 

FOTO: Matéria publicada neste Blog em 5/8/2020, republicada em 3/08/2025. Mães choram um ano depois da Bomba em Hiroshima - Mãe e criança - Reprodução Galileu. Material de pesquisa: livros, jornais, revistas e vídeos.  

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segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) tem novo presidente: Marcelo Xavier de Castro

 


O Conselho de Administração da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em reunião extraordinária, realizada nesta segunda-feira (4/8) empossou Marcelo Xavier de Castro no cargo de presidente da estatal, subordinada ao Ministério de Minas e Energia (MME), no lugar que Adauto Seixas ocupava desde setembro de 2023. A permanência de Seixas se tornou insustentável por conta de várias denúncias contra ele, como a de ter optado pelo Plano de Demissão Voluntária (PDV) e permanecido no cargo; perseguição a funcionários, falta de transparência nos contratos, por exemplo. O novo presidente é engenheiro de segurança e funcionário de carreira da INB. 

A estatal é responsável pela mineração de materiais críticos, como urânio, entre outros. Enfrenta questões há décadas, como a descontaminação da Unidade com material radioativo em Caldas (MG), falta de investimentos na Unidade de Concentrado de Urânio (URA), em Caetité, e uma vasta lista de demandas. A INB é responsável pela produção do combustível (urânio enriquecido) para alimentar os reatores das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, parte importada da Rússia e da Urenco (consórcio formado por empresas da Alemanha, Inglaterra e Holanda). Na Unidade em Resende (RJ), o combustível passa por processos até ficar em condições de seguir para a Central Nuclear de Angra. 

DIRETORIA - 

O MME indicou outros nomes para a substituição do comando da INB. A indicação do advogado, empresário e político cearense Tomás Antônio Albuquerque de Paula Pessoa, conhecido popularmente como Tomás Figueiredo Filho, filiado ao MDB, estava na pauta da reunião desta segunda-feira (4/8), mas não aconteceu.  Tomas foi deputado estadual na Assembleia Legislativa do Ceará (2007-2010), e teria sido indicado para atuar junto ao consórcio da INB com a empresa Galvani, em Santa Quitéria. O projeto tem sido combatido por moradores, pesquisadores e ambientalistas da região. Tomas foi indicado para a diretoria de Recursos Minerais, no lugar de Luiz Antônio da Silva. 

Outra indicação criticada é a de Itamar de Almeida para a diretoria de Finanças e Administração, no lugar de Maurício Pessôa Garcia Junior. Itamar já trabalhou na INB em 2003, na primeira gestão do presidente Lula, quando a empresa estava no comando do sindicalista Luís Carlos Vieira, e teria sido afastado por questões políticas, entre outras, contrárias naquele momento. Porém, com ação trabalhista, conseguiu ser reintegrado. 

Também desagradou bastante a indicação de Alexandre Gromann de Araújo Góes para a diretoria de Combustível Nuclear, no lugar de Reinaldo Gonzaga. Gromann é funcionário da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Na gestão anterior da CNEN foi afastado de um cargo de diretoria, mas continua na Comissão.  Por ser da CNEN estaria impedido de ser nomeado para a INB. 

Na reunião desta segunda-feira (4/8) nada mudou, além da posse do novo presidente. 

A única diretoria sem indícios de alteração é a técnica de Enriquecimento Isotópico, ocupada por Alexandre de Vasconcelos Siciliano, no cargo desde fevereiro deste ano, conforme o Blog divulgou na semana passada.

(FOTO: JORNAL DO AÇO) – 

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domingo, 3 de agosto de 2025

Hiroshima e Nagasaki: 80 anos da destruição pelas bombas atômicas dos EUA

 


Durante a Segunda Guerra Mundial o Planeta assistiu à tragédia e ao horror provocados pelas bombas atômicas norte-americanas, que destruíram Hiroshima e Nagasaki, no Japão. A primeira era uma bomba de urânio, de 12 quilotons, lançada no dia 6 de agosto de 1945 sobre Hiroshima, cidade que, na época, estava com uma população de 350 mil habitantes. Sob os efeitos imediatos e posteriores à explosão, pelo menos 140 mil pessoas morreram até o final daquele ano. A explosão que ocorreu 510 metros acima do centro de Hiroshima, provocou um imenso clarão, cegando instantaneamente milhares de pessoas. Eram 8h15 da manhã (hora do Japão) e os Estados Unidos mostravam ao mundo a força invencível de sua nova arma: a bomba atômica. 

Três dias depois, foi a vez do bombardeio de Nagasaki, que matou 74 mil pessoas de uma população total de 280 mil. A bomba de plutônio, de 22 quilotons, arrasou sete quilômetros quadrados da cidade. Foi às 11h02, a 507 metros do solo. Até hoje não há certeza absoluta quanto ao número de vítimas das bombas atômicas, porque a radiação pode provocar doenças crônicas, como o câncer, que se manifestam anos depois. 

ÚLTIMA GERAÇÃO - 

Para lembrar o horror provocado pelas bombas e homenagear as vítimas, o Japão ergueu o Memorial da Paz, com fotos e imagens das cidades destruídas, de rostos e corpos deformados pela radiação. Recentemente, foi doado ao Museu um vídeo sobre a cidade de Hiroshima, dez anos antes do lançamento da bomba. O vídeo está no YouTube. 

A última geração de sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki tem sido incansável em prestar depoimentos e continuar denunciando a tragédia. Há décadas, os “hibakusha” - (pessoas afetadas pela bomba”) - pedem o fim das armas nucleares. Segundo o Ministério da Saúde do Japão, existiam até 2020, cerca de 136.700 sobreviventes. Muitos eram bebês ou estavam sendo gestados quando as bombas devastaram as cidades. 

Em 2020, eles tinham em torno de 80 anos e criaram o “No More Hibakusha Project”, que trabalha para preservar arquivos e depoimentos para as próximas gerações.  Eles temem que o tema possa estar se perdendo. Para manter viva a memória da tragédia provocada pelas bombas, preocupados com o desaparecimento da memória coletiva, eles contam com a campanha de filhos, netos e demais familiares de sobreviventes. 


O comerciante Takashi Morita, um dos sobreviventes da bomba que atingiu Hiroshima, morreu no dia 12 de agosto de 2024, em São Paulo. A morte foi comunicada em uma nota de pesar divulgada nas redes sociais da Escola Técnica Estadual (Etec) de Santo Amaro, Zona Sul, que leva o nome de Takashi desde 2019. Morador de São Paulo desde 1956, Takashi ficou conhecido como um hibakusha. Em 6 de agosto de 1945, ele tinha 21 anos e era soldado da polícia militar japonesa. 

PODERIO -

Em julho de 1995, às vésperas das comemorações do cinquentenário do fim da Segunda Guerra, um dos pais da bomba de Hidrogênio, o físico norte-americano Edward Teller, participou de um debate sobre a primeira explosão atômica experimental, realizada no deserto do Novo México. Durante o debate Teller afirmou que os EUA poderiam ter evitado os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, lançando, em vez disso, uma bomba na baia de Tóquio somente para demonstrar seu poderio nuclear. 

 A explosão na baia, disse o físico, poderia ter sido feita a 10.000 metros de altura e seria capaz de provocar “apenas lesões oculares”. Teller atuou no Projeto Manhattan (nome simplificado do Manhattan Engineering Project) que produziu a primeira bomba atômica, sob o comando do exército norte-americano. Em 1945, segundo ele, os cerca de 200 cientistas que trabalharam no projeto pediram que fosse realizado somente um bombardeiro para intimidar o Japão, porém o diretor do Manhattan, Robert Oppenheimer, não quis tomar uma posição. Uma das versões conhecidas é de que os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki representaram o castigo pelo ataque japonês a Pearl Harbour, em dezembro de 1941. 

PERDEU A CORRIDA - 

Versões e acusações não faltaram ao longo dos 80 anos do ataque dos EUA às cidades japonesas.  Em julho de 1995, aos 84 anos, o físico e militar japonês reformado, Tatsubaro Suzuki, revelou que os japoneses também haviam trabalhado para fabricar a bomba atômica durante a Segunda Guerra, fazendo enormes progressos na parte teórica, embora tenham perdido a corrida por falta de investimentos e instalações adequadas. 

O principal problema havia sido o fracasso no isolamento do urânio- 235 em nível satisfatório. Suzuki relatou que 50 cientistas participaram do projeto, dispondo de US$ 2,5 milhões (valor da época) doados pela família imperial japonesa. A quantidade de cientistas era pouca, se comparada ao número de pessoas que trabalhava no Manhattan. “Se o projeto japonês contasse com mais recursos, teria resultado na fabricação da bomba atômica em um ano”, afirmou o cientista, dizendo ainda que o imperador Hirohito jamais assumiu a responsabilidade pelo programa. Fato é que Hiroshima e Nagasaki são as piores lembranças sobre a utilização da energia nuclear. 

FOTO: Matéria publicada neste Blog em 5/8/2020, republicada em 3/08/2025. Mães choram um ano depois da Bomba em Hiroshima - Reprodução Galileu. Material de pesquisa: livros, jornais, revistas e vídeos. 

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quinta-feira, 24 de julho de 2025

Indicações do MME para diretorias da INB, incluindo empresário político do MDB cearense, desagradam técnicos e sindicalistas

 


Indicações do Ministério de Minas e Energia (MME) para a substituição do comando da Indústrias Nucleares do Brasil (INB) agitam desde ontem (23/7) alguns setores nucleares técnicos e sindicais do País. A indicação de um político de Santa Quitéria, no Ceará, é a mais contestada. 

O oficio nº 350/2025/GM-MME que seguiu para o Conselho de Administração da INB e à Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar) que controla a estatal, circula durante todo o dia e provoca diversas críticas. Exceto a indicação do engenheiro de segurança Marcelo Xavier de Castro, funcionário de carreira da INB, para ocupar a presidência da empresa, substituindo Adauto Seixas, bem aceita, as demais, provocam descontentamento. 

Muito criticada a indicação do advogado, empresário e político cearense Tomás Antônio Albuquerque de Paula Pessoa, conhecido popularmente como Tomás Figueiredo Filho, filiado ao MDB. Tomas foi deputado estadual na Assembleia Legislativa do Ceará (2007-2010), e teria sido indicado para atuar junto ao consórcio da INB com a empresa Galvani, em Santa Quitéria. O projeto tem sido combatido por moradores, pesquisadores e ambientalistas da região. Tomas foi indicado para a diretoria de Recursos Minerais, no lugar de Luiz Antônio da Silva. 

Outra indicação criticada é a de Itamar de Almeida para a diretoria de Finanças e Administração, no lugar de Maurício Pessôa Garcia Junior. Itamar já trabalhou na INB em 2003, na primeira gestão do presidente Lula, quando a empresa estava no comando do sindicalista Luís Carlos Vieira, e teria sido afastado por questões políticas, entre outras, contrárias naquele momento. Porém, com ação trabalhista, conseguiu ser reintegrado. 

Também desagrada a indicação de Alexandre Gromann de Araújo Góes para a diretoria de Combustível Nuclear, no lugar de Reinaldo Gonzaga. Gromann é funcionário da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Na gestão anterior da CNEN foi afastado de um cargo de diretoria, mas continua na Comissão.  

A única diretoria sem alteração é a técnica de Enriquecimento Isotópico, ocupada por Alexandre de Vasconcelos Siciliano, no cargo desde fevereiro deste ano. 

(FOTO: Unidade de Santa Quitéria -INB) – 

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