Um dos principais protagonistas do programa nuclear paralelo, que levou o Brasil a dominar o ciclo do combustível, o físico Rex Nazareth Alves, avesso a holofotes, arrancou aplausos na noite desta segunda-feira (25/6), ao falar sobre a trajetória do setor, no Clube de Engenharia, Centro do Rio. “Pouca gente sabe, mas o Brasil reprocessou urânio em escala piloto", revelou. A unidade de reprocessamento, que funcionou em 1979, no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, segundo ele, não existe mais.
Outra revelação, envolveu a compra
de urânio enriquecido a 20% da China, em 1989. Rex chefiou três missões
especiais à China para fechar a compra, mas o Brasil não tinha como buscar o
produto. “Eles, então, mandaram o urânio e fomos buscar em navio de Marinha, fora
da baia, e de lá, o produto foi direto para o Instituto de Pesquisas
Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo. Todo o processo transcorreu sob
absoluto sigilo”, comentou.
Presidente da Comissão Nacional
de Energia Nuclear (CNEN) durante cerca de 10 anos, ferrenho nacionalista, ele acha
que o Brasil não deveria ter aderido ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear
(TNP-N), em 1998, no governo de Fernando Henrique Cardoso.
“Soberania a gente não compra. A
gente conquista”, disse.
Ao abrir parte de sua história,
que se mistura aos capítulos mais instigantes da trajetória da energia nuclear
brasileira, ele mostrou fotos de instituições nucleares iraquianas, que
visitou, em 1981, mas não mencionou o fato de o Brasil ter vendido urânio para
o Iraque nesse período. Pelo contrário, brincou dizendo que um técnico que
estava no Iraque lhe pediu para levar na bagagem “goiabada e palha de aço”
produtos brasileiros de alta qualidade, carentes por lá. Cabelos brancos, aos 81 anos, ele
mostrou que bom humor não lhe falta, fazendo outras brincadeiras.
Professor do Instituto Militar de Engenharia
(IME), trabalhando na Eletronuclear, da Eletrobrás, gestora das usinas
nucleares, Rex Nazareth defendeu a conclusão das obras da central atômica Angra
3, parte do acordo nuclear Brasil Alemanha, que completa 43 anos, nesta
quarta-feira (27/06). “Precisamos de
apoio maciço da sociedade para concluirmos Angra 3. O programa nuclear
brasileiro precisa do término dessa usina”, afirmou.
Por esse acordo o Brasil comprou o
processo de enriquecimento de urânio pelo método Jato centrífugo, que a própria
Alemanha ainda pesquisava. “Nem foi o jato, nem foi o centrífugo”, ironizou,
porque o processo nunca entrou em funcionamento. Ao passo que o programa de
enriquecimento de urânio da Marinha levou o Brasil a ingressar no seleto Clube
do Átomo.
Um dos titulares da conta secreta
Delta III, do programa nuclear paralelo, na década de 80, Rex Nazareth é “um
livro aberto, cheio de páginas coladas”, como ele mesmo se definiu para o auditório
lotado com mais de 100 pessoas. Muitos,
em pé, durante cerca de duas horas.