sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Denúncia de assédio sexual, depois de racismo e transfobia, nas Indústrias Nucleares do Brasil

 


Dois casos de assédios sexuais foram denunciados há cerca de 120 dias ao Conselho de Ética da Indústrias Nucleares do Brasil (INB). Um dos assédios teria ocorrido no refeitório da Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), em Resende (RJ). As vítimas têm medo de represálias, informou o vice-presidente do Sindicato dos Mineradores de Brumado e Microrregião, Lucas Mendonça. Na terça-feira (27/9), conforme o blog publicou com exclusividade, Mendonça formalizou denúncia de racismo e transfobia contra uma chefia da Gerência de Comunicação Institucional da INB, da FCN, junto à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADIP) e ao Ministério Público do Rio de Janeiro.  

“Negro e viado” traria “vergonha à empresa” foi a justificativa da funcionária para tentar adiar a contratação do profissional aprovado em quarto lugar no concurso público. Em comunicado interno, a INB informou ontem (29/9) que Claudia Maria Rangel Guimaraes, estava sendo afastada “temporariamente” da função de confiança de gerente da Comunicação Institucional. O documento está assinado por Márcio Adriano Coelho da Silva, presidente em exercício. 

Mas nesta sexta-feira (30/9), ela teria sido afastada da empresa, que abriu sindicância para apurar o caso. Caberá à Comissão de Sindicância analisar a denúncia contra Claudia, que poderá ser punida com justa causa. A situação de Claudia se complicou ainda mais ontem (29/9) quando grupos passaram a divulgar um áudio com os comentários racistas e homofóbicos que ela proferiu contra o candidato, numa das salas da empresa. Um dia após (28/9) a denúncia feita pelo Blog, a INB divulgou nota informando que “não coaduna com nenhum ato de discriminação de gênero, identidade sexual, raça e etnia, condição física, classe social, procedência geográfica, estado civil, idade, religião, cultura e convicção política”. E acrescentou que “este princípio basilar está fixado no Item 2.1.2 do Código de Ética, Conduta e Integridade da empresa”. 

A denúncia havia sido feita há cerca de 15 dias por funcionários que presenciaram as ofensas, inclusive negros, à Ouvidoria e ao Conselho de Ética, além da diretoria de finanças e administração, mas foi em vão.  Houve prevaricação, afirma Mendonça. Até o momento, segundo ele, o crime de racismo e transfobia vinha sendo mantido em sigilo pela empresa, mas já se tornou público entre os empregados que estão indignados. O caso ocorreu dentro da Unidade da INB, em Resende, na Rodovia Presidente Dutra KM 330 – em Engenheiro Passos. Funcionários de Resende também registraram denúncia na Delegacia de Polícia Local. Em Resende, a INB tem instalações de Enriquecimento de Urânio e de produção de elementos combustíveis para as usinas nucleares. 

A convocação do analista de comunicação está em andamento. O candidato havia feito contato com a empresa, visto que quando fez o concurso se inscreveu como gênero feminino e agora adotava o nome masculino. Tudo informado à empresa.  Agora, além de apurar o crime praticado pela então chefe da Comunicação Institucional, a INB terá também que apurar as denúncias de assédios sexuais. 

FÁBRICA DE COMBUSTIVEL NUCLEAR – 

É um conjunto de unidades industriais dedicadas ao processamento de quatro etapas do ciclo do combustível nuclear: o enriquecimento isotópico de urânio, a reconversão, a produção de pastilhas e a montagem do combustível que abastece os reatores das usinas nucleares. São informações oficiais da INB. 

“O combustível nuclear - ou Elemento Combustível - é uma estrutura metálica, com até 5 metros de altura, formada por um conjunto de tubos, chamados varetas dentro das quais são colocadas pastilhas de urânio enriquecido entre 2 e 5%. Os elementos combustíveis produzidos pela INB para as usinas de Angra dos Reis são de diferentes tecnologias, e por isso cada usina necessita de quantidades diferentes de elementos combustíveis. Angra 1 necessita de 121 elementos combustíveis, cada um deles contendo 235 varetas, 369 pastilhas por vareta; Angra 2 necessita de 193 elementos combustíveis, cada um deles contendo 236 varetas, 384 pastilhas por vareta”. 

Em uma área de 600 hectares, a FCN abriga a área administrativa da empresa, o Horto Florestal e as atividades relacionadas ao ciclo do combustível nuclear em quatro unidades industriais. Na FCN Reconversão a INB faz a produção de pó de dióxido de urânio (UO2). Na FCN Pastilhas, a produção de pastilhas de dióxido de urânio (UO2), e na FCN Componentes e Montagem, realiza a fabricação de componentes e a montagem do elemento combustível. Lá, opera ainda a Usina de enriquecimento de urânio. 

Segundo a INB, a Política do Sistema Integrado de Gestão da FCN está estabelecida e comunicada de forma que, entre outras coisas, haja “condição de trabalho segura e saudável para prevenção de acidentes, lesões e doenças ocupacionais; fortalecimento da cultura de segurança; satisfação dos colaboradores, clientes, provedores e acionistas, e de interação com a comunidade”, por exemplo. 

FOTO: FCN - ACERVO DA INB - 

LEIA A PRIMEIRA DENÚNCIA DIVULGADA NO BLOG DIA 27/9. OUTRA, EM 28/09.

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quarta-feira, 28 de setembro de 2022

INB confirma denúncia de racismo e transfobia praticados contra profissional negro transgênero. Leia a nota da empresa, que apura o caso.

 

A Indústrias Nucleares do Brasil (INB) acaba de confirmar a denúncia de racismo e transfobia, feita ontem (27/9) pelo BLOG, praticada por uma chefia de Relações Públicas da Comunicação Institucional da empresa, para tentar adiar a contratação de um profissional negro transgênero aprovado em concurso público prestes a ser admitido na empresa. 

A INB “não coaduna com nenhum ato de discriminação de gênero, identidade sexual, raça e etnia, condição física, classe social, procedência geográfica, estado civil, idade, religião, cultura e convicção política”. E acrescenta: “Este princípio basilar está fixado no Item 2.1.2 do Código de Ética, Conduta e Integridade da empresa”. 

A INB informou que os fatos estão sendo apurados. “Cabe destacar ainda que, desde a ocorrência do evento, já está sendo conduzida a devida apuração dos fatos pelos órgãos competentes internos, seguindo o rito previsto nos manuais da empresa, onde, após a devida análise, será dado o encaminhamento adequado”. 

Até a formalização da denúncia feita pelo vice-presidente do Sindicato dos Mineradores de Brumado e Microrregião, Lucas Mendonça, a INB manteve-se em silêncio, sem prestar informações sobre o caso. Denúncias foram feitas também há cerca de 15 dias por empregados que testemunharam as ofensas proferidas contra o profissional. Desta forma, informa a empresa, “todos os processos de admissão de concursados estão ocorrendo normalmente, de acordo com a classificação do concurso e o previsto no respectivo Edital”. 

LEIA NO BLOG A DENÚNCIA DIVULGADA ONTEM (27/09). 

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terça-feira, 27 de setembro de 2022

Racismo e transfobia provocam indignação nas Indústrias Nucleares do Brasil em Resende

 

O vice-presidente do Sindicato dos Mineradores de Brumado e Microrregião, Lucas Mendonça, acaba de formalizar denúncia de racismo e transfobia contra uma chefia da Gerência de Comunicação Institucional da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), junto à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADIP) e ao Ministério Público do Rio de Janeiro.  “Negro e veado” traria “vergonha à empresa” foi a justificativa da funcionária para tentar adiar a contratação do profissional aprovado em concurso público. 

A denúncia havia sido feita há cerca de 15 dias por funcionários que presenciaram as ofensas, inclusive negros, à Ouvidoria e ao Conselho de Ética, além da diretoria de finanças e administração, mas foi em vão.  Houve prevaricação, afirma Mendonça. Até o momento, segundo ele, o crime de racismo e transfobia vinha sendo mantido em sigilo pela empresa, mas já se tornou público entre os empregados que estão indignados. 

O caso ocorreu dentro da Unidade da INB, em Resende, na Rodovia Presidente Dutra KM 330 – em Engenheiro Passos. Funcionários de Resende também registraram denúncia hoje na Delegacia de Polícia Local. Em Resende, a INB tem instalações de Enriquecimento de Urânio e de produção de elementos combustíveis para as usinas nucleares. 

A convocação do analista de comunicação está em andamento. “O candidato havia feito contato com a empresa, visto que quando fez o concurso se inscreveu como gênero feminino e agora adotava o nome social de gênero masculino, sendo, portanto, transgênero”, informa a denúncia. A INB não se pronunciou.   

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sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Angra 1: usina é religada e preparada para durar mais 20 anos

 


A usina nuclear Angra 1, em Angra dos Reis (RJ), voltou a operar nesta quinta-feira (22/09), quando foi conectada ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Angra 1 foi desligada no dia 11/08 para a troca de combustível (urânio enriquecido). A parada foi programada. A usina deve alcançar 100% de potência neste domingo (25). A usina está sendo preparada para durar mais 20 anos.

Segundo a Eletronuclear, durante a parada, cerca de um terço do combustível nuclear foi substituído. Também foram realizadas atividades de inspeção e manutenção periódicas e diversas modificações de projeto, que precisam ser feitas com a planta desligada. 

Na semana passada, a Eletronuclear confirmou o recebimento da primeira liberação de recursos, no valor de USD 12.998.909,49, do financiamento internacional obtido junto ao Santander para o Programa de Extensão da Vida Útil de Angra 1. A operação tem garantia do US Exim Bank e contragarantia da Eletrobras. Segundo a companhia, o montante vai reembolsar gastos já realizados no âmbito do Engineering Multiplier Program (EMP), que engloba estudos de viabilidade e serviços de pré-engenharia, design e meio ambiente. O valor total do financiamento contratado é USD 22.262.331,00. 

A Eletronuclear informou que a operação representa a consolidação do relacionamento da companhia com o US Exim Bank, marcando o retorno da agência multilateral do governo norte-americano à concessão de financiamentos a projetos na área nuclear. E já está sendo discutida a concessão de um empréstimo de longo prazo, no valor estimado de USD 430 milhões, voltado aos projetos que serão implementados no âmbito do programa, envolvendo os fornecedores Westinghouse, Holtec e Siemens. 

As usinas nucleares Angra 1 (norte-americana) e Angra 2 (alemã) foram licenciadas para operar por 40 anos. Angra 1 entrou em operação em 1985. O objetivo da Eletronuclear é estender a operação da unidade por mais 20 anos, para que possa continuar a operar até 2044. Angra 1 tem capacidade para gerar 640 MW, quando opera 100% sincronizada ao SIN, o que representa 10%da energia elétrica consumida na cidade do Rio de Janeiro. 

FOTO: Angra 1 – Acervo Eletronuclear – 

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terça-feira, 20 de setembro de 2022

Angra 3: contrapartida restante é de R$ 150 milhões entre a Prefeitura de Angra dos Reis e Eletronuclear

 


A Prefeitura do município de Angra dos Reis confirmou ao blog que nos próximos dias deverá assinar um aditivo com a Eletronuclear de cerca de R$ 150 milhões, por conta do termo de compromisso relacionado ao projeto da usina nuclear Angra 3, destinados a obras na cidade. 

Segundo o secretário de Planejamento de Angra, André Pimenta, o termo de compromisso vem sendo cumprido gradualmente, “inclusive está prestes a sofrer o seu terceiro aditivo desde 2009, quando os valores serão ajustados de acordo com o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) e os projetos a serem executados devem passar também por modificações”. 

Até o momento, informou, a Eletronuclear investiu em obras no Hospital Geral da Japuíba, na saúde no Frade e no Parque Mambucaba e está em andamento a aplicação de recursos no projeto Parque Manguezal, da Praia da Chácara e na Defesa Civil. 

Recentemente, a Eletronuclear informou que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu a renovação da licença ambiental de instalação da usina.  Para obter a licença, com validade de seis anos, a companhia estabeleceu, junto ao Ibama, alguns critérios como “investimentos em projetos sociais, como programas de saúde, educação, saneamento básico e segurança para a região”. 

Na semana passada (14/9) a Eletronuclear assinou contrato para complementação do projeto eletromecânico de Angra 3, com o vencedor do processo licitatório: o consórcio liderado pela empresa Themag Engenharia. O trabalho consiste em complementar o projeto de engenharia eletromecânica da usina, utilizando um sistema de computação em modelo 3D. 

No prazo de dois anos, deverão ser projetadas as estruturas de tubulação, assim como a colocação de equipamentos elétricos e mecânicos na unidade, graças a tecnologias de última geração disponíveis no mercado – que garantem mais precisão e qualidade no projeto. 

No dia último dia 9/9 foram realizados os primeiros testes operacionais da central de concreto do canteiro para viabilizar o início da concretagem da usina, prevista para acontecer no final do mês de setembro, o que marca formalmente o reinício da construção civil, segundo a companhia. 

Angra 3 faz parte do pacote do acordo nuclear firmado pelo presidente da República, general Ernesto Geisel, em 1975, na Alemanha, que previa oito usinas, entre outros empreendimentos. As obras que começaram em 1984 e vem se arrastando ao longo de décadas por diversos problemas, como a falta de decisões políticas e recursos, além de denúncias de corrupção, em 2015. 

No Relatório Anual 2020 da companhia, no item “riscos e oportunidades”, consta: “Com a retomada do projeto temos previsão de entrar em operação em novembro de 2026”. Agora, a previsão oficial é de que terceira central atômica seja inaugurada em fevereiro de 2028. Com a entrada da planta em operação, a energia gerada pela central nuclear de Angra será equivalente a, aproximadamente, 60% do consumo do estado do Rio de Janeiro e 3% do consumo do Brasil. Angra 3 já consumiu cerca de R$ 7 bilhões e depende de outros R$ 18 bilhões para ser concluída. 

FOTO; Angra 3 – Eletronuclear – 

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quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Eletronuclear confirma empréstimo junto ao Santander para Angra 1 ter mais 20 anos de vida útil.

 


A Eletronuclear confirmou há pouco que recebeu a primeira liberação de recursos, no valor de USD 12.998.909,49, do financiamento internacional obtido junto ao Santander para o Programa de Extensão da Vida Útil de Angra 1. A operação tem garantia do US Exim Bank e contragarantia da Eletrobras. O valor total do financiamento contratado é USD 22.262.331,00. Na sequência, está sendo discutida a concessão de um empréstimo de longo prazo, no valor estimado de USD 430 milhões, voltado aos projetos que serão implementados no âmbito do programa, envolvendo os fornecedores Westinghouse, Holtec e Siemens. 

Segundo a companhia, o montante que está sendo liberado a partir de agora vai reembolsar gastos já realizados pela empresa no âmbito do Engineering Multiplier Program (EMP), que engloba estudos de viabilidade e serviços de pré-engenharia, design e meio ambiente. A amortização dos valores já liberados será feita em 10 parcelas semestrais iguais na modalidade SAC (Sistema de Amortização Constante). A taxa de juros aplicada neste contrato é o índice de referência "TERM SOFR" de seis meses, que substituiu o LIBOR, com um spread de 1,05% ao ano. 

 “Essa operação representa um passo decisivo na consolidação do relacionamento da companhia com o US Exim Bank, marcando o retorno da agência multilateral do governo norte-americano à concessão de financiamentos a projetos na área nuclear”, informou a Eletronuclear. 

MAIS 20 ANOS DE VIDA - 

As usinas nucleares Angra 1 e Angra 2 foram licenciadas para operar por 40 anos, conforme padrão mundial, sendo que Angra 1 entrou em operação em 1985. O objetivo da Eletronuclear é estender a operação de Angra 1 por mais 20 anos – “prática comum nas plantas do mundo todo”, segundo a empresa. O Programa de Extensão de Vida útil da unidade, visa a operação da central atômica até 2044. Angra 1 foi desligada no dia 13 de agosto para a troca de combustível (urânio enriquecido). A parada é programada. A companhia informa que além da substituição de um terço do combustível usado, também estão sendo realizadas inspeções periódicas, incluindo levantamentos de campo e verificações relativas à extensão de vida útil da planta.  

Em dezembro de 2023, a Eletronuclear precisará submeter à Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN), órgão regulador e fiscalizador do setor nuclear brasileiro, a 3ª Reavaliação Periódica de Segurança (RPS) de Angra 1 – principal marco do processo de licenciamento para a operação de longo prazo da usina.  

FOTO: Angra 1 – Eletronuclear – 

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quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Angra 1: bancos injetam milhões de dólares no programa de extensão da vida útil da usina

 


A Eletronuclear deve divulgar nesta quinta-feira (15/09) informações sobre financiamento externo destinado à extensão da vida útil de Angra 1, com primeira parcela na ordem US$ 13 milhões, de um total de US$ 22,3 milhões, conforme informações da Agência Canal Energia. O financiamento foi firmado pela geradora com o Banco Santander, e garantia do US Eximbank e contra garantia da holding Eletrobrás, divulgou a Agência. Hoje (14/09) a Eletronuclear não quis se pronunciar sobre o assunto. 

O valor total do financiamento contratado, “com amortização dos montantes já liberados em 10 parcelas semestrais iguais na modalidade SAC. A taxa de juros aplicada é o TERM SOFR de 6 meses, que substituiu a taxa LIBOR, com um spread de 1,05% ao ano”, divulgou a Agência. 

No relatório anual de 2020 da Eletronuclear consta a disposição da empresa em buscar financiamento para o projeto de extensão. “Para financiar essa operação, obtivemos a participação do Exinbank americano, o primeiro contrato aprovado pelo banco no setor nuclear”, informa o documento. 

Desde 2018, conforme o blog divulgou, Angra I está sendo preparada para ter vida útil prolongada por mais 20 anos.  A empresa norte-americana Westinghouse, que vendeu a usina para o Brasil em 1970, foi contratada para participar do trabalho de avaliação. 

Há cerca de duas décadas, a projeção era de que a unidade atômica funcionasse até 2018.  Em 2018, a Eletronuclear informava investidos US$ 27 milhões na modernização da central nuclear. Angra 1 foi desligada no dia 13 de agosto deste ano para a troca de combustível (urânio enriquecido), produzido pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), com participação da Urenco (consórcio de empresas da Inglaterra, Holanda e Alemanha. 

VAGA- LUME - 

Angra 1 foi um dos empreendimentos mais criticados do governo militar. Depois de uma série de adiamentos, a usina foi inaugurada em 1981, ou seja, nove anos após o início de sua construção. Outros entraves fizerem com que a usina só entrasse em operação comercial em 1985. Dados oficiais do governo naquela época estimavam que Angra 1 tenha custado US$ 2 bilhões. Isso, sem levar em conta os gastos com a manutenção e os reparos de equipamentos. Ao longo dos anos a central atômica já foi desligada umas 35 vezes por problemas técnicos, defeitos em equipamentos e ações judiciais. Por causa desse acede e apaga, a usina ganhou o apelido de “vaga-lume”. 

A Eletronuclear garante que a instalação é uma das mais seguras do mundo e destaca a sua performance: em 2016, produziu 5,1 milhões de MWh, “a melhor geração da sua história”. Depois, gerou 4,2 milhões de MWh, “uma de suas melhores marcas, a despeito de ter ficado parada por quase 60 dias, entre agosto e outubro de 2017, por conta da troca dos seus transformadores principais, durante a parada para reabastecimento”. 

FOTO: Angra 1 – Acervo Eletronuclear - 

Leia no Blog: Em 18/04/2018, “Angra 1 deve ter mais 20 anos de vida útil”; 

em 08/08/2019, “Angra 1: mais 20 ano de vida útil”; 

em 06/08/ 2020, “Angra 1: problemas técnicos desligam a usina duas vezes em menos de 30 dias”, entre outras. 

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terça-feira, 13 de setembro de 2022

Acidente com césio-137 em Goiânia faz 35 anos; na Justiça, processos sem solução

 


O acidente com uma cápsula de césio-137, (substância radioativa), ocorrido em Goiânia, está completando 35 anos, com processos até hoje sem solução. Segundo o presidente da Associação dos Militares Vítimas do Césio-137, Luiz Gonzaga Barros Carneiro, são 432 processos de militares, da Polícia Militar e dos Bombeiros, tramitando no Judiciário. "Nossa dificuldade é conseguir pensão para os militares envolvidos no caso, chamados de veteranos do césio. 

Atualmente, Goiás tem 754 beneficiários, entre civis e militares, que recebem pensão", comentou Gonzaga Barros. De acordo com o levantamento mais recente da entidade, 132 militares morreram de câncer entre 1987 e o mês passado, sem acesso a nenhum benefício, seja o recebimento de pensão ou a promoção de patente, informou. 

MEMÓRIA DO ACIDENTE - 

A história que chocou a opinião pública não pode ser esquecida. Uma cápsula de césio-137 – substância radioativa componente de um aparelho usado no tratamento de câncer, de propriedade do Instituto Goiano de Radioterapia (IGR), foi deixada na antiga sede do já desativado instituto. De acordo com as notícias da época, no dia 13 de setembro de 1987, os catadores de papel Wagner Motta Pereira e Roberto Santos Alves entraram no local, retiraram o aparelho, abriram algumas partes e venderam uma delas, a que continha a cápsula com o césio-137, para Devair Alves Ferreira, dono de um ferro-velho. Ao arrombar a cápsula, a golpes de marreta, Devair liberou o césio, um pó brilhante, parecido com purpurina. A cápsula com o césio 137 passou de mão em mão, em várias casas de família.  Por fim, foi levada de ônibus à Vigilância Sanitária por Maria Gabriela Ferreira, mulher de Devair. Ela suspeitou que os problemas de saúde da sua família tivessem alguma relação com o equipamento. 

O então presidente da República, José Sarney, mandou prender os culpados pelo acidente e visitou dez pessoas contaminadas, internadas no Hospital Geral do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) em Goiânia. O diretor-geral da Polícia Federal, Romeu Tuma, anunciou a abertura de inquérito. O presidente da CNEN, Rex Nazaré, admitiu a necessidade de rever as normas de licenciamento e fiscalização de instituições de Medicina Nuclear o país. O ferro-velho e as moradias dos pacientes mais contaminados foram demolidos. O Exército deslocou pessoas para região.  Funcionários da CNEN ainda sem saber a dimensão do acidente, não tomaram precauções de segurança ao medirem a radiação: usavam calça jeans, tênis e sapatos. 

Os médicos Orlando Alves Teixeira, Criseide Castro Dourado e Carlos Bezzerril, sócios-proprietários do Instituto de Radioterapia; e o responsável técnico do instituto, físico hospitalar Flamarion Barbosa Coulart, foram indiciados pela Polícia Federal (PF). Na CNEN, só houve um indiciado: o chefe do Departamento de Instalações Nucleares e Materiais Nucleares, físico José Rosental. Mais tarde, a Procuradora da República solicitou a exclusão de Rosental do caso e a Justiça acolheu o pedido. Enquanto a CNEN afirmava que o caso estava sob controle, a cada dia apareciam outros focos de contaminação. 

No dia 23 de outubro de 1987 ocorreram as duas primeiras mortes. A menina Leide das Neves Ferreira, de 6 anos, filha de Ivo Alves Ferreira e sobrinha de Devair, foi uma das quatro vítimas fatais. Com as mãos contaminadas, Leide havia comido um pedaço de pão. Ela teve ulcerações na língua, boca e garganta, e lesões internas. A segunda vítima foi a tia da menina e mulher de Devair, Maria Gabriela, de 38 anos. Ambas morreram no Hospital Naval Marcilio Dias, no Rio de Janeiro, onde foram internadas com outros contaminados.   No dia 27 de outubro daquele ano morreu a terceira vítima: Israel Batista dos Santos de 22 anos, que trabalhava no ferro-velho e ajudara Devair a abrir o aparelho. No dia seguinte, morreu o empregado do ferro-velho Admilson Alves de Souza, de 18 anos. O catador de papel Roberto Santos Alves, de 21 anos, sobreviveu, mas teve o antebraço amputado por causa das lesões provocadas pela contaminação. 

O medo da contaminação levou a uma atitude violenta os moradores da vizinhança do Cemitério-Parque, em Goiânia, onde a menina Leide foi sepultada. Eles atiraram pedras e pedaços de cruzes de concreto contra o cortejo, em protesto pela escolha do local para enterrar as vítimas da contaminação radioativa.  O presidente da CNEN, Rex Nazaré Alves culpou os donos da clínica, que não teriam comunicado à Comissão a desativação do aparelho radiológico. Os donos, por sua vez, culparam os catadores de papel e a própria CNEN, que deixou de fiscalizar o equipamento na antiga sede do instituto. Cerca de 112 mil pessoas que temiam estar contaminadas foram examinadas durante dois meses no Estádio Olímpico de Goiânia. Para atender às vítimas do acidente, o governo de Goiás criou a Fundação Leide das Neves. 

Segundo a médica Maria Paula Curado, que presidiu a Fundação naquela época, 244 pessoas estavam realmente contaminadas e 50 delas tiveram que receber tratamento hospitalar. Entre as 50 pessoas, 28 tiveram lesões e queimaduras causadas pela radiação. Desse grupo, 10 pacientes foram submetidos a cirurgias plásticas reparadoras, das quais oito sofreram síndrome aguda da radiação, depressão da medula, hemorragias e distúrbios de comportamento. No grupo de pessoas mais graves, cinco pessoas contraíram câncer e duas estavam em tratamento, naquela época. “Mas não existe um exame sequer capaz de provar que o câncer foi provocado pelo acidente”, avisava a médica. Devair morreu em maio de 1994 de insuficiência renal e hepática, conforme atestado médico. 

LIXO RADIOATIVO - 

Além de famílias destroçadas e outras que lutam na Justiça para serem indenizadas, o acidente deixou um grande problema para o futuro: seis mil toneladas de rejeitos radioativos armazenados no depósito em Goiânia com atividade radioativa por pelo menos 300 anos. Nesse total, estão 1.343 caixas metálicas; 4223 tambores de 200 litros; 10 contêineres marítimos; e oito recipientes de concreto. 

FOTO: Técnicos vistoriando locais contaminados. Imprensa da época. 

Leia no BLOG, em 16/9/2021: "Acidente com capsula de césio-137 em Goiânia faz 34 anos. Foi batismo de fogo, deixou mortos, medo e seis mil toneladas de lixo radioativo”; 

em 17/09/2021: “Acidente de Goiânia, 34 anos depois. Casas foram demolidas. Famílias tiveram que sair deixando tudo: fotos, brinquedos, lembranças”. Por Heitor Scalambrini Costa e Odesson Alves Ferreira; 

em 28/09/2021: “Acidente com césio-137 em Goiânia, 34 anos depois”, por Célio Bermann. 

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