O avanço da discussão sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC- 517), na Câmara dos Deputados, que propõe a flexibilização do monopólio da União na fabricação de radiofármacos (medicamentos com radiação contra o câncer), mostrou a urgência de o país construir o mais breve possível o seu Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). O coordenador técnico do RMP, José Augusto Perrota, falará sobre o tema na próxima quarta-feira (1/12), às 7h20, na International Nuclear Atlantic Conference (INAC-2021), promovida pela Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), de 29/11 a 03/12, no formato virtual.
Os radioisótopos são importados de países como a África do Sul, Holanda e Rússia, pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (IPEN/CNEN/SP). Com eles, são produzidos os radiofármacos utilizados para diagnosticar e tratar vários tipos de câncer, em clínicas particulares e do Sistema Único de Saúde (SUS).
Recentemente, por falta de verbas para a importação dos radioisótopos, o tratamento de milhares de pacientes foi interrompido gerando uma grave crise sem precedentes. Com a liberação dos recursos, o abastecimento se normalizou. Mas veio à tona o lobby para a quebra do monopólio da produção dos medicamentos. O RMB dará a autossuficiência ao Brasil que não precisará mais importar os insumos.
O que justifica viabilizar esse empreendimento da ordem de U$ 500 milhões? Ser o principal empreendimento de base científica e tecnológica da área nuclear do país e permitir dobrar imediatamente o número de procedimentos anuais realizados em medicina nuclear; garantir a estabilidade no fornecimento de radioisótopos; contribuir para ampliação do número de clínicas e hospitais que oferecem serviços de medicina nuclear; e promover economia de mais de U$15 milhões/ano com custos de importação de insumos. São alguns dos pontos que José Augusto Perrota vai destacar em sua conferência no INAC- 2021.
Atualmente, o IPEN/CNEN-SP produz mais de 30 diferentes tipos de radiofármacos. Cerca de 2 milhões de procedimentos são realizados, por ano, para atender a mais de 400 clínicas atuando em medicina nuclear, sendo 1,5 milhão para a área privada e somente 500 mil para o SUS.
“A medicina nuclear per capita oferecida no SUS é 1/10 do que é disponibilizado na área privada” – calcula Perrotta. O IPEN/CNEN-SP arrecada, com essa venda, cerca de R$ 120 milhões/ ano, que são depositados no caixa único do Governo Federal.
Ele aponta que a situação atual do setor é de muita preocupação: “O IPEN/CNEN-SP já teve mais de 1600 funcionários e hoje são menos que 600 por falta de reposição das vagas. Os laboratórios estão encerrando atividades e a manutenção e transferência do conhecimento estão comprometidas. O desenvolvimento do RMB sente por demais essa perda das equipes técnicas. Por sua vez, o interesse do setor privado é comercial. Não vai se interessar na pesquisa ampla”.
SUPORTE PARA PESQUISADORES -
O empreendimento RMB terá, além do reator nuclear de pesquisa, toda uma infraestrutura de laboratórios para realizar as finalidades propostas, localizada em Iperó (SP) em 2 milhões de metros quadrados. Os principais laboratórios associados são: laboratório de processamento e manuseio de radioisótopos; laboratório de feixe de nêutrons; laboratório de análise pós-irradiação; laboratório de radioquímica e análise por ativação, além de instalações suporte para pesquisadores. Na forma concebida, será o catalisador para um grande centro de pesquisa nacional de aplicação de radiações para benefício da sociedade e da manutenção do conhecimento da tecnologia nuclear.
Essa tecnologia está presente em diversas aplicações para a sociedade, com ênfase em aplicações em especialidades médicas como a cardiologia, oncologia, hematologia e a neurologia. Com ela, é possível realizar diagnósticos precisos de doenças e complicações como embolia pulmonar, infecções agudas, infarto do miocárdio, obstruções renais, demências.
“É uma das melhores e mais eficientes maneiras de detectar o câncer, pois define o tipo e extensão de um tumor no organismo, o que ajuda na decisão sobre qual o tratamento mais adequado para cada caso”, comentou.
O RMB também será usado para testar combustíveis nucleares para os reatores de potência utilizados no Brasil, e promover pesquisas básicas e tecnológicas em aplicações as mais diversas, como na indústria, na agricultura e no meio ambiente, dentre outras. Hoje o empreendimento possui as condições técnicas de iniciar a construção, mas não dispõe de recursos financeiros e humanos para sua realização.
FOTO: Ílustração do prédio do PRMB -
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