quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Falta de repasse de conhecimentos afeta setor nuclear brasileiro. Artigo: Mário Moura

 


O Brasil hoje poderia ocupar lugar de destaque no cenário internacional da energia nuclear. Porém, isso não acontece. Vários fatores freiam o desenvolvimento da energia nuclear no país. Apesar de possuirmos uma das maiores reservas de urânio do mundo e dominar as principais etapas de produção do combustível nuclear, inclusive a mais sofisticada delas: o enriquecimento de urânio. Etapa dominada por poucos países no mundo.

A falta de investimento é apontada prioritariamente como responsável pelo atraso nas conclusões das principais obras do setor. De fato, é um problema antigo com o qual o setor convive. O que ainda o mantém vivo e inserido no grupo seleto de países que dominam a tecnologia nuclear para produção de energia elétrica é, sem dúvida, a qualidade técnica do trabalho executado por aqueles que atuaram – e ainda atuam - anos na área nuclear, muitos dos quais, por vários motivos, deixaram o setor, sem sequer transferir o conhecimento adquirido. 

Com frequência, técnicos do setor revelam que a caminhada para promover, mesmo que modestamente no Brasil, as múltiplas aplicações da tecnologia nuclear em áreas importantes da atividade humana, tais como, medicina, indústria, geração de energia elétrica, pesquisa, tem sido muito difícil. Para muitos, desanimadora. Há décadas o setor patina e ainda não consegue sequer produzir o combustível necessário para as recargas das duas usinas em operação, Angra 1 e Angra 2. A conclusão de Angra 3 caminha a passos lentos. 

Temos tecnologia e ainda alguns profissionais de ponta, mas sempre falta investimento ao setor. As principais metas ainda são uma realidade distante, como a de transformar o país em um dos mais expressivos produtores de combustível nuclear do mundo. Entra governo, sai governo e as definições sobre os rumos do Programa Nuclear Brasileiro indicam especial incentivo à construção de mais centrais nucleares, além de Angra 1, Angra 2 e Angra 3. Puro otimismo exagerado, que não se realiza. 

O setor nuclear brasileiro tem que se adaptar aos novos tempos, se de fato quiser participar do mercado atual, fortalecido pelo que tem sido reconhecido em todo mundo como o renascimento da energia nuclear, diante da demanda crescente de energia elétrica.

O Brasil precisa deixar claro que quer participar desse momento de reconhecimento do potencial da energia nuclear, que inclusive conta com a simpatia de alguns ambientalistas, preocupados com os danos causados pelo efeito estufa. Diante do cenário favorável ao crescimento da energia nuclear no mundo, espera-se, portanto, que uma reflexão mais profunda em torno da questão seja feita. O Brasil nuclear tem que ser incansável na conclusão de suas metas. Não postergar seus projetos, muito menos continuar perdendo, com o passar dos anos, a competência e a dedicação do seu corpo técnico. 

Artigo de Mário Moura - Jornalista com mais de 30 anos de experiência no setor nuclear. Trabalhou na Comunicação da Social da INB. 

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2 comentários:

  1. Artigo muito esclarecedor. Muito bom ter publicado em seu blog.

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  2. Muito obrigada por comentar. A sua participação é muito importante. Sempre!

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