terça-feira, 24 de julho de 2018

Cofre com dinheiro contaminado com radiação está guardado há 30 anos


Há um cofre repleto de dinheiro contaminado com o elemento radioativo césio-137, guardado a sete chaves há cerca de 30 anos, em algum lugar do Brasil sob os cuidados do Governo Federal. O fato, revelado agora pelo então presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear, o físico Rex Nazaré, foi mantido em sigilo até hoje. A quantidade “excessiva de dinheiro” contaminado é “o suficiente para deixar claro que houve outros interesses “ no recolhimento do aparelho com a cápsula de césio 137, no Instituto Goiano de Radioterapia, no Centro da capital de Goiás, usado no tratamento de câncer.

O aparelho foi retirado do Instituto por catadores de um ferro-velho e encontrado dentro de uma clínica abandonada. “Já imaginou o pânico que seria se o caso do dinheiro contaminado vazasse? O dinheiro seria como um vírus”, comentou Rex Nazaré ao BLOG. Segundo ele, o Governo Federal, a CNEN e o Serviço de Inteligência trabalharam com informações junto aos bancos de Goiânia no rastreamento do dinheiro e seu recolhimento. “Não era pouca coisa”, disse Rex Nazaré. Além do governo federal, somente ele sabe o local do cofre com o dinheiro.

A história do acidente de Goiânia chocou a opinião pública nacional e teve repercussão mundial. De acordo com as notícias da época, no dia 13 de setembro daquele ano, os catadores de papel Wagner Motta Pereira e Roberto Santos Alves entraram no local, retiraram o aparelho, abriram algumas partes e venderam uma delas, a que continha a cápsula com o césio-137, para Devair Alves Ferreira, dono d um ferro-velho. Ao arrombar a cápsula, a golpes de marreta, Devair liberou o césio, um pó brilhante, parecido com purpurina. A cápsula cm césio-137 passou de mão em mão, em várias casas de família. Por fim, foi levada de ônibus à Vigilância Sanitária por Maria Gabriela Ferreira, mulher de Devair. Ela suspeitou que os problemas de saúde de sua família tivessem alguma relação com o equipamento.

O presidente da República, José Sarney, mandou prender os culpados. O ferro-velho e as moradias dos pacientes mais contaminados foram demolidos. O Exército deslocou pessoal para a região. Os médicos Orlando Alves Teixeira, Criseide Castro Dourado e Carlos Figueiredo Bezzerril, sócios-proprietários do Instituto de Radioterapia; e o responsável técnico do Instituto, físico hospitalar Flamarion Barbosa Goulart, foram indiciados pela Polícia Federal (PF). Na CNEN, houve um indiciado: o chefe do Departamento de Instalações e materiais Nucleares, físico José Júlio Rosental. Mais tarde, a Procuradoria da República solicitou a exclusão de Rosental do caso e a Justiça acolheu o pedido.

No dia 23 de outubro de 1987 ocorreram as duas primeiras mortes. A menina Leide das Neves Ferreira, de 6 anos, filha de Ivo Alves Ferreira e sobrinha de Devair, foi uma das quatro vítimas fatais. A segunda vítima foi a tia da menina e mulher de Devair, Maria Gabriela, de 38 anos. No dia 27 de outubro de 1987 morreu a terceira vítima: Israel Batista dos Santos, de 22 anos, que trabalhava no ferro-velho e ajudara Devair a abrir o aparelho. No dia seguinte, morreu o empregado do ferro-velho Admilson Alves de Souza, de 18 anos. O catador de papel Roberto Santos Alves, de 21 anos, sobreviveu, mas teve o antebraço amputado por causa das lesões provocadas pela contaminação. Cerca de 112 mil pessoas que temiam estar contaminadas foram examinadas durante dois meses, no Estádio Olímpico de Goiânia. A tragédia entrou para a história da energia nuclear do Brasil e do mundo.  


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