sexta-feira, 8 de agosto de 2025

A Nuclep, fruto do acordo nuclear Brasil - Alemanha, é alvo de auditoria do TCU, que revela grave crise de gestão e aciona o MME

 


Fruto do Acordo Nuclear Brasil- Alemanha, que completou 50 anos em julho, a Nuclep (Nuclebras Equipamentos Pesados), em Itaguaí (RJ) está sob auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União), que concluiu anteontem (6/8), que a estrutura da estatal está superdimensionada. O TCU determinou que o Ministério de Minas e Energia (MME) apresente, em 180 dias, uma proposta para a manutenção ou reestruturação da estatal. A Nuclep foi fundada para produzir equipamentos pesados que seriam destinados às oito usinas atômicas previstas no “contrato do século”. Mas apenas Angra 2, inaugurada em 2001, funciona; enquanto Angra 3 com 67% das obras concluídas, continua com destino incerto. Angra 1 foi comprada dos EUA. 


A Nuclep ocupa uma área de um milhão de metros quadrados e um vasto conjunto de máquinas. Dispõe de heliponto próprio com local de pouso e decolagem, e terminal marítimo privativo.  A informações sobre a situação da Nuclep são antigas. Desde 2020, nos bastidores, há a aposta de que a empresa permaneceria como estava por falta de investidores, diante da crise financeira mundial. Em abril de 2020, a Nuclep foi colocada no Programa Nacional de Desestatização. Foi retirada do Programa em 2023. Russos visitaram a Nuclep recentemente. Mesmo sem o sinal verde do governo sobre a continuidade das obras de Angra 3, no ano passado, a Nuclep assinou contrato com a empresa Tubacex, na Áustria, para o fornecimento de 67 km de tubos de aço inoxidável e sem solda para as obras da usina nuclear.  A entrega final dos equipamentos estava prevista para o início de 2025. 

Em maio deste ano, a presidência da Nuclep foi ocupada por Alexandre Vianna Santana, após a exoneração de Carlos Henrique Silva Seixas. Alexandre Vianna, que já atuava como diretor industrial da empresa, é capitão de mar e guerra da Marinha do Brasil. 

AUDITORIA - 

A auditoria do TCU também aponta para uma dependência de recursos do Tesouro Nacional em torno de 90% nos últimos cinco anos. Conforme documentos nos sites do Governo, o TCU determinou que a estatal, no prazo de 360 dias, reestruture o seu modelo de apropriação de custos e centralize os seus processos em um único sistema, conectado ao SIAF (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal). 

Nos últimos anos a Nuclep diversificou as suas operações para outros segmentos energéticos, com destaque para óleo e gás, conforme informações no site da empresa. Em 2023, apenas 2,8% da produção foi voltada para o foco original da empresa. Mas a auditoria concluiu que atuar no setor de óleo e gás não garante a sustentabilidade da estatal. Segundo projeções da própria Nuclep mesmo com quase 100% de ocupação da capacidade produtiva com projetos de baixo valor agregado, a receita gerada não seria compatível com a sua alta estruturação. 

NUCLEP NA BALANÇA - 

Dia 15/4/2020 – O governo assinou o decreto nº 10.322, incluindo a Nuclep no Programa Nacional de Desestatização. Estava fabricando equipamentos de alta tecnologia para o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP). No final de 2019 foi contratada pela Amazônia Azul Tecnologias de Defesa (Amazul) para fabricar o Bloco 40, protótipo do Reator Nuclear que está sendo desenvolvido pela Marinha para o Submarino de Propulsão Nuclear (SN-BR). 

Dia 16/02/2023 - Os funcionários da Nuclep realizaram manifestações exigindo a exoneração do presidente da empresa, o contra-almirante Carlos Henrique Silva Seixa e de toda a diretoria militar da empresa. Seixas havia sido nomeado diretor administrativo no governo de Michel Temer, julho de 2016; acumulou a presidência interinamente em abril de 2017; em dezembro do mesmo ano foi nomeado presidente; mantido no cargo durante toda a gestão do então presidente Jair Bolsonaro. Nesse meio tempo, o número de empregados caiu de 1058 para 762. 

Dia 7/04/2023 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva retirou a Nuclep do Programa Nacional de Desestatização. 

Dia 14/04/2024 – Russos visitam a Nuclep - Representantes da Rosatom Energy Projects, empresa russa com sede em Moscou, e responsável pelo complexo energético nuclear no país, visitaram a Nuclep no dia 10/4/2024, visando novas parcerias como a expansão e produção de equipamentos ao desenvolvimento do setor nuclear brasileiro. 

Dia 21/08/2024 - Nuclep assina contrato com empresa Austríaca e compra equipamentos para usina nuclear Angra 3. O contrato foi assinado pela Nuclep com a empresa Tubacex, na Áustria, para o fornecimento de 67 km de tubos de aço inoxidável e sem solda para as obras da usina nuclear de Angra 3. Os equipamentos, projetados para resistir a pressões, calor e transporte extremos, têm a certificação KTA - Nuclear Safety Standards Commission - destinada ao setor nuclear, segundo a direção da Nuclep. A entrega final dos equipamentos está prevista para o início de 2025. O deputado federal Júlio Lopes participou da comitiva que visitou a empresa na Áustria, no ano passado. 

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