Pós-graduada em Pesquisa de Mercado e Opinião Pública pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a Relações Públicas, Claudia Esteves, é mais uma jornalista que atua na área nuclear, entrevistada pelo blog, neste mês de março, dedicado às mulheres. Com experiência de mais de 30 anos no setor, incluindo formação de pessoal e assessoria de imprensa, Claudia conta um pouco como tem sido atuar antes e depois da era digital, o que facilitou por um lado, mas exige atenção em relação às fake News. Eis a entrevista.
BLOG: Como começou a sua participação na área nuclear?
CLAUDIA ESTEVES: Comecei na área nuclear na antiga Nuclebrás – Empresas Nucleares Brasileiras, na Assessoria de Comunicação, em 1988. Posteriormente, foi assinado um convênio entre a Nuclebrás e a Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN. Entre as disposições desse Convênio estava o fornecimento de pessoal, já que, à época, a CNEN não promovia concursos públicos há vários anos. Naquele momento profissional, entendi que seria uma experiência nova, trabalhar num órgão multidisciplinar como a CNEN, que é, ao mesmo tempo, o órgão regulador da segurança nuclear do país e tem também responsabilidades na formação de pessoal, pesquisa e desenvolvimento nuclear e a fabricação de radiofármacos para usos médicos. Na CNEN, fiquei por 20 anos, chegando ser Assessora de Comunicação por 16 anos. Foi uma época maravilhosa, onde tive a ampla liberdade de trabalhar, criar e transformar, reportando-me diretamente ao Presidente da Instituição.
BLOG: O que acha que foi decisivo para cobrir a área nuclear? Conhecia, gostava?
CLAUDIA: Entrei para o setor nuclear e me apaixonei. Cobrir a área nuclear é um desafio e um aprendizado diário. Interagir com as pessoas e mostrar que energia nuclear é algo fantástico e com uma multiplicidade de aplicações em nossas vidas é fascinante. Naquela época, havia um projeto chamado “CNEN vai às escolas” onde a gente apresentava para os estudantes as diversas aplicações da energia nuclear e, com isso, despertava o interesse dos estudantes pela ciência. O atendimento as demandas de imprensa eram respondidas de forma rápida e, sempre que possível, em parceria com a Assessoria de Imprensa do Ministério vinculado.
BLOG: Naquela época, sem as ferramentas digitais, quais os maiores desafios técnicos?
CLAUDIA; Na realidade, peguei o início dos processos digitais. Os desafios eram maiores, é verdade. Hoje, com um simples toque em nosso computador, centenas de conteúdos podem ser disponibilizados para nosso público alvo. Naquela época, havia a necessidade de irmos fisicamente até as outras pessoas com muitas viagens e muita comunicação – eu diria – “corpo a corpo”. Isso era interessante. Nesse processo conheci pessoalmente as áreas de comunicação da Espanha, Argentina e Chile, o que expandiu bastante minha compreensão do mundo nuclear.
BLOG: Como era a relação com os colegas?
CLAUDIA: Na CNEN, a relação sempre foi muito tranquila. A área técnica sempre foi carente de uma assessoria presente, eficiente e eficaz. Promovemos diversos treinamento em media training preparando-os para o contato com a imprensa e, desenvolvendo habilidades e competências para uma melhor comunicação. O fato de a assessoria estar diretamente ligada à presidência sempre foi um facilitador para que as nossas demandas fossem atendidas.
BLOG:- Sofreu algum preconceito ou vivenciou ação machista por ser mulher?
CLAUDIA: Naquela época esses conceitos eram um pouco diferentes, entretanto, lembro que durante a preparação para a inauguração do Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste – CRCN-NE, fui questionada sobre quem era o responsável pela cerimônia. Quando eu disse que era eu, foi um susto para aquela comitiva só de homens. O fato de ser mulher e muito jovem, fez com que eles levassem um susto, mas esse fato não impactou o evento.
BLOG: Quais as maiores dificuldades? E desafios em termos de relacionamento, de divulgar bem a informação?
CLAUDIA: A área nuclear sofre de três dilemas permanentes. O primeiro é o fato de ter sido apresentada para a humanidade por meio de uma explosão que dizimou Hiroshima e Nagasaki, em 1945. Esse fato, evidentemente, dificultou aos comunicadores nucleares nos anos seguintes passar a ideia de que energia nuclear poderia ser algo bom. O segundo dilema são os acidentes nucleares. Embora tenham sido três, em mais de 70 anos de energia nuclear, isso criou um estigma que dificulta a divulgação dessa forma de energia até hoje. E o terceiro é a disposição dos rejeitos radioativos. Embora já existam soluções técnicas para essa questão, imagino não ter sido comunicada adequadamente para a sociedade. Veja, no Brasil, mais precisamente, em Abadia de Goiás – GO, existe um deposito de rejeitos radioativos construído pela CNEN na década de 90, sem que tenha ocorrido qualquer vazamento. Por outro lado, hoje estamos reconstruindo a imagem da energia nuclear como uma forma limpa de viver sem os efeitos nocivos do dióxido de carbono, entre outros gases, causadores do efeito estufa. Essa construção está em curso e espero muito que consigamos passar essa percepção para as próximas gerações.
BLOG: Na INB, como tem sido? Na assessoria e de um modo geral?
CLAUDIA: Na INB, fui coordenadora de Relações com as Mídias e promovemos igualmente um treinamento em media training para formar porta-vozes. Desenvolvemos também um projeto intitulado “Projeto INB Memória” em que criamos uma linha do tempo sobre os principais acontecimentos do setor e entrevistamos dezenas de funcionários para contar sobre suas experiências vividas ao longo da vida profissional na INB. Esse projeto está em nosso site. No momento não trabalho mais na área de comunicação. Estou desenvolvendo projetos com novos horizontes.
BLOG: Conte um pouco sobre as conquistas, os desafios e dificuldades?
CLAUDIA: Minhas grandes conquistas foram na época em que trabalhei na CNEN. Naquele tempo, com o apoio do presidente, consegui fazer uma comunicação integrada da Sede com os cinco institutos de pesquisas do órgão: O Instituto de Engenharia Nuclear – IEN e o Instituto de Radioproteção e Dosimetria – IRD, ambos no Rio de Janeiro; o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear – CDTN, em Belo Horizonte, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, em São Paulo e o Centro Regional de Ciências Nucleares – CRCN, em Recife. Os desafios foram muitos, pois, cada um desses Institutos tem culturas próprias de comunicação que atendem a seus públicos regionais. Desafiador também foi explicar para a população de Abadia de Goiás que construiríamos lá um depósito para abrigar os rejeitos do acidente radiológico de Goiânia (o acidente do com o césio – 137).
BLOG: Outros desafios?
CLAUDIA: Igualmente, quando a CNEN decidiu construir o Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste, em Recife, tivemos que comunicar que aquela instalação não ofereceria qualquer perigo aos estudantes da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE e, traria novas oportunidades de pesquisa e de trabalho para a Região Nordeste. Outra coisa que me alegra muito, foi ter coordenado o trabalho que resultou na mudança da logomarca da CNEN, moderna e atual até hoje. Dificuldades? Algumas – mas todas vencidas com paciência e com a colaboração de inúmeras pessoas fantásticas com quem tive a oportunidade de trabalhar.
BLOG: Hoje é bem mais fácil porque há comunicação digital ou não?
CLAUDIA: Com certeza, as coisas ficaram mais fáceis. Porém, temos que lembrar que a comunicação digital responsável é, muitas vezes, invadida pelas “fake news”, que, infelizmente podem destruir em segundos, um trabalho construído por décadas.
BLOG: Como analisa o futuro da comunicação na área nuclear no Brasil? Como já disse, o nosso grande desafio é associar a energia nuclear à energia verde, sem carbono e, não causadora do efeito estufa. Esse, em minha opinião é o nosso desafio. Entendo que as entidades do setor nuclear devem se associar a esta importante tarefa. Da mesma forma, nossos técnicos devem garantir cada vez mais a segurança dessa importante forma de energia para que nós, comunicadores, não tenhamos que nos debruçar novamente em argumentos para explicar eventuais acidentes nucleares. Isso seria um enorme retrocesso. No entanto, sou uma otimista – energia nuclear será um marco importante na preservação de nosso planeta!
BLOG: No mais?
CLAUDIA: Nasci em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, ainda na infância fui morar em Olaria, subúrbio carioca onde brincava na rua com meus irmãos Ana Cristina, Mônica e Sergio Henrique, um privilégio. Sou Vascaína, Carioca da gema, moradora de Copacabana, lugar que me reconectou com a natureza e as brincadeiras ao ar livre da infância. Treino na praia todos os dias pela manhã e começo meu dia no melhor de mim. Sou casada com José Mauro Esteves (ex-presidente da CNEN e ex-secretário da ABACC), ganhei um filho de coração, Maurinho, com 36 anos, engenheiro agrônomo e Marcela, 22 anos, Internacionalista. Exerço a maternidade 24 horas do meu dia, meus filhos são a minha prioridade e meu orgulho. Minha maior alegria é viajar pelo mundo com a família, conhecer lugares novos e desfrutar dos mais variados sabores.
FOTO: Acervo pessoal.
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