quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Cerca de 25 toneladas de urânio (UF4) estão armazenadas há pelo menos 20 anos no Ipen



Cerca de 25 toneladas de UF4 (tetrafluoreto de urânio, composto sólido cristalino verde), material altamente radioativo, estão armazenadas há pelo menos 20 anos, no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, conforme o Blog revela com exclusividade. 

O fato foi confirmado nesta quinta-feira (28/2) pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, que exerce o monopólio da produção e comercialização de materiais nucleares, além de executar serviços de engenharia do combustível e a produção de componentes dos elementos combustíveis. 

A empresa admitiu que poderá realizar a contratação de serviço para reprocessamento do material para recuperação do urânio contido. Em seu estado tetravalente o produto é muito importante em diferentes processos tecnológicos: na indústria de refinação de urânio, é conhecido como sal verde. 

A INB também confirmou a informação obtida pelo Blog sobre a realização de edital: “Estuda-se a elaboração de um edital para a contratação de serviço para reprocessamento do material”, informou. Mas avisou: “Não seria venda exatamente, mas a contratação desse serviço de conversão. Depois o material retornaria para uso da INB”.

Um dos pontos prioritários, a segurança do material, guardado há pelo menos duas décadas, a INB informa apenas que tudo está sob a guarda do Ipen e da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Em relação aos profissionais que trabalham nas ações de segurança no local, respondeu apenas: “A segurança é realizada pela equipe do IPEN, de acordo com as normas da CNEN”.

 Afinal, qual a procedência do UF4 e por que o produto está estocado há tanto tempo no Ipen? “Trata-se de estoque de material radioativo da CNEN”, fruto de “ensaios de produção de UF6 (conversão) no IPEN”, informou a INB. UF6 é o urânio em forme de gás. Faz parte do ciclo do combustível para alimentar usinas nucleares e armas atômicas.

Após a publicação da matéria, a INB solicitou a publicação do seguinte: "O ciclo do combustível no Brasil atende apenas às usinas nucleares para a geração de energia elétrica". 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Petrobras elabora plano de ação para local que guardava material com radiação natural em Vitória



 A Petrobras informou nesta sexta-feira (01/02) que está trabalhando no detalhamento do Plano de Ação de Resposta à Emergência, específico para atuação nas consequências de incêndio, como o ocorrido domingo (27/01) em sua instalação "Terminal Industrial e Multimodal da Serra", em Vitória (ES). Segundo a Petrobras, o plano está em fase final de consolidação para protocolo e aprovação junto a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). “O incêndio atingiu a tenda de lona onde era guardado o Material Radioativo de Ocorrência Natural (NORM), rompendo tambores nos quais estava armazenado, sendo derramado no chão de cimento”, informou a Comissão. 

De acordo com o trabalho feito pelos técnicos, a medição não apresentou valores acima dos níveis permitidos. Também foram coletadas amostras de água e solo para serem analisadas em laboratório. Servidores da Diretoria de Radioproteção e Segurança (DRS) e do Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD), da CNEN, realizaram ainda levantamento radiométrico no entorno da área afetada. A Comissão informou, ainda, que continuará acompanhando o desdobramento dessa ocorrência. 

Petrobrás responde ao Blog: 

O Plano de Ação de Resposta à Emergência é específico para atuação nas consequências do incêndio ocorrido, logo, não havia como ser elaborado previamente, nem tão pouco é previsto na legislação para a operação normal. Desde a ocorrência do incêndio, a Petrobras já vinha trabalhando no detalhamento deste plano, que se encontra em fase final de consolidação para protocolo e aprovação junto à CNEN. 

O que é material radioativo de ocorrência Natural (NORM) 
O paradoxo da radiação (Leonam dos Santos Guimarães)
Publicado originalmente em 10 de setembro de 2010

A radioatividade natural existe na Terra desde que o planeta se formou. São cerca de 60 radionuclídeos presentes na natureza. Eles são encontrados no ar, água, solos, rochas e minerais, bem como nos alimentos e no nosso próprio corpo. Cerca de 90% desta radiação ambiental provem de fontes naturais, sendo a maior delas o gás radônio. Alguns locais no mundo, chamados de Áreas de Alta Radiação de Fundo, High Background Radiation Áreas ( HBRAs) têm, anomalamente, altos níveis de radiatividade naturais, muito superiores à média do planeta.

 A geologia e geoquímica das rochas e dos minerais encontrados nessas áreas têm a maior influência na determinação de onde está alta radiação natural aparece. HBRAs extremas são encontradas principalmente em regiões tropicais, áridas ou semiáridas, como Guarapari (Brasil), sudoeste da França, Ramsar (Irã), partes da China e Costa do Kerala (Índia). Em certas praias do sudeste do Brasil, especialmente no sul do estado do Espírito Santo, os depósitos de areias monazíticas são abundantes.

Os níveis de radiação externa nas areias da praia negra correspondem a quase 400 vezes o nível normal de radiação de fundo no mundo. Estas areias da costa brasileira têm vários minerais radioativos, dentre eles monazita, zircônio, torianita e columbita-tantalita, bem como minerais não radioativos, incluindo ilmenita, rutilo, pirocloro e cassiterita.


No sudoeste da Índia, ao longo dos 570 km de extensão da costa do estado de Kerala, há também grandes jazidas de areias ricas em monazita, com elevada radiação natural. Os depósitos de monazita são ainda maiores do que aqueles encontrados no Brasil, mas a dose externa de radiação é, em média, semelhante às verificadas em nosso país.

Ramsar, uma cidade no norte do Irã, tem os mais altos níveis de radiação natural no mundo. Exposições tão elevadas como 260 mGy/ano já foram registrados em Ramsar. A unidade de radiação ionizante utilizada aqui, grays por ano, corresponde a 1 Joule de energia transferida a 1 kg de tecido vivo (o miligray, mGy, que é um milésimo de gray, é mais comumente usado). Uma exposição de corpo inteiro a uma dose uniforme de 3-5 Gy mataria 50% dos organismos vivos expostos num período de 1 a 2 meses.

A característica mais interessante em todos estes casos é que estudos epidemiológicos mostram que as pessoas que vivem nestes locais HBRAs não parecem sofrer qualquer efeito adverso sobre a saúde como resultado de suas exposições elevadas à radiação. Pelo contrário, em alguns casos os indivíduos que vivem nestas HBRAs parecem ser ainda mais saudáveis e viver mais do que aqueles em locais de controle que não são classificados como HBRAs. Estes fenômenos colocam muitas questões intrigantes para os geólogos, físicos e médicos.


Texto extraído do site da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), creditado a Leonam dos Santos Guimarães, presidente da Eletronuclear/ Portal do Meio Ambiente (Rede Brasileira de Informação Ambiental - Rebia)

Novo presidente da INB: fôlego para programa de enriquecimento de urânio

O capitão de mar e guerra da reserva, Carlos Freire Moreira, 62 anos, foi empossado nesta sexta-feira (01/02) na presidência da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), substituindo Reinaldo Gonzaga, conforme o BLOG antecipou na semana passada. 

O programa de enriquecimento de urânio, realizado na INB, através de convênio com a Marinha, há cerca de 20 anos, poderá ganhar mais fôlego a partir de agora. 

O novo presidente conhece bem a empresa, onde exerceu o cargo de diretor técnico de Enriquecimento entre março de 2005 e maio de 2008. 

“Tive a honra e o privilégio de passar por aqui. Foi uma época muito profícua, em que conseguimos viabilizar a inauguração da primeira cascata (de enriquecimento) e lançar as bases para a continuidade do projeto. Fico feliz que já tenhamos atingido a sétima (cascata). E vamos em frente. Fico muito feliz de retornar à casa”, afirmou. 

Cearense, Carlos Freire Moreira é engenheiro naval, formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Possui graduação em Ciências Navais pela Escola Naval e mestrado em Arquitetura Naval pela École Nationale Supérieure de Techniques Avancées, em Paris, na França. 

Freire Moreira foi indicado para o cargo pelo Ministério de Minas e Energia. A indicação foi analisada pelo Comitê de Elegibilidade da INB, que avaliou se o nome preenchia os requisitos previstos na legislação.  


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