quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Angra 3: edital para retomada das obras põe fim à saga iniciada nos anos 70.

 


A Eletronuclear publicou nesta quinta-feira (25/02), no Diário Oficial da União, o edital de contratação da empresa que retomará a obra civil de Angra 3 e realizará parte da montagem eletromecânica da usina nuclear. O objetivo é adiantar algumas atividades de construção antes mesmo de se contratar a empreiteira que irá empreender a obra global e concluirá a construção da usina. A expectativa é de que o contrato seja assinado até maio, conforme a subsidiária da Eletrobras divulgou hoje. 

Desde que assumiu o governo, o presidente Jair Bolsonaro manifestou várias vezes a intenção de concluir Angra 3, uma obra que há décadas vem sendo palco de muitos problemas. 

A história da usina começou nas décadas de 70 e 80, época do apogeu da energia nuclear no Brasil, por conta das pressões e dos boicotes norte-americanas contra o país. 

Para se ter ideia, até o ex-presidente Juscelino Kubitschek pediu a amigos que transmitissem felicitações ao general Ernesto Geisel, quando o presidente assinou o acordo nuclear Brasil-Alemanha, em Bom, no dia 27 de junho de 1975. Em carta, escrita de próprio punho, datada de 8 de julho de 1975, Kubitschek registrou que considerava o ato o mais importante praticado pela Revolução nos últimos dez anos. Foi assinando o acordo que o Brasil, entre outros negócios, comprava oito usinas da Alemanha, uma delas, batizada de Angra 3. 

O mundo nuclear não era para principiantes e envolvia grandes jogadas: depois de vender Angra 1 para o Brasil, os EUA se negaram a fornecer o combustível (urânio enriquecido) para alimentar o reator fabricado pela norte-americana Westinghouse. Diante da crise, o Brasil fez a compra da África do Sul, enquanto o nacionalismo fervilhava. Cientistas defendiam que o Brasil deveria projetar o seu próprio reator comercial, mas foram vencidos.  O acordo estava assinado. 

Na Escola Superior de Guerra (ESG), no Rio de Janeiro, eclodiam os mais veementes discursos em prol da ditatura nuclear brasileira. Em 1978 ainda havia muito otimismo em torno do “negócio do século”, pois as obras da primeira usina fruto do acordo, Angra 2, estavam em andamento. Na Europa, porém, havia um forte movimento contra o programa nuclear brasileiro. Aqui, houve até Comissão Parlamentar de Inquerido (CPI), que acabou em “pizza”.  

A SAGA DE ANGRA 3 -

 Mais de quatro décadas se passaram, e parece que a saga de Angra 3 chegou ao fim. 

Para resgatar mais um pouco essa história, dados oficiais informam que as obras civis de Angra 3 tiveram início em 1984; sendo interrompidas em 1986. Nesse período, foram realizados cortes na rocha, abertura de cavas para a colocação de blocos de fundação e a preparação parcial do sítio. O governo também executou instalações parciais de infraestrutura do canteiro de obras. O material procedente da escavação foi utilizado para a construção do molhe de proteção da Baia de Itaorna, em frente à central nuclear de Angra. 

A Eletronuclear reconhece que a paralisação das obras de Angra 3 ocorreu por fatores políticos e econômicos, principalmente nas décadas de 1980 e 1990. Só depois da entrada em operação de Angra 2 – a primeira usina o acordo com a Alemanha – a construção de Angra 3 voltou à pauta. Problemas diversos foram entravando a continuidade das obras, que se arrastaram até 2015. 

O ano de 2015 marcou a mais recente parada das obras da usina, após denúncias de corrupção do então presidente da Eletronuclear, contra-almirante Othon Luiz Pinheiro, que acabou sendo preso. Até o ex-presidente da República, Michel Temer, e executivos da estatal, acusados de corrupção, também foram presos. Todos soltos, depois. 

FESTA NO CANTEIRO -

 Agora, com a publicação do edital para a retomada das obras, a indústria nuclear se movimenta aliviada para alavancar um processo que até bem pouco tempo, muitos duvidavam. 

Em outubro, provavelmente, haverá festa no canteiro de obras da usina: será colocado o primeiro concreto – marco da retomada das obras de Angra 3. Técnicos do setor acham que o momento será de festa no canteiro. A contratação da empreiteira está prevista para o segundo semestre de 2022. Por fim, a entrada em operação programada para 2026. 

A Sociedade Angrense de Proteção Ambiental (SAPÊ) lamenta a falta de diálogo com   moradores e comunidades indígenas, originais daquelas terras. 

Defensores de Angra 3 ressaltam que as obras não podem parar, porque Angra 3 já consumiu R$ 7 bilhões e agora, com o edital, terá como obter os R$ 15 bilhões necessários para a sua conclusão. Argumentam também Angra 3 terá capacidade para gerar 1.350 Megawatts (MW), quando funcionar 100% sincronizada ao Sistema Integrado Nacional SIN), e que poderá atender ao consumo de uma cidade de 2 milhões de habitantes, como Belo Horizonte. 

Ambientalistas alertam sobre os perigos de acidentes radioativos, que provocaram milhões de mortes em todo o mundo. Membros da SAPÊ e da Articulação Antinuclear, que reúne dezenas de entidades civis no país, protestam. Cobram que ainda hoje não há um plano de emergência aprovado por todas as partes para a retirada da população em caso de acidente com radiação. 

A Eletronuclear garante que a instalação nuclear é segura. E anuncia a criação de sete mil empregos por conta da retomada das obras de Angra 3.  O prefeito reeleito de Angra, Fernando Jordão, tem participado de reuniões com a Eletronuclear visando obter recursos para a cidade, relativos às contrapartidas negociadas anteriormente. Ele disse que confia. 

(Carta - Reprodução dos livros da autora)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Angra 3: edital para retomada das obras sai nesta quinta-feira (25/2). Dívidas com BNDES e CEF chegam a R$ 6,6 bi

 


A Eletrobras acaba de informar aos acionistas e ao mercado que a subsidiária Eletronuclear publicará nesta quinta-feira (25/2) o edital para a contratação de empresa que retomará a obra civil de Angra 3 e realizará parte da montagem eletromecânica da usina nuclear, em Angra dos Reis. “O objetivo é adiantar algumas atividades de construção entes mesmo de se contratar a empreiteira que irá empreender a obra global e concluirá a construção da planta”, informou a holding. 

(Na terça-feira o presidente Jair Bolsonaro entregou ao Congresso a Medida Provisória (MP) nº 1031, visando a privatização da Eletrobras. Segundo especialistas, a MP é “simbólica:  autoriza o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES a iniciar estudos nesse sentido; mantém a Eletronuclear e a Itaipu sob controle do governo, por exemplo, parecida com a anterior, que não saiu do papel). 

Em nota divulgada há pouco (24/2), a Eletrobras informou que a iniciativa da publicação do edital integra o plano de aceleração do caminho crítico da usina.  A expectativa é que a contratação ocorra até maio. Assim, o primeiro concreto – marco da retomada das obras de Angra 3 – deve ser lançado em outubro. Informa também que a contratação da empreiteira que dará sequência à obra está prevista para o segundo semestre de 2022. Angra 3 tem 65% de suas obras civis concluídas e a previsão da Eletrobras é de entre em operação em novembro de 2026. 

Esta semana, a Eletronuclear divulgou a sua dívida, fruto de financiamentos de Angra 3, com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal (CEF):   R$ 6,6 bilhões.  A empresa vem pagando, mensalmente, R$ 30,1 milhões ao BNDES. Já a CEF, paga R$ 24,7 milhões mensais. Angra 3 terá autorização para operar por 50 anos, prorrogável por mais 20 anos. A usina já consumiu R$ 7 bilhões e precisa de outros R$ 15 bilhões para ser concluída. 

As principais empresas internacionais da área nuclear já demonstraram interesse na conclusão de Angra 3. Conforme o blog vem divulgando, quase todas já visitaram o sítio da usina e assinaram Memorandos de Entendimento (MOU, em inglês) com a Eletronuclear para troca de informações sobre o empreendimento. O grupo é composto por Westinghouse (EUA), EDF (França), Rosatom (Rússia), CNNC e SNPTC (China). Essas companhias também participaram de uma consulta ao mercado, conhecida como market sounding, sobre a construção da unidade, realizada pela Eletronuclear em 2019. 

 SANAR DÍVIDAS -

Em janeiro, a Eletrobras aprovou o descontingenciamento dos recursos para a Eletronuclear publicar esse edital. Esses recursos são provenientes do Adiamento para Futuro Aumento de Capital (Afac) aprovado pela Eletrobras em julho do ano passado. Em 2020, a empresa liberou R$ 1,052 bilhão para a Eletronuclear. Para este ano, estão previstos R$ 2,447 bilhões adicionais. 

“Vale ressaltar ainda que, no final de junho de 2020, a Eletrobras aprovou a conversão de contratos de Afac em novas ações da Eletronuclear, no valor total de R$ 850 milhões. Além disso, autorizou a capitalização de contratos de financiamento nos quais a holding é credora de sua subsidiária, no montante de quase R$ 1,036 bilhão. Esses foram passos importantes para sanar as dívidas da Eletronuclear com a Eletrobras”. 

A decisão da Eletrobras de conceder a Afac à Eletronuclear  ”vem na esteira da aprovação” pelo Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (CPPI) em junho último, do relatório de um comitê interministerial sobre o modelo de negócio para concluir Angra 3. O documento recomenda a contratação de uma empresa especializada por contrato EPC (engenharia, gestão de compras e construção) para terminar a obra, com base em avaliação independente feita pelo BNDES. “Apesar de ter decidido pela contratação de uma empresa epecista para concluir a usina, o CPPI abriu espaço para a entrada de um sócio no empreendimento. Caso a Eletronuclear resolva selecionar um parceiro para terminar a unidade, a participação será minoritária. A exploração da energia nuclear no Brasil é monopólio da União, segundo a Constituição.  

Leia no BLOG outras matérias sobre Angra 3

(FOTO: Angra 3 - acervo Eletronuclear  - 

Operação inédita transfere combustível usado (urânio) de Angra 2 para UAS, inaugurando primeiro depósito atômico no Brasil

 


Uma operação inédita de transferência de combustível usado (urânio queimado), material altamente radioativo, da piscina da usina nuclear Angra 2, para a Unidade de Armazenamento a Seco (UAS), está prevista para acontecer em março, na central nuclear de Angra dos Reis (RJ). Isto porque a capacidade da piscina da usina, onde o material está armazenado, se esgota em junho próximo. Será, portanto, a inauguração da UAS, que vem sendo construída há dois anos. 

Na semana passada, a Justiça Federal revogou a liminar que impedia a transferência do combustível usado para a UAS. A ação civil pública foi movida no Ministério Público Federal, pelo procurador Igor Miranda. A ação não tem sentença e ainda cabe recurso, o que não ocorreu até o momento. 

Sem impedimento judicial, a Eletronuclear, gestora das usinas e da UAS, informa que, em novembro próximo, transferência idêntica deverá ser feita em relação à Angra 1. Afinal, a capacidade da piscina da usina se esgota em julho do ano que vem (2022). Com o transporte do combustível usado para a UAS, abre-se espaço nas piscinas para o armazenamento os combustíveis usados por mais cinco anos. 

A Eletronuclear ressaltou, em 2018, que combustíveis usados ("queimados") não são considerados rejeitos, uma vez que guardam uma grande capacidade de gerar energia.  E que mantê-los de "forma segura faz parte da politica brasileira, até que se tenha uma definição sobre seu reprocessamento ou deposição final". Agências Internacionais acompanham o estoque brasileiro do material que pode ser usado como plutônio. 

NOVAS RECARGAS - 

O transporte da 26ª recarga de Angra 1 começou nesta terça-feira (23/2) e termina no dia 12/3, conforme cronograma da Indústrias Nucleares do Brasil INB), que o blog divulgou anteontem (22/2). Cada recarga de Angra 1 custava cerca de R$ 188 milhões, mais outros R$ 80 milhões destinam-se ao transporte. São informações oficiais da Eletronuclear, divulgadas em 2018.  

Para quem não sabe, as recargas são produzidas na Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), em Resende, da Indústrias Nucleares do Brasil (INB). De lá, em comboio, seguem para a central nuclear, por conta da pandemia do coronavirus, os cuidados tem que ser redobrados. 

No período de abril a maio será feito o transporte da 17ª recarga de combustível para alimentar o reator de Angra 2. A usina produz cerca de 1.350 Megawatts, quando opera 100% sincronizada ao Sistema Integrado Nacional (SIN. É o dobro da produção de Angra 1, que está sendo modernizada para durar mais 20 anos, com investimentos de US$ 27 milhões. 

Nos próximos cinco anos, a partir de agora, o combustível usado será armazenado nas piscinas, já desocupadas, com a transferência para a UAS. Cada reator - de Angra 1 e Angra 2 – será abastecido por uma nova recarga de elementos combustíveis (urânio enriquecido de 3,5% a 4,7%) para operar cerca de um ano, quando o processo recomeça. 

RISCOS DE ACIDENTES -

Somente em 2018, o governo iniciou as ações para a construção da UAS, conforme o blog divulgou no dia 4 de agosto daquele ano. Há décadas se discute a questão, sempre deixada de lado, até que as piscinas das usinas chegaram ao limite. O prefeito de Angra, Fernando Jordão (MDB), concorda com a construção da UAS, com ressalvas: “desde que sejam cumpridas todas as exigências relacionadas à segurança”. E acrescentou: “Confiamos no trabalho do Ibama, que tem vasto conhecimento e experiência no assunto”. 

Localizada dentro da central nuclear, a UAS envolve investimentos de US$ 50 milhões. Inicialmente terá 15 módulos, podendo chegar a 72, com capacidade para armazenar combustível usado até 2045. No total, 288 elementos combustíveis serão retirados de Angra 2 e 222, de Angra 1, o que abrirá espaço nas piscinas. 

AÇÃO NA JUSTIÇA -

 Desde o ano passado a Eletronuclear, responsável pelas usinas e pela UAS, se viu às voltas com uma ação civil pública, movida pelo procurador Igor Miranda. Miranda pontuou diversos problemas gerados pela construção da UAS, como a falta de segurança, riscos de acidentes com radiação, entre outros. 

O procurador conseguiu liminar à ação civil pública proibindo a transferência do combustível. Mas a liminar foi revogada no último dia 18/2, pela juíza substituta da 1ª Vara Federal de Angra, Daniela Berwanger Martins. 

A Eletronuclear divulgou que a magistrada “reconheceu a urgência” da transferência ocorrer, de acordo com o cronograma atual, “sob o risco de ser preciso desligar, as duas usinas, de forma desnecessária”. Nesse caso, acrescentou, haveria prejuízo à estatal e à comunidade em geral pela falta de uma fonte de energia.

O Conselho Indigenista Missionário (CIMI Regional Sul) contesta a decisão da magistrada. O CIMI representa as Comunidades Tradicionais de Angra Paraty e Ubatuba (FCT).  Seu principal propósito é auxiliar o diálogo junto às comunidades indígenas, quilombolas e caiçaras da região, para que tenham suas vozes consideradas, e que seus direitos garantidos no processo de implementação da UAS. (Leia a nota do CIMI em sua página na Internet). 

PREVISÍVEL - 

Técnicos lembraram que o esgotamento das piscinas era previsível desde a inauguração comercial de Angra 1, em 1985 e de Angra 2, em 2001. Se as usinas estavam operando, gerando energia, naturalmente, teriam que receber novas recargas para substituir o combustível usado, desde então armazenados nas piscinas, há anos. “Era óbvio que as piscinas chegariam ao limite, o que acontece agora”, comentou um engenheiro da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que trabalhou em projetos de depósitos na década de 90. 

Pela complexidade de projetos envolvendo material radioativo, ele enfatizou que o setor nuclear deveria ter iniciado o processo de construção da UAS há mais tempo, dialogando com as partes, principalmente a população e seus representantes. Lembrou que, em caso de acidente, serão os primeiros a serem afetados. 

Ativistas reclamam da falta de divulgação do licenciamento do projeto pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que realizou uma audiência pública, no dia 22/01, no formato virtual, às 18h. A audiência do Ibama foi amplamente criticada pela Sociedade de Proteção Angrense (SAPÊ) e diversos ambientalistas. Muitos sequer conseguiram acessar o evento. Outros disseram que as suas perguntas não foram apresentadas no debate. 

Em nota ao blog, o Ibama declarou: em relação ao licenciamento da UAS, encontra-se em fase de licenciamento de instalação. Lembramos, que a UAS, quando concluída, comporá o empreendimento já licenciado e em operação da chamada Central Nuclear formado pelas usinas Angra 1 e Angra 2, “não se tratando, portanto, de um novo empreendimento”. 

Mas os ambientalistas contestam a falta de respeito em relação às comunidades indígenas de Angra, que habitam os arredores da usina, muito antes da instalação nuclear ser cravada no local, nas décadas de 70 e 80. “O desrespeito é absoluto”, comenta Maria Clara Sevalho, membro da SAPÊ. Outra fonte comentou que, por isso também, “é natural o medo” que a energia nuclear provoca nas pessoas.   

A Eletronuclear informou que a audiência virtual de 22/1 foi “o segundo evento realizado pela entidade (Ibama) para dar informações sobre o empreendimento à população da Costa Verde”. Não é pouco para uma obra tão importante e complexa? Fica a pergunta.  

(FOTO- UAS - Eletronuclear) 

 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Angra 1: começa o transporte do combustível nuclear; mais cuidados por conta da pandemia

 


Começa nesta terça-feira (23/2) o transporte da 26ª recarga de combustível (urânio enriquecido) para alimentar o reator da usina nuclear Angra 1, comprada da norte-americana Westinghouse, em 1970, que entrou em operação comercial em 1985.

A recarga é formada por varetas (conjunto de barras) com pastilhas de urânio enriquecido que sairão da Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende, com destino à Central Nuclear de Angra.

Um comboio com veículos da Polícia Rodoviária Federal, Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), entre outros órgãos, acompanha o trajeto. A operação é de grande complexidade, principalmente agora em plena pandemia do coronavirus. 

O segundo transporte com varetas que compõem a recarga está previsto para ocorrer no dia 26/1. Em março, nos dias 2, 5; 9, finalizando dia 12. 

Em 2018, a recarga de urânio de angra 1 demandava cerca de R$ 268 milhões, incluindo o valor do transporte. segundo informou na época, a Eletronuclear, gestora das usinas. Angra 1 será desligada para receber a 26ª recarga. 

Vale lembrar que a usina está sendo preparada para durar mais 20 anos. Há cerca de duas décadas a projeção era de que Angra 1 teria que ser desligada até 2018. Nos últimos cinco anos foram investidos US$ 27 milhões na modernização da usina. 

ANGRA 2 – 

A previsão é de que comece em abril o transporte da 17ª recarga para a usina Angra 2, comprada pelo acordo Brasil Alemanha, em 1975. A usina entrou em operação comercial em 2001.  Angra 2 está sendo abastecida com o combustível que estava pronto para Angra 3, desde 2015. 

ANGRA 3 - 

Na ocasião, as obras da terceira usina foram paralisadas por conta de denúncias de corrupção que levaram à prisão diversos executivos e o ex-presidente da empresa, contra-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva. Até o vice-presidente da República, Michel Temer, também foi preso na esteira das denúncias de uso de verbas públicas da usina em benefício próprio. Todos foram liberados depois. 

Angra 3 poderá ter as obras retomadas este ano. Se tudo ocorrer como tem sido anunciado, a usina também comprada há pelo acordo há mais de 40 anos, será inaugurada em 2026. Face a tantos atrasos, nos bastidos, comenta-se que é melhor esperar para ver.   

(FOTO: Acervo INB - Elementos combustiveis) 

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Sociedade Brasileira de Física alerta sobre consulta pública visando aprovação de projeto para construção da bomba atômica

 


A Sociedade Brasileira de Física (SBF), com sede na Cidade Universitária, em São Paulo, está alertando os físicos brasileiros sobre consulta pública que tramita no Senado visando a aprovação de um projeto para construção da bomba atômica brasileira. A proposição foi encaminhada pelo médico pernambucano Vito Angelo Duarte Pascaretto, que mora no Paraná, e encontra-se em consulta pública sob a relatoria do senador Paulo Paim.  

Em novembro, a proposição já contabilizava mais de 27 mil apoios, embora o total de 20 mil assinaturas fosse o suficiente para o seu prosseguimento. A Comissão de Área de Física Nuclear da SBF sugere que os físicos brasileiros se informem sobre o tema e que votem. 

“As Forças Armadas Brasileiras necessitam de bomba nuclear para dissuadir interferência estrangeira em nosso território nacional. A Amazônia brasileira é nossa”, argumenta o médico. Qualquer cidadão pode apresentar uma ideia legislativa no portal e-Cidadania. Basta se cadastrar, acessar a página das ideias e enviar a proposta. Foi o que o médico fez no dia 13 de outubro. 

“Esse é um tema bastante sensível”, alerta a Comissão de Área de Física Nuclear, da SBF. Segundo a entidade, é preciso considerar que o possível financiamento de “tal projeto” poderia causar ainda mais cortes nas verbas destinadas à ciência brasileira. Na área nuclear, observa a SBF, traria problemas de para a entrada em operação da usina Angra 3 e a construção do reator multipropósito destinado à produção de radiofármacos para a medicina. 

O Brasil, lembrou a SBF, é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP-N), “que tem contribuído para a manutenção da paz mundial, não obstante divergências sobre a garantia do uso das armas nucleares asseguradas a apenas alguns países”.

O site da consulta pública é: https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaomateria?id=145430

https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaomateria?id=14543https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaomateria?id=145430

BOMBA ATÔMICA - Comentários.  

- O Brasil já sabe fazer a bomba atômica há muito tempo, mas acho que não deve fazer. Soberania a gente não compra A gente conquista. (Rex Nazaré, físico nuclear, ex-presidente da CNEN - 2018).  

- O Brasil não deve se envolver com a construção da bomba atômica. No campo diplomático, deveria militar pela eliminação das bombas atômicas no mundo. O Brasil deve construir o submarino de propulsão nuclear para a defesa de nossas plataformas de petróleo muito afastadas da costa. (Luiz Pinguelli Rosa, físico nuclear, Coppe/UFRJ- 2018). 

- O Brasil pode fazer uma bomba atômica em uns quatro meses – (contra-almirante Othon Luis Pinheiro, ex-diretor Copesp/SP, ex-presidente da Eletronuclear - Folha de S. Paulo, 2017). (FOTO- Portal Justiça)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Angra 3: quase 40 anos depois do início de sua construção Senado dá sinal verde para retomada das obras

 


Trinta e sete anos após o início de sua construção, a usina Angra 3 recebe mais um sinal verde do governo visando a retomada das suas obras. O Senado acaba de aprovar a conversão em lei da Medida Provisória 998, que trata sobre diversos aspectos do setor elétrico, incluindo Angra 3. A MP 998 foi divulgada em setembro estipulando regras para a contratação e comercialização de energia a ser produzida pela unidade atômica.

A holding Eletrobras e a subsidiária Eletronuclear divulgaram em seus sites a notícia da aprovação da MP, que ocorreu na quinta-feira (4/2). O texto segue agora para sanção presidencial e promulgação.

Em relação à retomada das obras, segundo a Eletronuclear, “um ponto de vista importante é o artigo 9, que permite a revisão do preço de contratação da energia a ser gerada pela usina”. Permite também a rescisão de contrato existente e a pactuação de um novo, com preço da energia que atenda a rentabilidade do empreendimento e a modicidade tarifária. Esse preço, informou a Eletronuclear, será calculado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As dívidas mensais acumuladas pelo empreendimento junto ao BNDES chegavam a R$ 30 milhões. Há também dividas junto à Caixa Econômica Federal (CEF). 

O BNDES terá que atualizar o investimento necessário para a conclusão de Angra 3. A mais recente paralisação das obras ocorreu em 2015, por conta de denúncias de corrupção na operação Lava-Jato, que rendeu a prisão do ex-presidente da Eletronuclear, contra-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, e posteriormente, do ex-presidente Michel Temer, ambos soltos depois. 

Segundo dados mais recentes da Eletronuclear, a usina tem 67% das obras civis finalizadas; já consumiu cerca de R$ 7 bilhões e precisará de mais cerca de R$ 15 bilhões para ser concluída.  

Sem recursos, desde 2018, a Eletronuclear anunciou que discutia a possibilidade de parcerias com empresas Chinesa, Russa e francesa. Nada mais foi divulgado sobre o assunto. 

ACORDO BRASIL-ALEMANHA – 

Angra 3 faz parte do pacote do acordo nuclear Brasil-Alemanha, assinado pelo general Ernesto Geisel, em Bonn, no dia 27 de junho de 1975. O “negócio do século” previa a construção de oito centrais atômicas de 1.300 MW, cada, num prazo de 15 anos. Previa também a implantação de diversas empresas, como a “holding” Nuclebras, que chegou a ter cinco mil empregados e foi batizada de “elefante branco”.  

Do acordo, apenas Angra 2 saiu do papel e está em funcionamento, apesar de recorrentes paradas por problemas técnicos, como a mais recente, em junho, divulgada pelo Blog. Em geral, nos últimos anos, a performance da usina tem sido positiva, gerando 1.300 MW para o Sistema Interligado Nacional. 

Já a usina Angra 1, de origem norte-americana (Westinghouse), teria custado cerca de US$ 2 bilhões, e está sendo avaliada para durar mais 20 anos. A avaliação deverá custar cerca de US$ 23,5 milhões, como o Blog divulgou em setembro. 

FOTO: Acumuladores para Angra 3, produzidos pela Nuclep - acervo Nuclep.

 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Ataque cibernético alcançou servidores administrativos da Eletronuclear, sem atingir usinas nucleares

 


A Eletronuclear, gestora das usinas nucleares, detectou um ataque por software nocivo (ransomware) que alcançou parte dos servidores da rede administrativa da empresa na noite desta quarta-feira (03/02). Mais conhecido como ataque cibernético, o problema foi comunicado pela holding Eletrobras aos acionistas e mercado em geral. O incidente não afetou as usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, que não se conectam com os sistemas atingidos. Por razões de segurança, as unidades atômicas estão isoladas da rede administrativa. 

Segundo a Eletrobras, o ataque não causou prejuízos para o fornecimento da energia elétrica ao Sistema Interligado Nacional. Por medidas preventivas, a estatal suspendeu temporariamente o funcionamento de alguns dos seus sistemas administrativos para proteger a integridade dos seus dados. 

A Eletronuclear comunicou o fato ao Centro de Tratamento e Resposta a Incidentes Cibernéticos de Governo (CTIR.Gov), com cópia para representante do Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro (SIPRON), subordinado ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. 

O ataque está sendo investigado por entidades governamentais responsáveis ​​pela segurança da energia nuclear. Mesmo sem afetar as unidades nucleares, segundo fontes, o ataque gerou apreensão em setores operacionais das unidades.

FOTO: Central Nuclear de Angra dos Reis - Acervo Eletronuclear

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Continua o impasse sobre a transferência do urânio usado de Angra 1 e Angra 2 para a UAS; piscinas estão no limite

 


Continua o impasse judicial sobre a transferência do combustível usado (urânio enriquecido) das piscinas de Angra 1 e Angra 2, para a Unidade de Armazenamento a Seco (UAS), que está sendo construída no complexo de Angra dos Reis.  As piscinas que armazenam o combustível usado estão praticamente esgotadas.

O Ministério Público Federal, através do procurador Igor Miranda, em ação civil pública, argumenta que o local não é seguro e que não está descartada a possibilidade de ocorrer acidente com radiação na instalação. A ação tenta proibir a transferência do combustível. Enquanto isso, as obras continuam, sob a aprovação do Instituto de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). 

Ao blog, o Ibama informou que a UAS “não é um novo empreendimento, mas sim, uma parte do processo de licenciamento ambiental” da Central Nuclear de Angra. A UAS, segundo o Ibama, consiste em “estrutura auxiliar” das duas usinas, “conforme as demais estruturas existentes no local”. Segundo o Ibama, para o licenciamento da UAS foram emitidas a Licença Prévia nº 617/2019 e a Licença de Instalação nº 1310/2019. 

O Instituto se defende das acusações de ambientalistas contra a forma “meramente protocolar e sem transparência” na qual realizou a audiência pública virtual para o licenciamento da UAS, no último dia 22/01, às 18h. O Ibama afirma que o evento foi divulgado diariamente, com 15 dias de antecedência. Mas os ambientalistas argumentam que o Ibama deveria ter realizado a audiência antes de a Unidade de Armazenamento a Seco começar a ser erguida e já batizaram a UAS de “puxadinho”. 

Desde outubro, técnicos da Eletronuclear, gestora das usinas, estão sendo treinados para operar a transferência prevista para ocorrer entre o primeiro e o segundo semestre. As entidades de proteção do meio ambiente, entre elas, a Sociedade Angrense de Proteção Ambiental (SAPÊ), reiteraram que vão insistir junto à Justiça para tentar impedir que o local se transforme num “cemitério nuclear a céu aberto”. 

(Ilustração da localização da UAS - Acervo Eletronuclear) 

Governo cria Batalhão de Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica, na Ilha das Flores (RJ)

 


O governo cria nesta quarta-feira (3/2), o Batalhão de Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica, Organização Militar com semiautonomia administrativa, “devendo ser apoiada pela Base de Fuzileiros Navais da Ilha das Flores, que proverá os recursos de pessoal e financeiros necessários à execução de suas tarefas, com sede na cidade de São Gonçalo”, Rio de Janeiro. 

A Base está subordinada ao Comando da Tropa de Reforço, com o propósito de integrar o Sistema de Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica da Marina e “contribuir para a defesa nuclear, biológica, química e radiológica aos Grupamentos Operacionais de Fuzileiros Navais, sob o comando de um capitão de Fragata do Corpo de Fuzileiros Navais”. 

O governo criou um núcleo para a implantação do Batalhão, responsável pela elaboração dos estudos e subsídios relativos ao projeto de regulamentação da Organização Militar. As informações estão na Portaria nº 16/MB/MD, de 1º /02/2021, do Diário Oficial da União (DOU) assinada pelo Ministro Ilques Barbosa Junior, que entra em vigor hoje.  

É ampla a literatura disponível sobre a Ilha das Flores. 

(FOTO: Tropa de Reforço - Guia Turístico e Cultural de São Gonçalo.)  

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Bomba atômica! Pra quê? Brasil e Energia Nuclear - Editora Lacre

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