quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Brasil registra 198 eventos operacionais e 27 incidentes de segurança em unidades nucleares de 2018 a 2023, segundo TCU, em auditoria sobre ANSN

 


Nos últimos cinco anos (de 2018 a 2023), foram registrados 198 eventos operacionais em instalações nucleares do ciclo do combustível; em Angra 1 e Angra 2, foram 18, com relato obrigatório (REN1), e 54, não obrigatório, mas de interesse (REN2). No mesmo período, 27 “incidentes” de segurança de baixo, médio e alto níveis de gravidade foram registrados em instalações radiativas no território nacional. Trata-se de condições não previstas, sem classificação de acidente. Os números constam em relatório, fruto de auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), publicado ontem pelo órgão, para mostrar a urgência de o governo legitimar a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN), destinada à fiscalização de unidades nucleares, por exemplo. 


O objetivo da auditoria é avaliar se as medidas adotadas para a estruturação da ANSN estão adequadas ao que dispõe a Lei 14.222/2021 e acompanhar a estruturação do órgão. O nome indicado pelo governo para ocupar a direção da ANSN deverá ser sabatinado pelo Senado. O Ministro Bruno Dantas preside a auditoria com relatoria do ministro Aroldo Cedraz. Há décadas, todas as atividades estão acumuladas sob o guarda-chuva da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), na contramão de outros países e em desacordo com a Convenção Internacional de Viena, de 1994, da qual o Brasil é signatário, para garantir a fiscalização segura para a população e o meio ambiente. 


Um evento nuclear de maiores proporções poderá vir a se configurar como “erro grosseiro”. A própria CNEN, observou o TCU, gerencia diretamente onze instalações nucleares, 25 instalações radioativas e cinco depósitos de rejeitos, dos quais apenas 18,18%, 44% e 20% estão regularmente licenciados. “Essa situação denota o aparente conflito de interesse, já que a CNEN é ao mesmo tempo a entidade regulatória, licenciadora e gestora d instalações sujeitas a licenciamento”, afirma o TCU. O TCU lembra que a CNEN tem previsão de 3.267 cargos efetivos, dos quais apenas 1.399 (42%) estão providos. Sem concurso desde 2014, a Comissão está subordinada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), enquanto a ANSN ficará sob a responsabilidade do Ministério de Minas e Energia (MME). 

GRAVIDADE DOS EVENTOS - 

De acordo com o TCU, a CNEN afirma que a inexistência de gradação da gravidade dos eventos está associada ao próprio poder sancionador legal da Comissão, que se resume à possibilidade de cassar ou suspender as licenças ou autorizações concedidas. “Logo, a CNEN conclui que é fora de propósito estabelecer níveis de gravidade. Destaca, contudo, que a Lei 14.222/2021 (criando a ANSN) corrigiu a falta de gradação na coerção, uma vez que classifica as infrações administrativas quanto à gravidade em três níveis - leves, graves e gravíssimas”.

No tocante às sanções possíveis, o artigo 14 da Lei 14.222/2021 estabelece a possibilidade de aplicação de multa, suspensão temporária parcial ou total de funcionamento da instalação nuclear; revogação de autorização ou licenciamento para o exercício da atividade ou para a instalação ou o perdimento de equipamentos e materiais nucleares e radiológicos apreendidos. 

Em relação à quantidade de eventos relatada, percebe-se que há uma constância na ocorrência (com exceção do ano de 2022, em que os eventos do tipo REN2 foram treze a mais do que em 2021). Constata-se, a partir das informações da CNEN, que a maneira de atuação quanto aos eventos operacionais é bastante restrita, em função da possibilidade apenas de uma atuação binária (cassação/suspensão). 

FORTE REPERCUSSÃO - 

Vale observar que, por mais que sejam poucos eventos com maior gravidade, a ocorrência de um único evento de grandes proporções pode ter forte repercussão, como o acidente relativo à contaminação de centenas de pessoas pela radiação de Césio-137, ocorrido na cidade de Goiânia em 1987, cujos efeitos em termos de gravidade somente foram considerados menos danosos do que o evento de Chernobyl, em 1986. 

Necessário destacar que, acrescenta o TCU, desde a publicação da Lei 14.222/2021, houve quatro eventos operacionais que poderiam ter sido tratados de acordo com as prescrições da nova lei. Com os seguintes comentários da CNEN sobre as ações que adotou em cada um desses fatos: 

No caso do “derramamento de material radiativo no mar de Angra dos Reis (setembro/2022)”, a Comissão informa que foram geradas vinte exigências, das quais oito foram atendidas e as demais estão sob controle da diretoria do setor. “O evento não foi associado a um risco indevido, portanto, sem necessidade de suspensão do funcionamento de Angra 1. Entretanto, destaca que 'eventuais penalidades poderiam ter sido consideradas, mas não foram em virtude de inexistências destas no marco legal vigente”. O caso foi noticiado pelo GLOBO. 

O desaparecimento de duas cápsulas de Césio-137 em Nazareno/MG (junho/2023), noticiado pelo BLOG, segundo a CNEN, após ter sido comunicada a respeito do evento pela empresa AMG Mineração, houve inspeção regulatória com apresentação de Relatório de Inspeção em que foram listadas dezenove não conformidades. “Foram identificadas: a) fontes radiativas armazenadas em locais inadequados; b) ausência de identificação das fontes e falta de sinalização de presença de material radiativo e c) treinamento inadequado dos indivíduos ocupacionalmente expostos. A sanção aplicável para o caso é a cassação da Autorização de Operação, para o titular da instalação e, para o Supervisor de Proteção Radiológica, o cancelamento do certificado e impedimento da obtenção de novo certificado por até cinco anos”. 

Também noticiado pelo BLOG, o “desaparecimento de duas ampolas com amostras de urânio enriquecido das instalações da INB, na unidade de Resende/RJ (julho/2023)”, segundo a CNEN, o caso aponta “ter sido a responsável pela descoberta do desaparecimento, após a conferência do material pela área de contabilidade e controle de material nuclear da Comissão. Foram abertas quatro exigências, para as quais a Indústria Nucleares do Brasil (INB) enviou um Plano de Ações, cujo cronograma foi acompanhado pela Comissão. Pior: ainda não foi descoberto o paradeiro do material, tampouco foi esclarecida a autoria do fato. Atualmente, a ocorrência está sob apuração policial. Como no caso acima, a falta de previsão na legislação vigente impede a aplicação de sanção para este tipo de não conformidade. 

Igualmente noticiado com exclusividade pelo BLOG, está o furto de dois pacotes de radioisótopo Flúor-18 em Duque de Caxias/RJ, (agosto/2023). Segundo a CNEN, houve o imediato comunicado da ocorrência pelo licenciado, R2 Soluções em Radiofarmácia. “O furto se deu em circunstâncias de abordagem violenta durante o deslocamento de viaturas em que estavam os pacotes. Os embalados não foram localizados pelas autoridades policiais. Entretanto, a meia-vida da substância é muito baixa - inferior a duas horas -, não sendo esperadas consequências relevantes.” 

CONSEQUÊNCIAS DANOSAS - 

O TCU reitera que deve ser observado que os quatro casos citados acima poderiam ter sido tratados com as prescrições da Lei 14.222/2021, com o enquadramento como infrações leves, graves ou gravíssimas, conforme a avaliação da ANSN, e aplicação de sanções que vão de multa ao perdimento de equipamentos e materiais. 

“Contudo, a demora na estruturação da Autoridade está concorrendo para um tratamento menos satisfatório em face das atuais exigências de níveis de segurança nuclear. Essa demora, vale lembrar, pode levar a uma ocorrência gravíssima, pois, como também já mencionado, em se tratando de segurança nuclear, basta que ocorra um único evento de natureza grave ou gravíssima para que haja consequências danosas sociais ou ambientais”. 

JUIZO DE VALOR. 

Com o objetivo de ilustrar o cenário da ação regulatória, requisitou-se à CNEN que fosse informada a quantidade de 'incidentes de segurança nuclear' ocorridos entre 2018 e 2023.  A terminologia técnica adotada é 'eventos operacionais' ou apenas 'eventos', informou. Acrescentou que a classificação da gravidade foi feita de acordo com juízo de valor da coordenadora da área para fins de atendimento à requisição, sendo considerados eventos de alta ou média gravidade aqueles que produziram doses de radiação elevadas em trabalhadores ou pacientes, ou com o potencial de que não tivessem ficado restritos a um pequeno número de pessoas. 

Portanto, observa o TCU, conclui-se que, atualmente, a CNEN se autorregula, uma vez que é o órgão regulador de segurança nuclear no Brasil, mas também opera instalações nucleares, como reatores, fábricas de combustível e de radiofármacos.

OUTRAS FALHAS - 

Segundo o documento do TCU, a situação do licenciamento das instalações da própria CNEN, conforme marco regulatório está no seguinte estágio. Das onze instalações nucleares, apenas duas têm Autorização para Operação, o que corresponde a 18,18% (2/11) dessas instalações; das 25 instalações radioativas, onze estão licenciadas, ou seja, 44% (11/25) dessas instalações; e dos cinco depósitos de rejeitos, apenas um está licenciado, ou seja, 20% (1/5) desses depósitos. “Diante desse quadro, constata-se que a Lei 14.222/2021 apresenta avanços expressivos em relação ao atual marco legal, no tocante às prerrogativas atualmente conferidas a CNEN”, assinala o TCU. 

Cabe ressaltar, destaca o TCU, que a criação de um órgão regulatório de segurança nuclear ganhou especial destaque a partir do acidente ocorrido com a usina nuclear de Fukushima, no Japão, em março de 2011. “Contudo, nem mesmo o efeito desse evento e tampouco as sinalizações dadas pelo TCU em suas deliberações se mostraram suficientes para o cumprimento das convenções que o Brasil é signatário”, conforme o documento. 

VÁRIAS AUDITORIAS - 

De longa data, o TCU tem abordado temas associados ao setor nuclear brasileiro, com auditorias de conformidade ou operacionais sobre aspectos estratégicos, além de análises no âmbito do Fiscobras (plano de fiscalização anual que engloba um conjunto de ações de controle do TCU com o objetivo de verificar o processo de execução de obras). 

Entre esses trabalhos, destacam-se alguns processos:  processo em que se investigou a gestão do fundo de descomissionamento das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, a fim de reunir informações e subsídios que permitam avaliar a gestão de seus recursos financeiros, bem como a possível ocorrência de prejuízos decorrentes da não adoção de mecanismos de proteção contra as desvalorizações cambiais do dólar norte-americano, ao qual estão atrelados os seus ativos; e com o objeto a identificar riscos acerca do gerenciamento seguro de rejeitos radiativos e de combustível nuclear usado; acompanhamento da implantação da Unidade de Armazenamento Complementar de Combustível Irradiado (UAS) e do empreendimento do Prédio de Monitoração do Centro de Gerenciamento de Rejeitos (PMR) , para as Usinas Nucleares de Angra 1 e 2, ainda pendente de deliberação, de relatoria do Ministro Aroldo Cedraz. 

Tem mais: Auditoria de Conformidade sobre Contratos e Licitações do Ciclo do Combustível Nuclear, processo em que se buscou avaliar a conformidade da gestão da Indústrias Nucleares do Brasil S.A. (INB) na busca da autossuficiência nas etapas do Ciclo do Combustível Nuclear (CCN) , nome que se dá ao conjunto de processos industriais que transformam o minério urânio em combustível nuclear; entre outros envolvendo  o  acompanhamento das ações para viabilizar a retomada da Usina Termonuclear Angra 3.

Há a auditoria no processo licitatório objeto de edital relativo à contratação de obras e serviços de engenharia da chamada 'Linha Crítica' para igualmente à retomada da construção da unidade 3; auditoria  com o objetivo de fiscalizar os principais contratos para fornecimento de equipamentos e prestação de serviços para a construção da usina, em especial da empresa Framatome. 

A lista é extensa. Tem ainda a auditoria relativa à fiscalização e o acompanhamento da implantação do Repositório Nacional de Rejeitos Radiativos de Baixo e Médio Níveis de Radiação (RBMN), atualmente denominado Centro Tecnológico Nuclear e Ambiental (Centena) ,em andamento, que o BLOG divulgou com exclusividade. 

(FONTE: Tribunal de Contas da União (TCU) – FOTO: CENTRAL NUCLEAR DE ANGRA - ABDAN) – 

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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Pesquisadores do IEN/CNEN desenvolvem microesferas de vidro para ajudar no combate ao câncer. A pesquisa inédita pode chegar ao SUS

 


Pesquisadores do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), no Rio, desenvolveu e patenteou pesquisa inédita cujos resultados prometem ser promissores no combate a alguns tipos de câncer passíveis de tratamento a partir de radioembolização. A técnica envolve a entrega precisa de microesferas carregadas com produtos radioativos até a região específica do tumor, reagindo de maneira mais segura e precisa à radioterapia, especialmente em casos de tumores no fígado que não permitem cirurgia. 

Segundo o IEN/CNEN, “a pesquisa inovadora conseguiu dois avanços importantes: primeiro, a produção, em laboratório, de microesferas a partir de vidro reciclável, uma matéria-prima abundante no Brasil e que pode desafogar a cadeia produtiva de impacto ao meio ambiente; o outro insight foi dopar as microesferas com 166Hólmio por trata-se de um radioisótopo subestimado, mas que apresenta uma ótima capacidade de usos em terapias oncológicas”. 

De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 704 mil casos novos de câncer devem ser registrados no Brasil em 2024. Este número reflete a necessidade constante de pesquisas sobre a doença, que pode afetar várias partes do corpo humano, e também estratégias de tratamentos que sejam eficazes e mais acessíveis à população, sobretudo devido ao aumento de ocorrências em todas as idades. 

Sob a responsabilidade do farmacêutico e pesquisador Ralph Santos-Oliveira, a patente: BR 10 2023 023825-4, com o título: “Reciclagem de vidro para fins médicos: produção de microesferas de matriz vítrea dopadas com 166Hólmio para radioembolização hepatocelular”, desenvolvida no Laboratório de Nanorradiofármacos apresenta um produto 100% nacional e com grande impacto social. 

CAMINHO DA PESQUISA -

A CNEN informou que a pesquisa do IEN – e o resultado promissor – só foi possível graças a estudo anterior sobre novos radiofármacos para terapia oncológica, no qual os cientistas envolvidos chegaram a avanços significativos. A partir daí, em 2020, a equipe de Ralph Santos Oliveira decidiu encarar os desafios práticos relacionados à radioembolização. 

“Lembro de ter lido algo sobre o Brasil ser 100% dependente da importação das microesferas acrílicas, até então utilizadas, e que os valores dessas microesferas eram absurdamente altos, em termos de 10 mil a 15 mil dólares; e também o fato de que o Brasil não tinha nenhum tipo de rota de produção desse material. Hoje, conseguimos superar esta deficiência”, comemora Ralph. 

RUMOS DA DESCOBERTA -

O pesquisador destaca que, a partir dos resultados já alcançados, existe a possibilidade de ampliação das técnicas de radioembolização para o Sistema Único de Saúde (SUS) de forma rotineira, uma vez que é possível ao país ter um radiofármaco nacional, barato e fácil de se produzir, sem falar no alto rendimento dos resultados. 

“Isto é uma grande missão e, na verdade, é o reforço do comprometimento da Comissão Nacional de Energia Nuclear com a nossa sociedade. A renovação desse empenho nosso com a sociedade se faz através de uma oferta de um produto que possa, de fato, facilitar e alterar a conduta clínica de alguns milhares de pacientes por ano”, lembra o farmacêutico. 

Ralph conta que sua equipe tem trabalhado, atualmente, com outras aplicações da microesfera, em parceria com pesquisadores das Universidades Federais do Maranhão (UFMA) e do Rio de Janeiro (UFRJ). 

“Além da radioembolização, hoje, nós estamos estudando outras aplicações para estas microesferas, o que provavelmente será uma expansão dessa patente. Certamente virão resultados bastante interessantes sobre a possibilidade de uma nova aplicação das microesferas”, adianta o pesquisador. 

EFICÁCIA DO TRATAMENTO - 

Segundo o pesquisador, a radioembolização permite uma maior eficácia no tratamento de alguns tipos de câncer, principalmente no fígado, proporcionando uma forma de melhorar a vida de pacientes que já não podem fazer cirurgia. 

“É um procedimento que se propõe a oferecer mais qualidade de vida e tempo de sobrevida de pacientes, sendo uma técnica que utiliza microesferas carregadas com isótopos radioativos que podem alcançar e penetrar internamente no tumor destruindo as células tumorais através de radiação emitida”. A radioembolização é considerada um tratamento adicional, podendo ser aplicado em associação a outros tipos de tratamento como a quimioterapia. 

ESTUDOS CLÍNICOS - 

Atualmente, já existem estudos clínicos que apontam o carcinoma hepatocelular (CHC) como sendo responsável por 90% dos cânceres hepáticos (fígado) primários, tornando-se um problema de saúde crescente em todo o mundo. A maioria dos pacientes apresenta a doença em estágio avançado. A radioembolização usando 90Yttrium tem sido usada há mais de uma década para estes casos, porém, estudos apontam que o uso de 166Hólmio pode oferecer uma abordagem mais personalizada em termos de imagem e dosimetria. 

(FOTO E FONTE – IEN/CNEN) – 

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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

TCU recomenda funcionamento da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear para garantir a fiscalização do setor

 


Em sessão plenária na tarde desta quarta-feira (21/02), o ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de Contas da União (TCU), recomendou à Casa Civil que envie o nome do futuro diretor presidente da Autoridade Nacional de Segurança Nacional (ANSN) para ser sabatinado no Senado o mais breve possível. O ministro enfatizou a importância da decisão para a área de fiscalização no país e junto às comunidades internacionais. Lembrou também a necessidade de a ANSN estar operando por conta de projetos como o submarino de propulsão Nuclear, Angra 3 e o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), destinado produção de radioisótopos (insumos para a medicina nuclear combater doenças como o câncer), por exemplo. 

Ao legitimar a ANSN, cai por terra o poder da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que além de fiscalizar também regula as atividades do setor. A CNEN foi fundada pelo presidente da República Juscelino Kubitschek, no dia 10 de outubro de 1956. A atividade de fiscalização da CNEN sempre foi combatida por especialistas do setor, principalmente quando o Brasil se viu às voltas com o drama provocado pelo acidente com uma cápsula de césio-137, em Goiânia, em 1987. O acidente provocou a morte de quatro pessoas e um número nunca devidamente conhecido de contaminados; além de gerar seis mil toneladas de lixo radiativo armazenados em depósito na região.

AUTORIDADE - 

A criação da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN), determinada pela Medida Provisória (MP) 1.049/2021 foi ratificada pelo Plenário do Senado em 2021, em votação simbólica. A MP estabelece a ANSN como uma autarquia federal com a função de monitorar, regular e fiscalizar as atividades e instalações nucleares no Brasil, a partir do desmembramento d CNEN, sob critérios a serem definidos pelo Poder Executivo.

Segundo o governo, a divisão tem o objetivo de dar maior celeridade nos processos de licenciamento do setor e mais rigor na fiscalização, deixando a CNEN com mais foco na gestão de pesquisa e desenvolvimento nuclear. Entre as atribuições da ANSN, estão estabelecer normas sobre segurança nuclear e proteção radiológica; controlar os estoques e as reservas de minérios nucleares; conceder autorizações para a transferência e o comércio de minerais radiativos; e licenças para usinas nucleares e reatores de pesquisa. 

(FONTES: TCU – AGÊNCIA SENADO) -FOTO: Maquete do RMB-

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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

CNEN usa disfarces e carros descaracterizados em visita a local preferencial para rejeitos radioativos

 


PROJETO CENTENA - “Disfarçados, em carros descaracterizados”, equipes da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) já fizeram uma primeira visita ao local preferencial, entre um grupo de seis áreas, para abrigar o depósito definitivo destinado ao armazenamento dos rejeitos de baixa e média radioatividade, denominado Projeto CENTENA (Centro Tecnológico Nuclear e Ambiental). A informação foi dada pelo presidente da CNEN, Francisco Rondinelli, durante o Seminário Resultados do Projeto Centena, realizado no auditório do CDTN (Centro de Desenvolvimento Tecnológico Nuclear (CDTN), da Comissão, no dia 4 de dezembro de 2023, ou seja, cerca de 20 dias antes de o Tribunal de Contas da União (TCU) registrar em documentos, divulgados pelo BLOG, alertas sobre o atraso no andamento do CENTENA. 

Durante o seminário, que está gravado no YOU TUBE, foi informado várias vezes que o CENTENA deverá ocupar uma área do Exército Brasileiro, como consta na documentação do TCU. Em nota, enviada ao BLOG nos dias 5 e 9 deste mês, o Centro de Comunicação Social do Exército informou que o programa CENTENA “não faz parte dos projetos estratégicos” do órgão; e que o local que abrigará o depósito está em estudos pela CNEN. No seminário em dezembro, Rondinelli anunciou que outras visitas ao local seriam feitas em janeiro deste ano. 

CENTRAIS ATÔMICAS PODEM PARAR - 

O atraso no andamento do projeto, de responsabilidade da CNEN, levou o Tribunal de Contas da União (TCU) a elaborar documentos com diversos alertas à Comissão, que o blog tem divulgado. O TCU alerta, por exemplo, que, sem o Centena, as usinas Angra 1 e Angra 2, poderão parar de funcionar até 2028; além de inviabilizar autorizações para Angra 3, em obras desde 1984. Os depósitos das centrais atômicas estão operando próximos da capacidade limite: Angra 1, o limite deve ocorre em até 2028; e Angra 2, em 2036. 

A falta de definição sobre o local da construção era um dos maiores entraves para a Comissão que buscava uma solução junto ao Exército Brasileiro (EB). Documentos do TCU mostram que havia conversações com o Exército para a liberação de uma área no Estado do Rio, o que o Exército não confirmou. Embora não tenha sido citado no documento, o município de Paty do Alferes, foi consultado no início do ano passado. 

O prefeito Juninho Bernardes (Solidariedade), confirmou o contato do Exército brasileiro e disse que está preocupado e contra “essa eventual instalação no município, uma vez que este é uma região agrícola e qualquer contaminação poderia gerar dano ambiental severo e ainda problemas de saúde”. Segundo a documentação, o Centena receberá todos os rejeitos de baixa e média radioatividade provenientes da operação das usinas nucleares, do futuro Reator Multipropósito Brasileiros (RMB) e de aplicações na medicina, indústria, pesquisa e meio ambiente. O projeto contempla também laboratórios de pesquisa e desenvolvimento para avaliação de qualidade dos insumos e produtos e monitoramento do comportamento dos componentes do sistema de deposição. 

CENTENA, SEGUNDO A CNEN - 

O Projeto CENTENA tem como objetivo projetar, construir e comissionar um centro tecnológico que, além de armazenar definitivamente os rejeitos radioativos, vai contar com edificações de apoio operacional e instalações para pesquisa e desenvolvimento tecnológico, informa a CNEN em suas ferramentas digitais.  

Este Repositório armazenará os rejeitos radioativos tratados provenientes da utilização da energia nuclear no Brasil na indústria, na medicina, na pesquisa, na geração de energia e no meio ambiente, bem como do descomissionamento de instalações radioativas e nucleares. O empreendimento ocupará cerca de 40 hectares, compreendendo as áreas de armazenamento e toda a infraestrutura necessária para garantir a segurança durante as etapas de operação e guarda institucional (Figura 1). As áreas de deposição (Figura 2), cujo conceito é de múltiplas barreiras, estão sendo planejadas para abrigar o inventário radioativo até 2080. 

Além de edifícios convencionais, o CENTENA conta também com uma edificação para receber, controlar, armazenar e acondicionar os embalados com rejeitos tratados, bem como laboratórios ambiental e de radioproteção para executar o Programa de Monitoração Ambiental (PMA) e o Plano de Proteção Radiológica. De modo a garantir a segurança do público e a preservação do meio ambiente, os rejeitos a serem armazenados deverão obedecer aos critérios de aceitação definidos em norma e pela análise de segurança. Prevê-se um período de operação da instalação de 60 anos e de vigilância, após seu fechamento, de 300 anos. 

LEIA as matérias exclusivas sobre o assunto publicadas pelo BLOG: 

Dia 27/10/2020 - Depósito definitivo para rejeitos radioativos: Clédola de Tello fala sobre atrasos, entraves e perspectivas; 

Dia 26/10/2020 – País abriga três mil instalações radioativas e trinta unidades nucleares operando com fontes de radiação; 

Dia 5/02/2024 - Projeto Centena: usinas nucleares podem parar em quatro anos por falta de depósito para rejeitos radioativos. Exército já contatou município de Paty de Alferes, que é contra. 

Dia 05/02/2024 -Prefeito de Paty do Alferes confirma contato feito pelo Exército e avisa que não quer depósito de material radioativo na cidade, responsável pela Festa do Tomate. 

FOTO: MAQUETE DO CENTENA – FONTE – CDTN - 

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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Fevereiro Roxo: Medicina Nuclear ajuda na detecção de Alzheimer e Fibromialgia

 


Fibromialgia e Alzheimer são doenças diferentes, mas que apresentam pelo menos um ponto em comum: são incuráveis. A campanha Fevereiro Roxo foi criada em 2014 como forma de conscientizar a população para a importância do diagnóstico precoce dessas enfermidades. Leia importantes informações sobre as doenças. 

A Fibromialgia - caracterizada por dor no corpo, principalmente na musculatura - é vista em pelo menos 5% dos pacientes que vão a um consultório de Clínica Médica e em 10 a 15% dos pacientes que vão a um consultório de Reumatologia. De cada 10 pacientes com Fibromialgia, sete a nove são mulheres. Além disso, estima-se que existam no mundo cerca de 35,6 milhões de pessoas com a doença de Alzheimer. No Brasil, há cerca de 1,2 milhão de casos, a maior parte deles ainda sem diagnóstico. 

De acordo com o especialista em medicina nuclear pela Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), o médico Diego Pianta, para o Alzheimer não há um exame específico que detecte a patologia, mas há alguns que corroboram ou afastam a hipótese. “Exames de imagem de medicina nuclear podem ser auxiliares importantes na confirmação ou exclusão desta possibilidade. Os mais consolidados são cintilografia de perfusão cerebral e o PET-CT neurológico com FDG, que avaliam a atividade cerebral e, mais recentemente, o PET-CT com marcador amiloide, capaz de demonstrar a presença de placas amiloides no cérebro - que está sempre presente em paciente com Doença de Alzheimer”.

 Além disso, o especialista fala sobre o novo exame PET Amilóide. É um procedimento que permite ver se tem ou não um grupo de doenças raras, causadas pelo depósito de proteínas insolúveis no cérebro. O material usado se liga nas placas amiloides, então se tiver, vai aparecer (com ótimas sensibilidade e especificidade) e se não tiver, o exame é negativo. Permite diferenciar doenças neurológicas, especialmente Doença de Alzheimer e Demência frontotemporal.

 Por sua vez, o diagnóstico da Fibromialgia é feito por exclusão. Ou seja, o paciente apresenta dores nos músculos, ossos, ligamentos e articulações (osteomusculares) em diversos pontos definidos, sem causa aparente que justifique as dores. “Neste arsenal diagnóstico, entram diversos exames de imagem, como a cintilografia óssea, para a exclusão de outras causas que possam explicar os sintomas”, explica Diego. 

O médico nuclear alerta em relação à idade em que as patologias podem aparecer. “Doença de Alzheimer é uma doença eminentemente de pacientes adultos e idosos. Casos raros podem comprometer pacientes adultos precocemente, mas pouco provável antes dos 50 anos. Fibromialgia acomete mais as mulheres que os homens, sendo que o diagnóstico ocorre mais comumente no grupo de mulheres entre os 30 e os 50 anos de idade”. 

Por fim, o médico lista certos cuidados que as pessoas devem ter, para prevenir o Alzheimer e a Fibromialgia. “Alimentação adequada, rica em nutrientes e pobre em alimentos inflamatórios, prática de exercícios físicos, fazer exames regularmente, sono regular (7 a 8 horas) e consultar um médico se notar qualquer sintoma de fibromialgia ou de declínio cognitivo, são alguns dos exemplos do que deve ser feito”. 

SBMN -

Fundada em 14 de setembro de 1961, a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN) tem o objetivo de integrar, promover e estimular o progresso da Medicina Nuclear no Brasil. Constituída por médicos especialistas e outros profissionais de áreas correlatas, como tecnólogos, biólogos, físicos e químicos, a Sociedade tem a missão de trazer inovação, conquista e aperfeiçoamento da área para a saúde brasileira, tornando-se referência nacional e internacional na representatividade da Medicina Nuclear. 

(FONTE: ASCOM SBMN). 

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Eletrobras recebe licença para operação em teste no Parque Eólico Coxilha Negra (RS), com investimento superior a R$ 2 bilhões

 


A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) liberou o início da operação em teste, a partir de 30 de janeiro, de sete unidades geradoras da Usina Eólica Coxilha Negra 2 (UG6 a UG12). O projeto da Eletrobras CGT Eletrosul no município de Sant’Ana do Livramento, no Rio Grande do Sul, tem investimento superior a R$ 2 bilhões e é o maior empreendimento de geração eólica da companhia atualmente em execução. 

O início da operação em teste dos primeiros aerogeradores está previsto para ocorrer na primeira quinzena deste mês de fevereiro, após aprovação da intervenção para testes pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Cada aerogerador do projeto possui capacidade instalada de 4,2 MW, totalizando 29,4 MW. 

Maior empresa de energia da América Latina e uma das maiores do mundo, com grande foco em transmissão e energias renováveis, a Eletrobras segue avançando na estratégia de expansão da geração a partir de fontes limpas, alinhada ao compromisso de net zero até 2030.

O Parque Eólico Coxilha Negra tem capacidade instalada de 302,4 MW, integrando três conjuntos de usinas que totalizarão 72 aerogeradores: Coxilha Negra 2, Coxilha Negra 3 e Coxilha Negra 4. As obras de implantação seguem avançando e, atualmente, nove aerogeradores já foram montados. A subsidiária Eletrobras CGT Eletrosul prossegue com a instalação das estruturas que vão integrar o conjunto de 24 unidades geradoras da Usina Eólica Coxilha Negra 2. 

Ao todo, já foram concretadas mais de 50 bases para receber as estruturas dos aerogeradores nos três conjuntos de usinas do Parque Eólico Coxilha Negra. Os componentes dos aerogeradores (rotor, gerador e nacele) são produzidos em Jaraguá do Sul (SC), pela fabricante WEG, e transportados por via terrestre até Sant’Ana do Livramento. No Ceará, são produzidas as pás, pela Aeris, com transporte marítimo a partir do Porto do Pecém até o Porto de Rio Grande, seguindo viagem terrestre até o parque eólico.

 A implantação do sistema de transmissão também está em estágio avançado. No dia 28 de janeiro, após liberação do ONS, ocorreu a energização do primeiro transformador da Subestação Coxilha Negra 2 e da ampliação na Subestação Livramento 3 (Sant’Ana Transmissora), interligadas por 31 km de linha de transmissão de 230 kV da Eletrobras CGT Eletrosul, Livramento 3 – Coxilha Negra 02. Também evoluem as obras da Subestação Coxilha Negra 3, que atenderá exclusivamente a Usina Eólica Coxilha Negra 4.

Durante os diversos estágios das obras, estima-se a criação de 1.300 empregos diretos. Neste momento, as diferentes frentes de trabalho contam com a mobilização em campo de aproximadamente mil profissionais contratados pelas empresas prestadoras de serviços.

MÃO DE OBRA - “Alinhado com a Política de Responsabilidade Social da Eletrobras, o processo de contratação de mão de obra é conduzido pelas empresas prestadoras de serviços e prioriza a seleção de profissionais dos municípios da região, por meio de parcerias com centros locais de empregabilidade”, informou. Atualmente, destacou, cerca de 530 trabalhadores são oriundos de municípios do Rio Grande do Sul.  

“Para atender demandas específicas, por tempo determinado, e que exigem qualificação especializada, as empresas prestadoras de serviços contam com quadro técnico próprio flutuante ou realizam recrutamento externo para preenchimento pontual de vagas temporárias de acordo com a evolução das obras”, acrescentou a Eletrobras. Em consonância com a construção do empreendimento, estão sendo implementados 17 programas com ações de responsabilidade ambiental e social, incluindo atividades voltadas à preservação e monitoramento do bioma, educação ambiental para as comunidades locais, entre outros, informou. 

FONTE: ELETROBRAS – 

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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

PROJETO CENTENA: Prefeito de Paty do Alferes confirma contato feito pelo Exército e avisa que não quer depósito de material radioativo na cidade, responsável pela Festa do Tomate

 


PROJETO CENTENA - O prefeito de Paty do Alferes, Juninho Bernardes, Partido Solidariedade, disse há pouco (05/02/2023) ao BLOG que está preocupado com as conversações de representantes do governo, iniciadas em janeiro do ano passado, visando à construção do deposito de rejeitos radioativos em sua cidade. Trata-se da implantação do Centro Tecnológico Nuclear e Ambiental (CENTENA). O prefeito “se manifesta preocupado e contra essa eventual instalação no município, uma vez que este é um município agrícola e qualquer contaminação com tal resíduo poderia geral dano ambiental severo e ainda ocasionar grave problema de saúde para os munícipes e impactar na economia e no turismo do município”, afirmou. De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente de Paty do Alferes, “um componente da 1ª Região Militar entrou em contato em janeiro de 2023 para uma consulta sobre licenciamento ambiental sobre a destinação de material radioativo para área pertencente ao Exército Brasileiro, situado no município de Paty do Alferes. A resposta de Secretaria foi de que qualquer licenciamento neste sentido é competência da União, de acordo com a Lei 10.308 de 2001”, informou Assessoria da Prefeitura.  A Assessoria de Imprensa do Exército Brasileiro, contatada pelo BLOG, não se pronunciou. 


Paty do Alferes é um dos municípios mais importantes em termos turísticos no Estado. A Festa do Tomate, que reúne milhares de pessoas todos os anos, foi criada em 1988, “nossa festa mais tradicional e grandiosa é uma celebração da cultura, identidade e tradição de Paty do Alferes, declarada como Patrimônio de Natureza Imaterial do Estado do Rio de Janeiro em 2021”, lembra a Prefeitura em seu site. 

CAMPO DO EXÉRCITO - 

O campo de Instrução de Avelar, de propriedade do Exército. Localizado no distrito de Avelar, município de Paty do Alferes. Oficialmente denominado "Campo de Instrução Dom Pedro II", pertencente ao 32º Batalhão de Infantaria Leve (32º BIL), também conhecido como Batalhão Dom Pedro II, da cidade de Petrópolis. Em 2011, de 16 a 24 de julho, realizou uma das etapas da quinta edição dos Jogos Mundiais Militares do CISM (International Military Sports Council). 

Histórico disponível na literatura sobre a cidade - 

“De acordo com a literatura disponível, a história da cidade teve início entre 1700 e 1725, quando o sertanista Garcia Rodrigues Paes Leme, a caminho de Minas Gerais chegou a um local conhecido como "Roça do Alferes" de propriedade do Alferes Leonardo Cardoso da Silva, em cujas terras havia uma grande plantação de uma palmeira conhecida pelo nome de patis. Da combinação do nome da palmeira com a patente militar Alferes, nasceu o nome Paty do Alferes, nome dado à vila ali fundada em 1820. 

Foi um longo caminho passando pelo plantio da cana-de-açúcar. Um século depois, neste mesmo solo, o café viria brotar como ouro, fazendo nascer também uma aristocracia rural formada por nobres intimamente ligados à Corte como o Visconde de Ubá, o Barão de Capivary, o Barão de Guaribú, dentre muitos outros. Consta nos registros sobre a cidade que “apesar da pompa com que foi fundada, Paty do Alferes, continuou crescendo apenas dentro dos limites das grandes fazendas e não houve interesse pelo desenvolvimento urbano.” E mais: “Quando a sede foi transferida, em 1833, para a Vila de Vassouras, a nobreza rural patyense permaneceu atuando ativamente na política. 

Emancipada em 1987, Paty do Alferes mantém uma grande produção agrícola com o tomate, de onde vem seu título de maior produtor do Estado e 3º do Brasil. Foi em Paty do Alferes, que se desenrolou um dos mais importantes levantes de negros do Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de Manoel Congo, que entrou para a história como o líder que em 1838 fez tremer os sólidos alicerces do regime escravocrata fluminense nas terras do café. 

A Fazenda Freguesia, notabilizada pela fuga de Manoel Congo, voltaria à cena, em 1965, pelas mãos do Embaixador Paschoal Carlos Magno. A Aldeia de Arcozelo foi criada aliando a arquitetura original da sede da Fazenda com adaptações de outros prédios para a formação do maior núcleo cultural da América do Sul.  Em terras patyenses, no ano de 1870, nasceu o imortal Joaquim Osório Duque-Estrada, autor da letra do nosso Hino Nacional. Anualmente é realizada na cidade a Festa do Tomate, um dos grandes acontecimentos do interior do Estado do Rio de Janeiro. Paty do Alferes, um dos berços da ocupação do interior do Estado, é citada em antigos e importantes relatos dos grandes estudiosos de história do Brasil como Antonil, Pizarro, Charles Ribeyrolles, Saint- Hilaire, Taunay, José Matoso Maia Forte e Alberto Lamego, demostrando a relevância da história do município na colonização da Região do Vale do Ciclo do Café.

 FOTOS – PREFEITO DE PATY DO ALFERES – FONTE SOBRE A HISTÓRIA DA CIDADE: NOS SITES SOBRE PATY DO ALFERES.

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PROJETO CENTENA: usinas nucleares podem parar em quatro anos por falta de depósito para rejeitos radioativos. Exército já contatou município de Paty de Alferes , que é contra

 


Por falta de um depósito para armazenar rejeitos de baixa e média radioatividade, as usinas nucleares localizadas em Angra dos Reis – Angra 1 e Angra 2 – poderão parar de funcionar até 2028; além de inviabilizar autorizações para Angra 3, em obras desde 1984. Os depósitos estão operando próximos da capacidade limite: Angra 1, o limite deve ocorre em até 2028; e Angra 2, em 2036. A falta de depósito para abrigar os rejeitos é um dos maiores entraves para o governo, que busca uma solução junto ao Exército Brasileiro (EB), que teria o terreno no Estado do Rio de Janeiro. O prefeito do município de Paty do Alferes, no interior do Estado, confirmou ao BLOG o contato do Exército brasileiro visando viabilizar o projeto na região, em área da União. Juninho Bernardes (Solidariedade) está preocupado e contra “essa eventual instalação no município, uma vez que este é uma região agrícola e qualquer contaminação poderia gerar dano ambiental severo e ainda problemas de saúde”. Paty do Alferes realiza um dos mais importantes eventos turísticos do Estado: A Festa do Tomate. 

O levantamento e a análise de imóveis públicos vêm acontecendo desde 2013, quando a CNEN firmou termo de cooperação com o EB. Em 2015, foi feito um contrato de consultoria com a Andra, empresa de gerenciamentos dos rejeitos radioativos da França (já mencionada por nossa reportagem em 2020). O levantamento foi concluído em 2017. Sem solução para o projeto denominado Centro Tecnológico Nuclear e Ambiental (CENTENA), o Tribunal de Contas da União (TCU), segundo fontes do setor nuclear, fez auditoria em todo o processo e fixou prazos para a CNEN e outros órgãos do governo apresentarem uma solução para caso. 

No meio, não faltam comentários sobre a falta de estruturada da CNEN para levar o projeto adiante: há carência de funcionários, como fiscais. A CNEN continua exercendo as funções de regulação, execução e fiscalização do setor, o que poderia ter sido resolvido com a criação da Autoridade Nacional de Segurança Nacional (ANSN), que não saiu do papel. O BLOG publicará outras matérias sobre o CENTENA, no passado denominado Repositório Nacional de Rejeitos Radioativos de Baixo Níveis de Radiação (RBMN).  

OPERAÇÃO SUSPENSA - 

A operação de Angra 1 e Angra 2 poderá de fato ser suspensa e a licença de operação de Angra 3 pode não ser emitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), caso, até 2028, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), não leve adiante a construção do Centro Tecnológico Nuclear e Ambiental (Centena). Este é o prazo previsto para o esgotamento da capacidade de armazenamento para rejeitos de baixa e média radioatividade, do Centro de Gerenciamento de Resíduos (CGR), para Angra 1 e angra 2, de reponsabilidade da Eletronuclear. 

Os primeiros rejeitos gerados por Angra 1 são armazenados dede o início da operação em 1985. A maior demora na transferência deste material para o Centena, “aumenta a chance de os embalados serem danificados, com risco de contaminação e exposição radiológica”. As informações constam em documentos do Tribunal de Contas da União (TCU), datados de dezembro último, enviados à CNEN, segundo fontes do setor nuclear apresentaram ao BLOG com exclusividade. 

“Em quatro anos a operação do CGR se tornará crítica. O volume de recursos seria de R$ 130 milhões, a partir de 2023, mas terão que ser atualizados. O TCU quer também que em 90 dias seja concluído o processo decisório sobre o terreno onde o Centena será construído. Isto, segundo as fontes, “vez que o processo para a deliberação se encontra instruído desde 2021 pela CNEN”, que vem tratando do assunto com o Exército Brasileiro, que cederia um terreno no Estado do Rio. Constam nos documentos que há um local preferencial e quatro alternativos, sem mencionar quais. 

SEM LAUDO GEOTÉCNICO - 

Após a decisão governamental sobre o terreno onde o Centena será construído, ainda são necessários levantamentos sobre o licenciamento nuclear. Caso ocorra a constatação quanto a inviabilidade do terreno em etapas mais avançadas da implementação do Centena, “ocorrerá grave retrocesso” a execução do cronograma, informaram as fontes, com base na documentação do TCU, enviada também ao Ministério da Ciência, e Tecnologia e Inovação (MCTI) e outros órgãos da área nuclear. De acordo com a documentação, em reunião de apresentação ao MTI, entre outros gestores, em agosto do ano passado, ficou visível o desconhecimento dos gestores em relação ao projeto. 

O Centena, como foi informado na reunião, teria sofrido descontinuidade dentro do Ministério, que estaria nas mãos da CNEN e do GSI. Mas a CNEN está subordinada ao MCTI. Há muitas falhas no processo de escolha dos locais, informaram as fontes: Entre os cinco locais propostos, o preferencial situado em propriedade do Exército Brasileiro, não há nenhum documento comprovando a realização de estudos para além dos executados em 2015, nem mesmo em relação à coleta de informações de doze poços de monitoramento implantados no terreno. 

DÉCADAS DE ATRASO - 

Segundo as fontes, técnicos destacaram nos documentos que decorridos quarenta anos de operação da primeira usina nuclear, Angra 1, o Brasil ainda não dispõe de um local para deposição de rejeitos de baixo e médio níveis de radiação. Assim, a implantação do Centena implica uma solução definitiva para a deposição segura de rejeitos radioativos de baixo e médio níveis de radiação do país”, assinalam. 

Segundo a documentação, o Centena receberá todos esses rejeitos provenientes da operação das usinas nucleares, do futuro Reator Multipropósito Brasileiros (RMB) e de aplicações na medicina, indústria, pesquisa e meio ambiente. O projeto contempla também laboratórios de pesquisa e desenvolvimento para avaliação de qualidade dos insumos e produtos e monitoramento do comportamento dos componentes do sistema de deposição. Foi projetado para atingir capacidade total por meio da construção de seis módulos de deposição com capacidade de 10.000 metros cúbicos cada com vida útil estimada sessenta anos pata recebimento de rejeitos e de trezentos anos de período de guarda institucional. A capacidade estimada do repositório até o final de sua operação é de até 60.000 metros cúbicos. 

ADIAMENTOS SUCESSIVOS – AGENTES COM BAIXA QUALIFICAÇÃO - 

O projeto começou em 2007, no Programa de Aceleração do Crescimento, na área de ciência e Tecnologia. Problemas não faltaram. A indefinição sobre o local que abrigará o Centena é mais um impasse para o início da construção.  Ao longo do processo de seleção de local, segundo os documentos, a data de conclusão do projeto, inicialmente prevista para 2013, foi adiada par 2017; em seguida, para 2024, depois para 2025 e, por fim, prorrogada para 2028, “já com fortes indícios de que esta meta não será alcançada”, disseram as fontes. A previsão de conclusão do processo de licenciamento ambiental está marcada para dezembro de 2024, “compreendendo um período de quase dois anos, do qual resta apenas um ano”. 

“Outra preocupação diz respeito à qualificação e expertise dos contratados para a execução de projeto da monta do Centena, de forma a torna-lo efetivo, dada sua importância para o setor nuclear e para o país”, informaram as fontes. O projeto teve início em 2009, tendo se passado mais de quatorze anos, com avanço pouco significativo. “Eventual contratação de agentes com baixa qualificação para implementação desse projeto poderia alongar ainda mais o prazo de execução. A expectativa do setor em relação a entrega é grande já que os depósitos da Eletronuclear e da própria CNEN têm capacidade limitada”, de acordo com a documentação. De onde virá a solução, até 2028, com o esgotamento da capacidade de armazenagem?

FOTO: DEPÓSITO DOS REJEITOS – CENTRAL NUCLEAR DE ANGRA – 

Leia as matérias exclusivas sobre o assunto publicadas pelo BLOG: Dia 27/10/2020 - Depósito definitivo para rejeitos radioativos: Clédola de Tello fala sobre atrasos, entraves e perspectivas; Dia 26/10/2020 – País abriga três mil instalações radioativas e trinta unidades nucleares operando com fontes de radiação. 

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