sexta-feira, 31 de março de 2023

Glória Alvarez revela assédio no passado em redação. No setor nuclear, faz observações e críticas. Não perca!

 


Diretora conselheira da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Glória Alvarez tem vasta experiência em assessorias de imprensa, como na Eletronuclear, mas também passou por grandes empresas de jornalismo como a TV Globo, TV Educativa, entre outras. Glória Alvarez trabalhou para a Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), mas faz ressalvas, por achar que a entidade precisa de mais planejamento, por exemplo. Na área nuclear, aliás, ela avisa: “Sem levar a sério a comunicação transparente, massiva, clara, não vejo um futuro brilhante para a área nuclear”. A jornalista tarimbada, com um currículo bastante diversificado, admitiu assédio, em uma das redações, no passado: chegou a ser demitida, “por não aceitar as paqueras”. Nas chefias, lutou por concurso e por melhores condições de trabalho para a sua equipe. Numa assessoria, tirou lágrimas de alegria de um funcionário idoso quando conseguiu espaço perto de uma janela para todos, o que antes era privilégio dos chefes. Não perca a entrevista com Glória Alvarez, encerrando março, em homenagem às mulheres. 

BLOG: Como começou a sua participação na área nuclear?

 GLÓRIA ALVAREZ: Comecei a trabalhar na área no ano 2000, sem experiência no setor. Já trabalhara como repórter e apresentadora em TV (Globo e Educativa). Como repórter em revista (Fatos e Fotos e Desfile); em jornais (Globo, Última Hora e JB); e como assessora na editora Nova Fronteira; como diretora de Comunicação no Tribunal de Justiça do RJ.

BLOG: O que acha que foi decisivo para cobrir a área nuclear? Conhecia, gostava?

GLÓRIA: Desconhecia inteiramente a área nuclear. Foi um desafio. Estudei muito, pois meu cargo era diretamente ligado ao presidente e à diretoria, que me davam muito espaço. Com eles aprendi muito. Cheguei no ano 2000 e o presidente era o engenheiro Ronaldo Fabrício que declarou, logo que cheguei, não ter entendido meu currículo. Sim, porque àquela altura constava no meu currículo cultura (livros, especialmente), moda, obituário, rotina de rua, Caderno da Família, Direito e Justiça. Enfim bastante diversificado. Especialmente para atender a uma empresa focada em energia nuclear. 

BLOG: Naquela época, sem as ferramentas digitais, quais os maiores desafios técnicos? 

GLÓRIA: A primeira vez que ouvi falar em ferramentas digitais foi quando o William Waack, então correspondente do JB na Alemanha, que veio visitar a redação e deu uma parada no Informe JB, onde eu era subeditora do Ancelmo Góis. Ficou nos contando as aventuras de ter à mão um PC (Personal Computer) para trabalhar. Fiquei deslumbrada. Até então usava uma Remington azul, com papel carbono para copiar as matérias. 

BLOG: Como era a relação com os colegas? Tranquila? 

GLÓRIA: Na mídia impressa e televisiva sempre tive ótimas relações com colegas. A troca de informações, a confirmação de algum fato que desconhecia, eram oportunidades maravilhosas para conhecermos melhor nossos companheiros.

BLOG: E na comunicação empresarial? 

GLÓRIA: Na comunicação empresarial sabíamos que determinados acessos diretos à diretoria era motivo de ciúmes. Mas, nada que impedisse nosso trabalho. Com as equipes de Comunicação com as quais trabalhei fiz questão de melhorar as condições de trabalho. Lembro que ao chegar no Tribunal de Justiça encontrei a assessoria encurralada num minúsculo espaço, sem janelas. Redatores ficavam de frente para a parede. Apelei ao então presidente da Casa, desembargador Thiago Ribas, por um espaço melhor. Acabamos ganhando uma sala que havia sido de um desembargador, com janelão aberto para a Baía da Guanabara. O funcionário mais antigo da assessoria, um senhor idoso, ao ser instalado de frente para a baía, chorou de alegria.

 BLOG: E na Eletronuclear? 

GLÓRIA: Ao chegar na Eletronuclear fiz uma enorme pressão para que o novo concurso público tivesse espaço para jornalista concorrer. E consegui. Com isso, a segunda colocada, Juliana Rezende, veio a ser uma competente auxiliar. A cada ocasião de possibilidade de aumentar seu salário, eu o fazia. Ela continua na Casa, brilhando, e muito agradecida até hoje. 

BLOG: Sofreu algum preconceito ou vivenciou ação machista por ser mulher? 

GLÓRIA: Quando fui trabalhar no jornal O Globo, fiquei no Segundo Caderno, chefiado por um conhecido jornalista.. Ainda como estagiária, ele chegou a me demitir porque eu não aceitava as paqueras. Fui à direção reclamar e quem me protegeu foi a Margarida Autran. Voltei para a redação e logo depois fui efetivada. Margarida é uma grande amiga, até hoje. Ações machistas enfrentei em várias ocasiões. Algumas acenavam com possibilidades de melhorias dentro da carreira. À época, quanto mais publicidade déssemos a esses assédios, pior para a mulher. Negávamos e ficávamos caladas. 

BLOG: Quais as maiores dificuldades? E desafios em termos de relacionamento, de divulgar bem a informação? 

GLÓRIA: Logo que cheguei no setor nuclear fiz várias conversas com aqueles que poderiam vir a ter contato com a imprensa e, também, sempre que oportuno, com os funcionários em geral. O tema era a necessidade de sermos o mais transparentes possível. Evidente que a desconfiança rondava o meu trabalho. Eu era uma jornalista, com muitos contatos, e “perigosa”. O trabalho foi “de formiguinha” até ganhar credibilidade de todos sem deixar de atender à imprensa. Um dos grandes desafios era o vocabulário usado na indústria nuclear. O que para diretores e funcionários era muito claro, para o público em geral era ilegível. Aos poucos fui adequando o vocabulário e criei um GUIA ELETRONUCLEAR DE PRONTA RESPOSTA. Isto é, cada setor respondia a perguntas que programávamos. O GUIA era publicado no site da empresa, o que facilitava muito o atendimento à imprensa. Fazíamos atualizações periódicas e cada gerente de área era responsável pelas respostas. 

BLOG: Na Eletronuclear como foram os desafios e as dificuldades?

GLÓRIA: Um atendimento bem complicado foi no dia 31 de dezembro de 2009. O temporal que desabou em Angra dos Reis e na Ilha Grande. Atingiu hotéis, barrancos na estrada e o risco de atingir as usinas nucleares mobilizou a mídia. Às 8h do dia 01/2014 eu já estava na casa do presidente, na Barra da Tijuca, atendendo à imprensa. 

BLOG: Trabalhou como assessora em outras empresas? 

GLÓRIA: Fui assessora do Corredor de Transporte Centro-Leste, fiz algumas campanhas eleitorais e fui gerente de Comunicação do Sebrae-RJ. 

BLOG: Desde quando assessora a Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN)? 

GLÓRIA: Assessorei a ABEN por pouquíssimo tempo. Considero a Comunicação deles complicada não só por falta de recursos, mas, também, (ou por consequência) por falta de profissionalismo e planejamento.

BLOG: Hoje é bem mais fácil trabalhar porque há comunicação digital ou não? 

GLÓRIA: Claro que facilitou a nossa vida. O celular é uma ferramenta indispensável, hoje. Com ele criamos e publicamos textos, fazemos reuniões, discutimos matérias, entrevistamos fontes, ilustramos, enfim, temos à mão todos os recursos do antigo PC. 

BLOG: Como analisa o futuro da comunicação na área nuclear no Brasil? 

GLÓRIA: A área nuclear precisa entender que a Comunicação é fundamental para hoje e para amanhã. Pouquíssimas pessoas conhecem os benefícios da energia nuclear. Para o conforto da eletricidade, para a prevenção e cura da saúde o meio ambiente. Sem levar a sério a comunicação transparente, massiva, clara, não vejo um futuro brilhante para a área nuclear. 

PERFIL: Carioca de São Cristóvão e criada em Santa Tereza. Filha de comerciante natural da Galícia, Espanha. A mãe, natural do município de Rio Bonito (RJ). Tem um filho advogado três netos. Formada em jornalismo televisivo pela Faculdade Hélio Alonso; pós graduada em Comunicação Empresarial; formada em Cochee/ Diretora de Mulher e LGBTIA+ na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), onde também é conselheira. 

FOTO: Acervo pessoal-  

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Tereza Lobo conta um pouco a sua trajetória no setor nuclear na época da ditadura e sem internet. "Nada fácil", lembra a jornalista neste mês em homenagem às mulheres.

 


Não era nada fácil cobrir energia nuclear na ditadura, sem as ferramentas digitais disponíveis hoje, correndo de uma matéria para a outra, esperando na fila do telex para enviar um texto. Essas são algumas das lembranças da jornalista Tereza Lobo, carinhosamente chamada de Teca, pela legião de amigos. Depois de passar pelo Jornal do Comércio, Folha de S. Paulo, ela saiu do Jornal do Brasil, acumulando na bagagem muitas lembranças de reportagens das mais variadas sobre a história nuclear brasileira. Quem “correu atrás da notícia” naquela época sabe bem das intenções que rondavam algumas cabeças em defender de armas nucleares. “Era difícil cobrir o setor nuclear, em plena ditadura. A grande pergunta, com respostas duvidosas, era se o Brasil queria fazer sua bomba atômica. Afinal, era um governo de militares”, relembra Tereza. Aqui, ela conta parte de sua trajetória profissional, conta como era preciso vencer as dificuldades para apurar uma matéria e até de uma passagem em Angra 1 quando um jornalista foi proibido de entrar na usina.  Tereza não lembra ter vivido preconceito ou machismo., nesta entrevista no mês em homenagem às mulheres.  

A cobertura hoje? “A quantidade de acontecimentos e notícias é gigantesca neste mundo em ebulição, o que desloca o setor nuclear pra fora da pauta. A cobertura mais detalhada e confiável fica por conta de publicações cientificas ou, no dia a dia, blog especializado que acompanha o setor e busca informações com fontes diversas, não se restringindo ao oficial. São muitos argumentos contra e a favor da energia nuclear. Fica difícil bater o martelo”. Eis a entrevista: 

BLOG:  Quando começou a cobrir a área da energia nuclear? Onde trabalhava? 

TEREZA LOBO: Foi no meu primeiro emprego, no Jornal do Comércio, final dos anos 1970.  Fiquei responsável por toda a área de energia: petróleo, elétrica e nuclear. Logo depois fui para a sucursal do Estado de S. Paulo, no Rio, cobrindo o mesmo setor, e acabei me especializando. Por isso mesmo fui para a Folha de S. Paulo e Jornal do Brasil.

BLOG: Já conhecia o assunto ou foi novidade? 

TEREZA: Conhecia muito pouco, mas pesquisei e estudei bastante. Adoro o tema até hoje, muito polêmico e de grande importância geopolítica. Afinal, é uma energia que pode levar à bomba atômica, daí a interferência do mundo, liderada pelos EUA, no programa nuclear do Irã. 

BLOG: Como analisa as dificuldades daquela época sem internet? 

TEREZA: O Google da época eram os folhetos das empresas, matérias de jornais e revistas, departamento de pesquisa do jornal onde trabalhava, um ou outro livro achado depois de vasculhar muito as livrarias. Um calhamaço de papel que entupia as gavetas na redação.  E uma busca frenética por fontes de informação. Corria-se contra o tempo para que as matérias ficassem prontas até o fechamento do jornal. As redações usavam uma engenhoca, chamada telex, que perfurava uma fita amarela com códigos que reproduziam o texto. As sucursais transmitiam tal fita para a sede do jornal, que a decodificava. Simples assim. Viajar e voltar no mesmo dia pra escrever matéria na redação era uma aventura. Às vezes levava minha maquininha de escrever, meu notebook. Aí a dificuldade era passar a matéria para o jornal. Se havia algum telefone disponível – não havia celular – ditava-se o texto para um paciente colega da redação. Ou corria-se para o Correios que transmitiria a matéria por telex. Em um evento com cobertura de vários jornais era preciso voar para não enfrentar fila no telex, o que atrasaria o fechamento do jornal. 

BLOG: Como era a busca por informação? 

TEREZA: Era difícil cobrir o setor nuclear, em plena ditadura. A grande pergunta, com respostas duvidosas, era se o Brasil queria fazer sua bomba atômica. Afinal, era um governo de militares. A CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) fez um curso técnico para jornalistas, mas evitava entrevistas. Aprendemos muito no curso, o que foi fundamental para não cometer erros na parte técnica e desqualificar a matéria toda. Sabia até desenhar um esquema grotesco das usinas nucleares.

BLOG: Os físicos ajudavam. 

TEREZA? Sim. Foram os físicos, como Luís Pinguelli Rosa e Ênio Candotti, duas referências nacionais, engenheiros e geólogos, entre outros, que complementavam as informações técnicas e comentavam os acontecimentos, muitas vezes com declarações bombásticas (sem trocadilhos). Não era muito fácil conseguir informações. Em compensação, quando surgia algum fato, como atrasos, acidentes, custos ou alguma declaração polêmica, era comum ganhar a primeira página porque a notícia gerava discussão. Mesmo porque, havia uma discussão mundial sobre energia nuclear, com polaridade de opiniões, alimentando o interesse jornalístico. A Folha de S. Paulo me dava muita liberdade para escrever. O programa nuclear brasileiro foi uma tragédia desde o começo, um sorvedouro de dinheiro, impossível de ser contabilizado, uma sucessão de erros, muitos escândalos.  O Brasil comprou a primeira usina nuclear, Angra 1, da americana Westinghouse, um projeto obsoleto abandonado pela empresa já naquela época. Não deu outra. Lá pelas tantas, o primeiro acidente. Diagnóstico: erro de projeto, devidamente apontado pelos físicos. Depois, em 1975, veio o Programa Nuclear firmado com a Alemanha que previa a construção de oito usinas e, até hoje, somente Angra 2 está em operação, enquanto Angra 3 está parada devido a denúncias de corrupção. Foram tantas as paradas e adiamentos de obras e de geração que as usinas acabaram com o apelido de vaga-lume nas páginas dos jornais. Os equipamentos de Angra 2 ficaram armazenados um tempão se deteriorando e acumulando custos de manutenção e juros. As usinas demoraram tanto a entrar em operação que já são consideradas obsoletas, embora o governo fale em atualização, o que gera muitas dúvidas, principalmente quanto à segurança.  Tudo isso, é claro, gera muita polêmica e material para a mídia. 

BLOG: Na época, o que achava sobre o uso da energia nuclear? 

TEREZA: O abastecimento de energia é fundamental para o desenvolvimento de uma nação e usinas nucleares respondem por uma grande fatia da matriz energética de alguns países. No entanto, um acidente com vazamento de radioatividade para o meio ambiente pode levar à morte milhares de pessoas.  Os acidentes na usina nuclear de Chernobil, em 1986, na Ucrânia ainda soviética, e na de Fukushima, em 2011, no Japão, deixaram marcas traumáticas e por muito tempo mobilizou a mídia. A radiação de Chernobil chegou a outros países europeus e a então URSS não pode mais esconder o ocorrido do mundo. Chernobil, até hoje, é uma cidade fantasma. E o grave acidente na usina de Fukushima levou a chanceler federal da Alemanha Angela Merkel a lançar o programa de desativação de 17 usinas até o final de 2022. E foi criticada por isso. No entanto, três usinas ainda estavam operando no ano passado quando começou a guerra na Ucrânia e o consequente corte no fornecimento de gás russo. Desativar usinas nucleares por serem consideradas perigosas ou ficar sem energia durante o inverno congelante? O atual chanceler Olaf Scholz, com apoio do parlamento, adiou a desativação das três usinas até abril. Diante disso, as críticas devem considerar o contexto da época em que as decisões são tomadas, com a liberdade de serem repensadas frente a um mundo velozmente mutável.

BLOG: O que achava da participação dos militares no setor? Era cordialmente recebida pelos assessores de imprensa na época? 

TEREZA: O programa nuclear era um mistério, com notícias veladas sobre programas paralelos como o projeto Atlântico, dos militares, e o projeto Solimões, da Aeronáutica. A construção de submarinos em Itaguaí, incluindo um de propulsão nuclear, gerava desconfianças. Os assessores de imprensa eram cordiais, assim como as fontes oficiais, mas muita pergunta ficava com resposta atravessada. Certa vez o almirante Maximiano da Fonseca acabou falando para os jornalistas que o Brasil queria ter a bomba atômica. Manchete dos jornais e um reboliço no governo para desmentir. A Folha de S. Paulo chegou a interromper minhas férias porque eu seria processada por causa de uma matéria em que dizia que o programa nuclear tinha três preços: o oficial, o com juros e multas e o contabilizado pelo setor. Desistiram do processo.

BLOG:  Havia algum tipo de preconceito ou machismo por ser repórter mulher? Alguma agressividade por parte de assessores ou entrevistados da área nuclear?

TEREZA: Nunca percebi preconceitos ou machismo nessa área. Mesmo o lado oficial não era agressivo, mas houve um caso em que um dos jornalistas foi impedido de entrar em um evento na usina Angra 1. 

BLOG: Quando parou de cobrir nuclear?  Boas lembranças? 

TEREZA: Os jornais impressos foram acabando, pedi demissão do Jornal do Brasil em 1996, aos prantos.  Muitas boas lembranças, muitas viagens, entrar em instalações de acesso restrito. Em uma viagem à Alemanha, desci a uma mina de sal onde ficam armazenados os tambores de rejeitos radioativos. Fiquei assombrada. A dezenas de metros abaixo da superfície abre-se uma caverna branca tão grande que permite o tráfego folgado de veículos de certo porte.

BLOG: O que acha da cobertura da energia nuclear na atualidade? E da energia nuclear? 

TEREZA: A quantidade de acontecimentos e notícias é gigantesca neste mundo em ebulição, o que desloca o setor nuclear pra fora da pauta. A cobertura mais detalhada e confiável fica por conta de publicações cientificas ou, no dia a dia, blog especializado que acompanha o setor e busca informações com fontes diversas, não se restringindo ao oficial. São muitos argumentos contra e a favor da energia nuclear. Fica difícil bater o martelo. 

PERFIL:

Me formei em Comunicação pela PUC – Rio. Trabalhei no Jornal do Comercio, Folha de S. Paulo e Jornal do Brasil. Passei um tempo escrevendo para alguns veículos como freelancer. E ingressei no mundo corporativo, sempre no setor de Comunicação, trabalhando para a Coca-Cola e depois, na Petrobras, como editora entre outras funções. Hoje me dedico ao estudo de história e geopolítica e me aventuro nas artes. Acompanho os astros pra entender um pouco o que acontece aqui Terra. O poderoso Plutão, por exemplo, foi descoberto em 1930. Início do nazismo, incubador da Segunda Guerra Mundial que culminou com o lançamento de duas bombas atômicas.

FOTO: Acervo pessoal – 

COLABORE COM O BLOG – CINCO ANOS DE JORNALISMO INDEPENDENTE – AGRADECEMOIS A SUA CONTRIBUIÇÃO - PIX: 21 99601-5849.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                

E o grave acidente na usina de Fukushima levou a chanceler federal da Alemanha Angela Merkel a lançar o programa de desativação de 17 usinas até o final de 2022. E foi criticada por isso. No entanto, três usinas ainda estavam operando no ano passado quando começou a guerra na Ucrânia e o consequente corte no fornecimento de gás russo. Desativar usinas nucleares por serem consideradas perigosas ou ficar sem energia durante o inverno congelante? O atual chanceler Olaf Scholz, com apoio do parlamento, adiou a desativação das três usinas até abril. Diante disso, as críticas devem considerar o contexto da época em que as decisões são tomadas, com a liberdade de serem repensadas frente a um mundo velozmente mutável. BLOG: O que achava da participação dos militares no setor? Era cordialmente recebida pelos assessores de imprensa na época? TEREZA: O programa nuclear era um mistério, com notícias veladas sobre programas paralelos como o projeto Atlântico, dos militares, e o projeto Solimões, da Aeronáutica. A construção de submarinos em Itaguaí, incluindo um de propulsão nuclear, gerava desconfianças. Os assessores de imprensa eram cordiais, assim como as fontes oficiais, mas muita pergunta ficava com resposta atravessada. Certa vez o almirante Maximiano da Fonseca acabou falando para os jornalistas que o Brasil queria ter a bomba atômica. Manchete dos jornais e um reboliço no governo para desmentir. A Folha de S. Paulo chegou a interromper minhas férias porque eu seria processada por causa de uma matéria em que dizia que o programa nuclear tinha três preços: o oficial, o com juros e multas e o contabilizado pelo setor. Desistiram do processo. BLOG:  Havia algum tipo de preconceito ou machismo por ser repórter mulher? Alguma agressividade por parte de assessores ou entrevistados da área nuclear? TEREZA: Nunca percebi preconceitos ou machismo nessa área. Mesmo o lado oficial não era agressivo, mas houve um caso em que um dos jornalistas foi impedido de entrar em um evento na usina Angra 1. BLOG: Quando parou de cobrir nuclear?  Boas lembranças? TEREZA: Os jornais impressos foram acabando, pedi demissão do Jornal do Brasil em 1996, aos prantos.  Muitas boas lembranças, muitas viagens, entrar em instalações de acesso restrito. Em uma viagem à Alemanha, desci a uma mina de sal onde ficam armazenados os tambores de rejeitos radioativos. Fiquei assombrada. A dezenas de metros abaixo da superfície abre-se uma caverna branca tão grande que permite o tráfego folgado de veículos de certo porte. BLOG: O que acha da cobertura da energia nuclear na atualidade? E da energia nuclear?  TEREZA: A quantidade de acontecimentos e notícias é gigantesca neste mundo em ebulição, o que desloca o setor nuclear pra fora da pauta. A cobertura mais detalhada e confiável fica por conta de publicações cientificas ou, no dia a dia, blog especializado que acompanha o setor e busca informações com fontes diversas, não se restringindo ao oficial. São muitos argumentos contra e a favor da energia nuclear. Fica difícil bater o martelo. BREVE CURRICULUM - Me formei em Comunicação Social pela PUC – Rio. Trabalhei no Jornal do Comercio, Folha de S. Paulo e Jornal do Brasil. Passei um tempo escrevendo para alguns veículos como freelancer. E ingressei no mundo corporativo, sempre no setor de Comunicação, trabalhando para a Coca-Cola e depois, na Petrobras, como editora entre outras funções. Hoje me dedico ao estudo de história e geopolítica e me aventuro nas artes. Acompanho os astros pra entender um pouco o que acontece aqui Terra. O poderoso Plutão, por exemplo, foi descoberto em 1930. Início do nazismo, incubador da Segunda Guerra Mundial que culminou com o lançamento de duas bombas atômicas. FOTO: Acervo pessoal – COLABORE COM O BLOG – CINCO ANOS DE JORNALISMO INDEPENDENTE – AGRADECEMOIS A SUA CONTRIBUIÇÃO - PIX: 21 99601-5849.

Jornalista do IPEN começou a carreira no Esporte, até chegar à cobertura da Ciência e Tecnologia. Conheça Ana Paula Artaxo

 


Natural de Manaus (AM), a jornalista Ana Paula Freire Artaxo Netto, 52 anos, assessora de imprensa do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo, conta com muito bom humor a sua trajetória profissional iniciada em editorias de Esporte. Se na área da ciência ela não conheceu preconceito, foi no Esporte, no passado, predominantemente reinado por homens, que ela precisou se impor e até cobriu copa do mundo. No IPEN, já com mestrado e doutorado, Ana Paula, casada com o reconhecido professor Paulo Artaxo, da USP, mãe de Sofia, de seis anos, Ana Paula acredita nas mudanças positivas da comunicação. “Vejo o momento atual muito oportuno para um avanço na comunicação em nossa área. Temos a retomada do Programa Nuclear Brasileiro, temos o projeto Reator Multipropósito Brasileiro, que vai gerar uma enormidade de benefícios científicos, acadêmicos e sociais, temos uma Rede de Comunicação do Setor Nuclear”, por exemplo. Para Ana Paula, a divulgação da ciência nuclear pode ser um grande “filão” da comunicação na área. “O Brasil tem pesquisas de excelência, mas o foco é sempre maior em serviços ou na geração de energia, sem que se privilegie o quanto de ciência está presente nesses dois campos. O desafio é enorme, mas eu sou otimista, viu?”, comentou a jornalista, em entrevista ao Blog, no mês em homenagem às mulheres.

BLOG: Como começou a sua participação na área nuclear?

 ANA PAULA FREIRE ARTAXO NETTO:  Foi muito em função de uma necessidade pessoal. Eu vim para São Paulo, cursar o doutorado na Unicamp, casei e constituí família aqui, e então solicitei minha redistribuição ao MCTI. Comecei no IPEN em março de 2014. Deparei-me com um mundo totalmente novo, de certa forma, assustador, já que eu vim de um instituto cujo foco é biologia tropical – o INPA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus. 

BLOG: Onde trabalhava? Jornal ou assessoria? 

ANA PAULA: Estou atuando profissionalmente desde 1994. Ingressei no serviço público, da carreira de C&T, em 1999. Nesse intervalo de cinco anos, trabalhei em redação de jornal e TV. O curioso é que eu comecei na editoria de esportes, cobri Fórmula 1, Copa América de Atletismo, fui editora na Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994, acompanhei a preparação da seleção brasileira de atletismo para os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996... esse era o meu mundo, no jornalismo. Final de 1998, prestei o concurso para o MCTI/INPA e passei em primeiro lugar, era apenas uma vaga. Mesmo alimentando o sonho de cursar mestrado e doutorado, eu já era editora e fiquei super em dúvida se deveria mesmo sair de redação e trabalhar no serviço público, afinal, os salários eram díspares. Decidi assumir a vaga no INPA, tomei posse no último dia, basicamente levando em conta a carreira acadêmica que poderia e gostaria de seguir, a estabilidade do serviço público e, principalmente, o fato de o INPA ser um lugar incrível para trabalhar, sob vários aspectos. O campus é espetacular, cheio de verde. Imagina você, na sua sala, e, de repente, passa uma preguiça, um mutum ou um sauim-de-coleira pela sua porta? (rs) Foi difícil deixar a redação, assim como foi MUITO difícil “desapegar” do INPA. Ainda hoje faço parte de grupos de amigos que fiz por lá. 

BLOG: O que acha que foi decisivo para cobrir/trabalhar na área nuclear? Conhecia, gostava? 

ANA PAULA: Como disse, eu vim para o IPEN por uma necessidade pessoal. Meu marido é professor da USP, e então era a opção mais viável entre as unidades do MCTI em São Paulo. Como tudo em minha vida, dei muita sorte, fui super bem recebida, acolhida mesma, e já no ano seguinte ao meu ingresso fui indicada pelo ex-diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Ensino, Marcelo Linardi, ao prêmio “Servidora Destaque” daquele ano de 2014. Conhecia muito pouco do IPEN, especificamente. Conhecia a CNEN, pois participávamos (unidades do MCTI) da exposição de ciência e tecnologia promovida pela SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, evento paralelo às reuniões anuais. Era uma área sobre a qual eu sempre tive certa curiosidade, mas não esperava cair nela. Eu até brincava, quando morava no Rio e passava em frente à CNEN, na General Severiano, que iria um dia trabalhar ali. Mas porque eu AMO o Rio e sempre quis morar no Rio, e a CNEN era meu caminho para a UniRio e para a ECO-UFRJ, onde ministrei disciplina e estudei como aluna especial do mestrado, respectivamente. Ou seja, não era que eu quisesse trabalhar na CNEN, pelo menos conscientemente, eu queria morar no Rio (rs). Mas a palavra tem poder, e eu acabei trabalhando na CNEN, em São Paulo (rsrsrs). 

BLOG: Naquela época, sem as ferramentas digitais, quais os maiores desafios? 

ANA PAULA: Tudo era muito novo, nessa questão digital, mas, sim, já havia a força da internet, embora não tivéssemos tantas ferramentas como hoje em dia. Essa “transição”, entre aspas, facilitou approach com a imprensa “nacional”, conseguimos emplacar várias pautas do INPA nos grandes jornais e na televisão, com destaque para a campanha “Dê o nome para o peixe-boi do INPA”, amplamente divulgada pelo suplemento Folhinha, da Folha de S. Paulo. A ideia era mobilizar crianças do Brasil inteiro para escolher o nome do primeiro filhote macho de peixe-boi da Amazônia nascido em cativeiro, no Laboratório de Mamífero Aquático do INPA. Foi um sucesso, a vencedora era de Roraima e ganhou viagem ao INPA e eletrônicos em alta, na época, como videocassete e outros. Isso só foi possível porque a internet encurtou caminhos, diminuiu as fronteiras. Também conseguimos um Globo Repórter sobre a expedição multidisciplinar do INPA para avaliar os impactos da seca de 2005. Esse Globo Repórter foi um marco para o Instituto, conseguimos remotamente planejar tudo com a equipe de pesquisadores, a produção da Globo, os nossos barcos de pesquisa, as estações experimentais... tudo. Foi um sucesso. Enfim, avalio como positiva a chegada de novas ferramentas. Não peguei a era totalmente “analógica” (rs), não saberia dizer sobre os desafios. Suponho que não eram poucos.

BLOG: Sofreu algum preconceito ou vivenciou ação machista por ser mulher?

 ANA PAULA: Por incrível que pareça, sofri mais preconceito cobrindo “esportes de homem”, futebol, principalmente, do que no serviço público. Nas coletivas, os homens me olhavam com desconfiança e desdém, mas eu soube me impor, inclusive, com menos de um ano de redação, tornei-me editora e comandei uma equipe composta por mais homens do que mulheres, no início. Depois, formei minha própria equipe e contratei apenas mulheres.

 BLOG: Quais as maiores dificuldades? E desafios em termos de relacionamento, de divulgar bem a informação? 

ANA PAULA: No IPEN o caminho foi mais fácil. O fato de eu já ter entrado “doutora” fez com que pesquisadores me olhassem de forma diferente. Não que titulação signifique competência, não mesmo. Mas, pensa só: em uma instituição de pesquisa, fogueira vaidades por default, se você tem “capital simbólico”, isso abre portas. No INPA, eu não tinha sequer especialização, fui construindo relação de confiança com os cientistas dia a dia, tijolo por tijolo, a fim de mostrar que jornalista não é sempre mal-intencionado ou incapaz de entender a linguagem – hermética – da ciência, como pensa grande parte da comunidade científica. Claro que no IPEN também houve essa construção, mas ela foi encurtada, digamos, pelo fato de eu ter titulação. Pode não parecer, mas isso “pega” em uma instituição de ensino e pesquisa, ninguém te olha de cima pra baixo, não há “vertigem da sobreloja”. E ainda tem o agravante de eu ser uma pessoa de personalidade muito forte, que não se deixa engolir ou abater facilmente, de não levar desaforo etc.. Não sou fácil, não.

BLOG: Desafios e dificuldades? 

ANA PAULA: Falei que não sou fácil, e não sou mesmo; mas, a bem da verdade, a questão que mais “pega”, para mim, é a qualidade do trabalho. Eu sou MUITO exigente – “chata” mesmo, dizem amigos que trabalharam comigo, mas tem o outro lado: adoro ensinar e aprender, nunca quis me firmar sobre quem estava começando (vi muito isso em redação), sempre fui muito colaborativa, principalmente com meus alunos e estagiários... só não pise no meu calo (rsrs). Mas, no IPEN, eu tive que aprender tudo do zero, não conhecia a área nuclear para além do senso comum. Logo que ingressei, me inscrevi no curso que os cientistas oferecem a alunos do ensino médio, a fim de atraí-los para a carreira na área. É o básico do básico, mas eu precisava, e fui lá, para ser “alfabetizada”. Hoje eu diria que aprendi a ler, mas ainda preciso melhor muito!

 BLOG:  Além do IPEN, conte um pouco sobre outras experiências? 

ANA PAULA: Lá atrás, além do INPA e de redações de jornal e TV, ministrei aula em faculdades de jornalismo e no curso de Memória Social, na UniRio, como colaboradora, durante o mestrado na UFF (Universidade Federal Fluminense). Também como mestranda lecionei a disciplina Assessoria de Imprensa na própria UFF. Fui chefe da Divulgação Científica do INPA, depois da própria Ascom, coordenei o Departamento de Difusão do Conhecimento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), fui contemplada com bolsas de Divulgação Científica do CNPq em 2007 e 2018... enfim, fiz muita coisa mesmo! Até comentarista esportiva de rádio eu fui, acredita? Mas se você me perguntar o que mais gosto de fazer, eu diria é que ministrar aulas em cursos de jornalismo. Adoro essa meninada jovem, cheia de gás, ideias e ideais! Eu me renovava em sala de aula, não apenas nas teorias, mas como pessoa mesmo. Infelizmente, com tanto trabalho e filha pequena, não consigo mais. 

BLOG: Conte um pouco sobre as conquistas, os desafios e as dificuldades.

 ANA PAULA: Penso que as conquistas devem ser diárias, ou seja, temos que dar o melhor de nós o tempo todo, e os frutos virão. Na carreira, cito algumas situações que considero exitosas: a aprovação, em primeiro lugar, no concurso para o INPA/MCTI, para a única vaga em Analista em C&T - Jornalismo; a indicação para “Servidora Destaque” do IPEN após meu primeiro ano na casa; a aprovação, em primeiro lugar, para a única bolsa na categoria Jornalismo do Programa de Divulgação e Disseminação Científica (PDDC/CNPq); a avaliação que a Banca Examinadora fez da minha tese – imagine um jornalista da envergadura do prof. Carlos Eduardo Lins da Silva dizer que um dado capítulo da tese foi o melhor que ele leu sobre o assunto, ao longo da vida!! Isso não tem preço!!! Aliás, ele me honra ao citar a minha tese sempre que o assunto é jornalismo, meio ambiente e mudanças climáticas. Do ponto de vista pessoal, a minha maior conquista é a Sofia, minha filha de 6 anos. Foi “um parto” ser mãe. E é também um grande desafio diário. Dificuldades? Lidar com o perfeccionismo exacerbado, autocobrança – eu sempre cobrei muito de mim. Voltando no tempo, enfrentar uma editoria de esportes composta de homens e cobrir esportes “de homens” foi difícil, no começo da carreira; também me descontentou a razão pela qual eu não fui a escolhida como “Servidora Destaque” no meu primeiro ano no IPEN, na avaliação final: eu era “nova” na casa, servidores mais antigos poderiam ficar “melindrados”. Uai, o critério não era ter se destacado na função? – pensei, na época. Mas, hoje, pensando bem, até acho que faz sentido (rsrs).

BLOG: Hoje é bem mais fácil porque há comunicação digital ou não? 

ANA PAULA: Mais fácil em alguns aspectos, mais difícil em outros. Do ponto de vista da velocidade, da fluidez da informação, ok, a comunicação digital ajuda muito. Todavia, se paramos para pensar que qualquer pessoa, hoje em dia, de posse de um smartphone, pode gerar conteúdo de interesse público sem o devido compromisso com a veracidade e a completude da informação, aí passa a ser um problema. No jornalismo, por exemplo, grandes reportagens estão perdendo espaço para notícias em drops, e eu acho que uma modalidade não anula a outra, dá para fazer as duas, em meios e plataformas distintas, para públicos diversos... e sem falar na questão das mentiras que circulam como notícias (não gosto do termo fake news). Enfim, qualquer tecnologia tem vantagens e desvantagens, o desafio está na discriminação desses dois aspectos e no uso inteligente do que é vantajoso.

 BLOG: Como analisa o futuro da comunicação na área nuclear no Brasil? 

ANA PAULA:  Vejo o momento atual muito oportuno para um avanço na comunicação em nossa área. Temos a retomada do Programa Nuclear Brasileiro, temos o projeto Reator Multipropósito Brasileiro, que vai gerar uma enormidade de benefícios científicos, acadêmicos e sociais, temos uma Rede de Comunicação do Setor Nuclear já constituída e trabalhando com todos os atores do setor para a consecução de um Plano de Comunicação, no âmbito do GSI/PR – eu, pelo IPEN, e Cássia Helena, pela CNEN, somos membros permanentes. Enfim, temos uma série de iniciativas que trazem boas perspectivas. Mas de nada adiantará se não houver uma política de Estado bem delineada que conceba a comunicação como essencial e estratégica. Sem isso, não vamos avançar. Comunicar bem tem custo, e é preciso estar disposto a investir na área. E tem outro aspecto, que sempre enfatizo nas minhas apresentações: a divulgação da ciência nuclear pode ser um grande “filão” da comunicação na área. O Brasil tem pesquisas de excelência, mas o foco é sempre maior em serviços ou na geração de energia, sem que se privilegie o quanto de ciência está presente nesses dois campos. O desafio é enorme, mas eu sou otimista, viu? 

BLOG: No mais? 

ANA PAULA: Tenho 52 anos, sou manauara, flamenguista, fã do futebol argentino, de Maradona e de Messi (nessa ordem). Adoro ler, leio mais de um livro por vez, aliás, uma curiosidade inusitada: escolho livro depois de ler a última página. Se eu gostar do desfecho (e do estilo), compro o livro. Parece contrassenso, mas, para uma jornalista, até que faz sentido, pensando em uma releitura da pirâmide invertida. Sou casada com o prof. Paulo Artaxo, da USP, grande parceiro na jornada com a nossa filha. Adoramos viajar pelo mundo, recentemente levamos Sofia a Jerusalém, e foi emocionante a nossa conexão. Se tem algo que traz luz e cor à minha vida é a Sofia. Seis anos, seis meses e 20 dias do dia em que conheci o maior amor do mundo. 

PERFIL: 

Formada em Comunicação Social (Jornalismo) pela Universidade Federal do Amazonas (1994), mestrado em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (2004) e doutorado em Linguística pela Universidade Estadual de Capinas (2013). É Analista em C&T Sênior no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN/MCTI). Tem especialização em Jornalismo Científico pelo Labjor-UNICAMP. Foi bolsista do Programa de Comunicação Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), onde desenvolveu pesquisas na área e coordenou o Departamento de Difusão do Conhecimento (DECON). Coordenou projeto de divulgação científica aprovado em edital do CNPq-PPG-7 e foi bolsista do Programa de Divulgação e Disseminação Científica (PDDC) do CNPq, nível 1. 

FOTO: Acervo pessoal/crédito: Paulo Artaxo. 

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