sexta-feira, 31 de março de 2023

Glória Alvarez revela assédio no passado em redação. No setor nuclear, faz observações e críticas. Não perca!

 


Diretora conselheira da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Glória Alvarez tem vasta experiência em assessorias de imprensa, como na Eletronuclear, mas também passou por grandes empresas de jornalismo como a TV Globo, TV Educativa, entre outras. Glória Alvarez trabalhou para a Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), mas faz ressalvas, por achar que a entidade precisa de mais planejamento, por exemplo. Na área nuclear, aliás, ela avisa: “Sem levar a sério a comunicação transparente, massiva, clara, não vejo um futuro brilhante para a área nuclear”. A jornalista tarimbada, com um currículo bastante diversificado, admitiu assédio, em uma das redações, no passado: chegou a ser demitida, “por não aceitar as paqueras”. Nas chefias, lutou por concurso e por melhores condições de trabalho para a sua equipe. Numa assessoria, tirou lágrimas de alegria de um funcionário idoso quando conseguiu espaço perto de uma janela para todos, o que antes era privilégio dos chefes. Não perca a entrevista com Glória Alvarez, encerrando março, em homenagem às mulheres. 

BLOG: Como começou a sua participação na área nuclear?

 GLÓRIA ALVAREZ: Comecei a trabalhar na área no ano 2000, sem experiência no setor. Já trabalhara como repórter e apresentadora em TV (Globo e Educativa). Como repórter em revista (Fatos e Fotos e Desfile); em jornais (Globo, Última Hora e JB); e como assessora na editora Nova Fronteira; como diretora de Comunicação no Tribunal de Justiça do RJ.

BLOG: O que acha que foi decisivo para cobrir a área nuclear? Conhecia, gostava?

GLÓRIA: Desconhecia inteiramente a área nuclear. Foi um desafio. Estudei muito, pois meu cargo era diretamente ligado ao presidente e à diretoria, que me davam muito espaço. Com eles aprendi muito. Cheguei no ano 2000 e o presidente era o engenheiro Ronaldo Fabrício que declarou, logo que cheguei, não ter entendido meu currículo. Sim, porque àquela altura constava no meu currículo cultura (livros, especialmente), moda, obituário, rotina de rua, Caderno da Família, Direito e Justiça. Enfim bastante diversificado. Especialmente para atender a uma empresa focada em energia nuclear. 

BLOG: Naquela época, sem as ferramentas digitais, quais os maiores desafios técnicos? 

GLÓRIA: A primeira vez que ouvi falar em ferramentas digitais foi quando o William Waack, então correspondente do JB na Alemanha, que veio visitar a redação e deu uma parada no Informe JB, onde eu era subeditora do Ancelmo Góis. Ficou nos contando as aventuras de ter à mão um PC (Personal Computer) para trabalhar. Fiquei deslumbrada. Até então usava uma Remington azul, com papel carbono para copiar as matérias. 

BLOG: Como era a relação com os colegas? Tranquila? 

GLÓRIA: Na mídia impressa e televisiva sempre tive ótimas relações com colegas. A troca de informações, a confirmação de algum fato que desconhecia, eram oportunidades maravilhosas para conhecermos melhor nossos companheiros.

BLOG: E na comunicação empresarial? 

GLÓRIA: Na comunicação empresarial sabíamos que determinados acessos diretos à diretoria era motivo de ciúmes. Mas, nada que impedisse nosso trabalho. Com as equipes de Comunicação com as quais trabalhei fiz questão de melhorar as condições de trabalho. Lembro que ao chegar no Tribunal de Justiça encontrei a assessoria encurralada num minúsculo espaço, sem janelas. Redatores ficavam de frente para a parede. Apelei ao então presidente da Casa, desembargador Thiago Ribas, por um espaço melhor. Acabamos ganhando uma sala que havia sido de um desembargador, com janelão aberto para a Baía da Guanabara. O funcionário mais antigo da assessoria, um senhor idoso, ao ser instalado de frente para a baía, chorou de alegria.

 BLOG: E na Eletronuclear? 

GLÓRIA: Ao chegar na Eletronuclear fiz uma enorme pressão para que o novo concurso público tivesse espaço para jornalista concorrer. E consegui. Com isso, a segunda colocada, Juliana Rezende, veio a ser uma competente auxiliar. A cada ocasião de possibilidade de aumentar seu salário, eu o fazia. Ela continua na Casa, brilhando, e muito agradecida até hoje. 

BLOG: Sofreu algum preconceito ou vivenciou ação machista por ser mulher? 

GLÓRIA: Quando fui trabalhar no jornal O Globo, fiquei no Segundo Caderno, chefiado por um conhecido jornalista.. Ainda como estagiária, ele chegou a me demitir porque eu não aceitava as paqueras. Fui à direção reclamar e quem me protegeu foi a Margarida Autran. Voltei para a redação e logo depois fui efetivada. Margarida é uma grande amiga, até hoje. Ações machistas enfrentei em várias ocasiões. Algumas acenavam com possibilidades de melhorias dentro da carreira. À época, quanto mais publicidade déssemos a esses assédios, pior para a mulher. Negávamos e ficávamos caladas. 

BLOG: Quais as maiores dificuldades? E desafios em termos de relacionamento, de divulgar bem a informação? 

GLÓRIA: Logo que cheguei no setor nuclear fiz várias conversas com aqueles que poderiam vir a ter contato com a imprensa e, também, sempre que oportuno, com os funcionários em geral. O tema era a necessidade de sermos o mais transparentes possível. Evidente que a desconfiança rondava o meu trabalho. Eu era uma jornalista, com muitos contatos, e “perigosa”. O trabalho foi “de formiguinha” até ganhar credibilidade de todos sem deixar de atender à imprensa. Um dos grandes desafios era o vocabulário usado na indústria nuclear. O que para diretores e funcionários era muito claro, para o público em geral era ilegível. Aos poucos fui adequando o vocabulário e criei um GUIA ELETRONUCLEAR DE PRONTA RESPOSTA. Isto é, cada setor respondia a perguntas que programávamos. O GUIA era publicado no site da empresa, o que facilitava muito o atendimento à imprensa. Fazíamos atualizações periódicas e cada gerente de área era responsável pelas respostas. 

BLOG: Na Eletronuclear como foram os desafios e as dificuldades?

GLÓRIA: Um atendimento bem complicado foi no dia 31 de dezembro de 2009. O temporal que desabou em Angra dos Reis e na Ilha Grande. Atingiu hotéis, barrancos na estrada e o risco de atingir as usinas nucleares mobilizou a mídia. Às 8h do dia 01/2014 eu já estava na casa do presidente, na Barra da Tijuca, atendendo à imprensa. 

BLOG: Trabalhou como assessora em outras empresas? 

GLÓRIA: Fui assessora do Corredor de Transporte Centro-Leste, fiz algumas campanhas eleitorais e fui gerente de Comunicação do Sebrae-RJ. 

BLOG: Desde quando assessora a Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN)? 

GLÓRIA: Assessorei a ABEN por pouquíssimo tempo. Considero a Comunicação deles complicada não só por falta de recursos, mas, também, (ou por consequência) por falta de profissionalismo e planejamento.

BLOG: Hoje é bem mais fácil trabalhar porque há comunicação digital ou não? 

GLÓRIA: Claro que facilitou a nossa vida. O celular é uma ferramenta indispensável, hoje. Com ele criamos e publicamos textos, fazemos reuniões, discutimos matérias, entrevistamos fontes, ilustramos, enfim, temos à mão todos os recursos do antigo PC. 

BLOG: Como analisa o futuro da comunicação na área nuclear no Brasil? 

GLÓRIA: A área nuclear precisa entender que a Comunicação é fundamental para hoje e para amanhã. Pouquíssimas pessoas conhecem os benefícios da energia nuclear. Para o conforto da eletricidade, para a prevenção e cura da saúde o meio ambiente. Sem levar a sério a comunicação transparente, massiva, clara, não vejo um futuro brilhante para a área nuclear. 

PERFIL: Carioca de São Cristóvão e criada em Santa Tereza. Filha de comerciante natural da Galícia, Espanha. A mãe, natural do município de Rio Bonito (RJ). Tem um filho advogado três netos. Formada em jornalismo televisivo pela Faculdade Hélio Alonso; pós graduada em Comunicação Empresarial; formada em Cochee/ Diretora de Mulher e LGBTIA+ na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), onde também é conselheira. 

FOTO: Acervo pessoal-  

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3 comentários:

  1. Muito bom material.

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  2. Paulo Moreira Leite4 de abril de 2023 às 00:40

    Glória Alvarez sempre fez jus ao nome. Quem conviveu aprendeu muito com ela.

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  3. Excelente entrevista que só agora pude ler na íntegra.

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