quarta-feira, 30 de junho de 2021

O fantasma da crise energética, por Mário Moura

 


Definitivamente não serviu de lição a crise no fornecimento de energia, que gerou um apagão no País. Isso há vinte anos, por falta de chuvas para abastecer as hidroelétricas, fonte renovável de menor custo da matriz energética brasileira. O fantasma da crise energética volta a nos preocupar. Estamos diante de uma nova crise no setor, que nas últimas duas décadas foi tímido na diversificação da nossa matriz. O governo de plantão repete os anteriores, culpa o clima e usa a mesma estratégia para evitar o apagão. Resultado: o consumidor vai pagar o pato. 

A partir de julho a bandeira tarifária será reajustada em 52%, o que representa, na prática, aumento na conta de luz mensal. A escassez de água nos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste, responsável por 70% da força hidráulica em território nacional, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), faz com que a energia se torne mais cara, por que o sistema necessitará da produção de energia via termoelétricas, mais caras e nocivas ao meio ambiente. 

O anúncio do governo do lançamento de um programa de incentivo para que o consumo diminua, não chega a ser o racionamento de 2001 e 2002,  mas desenha-se uma nova crise, resultado das sucessivas falhas no sistema nacional que revela a insegurança energética que vem de longe, e continua prejudicando o desenvolvimento do País. A história se repete, perpetuando uma incerteza econômica que já poderia ter sido superada há muito tempo. 

Não há como negar o despreparo da gestão da energia no Brasil, sem oferta necessária para o seu crescimento. Pior: essa realidade se revela num cenário de sombras, num instante de baixa na economia, especialmente em razão da pandemia. Diante disso, não é a melhor solução aumentar o custo da energia para os consumidores, que em consequência terá que conviver também com o risco de alta da inflamação, como profetizam os economistas, em razão do encarecimento do custo de vida, provocado pela energia mais cara. 

Como anuncia o governo, o aumento da tarifa extra deve vigorar até novembro, quando a chuva chegar e encher os reservatórios. Enquanto isso, é justa a preocupação da população com os possíveis racionamentos e o aumento do custo de vida. Ao considerar que a evolução do sistema elétrico dará conta do suprimento de energia e que não haverá crise. 

O governo bota fé na campanha para reduzir o consumo na indústria e grandes empresas e no aumento da taxa que afetará os lares brasileiros. Mesmo diante de tantos desafios, o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque ganhou poderes adicionais para gerir uma crise desse tamanho, de acordo com a Medida Provisória publicada esta semana. A fé não costuma falhar, mas não dá para confiar que não viveremos hoje, a mesma insegurança por falta de energia elétrica, que vivemos no passado. 

Autor: Mário Moura, jornalista.

 

terça-feira, 29 de junho de 2021

Angra 3: fechamento da esfera de aço e instalação da piscina de combustíveis usados (urânio); prioridades para a empresa vencedora de licitação.

 


A estatal Eletronuclear realizou nesta terça-feira (29/6) a sessão pública para a abertura das propostas da licitação dos serviços de obras civis e de parte da montagem eletromecânica previstos no Plano de Aceleração do Caminho Crítico de usina Angra 3, em Angra dos Reis (RJ). Entre as principais medidas que constam no Plano de Aceleração do Caminho Crítico de Angra 3 está a conclusão da superestrutura de concreto do edifício do reator da usina. Além disso, será feita uma parte importante da montagem eletromecânica, que inclui o fechamento da esfera de aço da contenção e a instalação da piscina de combustíveis usados (urânio), da ponte polar e do guindaste do semipórtico. 

 O comunicado foi feito à noite pela Eletrobrás a seus acionistas e ao mercado; e disponibilizado pela Eletronuclear.  “A contratação visa a adiantar algumas atividades de construção da usina antes mesmo de a companhia contratar a epecista – EPC significa engenharia, gestão de compras e construção, na tradução do inglês – que irá empreender a obra global da unidade”. 

O proponente mais bem classificado deverá apresentar os documentos de habilitação para serem verificados, motivo pelo qual não será divulgado, ainda, o nome do primeiro colocado. Após o término dessa análise, será agendada nova sessão para informar o resultado aos licitantes e abrir prazo para recursos. 

Segundo a Eletronuclear, caso o proponente mais bem classificado seja inabilitado, será convocado o segundo colocado para apresentar sua documentação. Os recursos necessários para realizar os serviços que são objeto dessa licitação são provenientes do Adiantamento para Futuro Aumento de Capital (Afac) aprovado pela Eletrobras em julho do ano passado. 

Em 2020, a holding liberou R$ 1,052 bilhão para a Eletronuclear. Para 2021, estão previstos R$ 2,447 bilhões adicionais, dos quais R$ 850 milhões já foram liberados. O montante total do Afac consta no Plano Diretor de Negócios e Gestão (PDNG) 2021-2025 da Eletrobras. 

A expectativa da Eletronuclear é que o contrato com a empresa vencedora da licitação seja assinado no segundo semestre e que a retomada das obras ocorra até o final deste ano. O índice atual de conclusão da construção de Angra 3 é de 65%. A companhia prevê que a usina entre em operação em novembro de 2026. Nesta terça-feira o BNDES assinou contrato com um consórcio de empresas belgas e espanhola para estruturar o projeto de conclusão da usina. Leia no Blog. 

FOTO: Angra 3 - Acervo Eletronuclear

 

Consórcio belga e espanhol vence concorrência para estruturar projeto de conclusão de Angra 3

 


O consórcio Angra Eurobras NES, formado pelas empresas belgas Tractebel Engineering Ltda (líder), Tractebel Engineering S.A, e a espanhola Empresários Agrupados Internacional S.A,  venceu a concorrência para a estruturação do projeto de retomada e conclusão das obras da usina nuclear Angra 3.  O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) acaba de assinar o contrato com o consórcio. 

Ao longo dos anos, a Eletronuclear, subsidiária da holding Eletrobrás, acumulou uma divida de cerca de R$ 6,6 bilhões ao BNDES e a Caixa Econômica Federal (CEF) por conta de Angra 3. A usina já consumiu cerca de R$ 7 bilhões dos cofres públicos desde o início de sua construção em 1984; e precisaria de mais R$ 15 bilhões para ser inaugurada em 2026. “O consórcio terá a atribuição de definir a projeção dos investimentos necessários à implementação do projeto, o cronograma detalhado da obra e a especificação de como se dará a contratação de uma ou mais construtoras para a realização dos trabalhos”, informou o BNDES. 

A contratação do consórcio faz parte dos serviços técnicos que o BNDES presta à Eletronuclear — proprietária da usina — desde 2019, visando estruturar o modelo jurídico, econômico e operacional de parceria junto à iniciativa privada, para a construção, manutenção e exploração de Angra 3. 

De acordo com modelo proposto pelo BNDES, as obras serão retomadas por meio de EPC (Engineering, Procurement and Construction), modalidade de contratação de serviços de engenharia na qual a construtora contratada ficará responsável ”não só pela execução da obra em si, mas também por eventuais complementos ao projeto de engenharia e pela compra dos materiais e equipamentos necessários à finalização da obra”. 

Angra 3 poderá ter um ou mais contratos de EPC, dependendo das recomendações técnicas a serem feitas pelo consórcio contratado, informou a Eletronuclear. Segundo Lidiane Delesderrier Gonçalves, superintendente da Área de Estruturação de Empresas e Desinvestimento do BNDES, o Angra Eurobras NES será responsável também por assessorar a contratação das construtoras. 

"Esse assessoramento, que incluirá a avaliação das propostas técnicas das empresas proponentes, é considerado de suma importância para garantir um processo seletivo bem-sucedido, atraindo empresas de reconhecida qualidade técnica", afirma. Angra 3 vai gerar mais de 10 milhões de MWh por ano, energia suficiente para atender aproximadamente 6 milhões de residências. 

Formado pelas empresas Tractebel Engineering Ltda. (líder), Tractebel Engineering S.A. e Empresários Agrupados Internacional S.A., o consórcio terá a atribuição de definir a projeção dos investimentos necessários à implementação do projeto, o cronograma detalhado da obra e a especificação de como se dará a contratação de uma ou mais construtoras para a realização dos trabalhos. 

Segundo o BNDES, o grupo Tractebel, cuja história começa no século XIX, tem experiência em vários países do mundo na atuação com energia nuclear. A espanhola Empresários Agrupados, empresa de engenharia, criada em 1971, é atuante no setor de geração de energia elétrica, com experiência na implantação de usinas nucleares. 

“A contratação do consórcio, composto por empresas com vasta experiência em assessoramento à implementação de usinas nucleares no mundo, permitirá que se projete ao mercado a confiança necessária para atrair parceiros construtores de primeira linha e uma ampla gama de agentes financiadores no Brasil e no mundo”, explica Leonardo Cabral, diretor de Privatizações do BNDES. 

Angra 3 é a segunda usina comprada no pacote do acordo nuclear Brasil-Alemanha, em 1975.  Angra 3 terá potência instalada de 1.405 MW e cerca de 82.000 metros quadrados de área construída, o equivalente a dez campos de futebol. 

FOTO: Angra 3 - Acervo Eletrobras/Eletronuclear. 


segunda-feira, 14 de junho de 2021

CNEN alerta sobre extravio de material radioativo (iodo-131)


A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) foi informada na tarde do último sábado (12/6) do extravio de uma embalagem para uso exclusivo médico-hospitalar contendo o elemento radioativo iodo-131 (I-131). O conteúdo extraviado serviria para duas a quatro doses aplicadas em procedimentos de diagnóstico e é considerado de baixo risco. Mesmo com a periculosidade relativamente pequena, a CNEN, informa que acionou a sua equipe de emergência e a Coordenação de Resposta a Emergência (CoRE). 

O material foi produzido pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN), em São Paulo. A empresa encarregada do transporte, autorizada pela CNEN a esse tipo de operação, coletou no Instituto, no dia 7 de junho, um lote com 15 embalados de I-131. Destes, 14 foram regularmente entregues a seus destinatários. 

A falta de um deles teria sido percebida quando o veículo de entrega chegou a um hospital de Belo Horizonte e o material não foi localizado no compartimento de carga. A empresa transportadora busca verificar se o material foi indevidamente entregue a outro cliente. A CNEN está averiguando os procedimentos e abriu uma sindicância para apurar o ocorrido. 

O iodo-131 está acondicionado em embalagens de chumbo que o blindam e evitam qualquer irradiação para o ambiente. Estas embalagens estão em um balde plástico especialmente preparado para este tipo de transporte (foto abaixo). Segundo a CNEN, tanto o balde quanto as embalagens em seu interior estão identificados com o trifólio, símbolo da radiação. 

Como todo radiofármaco, o seu uso ou manipulação inadequados podem vir a causar danos à saúde. Caso alguém localize o material, é importante entrar em contato com a CNEN pelos telefones (21) 99769 7313 ou (21) 99872 4624, ou com as autoridades de segurança mais próximas. 

As informações foram divulgadas pela CNEN. 

 

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Risco de contaminação radioativa na troca de cobertura que abriga 15 mil tambores com torta II (urânio e tório), em Minas. Exclusivo para o blog.

 


Sob risco de contaminação radioativa, está em curso uma delicada operação de substituição das coberturas (telhado) dos sítios de Torta II (subproduto de areias monazíticas contendo urânio e tório), na área AA-171 da unidade de Caldas, planalto de Poços de Caldas, em Minas Gerais (MG), da estatal indústrias Nucleares do Brasil (INB). Há riscos de disseminação radioativa via contaminação do solo, água de chuva e ar. 

“Um dos acidentes que pode ocorrer é a queda de telhas com suspensão de Torta II no ar durante as atividades de troca de telhas, com ou sem vítimas. Abalroamento, cortes, esmagamentos, fraturas, atropelamentos, asfixias também são possíveis”, consta em documento a que o blog teve acesso com exclusividade. 

O local abriga cerca de 15 mil tambores com Torta II, armazenados há anos em Caldas, em condições nada seguras, cobertos por telhados danificados pelo tempo, chuvas e ventos. O material é herança maldita da extinta Nuclemon, em São Paulo, onde durante décadas o Brasil operou com material radioativo das areias monazíticas subtraídas do litoral da Bahia, Rio de Janeiro e Espírito Santo. No passado, a China esteve prestes a comprar o estoque, mas as negociações não frutificaram. 

SUSPEITA DE INCORPORAÇÃO - 

“Na possiblidade da ocorrência de acidentes – durante a operação - com ou sem vítimas, bioanálises extras em relação à programada serão realizadas sempre que houver suspeita de incorporação” (absorção de material radioativo). 

O trabalho, iniciado há cerca de 15 dias, não divulgado pela INB, está sendo feito por trabalhadores de empresa terceirizada, “sujeitos à exposições ocupacionais, classificados como indivíduos ocupacionais expostos”, segundo informações obtidas pelo BLOG. A área total construída é de 724.1232 metros quadrados e o tempo total da obra é de cerca de 120 dias. 

As várias atividades envolvendo a troca do telhado estão sendo acompanhadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). As telhas substituídas e o material descartado da obra, ou entulho, formado por solo, concreto e outros materiais, serão separados, no pátio que circunda os sítios de Torta II. Depois, transportados na carroceria de caminhão, envelopados em lona plástica, para área bem próxima, delimitada, dentro da instalação. 

Considerados rejeitos, os materiais e as lonas serão monitorados e as possíveis partes contaminadas, separadas em pedaços, depositados em outros tambores. A unidade de Caldas está instalada numa de área de cerca de 18 km2, onde funcionou a primeira unidade de mineração e beneficiamento de urânio do Brasil. 

PRIMEIRA UNIDADE DE MINERAÇAO - 

Segundo a literatura disponível e a própria INB, a exploração do urânio no Brasil teve início em 1982, em Poços de Caldas.  Em 1995, a INB constatou que era economicamente inviável a operação da unidade e encerrou suas atividades. Dez anos depois, foi iniciada a descontaminação de suas instalações e terrenos. 

A empresa garante que as instalações, o solo, as águas e os equipamentos da antiga mineração são permanentemente monitorados, assim como os materiais radioativos que ali estão estocados (os tambores com Torta II), para “proteger o meio ambiente e assegurar a saúde dos trabalhadores da unidade e dos moradores da região”. 

Segundo a empresa, na Unidade em Descomissionamento de Caldas (UDC) está instalado o Laboratório Ambiental de Análises Químicas e Radiológicas que realiza as análises necessárias ao monitoramento do meio ambiente em áreas onde funcionam as unidades da INB na Bahia, no Ceará, em Minas Gerais e em São Paulo. 

Em 2012 o IBAMA aprovou o Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), que foi elaborado a partir de estudos nas áreas de hidrologia, geoquímica, hidroquímica e radioproteção, realizados com o objetivo de definir as obras a serem realizadas e as ações de recuperação ambiental que devem ser desenvolvidas na unidade. Isso quer dizer que o plano foi aprovado há quase dez anos. 

A empresa garante também que monitora as águas que passam através da unidade e o meio ambiente nas suas vizinhanças, em um círculo de aproximadamente 10 Km de raio. As matrizes monitoradas são água, sedimento, poeira no ar, solo, peixes e produtos agropecuários. Os parâmetros analisados são: o pH, parâmetros físicos e químicos das águas; os elementos estáveis; e os elementos radioativos, ou radionuclídeos, informa empresa, que ainda não divulgou as informações sobre a operação de substituição do telhado, com riscos de contaminação. 

FOTO: Unidade em Caldas - Acervo INB.

terça-feira, 1 de junho de 2021

Usina nuclear Angra 2 será desligada domingo (6/6) para a troca de combustível (urânio enriquecido)

 


A usina nuclear Angra 2 será desligada no próximo domingo (6/6) para a troca de combustível (urânio enriquecido). A potência da unidade começa a ser reduzida nesta quarta-feira (2/6). Na sexta-feira (28/5) chegou à central nuclear, via terrestre,  o último comboio, de um total de três, com os elementos combustíveis (pastilhas de urânio), produzidos pela Fábrica de Combustível Nuclear das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende (RJ), depois de passar pela Urenco (consórcio de empresas da Inglaterra, Holanda e Alemanha).

Enquanto Angra 2 permanecer desligada várias atividades serão realizadas, como a revisão de parafusos da tampa do vaso de pressão do reator, o coração da usina. Para executar dezenas de tarefas, a Eletronuclear contratou 393 profissionais, todos treinados quando as medidas de prevenção ao coronavirus (Covid-19).  Não foi informado o tempo em que a usina ficará desligada.

ANGRA 1 -

Quando foi desligada no dia 17 de abril passado, Angra 1 ficou 35 dias fora do Sistema Interligado Nacional (SIN). No total, 2.904 tarefas foram programadas para o período. Para executá-las, foram contratadas firmas nacionais e internacionais, que disponibilizaram cerca de 600 profissionais, sendo 30 estrangeiros, para atuar em conjunto com os técnicos da Eletronuclear. Parte deles atuará agora em Angra 2.

As paradas de reabastecimento ocorrem, aproximadamente, a cada 14 meses e são programadas com pelo menos um ano de antecedência, levando-se em consideração a duração do combustível nuclear e as necessidades do SIN. 

FOTO: Angra 2 - Acervo Eletronuclear.

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