sexta-feira, 25 de maio de 2018

Presidente da INB: sétima cascata de ultracentrífugas deverá entrar em produção a partir de junho de 2018


No dia 4 de setembro de 1987, o então presidente José Sarney, anunciava: “O Brasil já domina todas as técnicas para enriquecer urânio por ultracentrifugação”. No ano seguinte, o governo divulgava oficialmente a inauguração do Centro Experimental Aramar, da Marinha, em Iperó, São Paulo, local da realização. Passados mais de 30 anos, o domínio da tecnologia, que levou o Brasil a ingressar no “restrito clube do átomo”, está sendo desenvolvida na Usina de Enriquecimento Isotópico de Urânio, da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), no Distrito de Engenheiros Passos, município de Resende (RJ). O contrato da Marinha com a INB para a transferência e implantação dessa tecnologia está completando 18 anos e envolve cerca de R$ 560 milhões. O presidente da INB, Reinaldo Gonzaga, fala com exclusividade sobre o negócio e as vendas de urânio para a Argentina. Mas avisa que o número de ultracentrífugas instaladas por cascata é de “conhecimento restrito”.   
Blog: Quando a INB firmou contrato com a Marinha?
Presidente INB: O contrato foi celebrado em julho de 2000, com o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), detentor da tecnologia nacional de enriquecimento isotópico de urânio. A objeto contratual prevê a conclusão da 1ª Fase (10 cascatas) do projeto para 2021. A 2ª Fase (33 cascatas) tornará a INB autossuficiente para atender as três usinas nucleares brasileiras: Angra 1, 2 e 3.
Blog: A Marinha participou da implantação da Usina de Enriquecimento em Resende? De que forma?
Presidente INB: Sim, desde sua gênese, e continua participando. O contrato tem como escopo de fornecimento o projeto, o suprimento, a fabricação, a montagem e os testes de 10 Cascatas de Ultracentrífugas.
Blog: Quando a unidade começou a ser implantada e quando foi inaugurada? Quanto custou até agora?
Presidente INB: A implantação da Usina de Enriquecimento de Urânio da INB, em Resende/RJ, teve início logo após a assinatura do contrato. Devido à característica modular dessa implantação, em 2004 ocorreu a inauguração da 1ª Cascata de Ultracentrífugas. Até o momento, o investimento realizado é da ordem de R$ 560 milhões, sendo que R$ 360 milhões foram destinados à aquisição das Cascatas de Ultracentrífugas e o restante para a contratação de obras de infraestrutura na Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), em Resende.    
Blog: A usina opera com quantas ultracentrífugas? A Fabricação é da Marinha ou da INB?
Presidente INB: A tecnologia de enriquecimento isotópico de urânio é dominada apenas por um grupo seleto de países. Por sua natureza estratégica e sensível, o acesso a determinadas informações é bastante restrito. O número de Ultracentrífugas instaladas por Cascata é de conhecimento restrito. Das 10 Cascatas de Ultracentrífugas contratadas, 6 Cascatas já estão em operação. A 7ª Cascata deverá entrar em produção a partir de junho do corrente ano.
A fabricação das Cascatas de Ultracentrífugas é 100% do CTMSP.

Blog: A unidade já registrou algum problema com radiação?
Presidente INB: Nunca. A adequada aplicação de medidas de segurança estabelecidas pela CNEN, órgão regulador nacional, impede ocorrências dessa natureza.
Blog: Como é o sistema de emergência e de segurança da unidade? Envolve quantas pessoas?
Presidente INB: Por força de normas nacionais e internacionais a INB dispõe, em suas instalações, do que existe de mais moderno no que tange ao controle e à segurança de seus processos industriais. O homem e o Meio Ambiente são permanentemente monitorados e protegidos. Para isso, suas práticas, programas, dispositivos e sistemas associados à manutenção das condições de segurança das instalações são fiscalizados pelos órgãos reguladores, Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Cada empregado da INB é treinado e comprometido com a adoção de boas práticas operacionais, visando aprimorar a cultura de segurança em todos os níveis e unidades da empresa.  
Blog: Quantos funcionários brasileiros e estrangeiros trabalham na unidade?
Presidente INB: São 718 funcionários na FNC e 78 na Usina de Enriquecimento. O corpo orgânico da INB é composto exclusivamente por brasileiros e brasileiras. Os técnicos estrangeiros somente atuam na prestação de serviços de assistência técnica, especificamente em equipamentos importados. Sempre, é bom lembrar, vedando o acesso de estrangeiros às informações consideradas estratégicas e sensíveis, de propriedade da CTMSP.
Blog: Qual a área da INB em Resende? Do total, qual a área da FCN e da Usina de Enriquecimento?
Presidente INB: A Unidade da INB, em Resende, está situada no Distrito de Engenheiros Passos, abrangendo uma área total de aproximadamente 600 hectares. Destes, somente 60 hectares são efetivamente ocupados pela FCN, constituída pelas Unidades de Produção de Serviços de Enriquecimento Isotópico de Urânio, de Produção de Pó e Pastilhas de Urânio e de Produção do Elemento Combustível. A Usina de Enriquecimento Isotópico de Urânio ocupa cerca de 20% da área da FCN, ou seja, cerca de 12 hectares.  
Blog: Quanto a INB faturou com a venda de urânio para a Argentina? Lucrou? Quanto?

Presidente INB: A INB fez duas vendas de urânio enriquecido na forma de pó de U02 para a empresa CONUAR (Combustibles Nucleares Argentinos). Na primeira venda foram entregues 4.100 Kg de urânio enriquecido de 1,9%, 2,6% e 3,1% ao preço de USD 4.378.190,00. Na segunda venda o montante vendido foi de 1.500 Kg de pó de UO2 a 4,15%. O preço global foi de USD 1.755.000,00. As operações foram muito favoráveis à INB seja do ponto de vista financeiro, seja quanto à visibilidade da empresa neste mercado. O resultado financeiro interno das operações foi bastante satisfatório. Não obstante os valores envolvidos, bem como a lucratividade do negócio são informações estratégicas que não serão divulgadas para que seja preservada a vantagem competitiva brasileira.  

Blog: Qual a expectativa da INB em relação à venda de urânio enriquecido?
Presidente da INB: No momento, a preocupação da INB é se firmar como fornecedor qualificado da CONUAR. Esta qualificação permitiria assinar contratos plurianuais com a empresa argentina e se firmar no mercado como fornecedor confiável, o que servirá de plataforma para futuros negócios.
Blog: Há perspectiva de venda para outros países?
Presidente INB: Sim. A empresa está no momento trabalhando na possibilidade de se tornar um fornecedor internacional de urânio metálico (enriquecido a 19%) para reatores de pesquisa.
Blog:  A INB (Governo Brasileiro) já recebeu algum tipo de pressão externa por estar enriquecendo urânio?
Presidente INB: Por intermédio da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), representante do Governo Federal, em 2004, a INB assinou o Enfoque de Salvaguardas Nucleares (“Salvaguards Approach”) da Usina de Enriquecimento de Urânio com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Agência Brasil-Argentina de Controle e Contabilidade de Material Nuclear (ABACC). Desde então, diversas inspeções já foram realizadas, sem que nenhuma anormalidade fosse registrada ou qualquer forma de pressão externa tenha sido aplicada.
Blog: Quais os planos futuros?
Presidente INB: O Planejamento Estratégico da INB 2017/2026 prevê como meta principal a autossuficiência da empresa. Estou confiante. Nosso foco está na segurança, qualidade e sustentabilidade, para que a empresa seja reconhecida internacionalmente como fornecedora no mercado de urânio, com excelência na gestão empresarial, em busca da autossuficiência, preservando seu compromisso inabalável com a ética e a eficiência. A INB busca aumentar a capacidade de investimentos em seus principais projetos: nacionalização da fabricação dos componentes do Elemento Combustível; retomar a produção de urânio em Caetité, na Bahia; ampliar a venda de componentes do Elemento Combustível e serviços e aumentar a capacidade de produção do enriquecimento de urânio. 
Blog: Como a INB se insere na globalização desse mercado?
Presidente INB: Estamos investindo em tecnologia e somos capazes de fornecer Elementos Combustíveis de última geração. O atual processo de globalização dos mercados vai encontrar a INB em condições de participar dessa expansão de oportunidades: a empresa é detentora de tecnologia comprovada em diferentes etapas do ciclo do combustível nuclear. Esse potencial é nossa esperança para que Planejamento Estratégico realize todas as suas metas, transformando a INB em uma fornecedora de produtos e serviços associados ao ciclo do combustível nuclear, destinados à geração de energia elétrica, com segurança, qualidade e sustentabilidade.
Blog: Quais os maiores desafios para a empresa hoje?
Presidente INB: O principal desafio da INB é participar, conjuntamente com outras empresas e organizações do Setor Nuclear, da revisão e da consolidação do Programa Nuclear Brasileiro; ampliar a produção de yellow cake e, assim, gerar excedente para exportação; e, consolidar no mercado internacional a INB como exportadora de produtos e serviços associados ao ciclo do combustível nuclear. 


Instalações que antecedem o processo de enriquecimento de urânio.




O engenheiro metalúrgico Reinaldo Gonzaga, 49 anos, formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em Engenharia de Materiais pela Faculdade de Engenharia Química de Lorena (SP), é funcionário de carreira da empresa há quase duas décadas.
No comando da empresa desde outubro de 2017, antes de assumir o cargo, gerenciou e coordenou processos químicos nas linhas de produção de pó e pastilhas de urânio e foi responsável pela superintendência de Engenharia de Combustível Nuclear.
Vascaíno apaixonado, casado, pai de três filhos, natural de Volta Redonda, Reinaldo Gonzaga, diz que busca à autossuficiência da INB e trabalha para que a empresa seja futuramente fornecedora internacional de urânio para reatores de pesquisa.  

terça-feira, 15 de maio de 2018

EUA TESTAM MINI ELEMENTO COMBUSTÍVEL PRODUZIDO PELA INB


O Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE) e o Laboratório de Salvaguardas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), acabam de testar um Mini Elemento Combustível fabricado pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende (RJ). O objetivo é garantir a alta precisão na calibragem dos equipamentos usados na medição da quantidade de urânio nos elementos combustíveis que compõem as recargas das usinas nucleares Angra I e Angra 2.

Antes, os colares de nêutrons eram calibrados diretamente no Elemento Combustível, permitindo análises com imprecisão de até 5% . A partir de agora, com o Mini Elemento Combustível, esse índice caiu para um por cento. Outra vantagem, segundo a empresa, é a remoção das varetas dos Elementos Combustíveis, viabilizando a sua reconfiguração e a realização de simulações.

Segundo o diretor de Produção do Combustível  Nuclear da INB, Marcelo Xavier, a tecnologia produziu avanços na atividade de salvaguardas nucleares. "Cada vareta contêm 375 pastilhas. Cada pastilha pesa cerca de 10 gramas. Cada vareta dá mais de três quilos de urânio. Então, cinco varetas de urânio são mais de 15 quilos de urânio, que podem ser desviados. Com essa calibragem, não há como ocorrer desvio de material nuclear. É possível ver exatamente o quanto de material e o grau de enriquecimento no combustível", completou Xavier.

Segundo outro técnico da INB, Luiz Antonio da Silva, o Mini Elemento Combustível será útil também no treinamento de pessoal de salvaguardas e de neutrônica da engenharia de combustível. "Teremos o benefício no conhecimento e aperfeiçoamento desse tipo de medida, uma das mais refinadas em escala mundial".


quarta-feira, 9 de maio de 2018

BRASIL SE PREPARA PARA VOLTAR A PRODUZIR URÂNIO


O Brasil está se preparando para voltar a produzir urânio. "Concluímos a instalação das ultracentrífugas da sétima cascata da Usina de Enriquecimento, um sinal positivo para planejarmos os novos passos rumo à autossuficiência, com paciência e, acima de tudo, sabedoria", anunciou o presidente da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Reinaldo Gonzaga. 

"Os ventos da mudança começam a soprar. São boas as perspectivas para 2018", acrescentou ao lançar o Relatório Anual de 2017 da empresa.

A Unidade de Enriquecimento Isotópico de Urânio funciona no município de Resende, Rio de Janeiro, onde está também a Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), desde 1996 sucessora da Fábrica de Elementos Combustíveis (FEC).  



segunda-feira, 7 de maio de 2018

RETOMADA DAS OBRAS DE ANGRA 3 NA AGENDA DO GOVERNO HOJE

A retomada das obras da usina nuclear Angra 3 está na agenda do governo desta segunda-feira (07/05), quando o ministro das Minas e Energia, Moreira Franco, se reunirá com representantes do setor nuclear, em Brasília. 
A iniciativa é da Associação Brasileira do Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan), presidida por Celso Cunha,  

Participam da reunião o presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães; representantes da direção da Rosatom, da Rússia; da francesa Framatome; da norte-americana Westinghouse e da chinesa CNNC.   

Na pauta, a criação de condições para que essas empresas possam apresentar propostas reais para o término da usina Angra 3. A ideia é que assumam as obras, individualmente ou em consórcio, façam a conclusão da usina e sejam remuneradas pela venda da energia. 

Angra 3 foi comprada no pacote do acordo nuclear Brasil-Alemanha, em 27 de junho de 1975, pelo governo do general Ernesto Geisel. As obras da usina pararam várias vezes, a última, em 2015. Angra 3 tem 65% das obras civis concluídas. 

O valor previsto para o investimento de Angra 3 é de cerca de R$ 21 bilhões. Desse total, em torno de R$ 7 bilhões já foram realizados. 

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