segunda-feira, 25 de junho de 2018

Rex Nazareth revela: Brasil reprocessou urânio


Um dos principais protagonistas do programa nuclear paralelo, que levou o Brasil a dominar o ciclo do combustível, o físico Rex Nazareth Alves, avesso a holofotes, arrancou aplausos na noite desta segunda-feira (25/6), ao falar sobre a trajetória do setor, no Clube de Engenharia, Centro do Rio. “Pouca gente sabe, mas o Brasil reprocessou urânio em escala piloto", revelou. A unidade de reprocessamento, que funcionou em 1979, no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, segundo ele, não existe mais.

Outra revelação, envolveu a compra de urânio enriquecido a 20% da China, em 1989. Rex chefiou três missões especiais à China para fechar a compra, mas o Brasil não tinha como buscar o produto. “Eles, então, mandaram o urânio e fomos buscar em navio de Marinha, fora da baia, e de lá, o produto foi direto para o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo. Todo o processo transcorreu sob absoluto sigilo”, comentou.  

Presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) durante cerca de 10 anos, ferrenho nacionalista, ele acha que o Brasil não deveria ter aderido ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP-N), em 1998, no governo de Fernando Henrique Cardoso.

“Soberania a gente não compra. A gente conquista”, disse.

Ao abrir parte de sua história, que se mistura aos capítulos mais instigantes da trajetória da energia nuclear brasileira, ele mostrou fotos de instituições nucleares iraquianas, que visitou, em 1981, mas não mencionou o fato de o Brasil ter vendido urânio para o Iraque nesse período. Pelo contrário, brincou dizendo que um técnico que estava no Iraque lhe pediu para levar na bagagem “goiabada e palha de aço” produtos brasileiros de alta qualidade, carentes por lá. Cabelos brancos, aos 81 anos, ele mostrou que bom humor não lhe falta, fazendo outras brincadeiras. 

Professor do Instituto Militar de Engenharia (IME), trabalhando na Eletronuclear, da Eletrobrás, gestora das usinas nucleares, Rex Nazareth defendeu a conclusão das obras da central atômica Angra 3, parte do acordo nuclear Brasil Alemanha, que completa 43 anos, nesta quarta-feira (27/06).  “Precisamos de apoio maciço da sociedade para concluirmos Angra 3. O programa nuclear brasileiro precisa do término dessa usina”, afirmou.  

Por esse acordo o Brasil comprou o processo de enriquecimento de urânio pelo método Jato centrífugo, que a própria Alemanha ainda pesquisava. “Nem foi o jato, nem foi o centrífugo”, ironizou, porque o processo nunca entrou em funcionamento. Ao passo que o programa de enriquecimento de urânio da Marinha levou o Brasil a ingressar no seleto Clube do Átomo.

Um dos titulares da conta secreta Delta III, do programa nuclear paralelo, na década de 80, Rex Nazareth é “um livro aberto, cheio de páginas coladas”, como ele mesmo se definiu para o auditório lotado com mais de 100 pessoas.  Muitos, em pé, durante cerca de duas horas.   
  


quarta-feira, 20 de junho de 2018

Destino de Angra III reúne BNDES e Eletronuclear

Uma solução para a retomada das obras da usina nuclear Angra III, com o alongamento do contrato de financiamento da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobrás, é uma das pautas da semana no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O assunto reuniu ontem (19/06), em Brasília, os presidentes do Banco, Dyogo Oliveira e da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães. 

"A minha indicação legislativa 5340/18, ao Ministério de Minas e Energia, permitirá a equalização da tarifa de energia elétrica de Angra praticada no âmbito do Conselho Nacional de Política Energética", comentou o deputado federal Júlio Lopes (PP). Ele acredita que desta forma, a Eletronuclear ficará reequilibrada financeiramente podendo retomar as obras da usina atômica. 

Mas, antes, se faz necessária a negociação com seus credores, lembrou. Na reunião, ficou acertado que uma equipe técnica do BNDES estudará a forma para que a opção não prejudique o sistema elétrico brasileiro. Vale lembrar que a Medida Provisória 814, que, entre outras coisas, autorizava o aumento da tarifa de energia de Angra III perdeu a validade.

A Eletronuclear é uma fonte importante para o Estado do Rio e responsável pelo pagamento dos royalties investidos na Saúde de Angra dos Reis, Mangaratiba, Parati e Rio Claro, frisou o parlamentar.

Angra III é a segunda usina nuclear de um pacote de oito, que faz parte do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, firmado no dia 27 de junho de 1975, no Governo do general Ernesto Geisel. Há cerca de 40 anos, portanto, Brasil e Alemanha festejavam o acordo como "o contrato do século". Na ápoca, em carta escrita de próprio punho, o presidente Juscelino Kubitschek, pediu a amigos que transmitissem felicitações a Geisel sobre o ato, que ele considerava o mais  importante praticado pela Revolução nos últimos 10 anos.

Com o passar do tempo e a falta de decisão na área nuclear, entre outros entraves, as obras da usina foram se arrastando. A parada mais recente de Angra III ocorreu em 2015. A unidade tem 62% das obras concluídas e sobrevive em compasso de espera.

Angra II  - a primeira usina do acordo com a Alemanha - está funcionando e gerando energia elétrica. A primeira usina - Angra I - comprada no final da década de 70, da Westinghouse, norte-americana, também está operando, informou a Eletronuclear.



Brasil e Rússia: acordo visa tecnologia de mineração subterrânea de urânio

Informações relevantes sobre as tecnologias de mineração subterrânea de urânio aplicadas na Rússia serão repassadas ao Brasil, além do processo de transição do atual método a céu aberto para o de  recuperação "in-situ" (no próprio local).

O negócio começou nesta terça-feira (19/6), com a assinatura de memorando entre os presidentes da U1 Group -subsidiária russa da Rosatom -, Visily Konstantinov, e da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Reinaldo Gonzaga, com a participação do diretor de Recursos Minerais da INB, Adauto Seixas.

O Brasil detém a sétima maior reserva de urânio do mundo. Segundo o Plano Nacional de Energia (PNE-2030), do Ministério das Minas e Energia, o país está em boa situação, "capaz de sustentar a geração doméstica a longo prazo, com uma produção anual de 400 toneladas de concentrado de urânio". Mas o PNE-2030 foi elaborado há 10 anos. E ainda hoje pouco se conhece sobre o real potencial brasileiro.

Atualmente, a INB está operando a mina do Engenho, no município de Caetité, na Bahia, a céu aberto. Já a mina subterrânea de Caetité, está parada há cerca de três anos, aguardando o licenciamento da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), para voltar a operar. Uma outra mina, a de Itataia, a 230 Km de Fortaleza (CE), também aguarda o licenciamento para operar. 

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