sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Energia nuclear em marcha lenta. Por Mário Moura.



Nunca é demais afirmar que sem energia elétrica um país não cresce e não se desenvolve. Não se pode conviver com riscos eventuais de falta de energia, em razão da falta de soluções para as demandas do setor energético brasileiro. O Brasil não pode parar por falta de energia. 

Em diferentes contextos presentes no nosso cotidiano, recorremos ao nosso critério o suprimento necessário. Por exemplo, não esperamos acabar o combustível do nosso carro para buscar um posto mais próximo. É claro que o entendimento de cada um acontece de acordo com as suas experiências vividas. Tanto assim, que alguns só abastecem o seu carro quando chega na reserva, enquanto outros, mais prudentes, procuram um posto ainda com meio tanque. 

No caso do suprimento de energia elétrica de um país não é diferente. Porém, é uma questão bem mais complicada, pois o critério adotado para garantir o suprimento é coletivo, e não individual. E a razão é simples: o sistema de distribuição de energia é compartilhado por todos os consumidores e geradores. E nesse caso, tempo e planejamento físico e financeiros são determinantes. E por conta da grande dependência das usinas hidroelétricas, o Brasil precisa dimensionar a capacidade dos reservatórios. 

Esgotado o sistema hidrelétrico Sul/Sudeste e diante da impossibilidade técnica, ambiental e econômica da transmissão da hidroeletricidade amazônica para os grandes centros consumidores, a alternativa segura que resta ao Brasil são as usinas nucleares, geradoras de grandes blocos de energia elétrica. Soma-se a isso o fato de que o Brasil possui grandes reservas de urânio, mineral estratégico usado na fabricação do combustível para geração de energia elétrica, via usinas nucleares. 

Enquanto no mundo cresce a utilização da energia elétrica produzida através da fonte nuclear, no Brasil o panorama é bem diferente. Mesmo possuindo uma das maiores reservas de urânio do mundo, caminha a passos de cágado na extração desse mineral estratégico.  Soma-se a isso, a falta de definição do Governo para dar andamento a conclusão de Angra 3 e pensar, enquanto há tempo, na possibilidade de construir outras usinas nucleares, se de fato o país busca o reencontrar-se com o caminho do crescimento. O Brasil não pode perder tempo. A tecnologia evolui a passos largos e, daqui a pouco, será melhor deixar o urânio onde está. 

O setor nuclear brasileiro tem dificuldades históricas para superar seus obstáculos. Falta ao setor, coragem para mostrar o papel que a tecnologia nuclear pode e deve desempenhar no processo de desenvolvimento do país. Não adianta falar para o próprio umbigo. Muito menos calar-se diante do discurso singelo e preconceituoso de quem simplesmente se opõe, sem conhecimento técnico, ao avanço da tecnologia nuclear no país. É bom lembrar que a geração de energia elétrica é apenas uma, das múltiplas aplicações da tecnologia nuclear, em vários campos da atividade humana. 

Gestores do setor atribuem ao demorado processo de licenciamento ambiental e técnico, o fato de o Brasil passar tantos anos, por exemplo, sem produzir urânio (a propósito, a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) acaba de conclui licitação para a compra de 650 toneladas de urânio na forma de UF6 (hexafluoreto de urânio). Reclamam os gestores da falta de investimento do Governo na conclusão de Angra 3. Mas até quando essas justificativas serão usadas por quem comanda uma fatia tão importante da matriz energético brasileira? É bem verdade que existem outros obstáculos graúdos a serem vencidos: parcela significativa do Congresso Nacional se opõe aos projetos do Governo Federal com foco nas privatizações e parcerias públicos privadas, fundamentais para o setor elétrico. Se o Executivo e o Legislativo continuarem caminhando em direções opostas, o setor energético brasileiro estará diante de mais uma década perdida. 

Com muito otimismo, podemos esperar que o Executivo e o Legislativo se entendam e garantam, pelo menos, a conclusão de Angra 3, que ao lado do enriquecimento do urânio, etapa mais nobre e sofisticada do ciclo do combustível nuclear, representa um marco na história da tecnologia nuclear no Brasil, que viveu nos anos 90 seu melhor momento. Angra 3 é a única fonte capaz de gerar grandes blocos de energia, em pequeno espaço físico ocupado. E o Brasil precisa tanto dessa energia. (Artigo - Mário Moura - Jornalista). 

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