Nunca é demais afirmar que sem energia elétrica um país não
cresce e não se desenvolve. Não se pode conviver com riscos eventuais
de falta de energia, em razão da falta de soluções para as demandas do setor
energético brasileiro. O Brasil não pode parar por falta de energia.
Em
diferentes contextos presentes no nosso cotidiano, recorremos ao nosso critério
o suprimento necessário. Por exemplo, não esperamos acabar o combustível do
nosso carro para buscar um posto mais próximo. É claro que o entendimento de
cada um acontece de acordo com as suas experiências vividas. Tanto assim, que
alguns só abastecem o seu carro quando chega na reserva, enquanto outros, mais
prudentes, procuram um posto ainda com meio tanque.
No caso do suprimento de
energia elétrica de um país não é diferente. Porém, é uma questão bem mais
complicada, pois o critério adotado para garantir o suprimento é coletivo, e
não individual. E a razão é simples: o sistema de distribuição de energia é
compartilhado por todos os consumidores e geradores. E nesse caso, tempo e
planejamento físico e financeiros são determinantes. E por conta da grande
dependência das usinas hidroelétricas, o Brasil precisa dimensionar a
capacidade dos reservatórios.
Esgotado o sistema hidrelétrico Sul/Sudeste e
diante da impossibilidade técnica, ambiental e econômica da transmissão da
hidroeletricidade amazônica para os grandes centros consumidores, a alternativa
segura que resta ao Brasil são as usinas nucleares, geradoras de grandes blocos
de energia elétrica. Soma-se a isso o fato de que o Brasil possui grandes
reservas de urânio, mineral estratégico usado na fabricação do combustível para
geração de energia elétrica, via usinas nucleares.
Enquanto no mundo cresce a
utilização da energia elétrica produzida através da fonte nuclear, no Brasil o
panorama é bem diferente. Mesmo possuindo uma das maiores reservas de urânio do
mundo, caminha a passos de cágado na extração desse mineral estratégico.
Soma-se a isso, a falta de definição do Governo para dar andamento a
conclusão de Angra 3 e pensar, enquanto há tempo, na possibilidade de construir
outras usinas nucleares, se de fato o país busca o reencontrar-se com o caminho
do crescimento. O Brasil não pode perder tempo. A tecnologia evolui a
passos largos e, daqui a pouco, será melhor deixar o urânio onde está.
O setor
nuclear brasileiro tem dificuldades históricas para superar seus
obstáculos. Falta ao setor, coragem para mostrar o papel que a tecnologia
nuclear pode e deve desempenhar no processo de desenvolvimento do país. Não
adianta falar para o próprio umbigo. Muito menos calar-se diante do
discurso singelo e preconceituoso de quem simplesmente se opõe, sem
conhecimento técnico, ao avanço da tecnologia nuclear no país. É bom lembrar
que a geração de energia elétrica é apenas uma, das múltiplas aplicações da
tecnologia nuclear, em vários campos da atividade humana.
Gestores do setor
atribuem ao demorado processo de licenciamento ambiental e técnico, o fato de o
Brasil passar tantos anos, por exemplo, sem produzir urânio (a propósito, a
estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) acaba de conclui licitação para a
compra de 650 toneladas de urânio na forma de UF6 (hexafluoreto de
urânio). Reclamam os gestores da falta de investimento do Governo na
conclusão de Angra 3. Mas até quando essas justificativas serão usadas por
quem comanda uma fatia tão importante da matriz energético brasileira? É bem verdade
que existem outros obstáculos graúdos a serem vencidos: parcela significativa
do Congresso Nacional se opõe aos projetos do Governo Federal com foco nas
privatizações e parcerias públicos privadas, fundamentais para o setor
elétrico. Se o Executivo e o Legislativo continuarem caminhando em direções
opostas, o setor energético brasileiro estará diante de mais uma década perdida.
Com muito otimismo, podemos esperar que o Executivo e o Legislativo se entendam
e garantam, pelo menos, a conclusão de Angra 3, que ao lado do enriquecimento
do urânio, etapa mais nobre e sofisticada do ciclo do combustível nuclear,
representa um marco na história da tecnologia nuclear no Brasil, que viveu nos
anos 90 seu melhor momento. Angra 3 é a única fonte capaz de gerar grandes
blocos de energia, em pequeno espaço físico ocupado. E o Brasil precisa
tanto dessa energia. (Artigo - Mário Moura - Jornalista).
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