terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Primeiro exercício simulado em Caldas, para caso de acidente em barragem e mina de urânio desativada




A partir das 9 horas desta quarta-feira (18/12), a população que mora no caminho da “Lama de Inundação”, no município mineiro de Caldas, será a primeira a ser testada por um exercício simulado externo de emergência, no entorno da Barragem de Rejeitos, da primeira mina de urânio (material radioativo) a entrar em operação no Brasil, em 1982, de propriedade da Indústrias Nucleares do Brasil (INB). As atividades de mineração da mina foram encerradas em 1995, mas a sua história está cercada de denúncias de contaminação do meio ambiente, entre outras.

Uma simulação interna, para empregados foi realizada no início do mês, mas alguns disseram que não ouviram a sirene no local onde estavam. Disserem também que estavam sem carros para deslocamento até o ponto estabelecido para a fuga. “Fomos acionados pelo rádio até o resgate pela ambulância. “Se a barragem tivesse estourado, teríamos que fazer o contato psicografado”, ironizaram. Nesta quarta-feira, sirenes serão acionadas para os moradores de Caldas. O município tem população de cerca de 20 mil pessoas, mas problemas graves na barragem podem afetar outras 30 mil de Andradas e mais 160 mil de Poços de Caldas. 

O Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal (MPF) já entraram no caso desde novembro, quando foi assinado com a INB o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que dispõe sobre as medidas emergenciais a serem realizadas pela empresa. Entre as medidas está a implantação do “Plano de Segurança da Barragem (PSB) e do Plano de Ação de Emergência de Barragem de Mineração (PAEBM) da Barragem de Rejeitos da Unidade em Descomissionamento de Caldas”. 

TAC tem uma série de exigências e caso haja descumprimento, a INB pagará importantes multas. “As instalações, o solo, as águas e os equipamentos da antiga mineração são permanentemente monitorados, de modo a proteger o meio ambiente e assegurar a saúde dos trabalhadores da unidade e dos moradores da região”, assegura a INB. Embora a empresa afirme estar agilizando as medidas para a solução do problema herdado, as denúncias de contaminação do meio ambiente continuam. 

Funcionários contaram que após as exigências do MPF, a INB realizou obras para a colocação de tubulação em local onde havia infiltração - conforme o blog mostrou recentemente - desviando a água contaminada para a barragem de tratamento, que chega ao meio ambiente. O problema pode ser visto: efluente da infiltração caindo constante para o local de tratamento. 

SIMULADO - 

Todos os órgãos que atuariam numa situação real vão participar do treinamento que será supervisionado pelo Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro (Sipron), que pertence ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI). “O objetivo é orientar quem mora no caminho da “Lama de Inundação” a uma distância de até 10 quilômetros – área denominada Zona de Autossalvamento (ZAS) - sobre como agir em uma situação de emergência”, informou a empresa. 

Um carro de som será utilizado para avisar os moradores e pessoas que estejam passando pelo local sobre o início do treinamento, marcado para 9 horas. Durante o exercício serão avaliados o tempo e as ações de resposta dos órgãos que atuam no Plano de Emergência.  

O simulado terá a participação, em nível nacional, da Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral (SGM) do Ministério de Minas e Energia, da Agência Nacional de Mineração – ANM, do Ministério da Saúde, do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres – CENAD do Ministério do Desenvolvimento Regional, da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil - SEDEC e da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN. Na esfera estadual,  representantes do Gabinete do Defensor Regional de Direitos Humanos de Minas Gerais – GABDRDH MG. Prefeituras também participam.  

BARRAGEM - 

A Barragem de Rejeitos foi construída no início da década de 80, após a realização de mapeamento geológico na área escolhida. “O local é constituído de rochas argilosas, impermeáveis, ambiente este que impede percolações importantes de efluentes líquidos, em direção às águas subterrâneas naturais. É importante ressaltar que a barragem não é feita com os rejeitos da mineração”, informa a INB.  

No local, são realizadas inspeções de rotina. Foi em uma destas inspeções, em agosto de 2018, que a INB identificou que a água na saída do extravasor estava turva.  A empresa afirma que todas as medidas foram tomadas. O caso levou a assinatura do TAC, que exigiu, entre outras coisas, a realização do exercício simulado, o primeiro desde a década de 80.

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