quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Usinas nucleares no Nordeste: "Sertanejos precisam abrir os olhos", diz padre da Provida


A Associação dos Promotores da Cultura e Cidadania (Provida), em Pernambuco (PE), é uma das entidades sem fins lucrativos, que se manifesta contra a instalação de usinas nucleares no Nordeste, conforme objetiva o Plano Nacional de Energia 2030, do governo federal. Em entrevista ao Blog, o coordenador da Pastoral Social da Diocese de Floresta/PE, fundador da Provida, padre Luciano Pereira Aguiar, afirma que a pretensão de construir quatro ou seis usinas, não será benéfica para a Região: “Nós temos muito sol, vento e outras fontes para a produção de energia limpa”, diz o padre. 

Ele critica a intenção do governo, que esbarra na forte convicção dos pernambucanos contrários à implantação de usina atômica em Itacuruba, às margens do “Velho Chico”, no sertão nordestino. “Sabemos que o governo federal estuda uma proposta até dezembro. Nada se fala sobre segurança para a população, mas sim em geração de emprego. Não precisamos ir longe, basta lembrarmos em que tipo de segurança foi dada à população de Brumadinho”, questiona. 

Cerca de 100 entidades estão se movimentando contra a intenção de construção das usinas atômicas e, em sintonia com a Provida, realizaram manifestação em junho, enviando carta de protesto ao governo pernambucano. Segundo as entidades, desde que esta hipótese surgiu, há cerca de 10 anos, o povo da região vem construindo uma resistência ao lobby nuclear, inspirada na valorização de uma cultura de paz. “Os pernambucanos querem viver livres do perigo que a energia atômica representa para o meio ambiente, para a segurança hídrica do vale do São Francisco, para a Vida na Terra”, afirmam as organizações.

O coordenador da Pastoral informa que a Provida trabalha pela defesa da vida. “Lutamos contra tudo que promove sinais de morte. Com diálogos estamos promovendo debates em torno dessa temática. Somos responsáveis pela escola cidadania da diocese de Floresta, onde o tema faz parte da pauta de curso da escola”.   E completou: “Os sertanejos precisam abrir os olhos e lutar contra a implementação desse empreendimento. Por isso, continuaremos ajudando na conscientização e organização de toda caminhada antinuclear”. 

PROVIDA - A Associação dos Promotores da Cultura e Cidadania (Provida) foi criada em 28 de fevereiro de 2014. Sem fins lucrativos, atua junto a comunidades indígenas, quilombolas, assentamentos, comunidades rurais e urbanas. Foi fundada por Padre Luciano Pereira Aguiar, na época, pároco de Inajá - PE, hoje coordenador da Pastoral Social da diocese de Floresta/PE. A Provida possui parcerias junto às comunidades indígenas Kambiwá, que será contemplada com o Sisteminha Embrapa (Pankararú, Tuxá Campos, e comunidades quilombolas). Busca viabilizar hortas comunitárias e o desenvolvimento via a sustentabilidade no âmbito social, cultural e econômico, possibilitando a geração de renda. 

Atualmente elabora e executa projetos em diversas cidades no sertão de Itaparica, Moxotó e Sertão Central, em parcerias com: prefeituras, secretarias, escritórios de advocacias, conselhos de direito, conselhos de direitos humanos, Polícia Federal, Ministério Público, Centro Cardeal Lavigerie de estudos e pesquisas para o diálogo inter-religioso e intercultural da Universidade Católica de Salvador/BA, EMBRAPA Semiárido, Instituto Agronômico de Pernambuco, Sociedade Missionária da África, amigos italianos, Diocese de Floresta/PE, Caritas NE ll, CNBB, Pastoral da Saúde, entre outras. 

Possui projetos como o LUZ E VIDA que abrange aproximadamente 100 adolescentes entre as cidades de Petrolândia/PE, Floresta PE e Belém de São Francisco/PE (Ibó-PE) com perspectivas de alcançar outras cidades a partir do próximo ano. Tem hoje filial em Petrolândia e Salgueiro (PE), iniciando também, projetos de inclusão social em parceria com a Prefeitura Municipal de Salgueiro, Secretaria de Desenvolvimento Social, entre outros. 

A Provida faz parte de um projeto pioneiro no Brasil chamado: Princesa Tamar, que tem como objetivo principal a prevenção ao abuso e a partir daí possibilita orientar, acolher e proteger as vítimas acometidas. Também se dedica às suas atividades por meio da execução direta de projetos, programas ou planos de ação, mantidos por meio de doações de recursos físicos, humanos e financeiros, como também através da prestação de serviços intermediários de apoio a outras organizações sem fins lucrativos e a órgãos do setor público que atuam em áreas afins, em conformidade com a Lei 9.790/99, parágrafo único do art. 3º, que rege as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público. 

Busca ainda promover a inclusão social por meio de atividades que complementem a rotina das famílias. No momento, está buscando, através de palestras e oficinas, a criação de espaço voltado para o desenvolvimento social, com a colaboração de profissionais: desde educadores sociais, psicólogo, advogado, assistente social, religiosos, pedagogos, psicopedagogo, técnico agrícolas, jornalista, enfermeiros, professores e Músicos. 

A Provida abrange os seguintes municípios: Floresta, Petrolândia, Inajá, Belém do São Francisco e Salgueiro (PE). Está na organização contra a instalação das usinas nucleares. “Os sertanejos precisam abrir os olhos e lutar contra a implantação desse empreendimento”, assegura seu fundador.

PERFIL - Nascido em Paulo Afonso, na Bahia, em 1970, o padre Luciano pereira Aguiar, estudou na Universidade de Brasília; Pontifícia Universidade Católica (PUC), de Porto Alegre; e em João Pessoa. Ordenado padre 2006, no mesmo ano foi coordenador da juventude da diocese até 2009. Dois anos antes fundou o Movimento Pé e Fé na Caminhada. 

Também foi Vigário paroquial de Floresta de 2008 a 2010; e de Inajá, de 2011 a 2017. E ainda responsável espiritualmente da pastoral da criança; representante dos padres da diocese de Floresta a nível de Brasil; e das pastorais sociais da diocese de Floresta de 2017, até hoje. Em 2018, organizou o Fórum das Águas em Defesa do Rio São Francisco, contra a privatização da Chesf. É ligado a Teologia da Libertação.

4 comentários:

  1. A construção de usinas no Nordeste tem de ser devidamente pensado e repensado. Por mais seguras que essas usinas sejam há sempre um risco com consequências terríveis. A energia eólica jâ demonstrou sua eficácia exatamente no Nordeste e a um custo de implantação muitíssimo mais barato. Como é um projeto de governo já praticamente decido que se façam as usinas longe de povoados. Tânia é uma especialista que vem alertando para o problema da energia nuclear e do armazenamento do lixo que gera, outro sério problema. Parabéns, Tânia pela lúcida entrevista dada à TV ALERJ.

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    1. Obrigada por comentar. Obrigada pelo incentivo ao nosso trabalho. Abs

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