Ele
atuou como Chefe Executivo da Eletronuclear no Nordeste, com a missão de
desenvolver sítios e promover a Energia Nuclear no Nordeste e no Brasil, participando
de missões internacionais, nos Estados Unidos, França e Argentina. Integrante
da Academia Pernambucana de Engenharia, o professor Carlos Henrique da Costa
Mariz, gerenciou os estudos de implantação da Usina Nuclear do Nordeste, no
âmbito do Programa Nuclear da Alemanha, assinado em 27 de junho de 1975, que
não foi adiante. Aqui, Carlos Mariz opina sobre a trajetória da questão nuclear
brasileira, e a atual gestão que poderá resultar em usinas nucleares na
Região Nordeste. Eis a entrevista:
BLOG:
O Brasil busca parceiros internacionais para concluir a usina nuclear Angra 3.
O que o senhor sabe sobre isso?
CARLOS MARIZ: Muito provavelmente através de uma
licitação a ser realizada, para a conclusão da construção de Angra 3, se tornando
sócias do empreendimento.
BLOG: O Brasil planeja construir seis usinas
nucleares no Nordeste. O que há de concreto sobre a intenção?
CARLOS MARIZ: Para
saber o número exato de usinas que o Brasil pretende construir é
necessário aguardar, ainda, a publicação do Plano Nacional de Energia 2050
que o Ministério de Minas e Energia estará concluindo até o final do ano.
Sabe-se, entretanto, que o Programa Nuclear estará sendo reativado e que
teremos usinas nucleares, pós Angra 3, tanto no Nordeste quanto no Sudeste. Os
sítios nucleares pré-escolhidos no Brasil, em estudos conduzidos pela
Eletronuclear com participação da COPPE/UFRJ, comportam a possibilidade de
construção de no mínimo 6 usinas nucleares.
BLOG: O acordo nuclear com a
Alemanha, em 1975, vislumbrava oito usinas. Desse acordo, apenas Angra 2 saiu
do papel e Angra 3, se arrasta há décadas. Esse plano de seis usinas no
Nordeste tem chances de concretização? Não remete a intenção das oito usinas há
40 anos?
CARLOS MARIZ: Se o programa do acordo nuclear com a Alemanha tivesse
sido realizado, ou pelo menos 50% dele, o Brasil seria hoje um país muito mais
desenvolvido. A falta que a não construção dessas usinas fizeram ao nosso
país é impressionante.
BLOG: Como assim?
CARLOS MARIZ: Basta fazer o seguinte
raciocínio: não teríamos tido o apagão de 2001 e muito menos essa sucessão de
térmicas consumindo óleo combustível, a preços absurdamente altos, que perduram
e vão continuar perdurando, ainda por um bom tempo. São bilhões e bilhões de
reais sendo queimados continuamente, onerando nossa tarifa e a balança de
pagamentos do país além de poluir nosso meio ambiente. A Coreia do
Sul, iniciou seu programa nuclear exatamente na mesma época que iniciamos o
nosso com Angra I. Eles não pararam e fizeram 25 usinas nucleares, nesse
período. Veja quem é a Coreia do Sul hoje! Espero que o Brasil tenha tomado
consciência disto e não venha repetir, de novo, tamanho erro para o futuro. Energia
elétrica segura, em abundancia e barata é a base para o desenvolvimento e a
geração de empregos de um país ou região. O Brasil e particularmente o Nordeste
precisa da geração nuclear.
BLOG: Por que o Nordeste precisa de seis usinas?
CARLOS
MARIZ: Se observarmos o programa energético chinês, base para o continuado e
elevado crescimento econômico desse país, vamos verificar a importância da
energia como força propulsora do crescimento, sobretudo energia de qualidade,
continua e de grande fator de capacidade anual. A energia de base. Quanto
mais dotarmos o Nordeste com energia mais resposta teremos em seu
desenvolvimento. Assim foi com Paulo Afonso e Boa Esperança e assim esperamos
que venha a ser com as novas usinas nucleares.
BLOG: Quais os estados ou locais
já escolhidos e por quê?
CARLOS MARIZ: A
escolha de sítios nucleares no Brasil seguiu a metodologia do EPRI (Electric
Power Research Institute ), na Califórnia, EUA,, através da utilização dos
critérios de seleção do EPRI SITE GUIDE. Sem entrar em detalhes, é necessário
que um sítio satisfaça um conjunto de condicionantes tipo: disponibilidade de
água, solos, topografia, distância mínima de populações, áreas de preservação
ambiental, possibilidades de terremotos, etc. A aplicação dessa metodologia,
indicou áreas as margens do rio São Francisco nos estados de Pernambuco, Bahia,
Sergipe e Alagoas, no Nordeste.
BLOG: Quais as vantagens e os benefícios para
cada uma das regiões?
CARLOS MARIZ: A primeira vantagem evidente é a
disponibilidade de energia de base contínua, limpa e a potência constante e ou
pré-definida, sem intermitências e sem dependência do clima. As demais
vantagens virão dos impactos na geração de empregos e no aumento da renda média
dos salários, na construção de benfeitorias, nos royalties oriundos da venda de
energia, etc.
BLOG: Como será a disponibilidade de recursos? Quanto vai custar?
E infraestrutura para receber as instalações?
CARLOS MARIZ: Muito provavelmente
os recursos serão originários de um mix de empresas privadas, linhas de
financiamento internacionais, basicamente, mas poderá haver alguma
participação do governo em termos de incentivos. Uma usina nuclear moderna,
geração III+, de 1100 MW, pode custar, aproximadamente, US$ 7 bilhões.
BLOG: Como
está a negociação do governo federal com os Estados?
CARLOS MARIZ: Não faço
parte do governo, mas pelo que posso avaliar ainda não está havendo
negociações.
BLOG: A questão da segurança para a população está sendo avaliada?
CARLOS MARIZ: Hoje a responsabilidade pela aprovação e acompanhamento da
segurança nuclear está afeta a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), a
quem cabe fiscalizar e aprovar projetos nessa área.
BLOG: De que forma o
Governo administra as manifestações populares contra as usinas?
CARLOS MARIZ: Aqui
em Pernambuco – onde o estágio da discussão sobre a possibilidade de construção
de usinas nucleares está mais avançado - as manifestações populares se dão com elevado
grau de desinformação. Tem-se aí uma grande oportunidade para que o governo
explore o conteúdo dessas manifestações e a partir daí possa formular
estratégias e mecanismos de ação afim de bem informar a população.
BLOG: Já se
estuda os locais para armazenar os rejeitos produzidos pelas usinas? Onde?
Quanto vai custar? Quem vai pagar?
CARLOS MARIZ: Sobre os rejeitos nucleares,
sempre é possível encontrar soluções para o seu armazenamento. Esse assunto
deverá ser estudado, em detalhes, na fase de desenvolvimento do projeto da
central nuclear e dependerá da sua localização.
BLOG: O Senhor participou do “ Fórum Internacional
de Renováveis versus nuclear”, no dia 4 de julho, em Pernambuco. Poderia fazer
um balanço do evento?
CARLOS MARIZ: A minha palestra se baseou em algumas
pilastras: A primeira diz respeito a relação entre energia elétrica e
desenvolvimento sócio econômico; a segunda, na matriz de energia elétrica e sua
concepção a partir da necessidade de segurança energética, custos e impactos
ambientais; a terceira, sobre a energia nuclear, suas principais
características a nível nacional e internacional; e por último os estudos
realizados até o presente para a implantação de energia nuclear no Nordeste do
Brasil. P
PERFIL:
Engenheiro Eletricista formado pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), cursou especialização em Engenharia de Automática na Escola Nacional
de Engenharia da Universidade de Toulouse – França. Master of Sciences – MSc em
Engenharia de Sistemas COPPE/UFRJ, lecionou, por muitos anos, as disciplinas de
Princípios de Controle e Servomecanismos, Planejamento Energético e Produção de
Energia Elétrica no Departamento de Engenharia Elétrica da UFPE. Coordenou a
implantação, desenvolveu e gerenciou a área de Planejamento Energético e
Sistema de Geração da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF), onde
atuou como Chefe da Divisão de Estudos Energéticos, Chefe do Departamento de
Estudos do Sistema de Geração, Adjunto do Diretor de Engenharia e Adjunto da
Presidência.
Ele também gerenciou os estudos de implantação da Usina Nuclear do
Nordeste, no âmbito do Programa Nuclear da Alemanha e representante da CHESF no
GCPS – Grupo de Planejamento do Setor Elétrico Brasileiro – Eletrobrás. Representou
a CHESF no Congresso Mundial de Energia, no CIER – Comitê de Integração
Elétrica Regional da América do Sul e no CEIVASF – Comitê de Estudos Integrados
da Bacia do Rio São Francisco, realizou, estudos relativos ao uso múltiplo do
Rio São Francisco.
Em seguida, atuou como Diretor de Energia do Governo do
Estado de Pernambuco, coordenando a implantação do primeiro Aerogerador do
Brasil, na ilha de Fernando de Noronha, dando início a geração eólica no país. Posteriormente
como Diretor e sócio majoritário da SER –Sistemas Energéticos Regionais
realizou trabalhos para CELPE, SAELPA, Hospital Português, CHESF, PROMOM
Engenharia, ABB –Asea Brown Boveri, – FGV –SP – Fundação Getúlio Vargas de São
Paulo, por exemplo. Junto a PROMON Engenharia trabalhou, no desenvolvimento das
usinas termelétricas a Gás de Suape. E junto a ASEA Brown Boveri, a realização
de estudos de transmissão para o parque eólico de Touros em Natal.
Atuou ainda
como chefe executivo da Eletronuclear no Nordeste, com a missão de desenvolver sítios
e promover a Energia Nuclear no Nordeste e no Brasil tendo, inclusive, participado
de missões internacionais, nos Estados Unidos, França e Argentina. Atualmente é
consultor de energia, dirigindo a MIX Energia, em áreas de interesse como
Hidroeletricidade, Energia Térmica, Nuclear e energia Renováveis. Atua ainda na
Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, no desenvolvimento de sistemas de
produção independentes de energia, para suprimento a consumidores, usando
tecnologia Solar-fotovoltaica e sistemas de dessalinização de agua. Pertence a Academia
Pernambucana de Engenharia.
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