sexta-feira, 16 de junho de 2023

Presidente do STF, Rosa Weber, vota contra o cancerígeno amianto

 


A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, divergiu do ministro Alexandre de Moraes, que na semana passada concedeu mais um ano de sobrevida para a indústria do amianto, a Sama, do Grupo Eternit, no Estado de Goiás, explorar o cancerígeno amianto, que já havia sito banido de todo o território nacional. 
A ministra adiantou seu voto divergente considerando a proximidade de sua aposentadoria, pois em sua opinião, o mais importante é a “preservação do direito à saúde, e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”. 

Em sua decisão, na semana passada, o ministro contradisse decisões do colegiado do STF, proibindo a exploração do mineral, nocivo à saúde e vida de brasileiros. O amianto, conhecido como fibra assassina, já foi considerado pelo Senado francês “a catástrofe sanitária do século XX”, lembrou a auditora fiscal e fundadora da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABEA), Fernanda Giannasi.  Ela alertou que o amianto já produziu a morte de milhares de pessoas no Brasil e no mundo.  

Rosa Weber demonstra "inequivocamente que quer liquidar a fatura do amianto em definitivo antes de se aposentar”, comentou Giannasi, uma das mais respeitadas e reconhecidas ativistas contra o amianto no Brasil e no mundo. Esta luta lhe conferiu o Prêmio “Faz a Diferença” de O Globo, em 2017, entre outros, na Europa. 

TRAGÉDIA EM OSASCO - 

O caso do amianto é tão grave que no final do ano passado a Prefeitura de Osasco, em São Paulo, por meio da Secretaria de Emprego, Trabalho e Renda (SETRE), em parceria com a ABREA, inaugurou um memorial em homenagem às vítimas do cancerígeno amianto. Delegações nacionais e internacionais participaram do evento. O memorial tem um painel com o nome de mais de 600 pessoas que morreram em virtude da exposição ao amianto. Composto pela obra do artista brasilense W. Hermusch, o memorial tem uma escultura chamada “Árvore-Pulmão”, que materializa metaforicamente a luta pela vida de milhares de vítimas do mineral cancerígeno, que no final da vida não conseguem mais respirar em virtude das doenças provocadas pela fibra mortal.

“Nesta tragédia do amianto, os obreiros entregavam inocentemente o seu cotidiano ao trabalho, que acreditavam estar garantindo o seu sustento e de suas famílias e, por conseguinte, a vida. A cada dia, entretanto, estavam sendo lentamente envenenados. Esta contradição cruel é o que a Árvore-Pulmão expressa”, lembrou Hermusch. 

LEGADO DE CONTAMINAÇÃO - 

O Memorial foi instalado na Praça Expedicionário Mario Buratti, nas proximidades de onde se situava a Eternit, a maior das unidades da multinacional suíça nas Américas, conhecida produtora de telhas, tubulações, caixas d'água e outros artefatos de cimento-amianto, e que permaneceu na cidade por 56 anos, entre 1937 a 1993, deixando para trás um enorme passivo socioambiental, um legado de contaminação e morte, como fez em vários países, principalmente Itália e Bélgica. 

“É uma tristeza sermos conhecidos como a capital nacional das vítimas do amianto, e em nada este memorial repara a perda dessas vidas, mas nossa intenção é eternizar seus nomes num espaço público para que sirvam de exemplo e que suas famílias saibam que reconhecemos a luta. Quem sai de casa todo dia em busca do sustento do lar, e morre em função do trabalho que desempenha, é um verdadeiro herói, e nada mais justo que haja um memorial em homenagem a isso”, lamentou Gelso Lima, Secretário de Emprego, Trabalho e Renda. 

Para o presidente da ABREA, Eliezer João de Souza, o Memorial visa manter viva a memória destas vítimas inocentes e representa um símbolo de resistência e luta contra o mineral que mata milhares de pessoas anualmente, não só no Brasil como em todo o mundo. “'É mais um momento histórico na luta contra o amianto, contra empresas, contra o capital, que visam apenas o lucro em detrimento da saúde e vida de seus trabalhadores. O Memorial é uma homenagem aos que se contaminaram com a fibra assassina e um alerta para as futuras gerações, para que possam evitar que tragédias como essa não se repitam. Essa catástrofe sanitária do século XX não pode se repetir”, finalizou. 

FOTO: ROSA WEBER – DIVULGAÇÂO – STF - 

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