Obras de artistas consagrados como Carmela Gross, Siron Franco, Claudio Tozzi, Leda Catunda, entre outros, acabam de passar pelo processo de desinfeção por ionização gama do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN). A tecnologia, que consiste no uso de Cobalto-60, material radioativo, para descontaminar acervos e bens culturais de forma rápida e segura, tem sido cada vez mais utilizada mundialmente, e o IPEN é pioneiro na pesquisa e no desenvolvimento dessa área, no Brasil. As obras irradiadas pertencem ao acervo da Fundação Padre Anchieta – TV Cultura. De acordo com Lígia da Silva Farias, gerente de Documentação, elas haviam sido retiradas a fim de evitar a contaminação de outras peças.
A obra desta matéria é "Expansões Orgânicas", de Claudio Tozzi.
"O tratamento por irradiação possibilitará, incialmente, que sejam colocadas de volta na Reserva Técnica e, em um futuro próximo, integrem exposições ou eventos destinados ao público, cenários de programas da própria TV, garantindo o cumprimento da missão institucional da FPA”, anunciou. No IPEN, esse trabalho é desenvolvido no Irradiador Multipropósito de Cobalto-60, coordenado pelo pesquisador Pablo Vasquez, do Centro de Tecnologia das Radiações (CETER).
Ele conta que esse trabalho é realizado em colaboração principalmente com instituições públicas. A Biblioteca Mario de Andrade, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), o Museu Afro Brasil, do Instituto Lina Bo & Prieto Maria Bardi, foram algumas das beneficiadas, além de diversos acervos da Universidade de São Paulo (USP).
No caso da FPA-TV Cultura, 78 obras, cerca de 30 metros cúbicos passaram pelo processo, que levou apenas quatro dias (precisamente 32 horas), um trabalho que levaria meses para ser concluído em processo químico, com a vantagem de que o material poder ser manuseado tranquilamente, sem risco para o usuário e sem a necessidade de "quarentena", informou Vasquez. Outro benefício da técnica de irradiação, segundo ele, é que, dependendo da característica das obras, elas podem ser processadas dentro das caixas utilizadas como embalagem para transporte, evitando assim possíveis acidentes na sua movimentação.
PROCESSO SEGURO -
Vasquez garante que o procedimento é seguro. A explicação é simples: a radiação gama proveniente do Cobalto-60 não possui energia suficiente para desestabilizar o núcleo do átomo, ou seja, é uma radiação cuja energia está abaixo do limiar de ativação da maior parte dos elementos, diferentemente do que ocorre, por exemplo, no bombardeamento por nêutrons no interior de um reator nuclear, que pode deixar traços de radioatividade no material.
Segundo ele, a dose absorvida pelos produtos é o parâmetro fundamental a ser controlado. No caso de livros, por exemplo, geralmente, é utilizada dose muito baixa, mas suficiente para eliminar qualquer tipo de insetos como traças, cupins e outros microrganismos que causam danos. Para outras obras, os pesquisadores estudam as condições do objeto a ser irradiado (propriedades, dimensões, estado etc.) para definir a dose e o tempo de permanência na câmara de Cobalto-60. "Para cada benefício desejado, decide-se a dose mínima e a dose máxima aplicável ao produto, e a viabilidade de aplicação no irradiador. Toda obra ou produto que chega ao IPEN para ser desinfestado é devidamente embalado e não tem contato com material radiativo”, explica Vasquez.
O pesquisador ressalta a importância de transferir tecnologia e divulgar o procedimento para a sociedade, principalmente porque as instituições governamentais – acervos públicos – podem usufruir da colaboração com o IPEN de forma gratuita. "A excelência do trabalho realizado pelo IPEN e seu impacto na preservação do patrimônio cultural brasileiro e nas outras áreas de atuação é motivo de orgulho de todos. Sua manutenção deve ser apoiada por toda a sociedade, que se beneficia direta ou indiretamente das ações aí realizadas”, afirmou Lígia Farias.
SOBRE O IRRADIADOR -
O Irradiador Multipropósito de Cobalto-60 com tecnologia 100% nacional, desenvolvido e implantado pela equipe técnica do CETER, está em operação há quase 20 anos. Foi idealizado para o desenvolvimento de novas aplicações utilizando a radiação ionizante gerada por fontes de Cobalto 60, dentre elas a redução da carga microbiana ou no combate a pragas em alimentos, a esterilização de produtos médicos-descartáveis e farmacêuticos, como os geradores de tecnécio-99m processados no Centro de Radiofarmácia do IPEN, e a indução de cor em pedras e gemas preciosas.
FONTE E FOTOS: IPEN –
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