quarta-feira, 29 de março de 2023

"Armadilha", parte do processo de enriquecimento de urânio, apresenta problemas em Resende (RJ)

 


Armadilha. Este é o equipamento que se rompeu na Unidade de Enriquecimento de urânio da Fábrica de Elementos Combustíveis (FEC), da Indústria Nucleares do Brasil (INB), em Rezende (RJ), há cerca de um mês, ocasionando o vazamento do ácido, conhecido como HF, resultado da reação do UF6 (urânio em forma de gás) com a umidade do ar. A armadilha é de aço e tem 45 centímetros por 10 centímetros de diâmetro. O equipamento é usado para purgar, recolher os subprodutos do processo do enriquecimento de urânio realizado nas ultracentrífugas. Não houve vazamento de nenhum produto para o meio ambiente. O problema ficou restrito ao local, e tem sido contornado. 

Segundo fontes, nos últimos dias foram 15 armadilhas com defeito, e a situação exige cautela. Por isso, um grupo de técnicos da companhia faz um alerta. “Descrevemos uma situação que a utilização de um recipiente inadequado para o armazenamento de material residual do processo de enriquecimento, resultou em uma série de incidentes; A situação apresentada é preocupante e exige uma solução imediata”, alertaram.

Segundo eles, existe um agravamento do problema, culminando neste último evento ocorrido no início de março, onde não havia sequer um limite de enchimento estabelecimento de resíduos pra cada armadilha. Há denúncias de que dado o número de armadilhas com problemas ter aumentado, mesmo assim, ainda não há um plano para a limpeza dos equipamentos. Nesse caso, a medida tomada foi a seguinte: para aliviar a pressão interna das armadilhas, foi usado um processo de despressurização, um sistema próprio de lavagem dos gases.

De acordo com a denúncia enviada ao blog, a Fábrica é segura, mas “persistindo a negligência pode se colocar tudo a perder”. Eles alertam que nas primeiras inspeções, o responsável pela vistoria usava jaleco comum de trabalho, embora atualmente, seja necessária a utilização de roupa nível A, máscara P3 panorâmica dado o avanço dos problemas envolvendo o aumento de vazamentos. As armadilhas precisam ser trocadas. A Unidade da INB está localizada na Rodovia Presidente Dutra Km 330 – Engenheiro Passos – Resende, considerado Lar do Parque Nacional do Itatiaia, no Sudoeste do Estado, com cerca de 133.244 habitantes.

PRODUÇÃO COMPROMETIDA - 

A unidade vem enfrentando outros problemas. Em 2021, por exemplo, a produção de urânio enriquecido sofreu impactos negativos devido a “problemas operacionais inopinados”, seguidos da suspensão temporária das atividades envolvendo material nuclear, “em função do afastamento dos supervisores de radioproteção de suas funções laborais decorrentes da covid-19”. As informações estão registradas em relatórios da INB, de 2020. Em 2019, a produção foi comprometida, principalmente pela “forte chuva, atípica para a região, que ocorreu em dezembro de 2018, danificando grande quantidade de UC (cascatas de ultracentrífugas, máquinas para enriquecer urânio). 

Em 2020, a Usina alcançou uma produção de 5.684 Kg de UF6 enriquecido a 4,25% de Urânio 235. Segundo o documento, “um esperado incremento de produção, proporcionalmente ao avanço da implantação da usina, não tem sido observado”. E mais: “A necessidade de ajustes nas cascatas (compostas por ultracentrífugas), problemas técnicos ou fatores extrínsecos têm impedido o referido incremento, conforme o cenário da produção dos últimos cinco anos”. 

A transformação do urânio enriquecido em elemento combustível para as usinas Angra 1 e Angra 2, em funcionamento, passa por outros processos na Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), da INB, no mesmo local. Sua implantação foi planejada para alcançar, por etapas, a demanda nacional. Foi projetada por módulos, formando edificações com sistemas de infraestrutura industrial, com cascatas de ultracentrífugas (UC). A 10ª cascata de ultracentrífugas da Usina de Enriquecimento foi inaugurada em novembro de 2022. 

A HISTÓRIA - 

A tecnologia de enriquecimento do urânio pelo processo da ultracentrifugação foi desenvolvida no Brasil, na década de 80, secretamente, pelo Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), em parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN /CNEN). O projeto chamava-se programa paralelo (militar), depois, foi batizado de “autônimo”.  O Brasil estava dominando o ciclo do combustível, do qual poucos países faziam parte. Hoje, de acordo com a World Nuclear Association, o Brasil faz parte de um seleto grupo de 13 países reconhecidos internacionalmente pelo setor nuclear como detentores de instalações para enriquecimento de urânio com diferentes capacidades industriais de produção. 

A implantação da Usina de Enriquecimento foi iniciada em 2000, em Resende. Lá, em 2006, foi inaugurada a 1ª cascata de ultracentrífugas. A implantação da Usina de Enriquecimento está sendo realizada, de forma modular, em duas fases. A segunda será composta por trinta cascatas. O projeto para a implantação da 2ª fase, denominada Usina Comercial de Enriquecimento de Urânio (UCEU) já foi iniciado com o projeto básico, que se encontra em elaboração, e com a solicitação de licenças aos órgãos de fiscalização: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). 

Quando a implantação da Usina estiver concluída, o Brasil passará, segundo as informações oficiais, à condição de autossuficiência de enriquecimento de urânio. A previsão é que, até 2033, a INB seja capaz de atender, com produção totalmente nacional, as necessidades das usinas nucleares de Angra 1 e 2 e, até 2037, a demanda de Angra 3, prevista para ser inaugurada em 2027, já adiada para 2028. O tempo dirá. 

FOTO: Registro do local onde funcionam as armadilhas. 

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