O projeto de construção do primeiro Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) estava cotado para sair do papel desde a posse do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, até porque o vice, Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), foi quem desapropriou e cedeu o terreno para o empreendimento do RMB, em Iperó, São Paulo, durante os cargos de comando que exerceu no Estado. Esta semana, em visita à Argentina, com o presidente Lula, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, anunciou que vai avançar na construção do RMB, que tem o objetivo de garantir a autonomia do país na produção de radioisótopos para uso na medicina e para apoiar pesquisas científicas na área nuclear.
Para 2023 e 2024, estão previstos investimentos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) para o empreendimento, incluindo a contratação de empresa argentina para a elaboração do projeto detalhado da planta de processamento de radioisótopos. Segundo a ministra, as relações bilaterais com a Argentina serão, a partir de agora, intensificadas, com a retomada de projetos que foram paralisados. “A agenda mais importante de cooperação científica na América Latina é com a Argentina. É uma agenda muito diversa, que vai desde as parcerias no Reator Multipropósito até a formação de especialistas no âmbito do Cabbio (Centro Latino Americano de Biotecnologia).
O engenheiro civil, mestre em engenharia nuclear e doutor em tecnologia nuclear, José Augusto Perrotta, que até recentemente coordenou o empreendimento, como assessor da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), responsável pelo RMB, conversou com o blog recentemente. Segundo ele, várias fases do projeto do RMB estão concluídas, como a do desenvolvimento e fornecimento de combustível nuclear (urânio enriquecido). O RMB, afirmou, não servirá apenas para a produção de radioisótopos, matéria-prima para a elaboração de radiofármacos (medicamentos com radiação usados no diagnóstico e tratamento contra o câncer).
“É engano as pessoas pensarem que o empreendimento RMB é apenas um reator para produzir radioisótopos! Estabelecido como meta do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnóloga em 2008, o RMB alinha-se com as políticas estratégicas referentes ao Programa Nuclear Brasileiro (PNB).
PROPULSÃO NAVAL -
O RMB disponibilizará ao país um reator nuclear de pesquisa multipropósito e toda uma infraestrutura de laboratório e instalações para atender às necessidades nacionais relativas à produção crescente de radioisótopos para aplicação médica, além de propiciar o suporte ao desenvolvimento tecnológico nuclear para as áreas de energia elétrica e propulsão naval, auxiliar no desenvolvimento cientifico e tecnológico nacional contribuindo fortemente à inovação e formação de recursos humanos especializados.
Os laboratórios ficarão disponíveis para a comunidade científica do país e particularmente em relação à utilização de feixes de nêutrons deverá ser um complemento do laboratório nacional de Luz Sincrotron de Campinas. Para operar, o RMB precisará do combustível nuclear. A fase de desenvolvimento foi realizada sob a responsabilidade da equipe de profissionais de várias entidades do setor, entre elas, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), Centro Tecnológico da Marinha (CTMSP), através de convênio com a FINEP, no valor de R$ 25 milhões.
BARREIRAS -
A licença de instalação do RMB foi emitida pelo Ibama, em novembro de 2019, entre outras anteriores. “Com essas licenças o empreendimento RMB pode ser construído. Está em andamento a execução dos planos ambientais pré-construção”, informou Perrotta. O projeto teve início em 2008, mas faltaram recursos e decisão política administrativa. “Na minha opinião, a alta administração da CNEN, por não ser composta de técnicos oriundos do setor nuclear e não ter formação tecnológica na sua base, não avalia em profundidade as necessidades de P&D e de transformação da ciência em tecnologia nuclear”. Segundo Perrotta, de certa forma, criam uma barreira entre os técnicos da CNEN e os formadores de opinião e gestores maiores da área estratégica nuclear, inibindo, dessa forma, qualquer ação proativa para o RMB.
Mas agora, pode ser que o projeto caminhará a passos largos, embora a CNEN permaneça sem presidente desde o dia 1º de janeiro, quando o governo exonerou Paulo Roberto Pertusi, e seu braço direito, o diretor Madison Coelho de Almeida.
Leia algumas matérias sobre o assunto publicadas pelo BLOG: 03/03/2020 – Reator nuclear para salvar vidas não saiu do papel; 16/09/2021 – Governo adia construção de reator capaz de produzir insumos para a medicina nuclear. Desabastecimento em clinicas de tratamento contra o câncer pode ocorrer nos próximos dias; 20/09/2021 – Falta de verbas na medicina nuclear começa a paralisar o diagnóstico e tratamento contra o câncer. Ricos só terão atendimento em outros países; 22/09/2021 – Governo libera R$ 19 milhões para a compra de insumos destinados à medicina nuclear. Valor é considerado insuficiente para o tratamento de pacientes com câncer até o final do ano; 28/09/2021 – Ministro alerta sobre urgência de liberação de recursos para produção de radioisótopos; 29/09/2021 – Dois ministros, promessas antigas e um projeto de reator para salvar vidas parado; 07/10/2021 – Medicina nuclear: Congresso aprova liberação de R$ 63 milhões para a produção de medicamentos destinados a pacientes com câncer; 15/10/2021 – Medicina Nuclear: Pacientes com câncer podem ficar novamente sem tratamento semana que vem. Recursos para a produção de radiofármacos ainda não foram liberados para o IPEN-CNEN; 19/10/2021 – Medicina Nuclear: demora na liberação de verbas ainda afeta tratamento de pacientes com câncer; 01/12/2021 -Câmara vota quebra do monopólio da produção de medicamentos contra o câncer. SBPC alerta sobre irremediáveis prejuízos para a população e ciência; 02/12/2021 – Medicina Nuclear: aberto o caminho à quebra do monopólio para produção de radioisótopos. Pacientes com câncer e risco; 08/12/2021 – Medicina Nuclear: adiada votação visando privatizar a produção de medicamentos contra o câncer; 09/12/2021 – Direção do IPEN/CNEN aponta disparidade de preços de radiofármacos e alerta parlamentares; 15/12/2021 – Medicina Nuclear: produção de medicamentos para combater o câncer nas mãos da iniciativa privada; 16/12/2021 – PEC-517/2010: Proposta macabra. Facada no projeto de reator multipropósito. Por Alexandre Padilha. Exclusivo para o BLOG; 31/01/2022 – Medicina Nuclear: reator para salvar vidas, verbas ficam nas promessas.
FOTO: Acervo CNEN -
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Os projetos começam a sair do papel e o Brasil, espera-se, vai, aos poucos, conquistando a necessária autonomia em áreas vitais para consolidação do seu desenvolvimento tecnológico.
ResponderExcluirQue seja escolhido o nome mais gabaritado para gerir a CNEN.