Saída da barragem de rejeitos com infiltração |
A primeira mina de urânio do Brasil, em Caldas, no Sul de Minas
Gerais, é “herança maldita” para população, meio ambiente e governo. Rejeitos
radioativos em águas e no solo, risco de rompimento de barragem, equipamentos
sucateados, são alguns dos graves problemas que se arrastam há décadas.
A mina
de Caldas operou oficialmente a partir de 1980, extraindo urânio e beneficiando
o minério, denominado de “yellow cake”. Sem demanda para o produto, foi considerada
inviável economicamente. Suas atividades de produção foram encerradas em 1995.
O processo de descontaminação vem sendo realizado até hoje. É imenso o legado
de medo, preocupações, dinheiro público atirado no ralo, sem retorno, aliados a
denúncias de toda ordem.
Vale lembrar que, além da produção de rejeitos gerados
no local, Caldas passou a importá-los da Usina de Santo Amaro (Usam), da
Nuclemon, em São Paulo, desativada na década de 90. Durante anos, funcionários
da Usam pegavam a estrada com caminhões abarrotados de Torta II (produto resultante
do beneficiamento de monazita), trabalho feito naquela unidade paulista, descarregados
em Caldas. Uma parte da Torta II
permanece em um galpão com acesso restrito, batizado de “Carrefour”.
APAGÃO NO
FIM DO TÚNEL - A estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), do Ministério de
Minas e Energia, responsável pela instalação, não dá conta às diversas e
sucessivas exigências visando à segurança da instalação. São alertas e
denúncias de ambientalistas, somados às determinações da Comissão Nacional de Energia
Nuclear (CNEN), do Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal
(MPF).
Apesar de tantas determinações do Poder Público, ainda não há um Plano
de Ação de Emergência da Barragem da Mineração efetivamente implementado. Além
da falta de uma “luz no fim do túnel” para equacionar a questão, Caldas possui
uma barragem de rejeitos radioativos, correndo o risco de se romper. Foi construída
na década de 80 pela Andrade Gutierrez, a partir de projeto desenvolvido pela
empresa Victor F. B. De Mello & Associados S/C Ltda.
Estima-se que, no caso
do rompimento da barragem de rejeitos, a população imediatamente afetada seria
de cerca de 20 mil pessoas, em Caldas; outras cerca de 30 mil, em Andradas; e
cerca de 160 mil em Poços de Caldas.
SEM
RECURSOS: FAZER O QUÊ? - As estações de
tratamento de efluentes são as mesmas do início da operação da mina. Foram
projetadas para tratar 280 metros cúbicos por hora de águas de chuva acumuladas
nos pátios de britagem e na mina, mas os rejeitos foram depositados em cima das
fontes de água limpa, contaminando a água com metais pesados. Hoje tratam 400
metros cúbicos por hora.
As ações mais recentes foram tomadas neste mês de
novembro pelo Ministério Público Federal (MPF), em Pouso Alegre (MG), em reunião com a
direção da INB. O MPF exigiu a adoção de
medidas emergenciais de fiscalização e segurança da barragem de rejeitos. Participaram os procuradores da República, Gabriela Saraiva e Lucas Gualtieri. Foi firmado o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a INB.
O MPF
quer solução para estruturas que ficaram na cava da mina, contendo lama com resíduos
radioativos, uma fábrica de beneficiamento de minério desativada e a própria
barragem de rejeitos, onde estão armazenados dois milhões de metros cúbicos de
rejeitos residuais de urânio, tório e rádio.
A própria INB comunicou ao MPF a ocorrência,
em setembro de 2018, de um evento “não usual” que consistiu no carreamento de
sedimentos por meio do sistema extravasor da barragem. Peritos, concluíram que
o sistema está seriamente comprometido, por conta de infiltrações que podem
levar a processos de ruptura hidráulica.
Relatório da própria INB estima que a
recuperação de toda a área deve custar cerca de US$ 500 milhões, mais de R$ 1,5
bilhão em 40 anos. Com as torneiras de recursos fechadas, a empresa admite que
terá que criar um modelo de financiamento, porque não tem orçamento para isso.
Alguns
números mostram que em se tratando de prejuízos, a instalação contabiliza danos
incalculáveis aos cofres públicos. O acordo com o MPF, por exemplo, prevê que o
descumprimento por parte da INB de quaisquer das obrigações assumidas
acarretará o pagamento de multa de R$ 500 mil por item descumprido e multa
diária de R$ 20 mil enquanto persistir o descumprimento.
Para se ter ideia do
tamanho do problema, a área ocupa um espaço equivalente a cem Maracanãs. Alguns técnicos chamam de "herança maldita". Atualmente, cerca de 100 pessoas trabalham no local.
TAC na íntegra: http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/docs/tac-inb.pdf
TAC na íntegra: http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/docs/tac-inb.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário