As prisões do ex-presidente da
República, Michel Temer, e ex-ministro Moreira Franco, acusados de corrupção envolvendo
obras da usina nuclear Angra III, pela Operação Lava-Jato, levaram a Eletrobras
a divulgar na noite desta quinta-feira (21/3) um “Fato Relevante” a seus acionistas
e ao mercado em geral.
“Em decorrência
de suposto recebimento de propinas – de Michel Temer - relacionadas a certos contratos da construção da Usina Nuclear de Angra 3, a
Eletrobras reitera, que os contratos relacionados à construção foram objeto de
análise no curso da investigação independente” conduzida pela empresa, desde o
início de 2015 até o final de 2018”. A nota não menciona o nome de Moreira.
E continua: “ Todos os atos ilícitos
referentes à Angra 3 identificados na investigação, foram objeto das medidas
administrativas cabíveis, como encerramento de contratos e exoneração de
executivos envolvidos, bem como foi efetuado o registro de perdas na ordem de
R$ 141.3 millhões”. Por fim, a Eletrobras
informa que “está acompanhando as ações decorrentes da Operação Lava Jato, para
avaliar se deve adotar alguma medida adicional, visando o ressarcimento das
perdas”. A nota foi assinada pela diretora financeira e de relações com
investimentos da Eletrobras, Elvira Cavalcanti Presta.
Angra III é um poço de problemas
desde a sua aquisição, pelo acordo Brasil-Alemanha, assinado pelo general
Ernesto Geisel, no dia 27 de junho de 1975. Durante anos a fio, por falta de verbas,
problemas nas escavações, entre outros, o empreendimento era “empurrado com a
barriga” e teve várias paralisações. A mais recente foi em 2015, quando o então
presidente da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, contra-almirante Othon
Luiz Pinheiro, foi preso pela Lava Jato, acusado de corrupção, com outros
executivos da empresa, em obras da central atômica.
Considerado um dos pais do
programa nuclear paralelo (militar), Othon Luiz Pinheiro conseguiu ficar em
prisão domiciliar. Mas para alguns pode representar uma ameaça, pela quantidade
de informações sigilosas mantidas a sete chaves. Afinal, o nome do contra-almirante
faz parte da trajetória da energia nuclear no Brasil. Passa por sua
titularidade a Delta IV (conta secreta para alimentar projetos militares no
passado), pela importação, na década de 80, via um espião alemão, de projeto de
fabricação de ultracentrífuga (máquina para enriquecer urânio), em Aramar, em
São Paulo), por exemplo.
Segundo a Operação Lava Jato, há documentos suficientes
para a prisão de Michel Temer e Moreira Franco. Moreira, ex-governador do Rio, ex-prefeito de Niterói, participou de vários
governos, tendo sido ministro das Minas e Energia, de Temer. No emaranhado de corrupção e recebimento de propina, Temer, liderava o esquema em Angra III, que subtraiu
pelo menos R$ 1,8 bilhão dos cofres públicos.
A terceira central nuclear tem 65% de suas obras civis concluídas e grandes equipamentos armazenados na Nuclep, em Itaguai, e na central nuclear de Angra dos Reis. Já consumiu cerca de R$ 7 bilhões. Para ser concluída, segundo a Eletronuclear, depende de investimentos da ordem de R$ 14 bilhões. Sem recursos, como anunciava, o governo Temer tentava conversar sobre parcerias com empresas
chinesa, francesa e russa. Enquanto isso, a dívida mensal de Angra III com o
BNDES é de R$ 30 milhões.
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