segunda-feira, 25 de março de 2019

Angra III: Governo busca parcerias internacionais. Dívidas com BNDES e CEF são de bilhões.


O governo brasileiro quer retomar as obras da usina nuclear Angra III. Agora, mais do que nunca, busca parcerias com empresas internacionais. Empresas russa, chinesa e francesa são as apostas do momento. Além da falta de recursos e de decisões políticas, a história de atrasos da usina conta com a prisão do contra-almirante, Othon Luiz Pinheiro, em 2015; e na quinta-feira (21/3), do ex-presidente Michel Temer, e ex-ministro Moreira Franco, com base em denúncias de corrupção, ambos liberados nesta segunda-feira (25/3).

Números também mostram o complicado contexto financeiro no qual a usina se insere: a unidade já consumiu R$ 7 bilhões e precisa de outros R$ 14 bilhões para ser concluída. O valor gasto com a manutenção dos equipamentos em depósito de Angra III é de R$ 3 milhões por mês. 

Os equipamentos e serviços contratados no mercado nacional estão sendo custeados por meio de financiamento obtido pela Eletronuclear, gestora das usinas nucleares, junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no valor de R$ 6,1 bilhões. O contrato foi assinado em fevereiro de 2011. Desse valor, a Eletronuclear já sacou R$ 2,7 bilhões, entre junho de 2011 e junho de 2015. Ao BNDES, a empresa paga R$ 30,9 milhões por mês desde outubro de 2017.

 O financiamento para a aquisição de máquinas, equipamentos importados e serviços realizados no exterior advém de outro contrato entre a Eletronuclear e a Caixa Econômica Federal (CEF), no valor de R$ 3,8 bilhões, assinado em junho de 2013, tornando-se efetivo plenamente em julho de 2015.  Desse valor, foram retirados R$ 2,8 bilhões, entre junho de 2015 e julho de 2017.  À CEF, a empresa paga R$ 24,7 milhões por mês desde julho de 2018. 

PARCERIAS INTERNACIONAIS - 
Empresa responsável pelo projeto, construção e operação de usinas nucleares no Brasil, a Eletronuclear vem mantendo conversas preliminares com os principais detentores mundiais da tecnologia para construção e operação de usinas nucleares e não apenas, mas também, com a Rússia e a China. Buscando o ponto de equilíbrio financeiro para o empreendimento, este eventual parceiro deverá ter condições de investir nas obras de conclusão da usina. 

Nesse contexto, já houve contatos, entre outros, com o gigante consócio franco-nipônico EDF/MHI (Électricité de France / Mitsubish Heavy Industries); a sul-coreana KEPCO (Korea Electric Power Corporation) empresa que no momento é responsável pela construção de quatro usinas nucleares nos Emirados Árabes Unidos; as atuais controladoras da norte-americana WEC (Westinghouse Electric Corporation), empresa precursora mundial na construção de usinas termonucleares; a russa Rosatom; a chinesa CNNC (China National Nuclear Corporation); e o grupo consorciado chinês SNPTC/SPIC (State Nuclear Power Technology Company / State Power Investment Corporation). 

ESTUDO DA FVG - 
Em 2014, a Eletronuclear contratou a FGV Projetos, Fundação Getúlio Vargas, para avaliar os impactos socioeconômicos da construção de Angra III. O estudo foi concluído em 2015. O efeito total do projeto orçado na época sobre o Produto Interno Bruto (PIB) ultrapassava os R$ 10 bilhões. 

Em relação aos postos de trabalho gerados diretamente pelo projeto, conforme orçado, entre temporários e empregos permanentes, estavam em torno de 214 mil. Com isto, o total – incluindo indiretos e induzidos - ultrapassava 500 mil.

PREÇO DA ENERGIA - 
Em outubro do ano passado, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou um novo preço de referência para a energia que será produzida por Angra III. O valor – de R$ 480,00 por megawatt-hora (MWh). A resolução do CNPE também orientou que o Ministério de Minas e Energia (MME) incluísse o empreendimento no Programa de Parceria de Investimentos (PPI) do governo federal. 

O próximo passo é o governo a avaliar o modelo para a escolha do parceiro privado que concluirá a obra. O cronograma atual considera o reinício das obras para junho de 2021. Caso isso se concretize, a usina ficaria pronta em janeiro de 2026. Angra III terá 1.405 MW de potência, enquanto Angra II tem 1.350 MW. As usinas foram compradas pelo Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, assinado pelo presidente da República, general Ernesto Geisel, em 27 de junho de 1975.  

Hoje, estão sendo executadas atividades de preservação das instalações do canteiro de obras e das estruturas e equipamentos da usina. A Eletronuclear conta com 1.740 empregados. Desse total, 1.350 trabalham em Angra dos Reis. Segundo a Eletronuclear, quando Angra III entrar em operação, a geração da usina será suficiente para atender 4,45 milhões de pessoas. 

Com as três usinas em operação, a energia gerada pela central nuclear de Angra será equivalente a, aproximadamente, 68% do consumo do estado do Rio de Janeiro. Angra III tem cerca de 65% de suas obras civis concluídas. Para ser finalizada, o Brasil depende de interesse externo.

Um comentário:

  1. Matéria feita por uma especialista: completa, concisa, informativa. Pelos valores envolvidos, embora saibamos que construir e manter uma usina nuclear custa bilhões está clara a corrupção dos governantes e administradores ao longo dos anos. Uma vergonha!

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