O governo brasileiro quer retomar
as obras da usina nuclear Angra III. Agora, mais do que nunca, busca parcerias
com empresas internacionais. Empresas russa, chinesa e francesa são as apostas
do momento. Além da falta de recursos e de decisões políticas, a história de
atrasos da usina conta com a prisão do contra-almirante, Othon Luiz Pinheiro,
em 2015; e na quinta-feira (21/3), do ex-presidente Michel Temer, e ex-ministro Moreira
Franco, com base em denúncias de corrupção, ambos liberados nesta segunda-feira (25/3).
Números também mostram o complicado
contexto financeiro no qual a usina se insere: a unidade já consumiu R$ 7
bilhões e precisa de outros R$ 14 bilhões para ser concluída. O valor gasto com
a manutenção dos equipamentos em depósito de Angra III é de R$ 3 milhões por
mês.
Os equipamentos e serviços contratados no mercado nacional estão sendo custeados
por meio de financiamento obtido pela Eletronuclear, gestora das usinas
nucleares, junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
no valor de R$ 6,1 bilhões. O contrato foi assinado em fevereiro de 2011.
Desse valor, a Eletronuclear já sacou R$ 2,7 bilhões, entre junho de 2011 e
junho de 2015. Ao BNDES, a empresa paga R$ 30,9 milhões por mês desde outubro
de 2017.
O financiamento para a aquisição de máquinas, equipamentos importados
e serviços realizados no exterior advém de outro contrato entre a Eletronuclear
e a Caixa Econômica Federal (CEF), no valor de R$ 3,8 bilhões, assinado em
junho de 2013, tornando-se efetivo plenamente em julho de 2015. Desse valor, foram retirados R$ 2,8 bilhões,
entre junho de 2015 e julho de 2017. À CEF,
a empresa paga R$ 24,7 milhões por mês desde julho de 2018.
PARCERIAS
INTERNACIONAIS -
Empresa responsável pelo projeto, construção e operação de
usinas nucleares no Brasil, a Eletronuclear vem mantendo conversas preliminares
com os principais detentores mundiais da tecnologia para construção e operação
de usinas nucleares e não apenas, mas também, com a Rússia e a China. Buscando
o ponto de equilíbrio financeiro para o empreendimento, este eventual parceiro
deverá ter condições de investir nas obras de conclusão da usina.
Nesse
contexto, já houve contatos, entre outros, com o gigante consócio
franco-nipônico EDF/MHI (Électricité de France / Mitsubish Heavy Industries); a
sul-coreana KEPCO (Korea Electric Power Corporation) empresa que no momento é
responsável pela construção de quatro usinas nucleares nos Emirados Árabes
Unidos; as atuais controladoras da norte-americana WEC (Westinghouse Electric
Corporation), empresa precursora mundial na construção de usinas termonucleares;
a russa Rosatom; a chinesa CNNC (China National Nuclear Corporation); e o grupo
consorciado chinês SNPTC/SPIC (State Nuclear Power Technology Company / State
Power Investment Corporation).
ESTUDO DA FVG -
Em 2014, a Eletronuclear
contratou a FGV Projetos, Fundação Getúlio Vargas, para avaliar os impactos socioeconômicos
da construção de Angra III. O estudo foi concluído em 2015. O efeito total do
projeto orçado na época sobre o Produto Interno Bruto (PIB) ultrapassava os R$
10 bilhões.
Em relação aos postos de trabalho gerados diretamente pelo projeto,
conforme orçado, entre temporários e empregos permanentes, estavam em torno de
214 mil. Com isto, o total – incluindo indiretos e induzidos - ultrapassava 500
mil.
PREÇO DA ENERGIA -
Em outubro do ano passado, o Conselho Nacional de
Política Energética (CNPE) aprovou um novo preço de referência para a energia
que será produzida por Angra III. O valor – de R$ 480,00 por megawatt-hora
(MWh). A resolução do CNPE também orientou que o Ministério de Minas e Energia
(MME) incluísse o empreendimento no Programa de Parceria de Investimentos (PPI)
do governo federal.
O próximo passo é o governo a avaliar o modelo para a
escolha do parceiro privado que concluirá a obra. O cronograma atual considera
o reinício das obras para junho de 2021. Caso isso se concretize, a usina
ficaria pronta em janeiro de 2026. Angra III terá 1.405 MW de potência,
enquanto Angra II tem 1.350 MW. As usinas foram compradas pelo Acordo Nuclear
Brasil-Alemanha, assinado pelo presidente da República, general Ernesto Geisel,
em 27 de junho de 1975.
Hoje, estão
sendo executadas atividades de preservação das instalações do canteiro de obras
e das estruturas e equipamentos da usina. A Eletronuclear conta com 1.740
empregados. Desse total, 1.350 trabalham em Angra dos Reis. Segundo a
Eletronuclear, quando Angra III entrar em operação, a geração da usina será
suficiente para atender 4,45 milhões de pessoas.
Com as três usinas em
operação, a energia gerada pela central nuclear de Angra será equivalente a,
aproximadamente, 68% do consumo do estado do Rio de Janeiro. Angra III tem
cerca de 65% de suas obras civis concluídas. Para ser finalizada, o Brasil depende
de interesse externo.
Matéria feita por uma especialista: completa, concisa, informativa. Pelos valores envolvidos, embora saibamos que construir e manter uma usina nuclear custa bilhões está clara a corrupção dos governantes e administradores ao longo dos anos. Uma vergonha!
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