sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

INB-CALDAS (MG) - Vigilância Sanitária será acionada; na área crítica (radioativa), trabalho presencial; nas demais, "home office"

 


Enquanto a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) responsabiliza a Solve Consultoria e Projetos, pela falta de pagamento aos trabalhadores terceirizados na unidade em Caldas (MG), os funcionários que atuam em “áreas críticas”, onde há material radioativo, terão que realizar as atividades presenciais. Já aos demais está facultado o direito ao teletrabalho, no período de 15 a 19/12 (semana que vem), segundo a gerência da empresa em Caldas. O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativistas Minerais de Poços de Caldas e Região informa que o fato será denunciado ao Ministério Público do Trabalho e a Superintendência Regional do Trabalho e Vigilância Sanitária. Normas da empresa mostram que “há riscos biológicos e químicos”. 


A paralisação das atividades continua com grave crise por falta de limpeza nas instalações internas. “Diante das reiteradas falhas da contratada, que impactaram na execução do serviço, não restou outra solução à INB a não ser pedir a rescisão unilateral do contrato”, informou a INB em nota ao Blog, que divulgou o caso com exclusividade nesta manhã. O sócio da Solve, Vinicius Santos, desmente, informando que a INB não paga à empresa desde julho, registrando dívidas na ordem R$ 358.399,09. 

Santos informou que todos os documentos solicitados pela INB foram entregues. A INB nega. Sem receber seus salários, os trabalhadores se desesperam; alguns terão que entregar as moradias antes do final do mês. 

O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativistas Minerais de Poços de Caldas e Região divulgou nota alertando que a situação representa risco à saúde dos trabalhadores e demais usuários das dependências; “além de violar obrigações contratais e legais relacionadas ao fornecimento de condições mínimas de higiene adequadas de trabalho”. 

O BLOG tentou contato com a INB ontem, sem resposta. Hoje à tarde, a INB enviou a seguinte nota: 

“A Indústrias Nucleares do Brasil (INB) informa que não há falta de pagamento em relação aos repasses financeiros à empresa contratada para a prestação dos serviços gerais na Unidade em Descomissionamento de Caldas, em Minas Gerais. Ressalta-se que a INB vem enfrentando reiteradas falhas e descumprimentos contratuais por parte da empresa contratada, inclusive no que se refere ao cumprimento de obrigações trabalhistas, situação que tem sido devidamente registrada e tratada no âmbito administrativo. Diante das reiteradas falhas da contratada, que impactaram na execução do serviço, não restou outra solução à INB a não ser pedir a rescisão unilateral do contrato. Desde que tomou conhecimento dos atrasos no pagamento dos trabalhadores terceirizados, a INB adotou todas as medidas cabíveis dentro dos trâmites legais e contratuais, incluindo notificações formais à empresa, com o objetivo de promover a imediata regularização da situação e resguardar os direitos dos trabalhadores, bem como o interesse público. O contrato prevê que a INB pode quitar os salários dos empregados desde que a SOLVE envie os dados da folha de pagamento, como valores salariais e encargos, o que não foi feito, apesar da solicitação da INB. A INB segue acompanhando o caso de forma rigorosa e está atuando para regularizar o serviço na próxima semana”. 

LEIA NO BLOG MATÉRIA EXCLUSIVA SOBRE O CASO: INB-Caldas (MG): Trabalhadores sem receber paralisam serviços gerais; espaços estão precários, "riscos biológicos e químicos". 

(FOTO: CALDAS – INB) - 

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INB-Caldas (MG): Trabalhadores sem receber paralisam serviços gerais; espaços estão precários, "riscos biológicos e químicos".

 


Trabalhadores da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), lotados na área de serviços gerais das instalações de Caldas (MG), que opera com material radioativo, atravessam uma verdadeira “via crucis” enquanto não recebem seus salários, os menores, sempre em atraso. É um grupo de cerca de 30 pessoas – homens e mulheres -, terceirizados da INB pela empresa Solve Consultoria e Projetos. Alguns estão em desespero, diante do descaso: “Não temos como pagar o aluguel e podemos entrar 2026 despejados”.  Revoltados, pararam as atividades na segunda-feira.  Como a instalação opera com material radioativo, há normas para evirar riscos biológicos e químicos.

Vários espaços da INB estão sem limpeza “em estado deplorável”, segundo relatos. A INB não se manifestou sobre o caso, embora desde ontem o blog esteja tentando contato. A empresa Solve Consultoria de Projetos, com a qual a INB tem contrato, informou que a estatal está com vários pagamentos em aberto, que precisam ser quitados.  O débito da INB desde outubro, segundo gráfico da Solve, chega a R$ 358.399,06. “Precisamos de uma solução”, comentou o gerente Vinicius.

A instalação da INB em Caldas é “o patinho feito” da empresa, comentou um funcionário.  Lá, há décadas, as atividades de mineração de urânio foram interrompidas e existe um lastro de contaminação e problemas em barragens e demais áreas, sem solução em futuro próximo. Mas a empresa mantém funcionários contratados e terceirizados.    

RISCOS BIOLÓGICOS QUÍMICOS

Sem pagar o grupo em questão, a IBN deixou de cumprira “a norma que trata da *higiene ocupacional* é a *NR‑32* – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde. “A norma estabelece requisitos para prevenir riscos biológicos, químicos e físicos, garantindo um ambiente de trabalho saudável para os colaboradores”.

Se a empresa não cumprir a NR‑32, a empresa pode enfrentar: Multas e autos de infração – a fiscalização pode aplicar valores que variam de R$ 2 mil a R$ 200 mil, dependendo da gravidade e da reincidência. Interdição do estabelecimento – em casos de risco grave à saúde, o órgão competente pode suspender temporariamente as atividades até que a situação seja regularizada. Responsabilidade civil – se houver dano à saúde dos trabalhadores (doenças ocupacionais, intoxicações etc.), a empresa pode ser acionada judicialmente para indenizar os afetados. E ainda “Prejuízo de imagem* – auditorias externas, certificações ou contratos podem ser perdidos, além de gerar desmotivação e rotatividade de colaboradores. “Portanto, manter a conformidade com a NR‑32 evita custos financeiros, sanções legais e protege a saúde da equipe”, informou um especialista.

 (FOTO – INB ) – 

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quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

STF homologa integralmente acordo entre União e Axia

 


O plenário do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu homologar integralmente os termos do acordo firmado entre a União e a Axia (ex-Eletrobras) no âmbito da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7.385, sobre a governança da companhia. A homologação marcou a saída da ex-estatal da energia nuclear, era aguardada para que o governo possa avançar com processos ainda pendentes, como uma emissão de debêntures de R$2,4 bilhões que ajudará financeiramente a Eletronuclear, praticamente quebrada, com dívidas bilionárias. 

Um dos maiores desafios é a manutenção do programa para prorrogar por mais 20 anos a vida útil de Angra 1, decisivo para o governo. 

E a divida de R$ 6,4 bilhões da Eletronuclear com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal (CEF) por conta de empréstimos para Angra 3? Segundo um especialista da área nuclear, a solução será renegociar as dívidas para pagar depois, se a usina for concluída.  

OS VOTOS

O placar foi de seis votos para a homologação integral, contra quatro que votaram para validação apenas o trecho referente aos assentos da União nos conselhos da Axia. Houve unanimidade no plenário para julgar a representação parcialmente procedente, declarando como constitucional o trecho da Lei de Desestatização da Eletrobras que era questionado na ação, considerado o ajuste feito pelo acordo. 

O acordo também marcou a saída da Axia do negócio de energia nuclear, desobrigando a empresa de novos investimentos em projetos como o de Angra 3 e permitindo a venda da participação minoritária da empresa na estatal Eletronuclear, que opera as usinas Angra 1 e Angra 2, desde que autorizado pela ENBPar (Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional, controlada pela União através do Ministério de Minas e Energia). 

Na prática, os termos do acordo já se tornaram realidade, com a Axia incluindo em seu conselho três indicados da União e tendo vendido sua fatia na Eletronuclear para o grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. 

FUNDO DE DESCOMISSIONAMENTO - 

Setores do governo estariam de olho nos recursos bilionários das usinas Angra 1 e Angra 2, acumulados há décadas no fundo de descomissionamento das centrais nucleares, que podem chegar a R$ 3 bilhões, segundo fontes, “que aumenta continuamente com aportes mensais da Eletronuclear e rendimentos financeiros. Conforme o Blog publicou ontem, a diretoria colegiada da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) decidiu abrir a Consulta Pública nº 40/2025, para debater a regulamentação contábil tributária do fundo de descomissionamento (FDES) das usinas., por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU). 

A diretoria aprovou, ainda, a aplicação imediata da proposta de revisão da regra de definição da cobertura tarifária do FDES, em caráter provisório, com aplicação no processo tarifário da Receita Fixa de Angra 1 e 2 para 2026, “sem prejuízo de eventuais ajustes no processo tarifário subsequente após aprovação do resultado dessa Consulta Pública”. Há outras informações na página da ANEEL - 

LEIA NO blog: Criação de um fundo para o futuro de instalações nucleares levará à contratação de empresa via licitação internacional

(Foto: Eletronuclear) – 

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quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Angra 1 e Angra 2: fundo de descomissionamento em debate por determinação do TCU

 


A diretoria colegiada da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) decidiu, nesta terça-feira (9/12), abrir a Consulta Pública nº 40/2025, para debater a regulamentação contábil tributária do fundo de descomissionamento (FDES) de Angra 1 e 2 em atendimento à determinação do Acórdão nº 2502/2024 do Tribunal de Contas da União (TCU). 

A diretoria aprovou, ainda, a aplicação imediata da proposta de revisão da regra de definição da cobertura tarifária do FDES, em caráter provisório, com aplicação no processo tarifário da Receita Fixa de Angra 1 e 2 para 2026, “sem prejuízo de eventuais ajustes no processo tarifário subsequente após aprovação do resultado dessa Consulta Pública”. Há outras informações na página da ANEEL. 

LEIA NO blog: Criação de um fundo para o futuro de instalações nucleares levará à contratação de empresa via licitação internacional.

 (Foto: Eletronuclear) – 

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ABREA comemora 30 anos de luta pelo banimento do cancerígeno amianto

 


Ao iniciar e liderar uma árdua luta pelo banimento do cancerígeno amianto, no Brasil e no mundo, a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA) está recebendo homenagens de todo o mundo, esta semana, quando completa 30 anos de fundação, em Osasco, em São Paulo. Na cidade funcionava a Eternit, conhecida da multinacional produtora de telhas, tubulações, caixas d’água e outros artefatos de cimento-amianto. A Eternit permaneceu em Osasco por 56 anos, entre 1937 a 1993, deixando para trás um enorme passivo socioambiental, um legado de contaminação e morte, como fez em vários países, principalmente Itália e Bélgica. 

Por sua luta permanente por justiça socioambiental, a entidade será homenageada nesta sexta-feira (12/12), às 19h, na  na Câmara Municipal de São Paulo (Sala Prestes Maia). 

MEMORIAL PELAS VITIMAS -

Cerca de 600 vítimas amianto foram homenageadas em dezembro de 2022, em Osasco, com a inauguração de um memorial criado pelo artista brasilense W. Hermusch, que reuniu representações do Brasil e do mundo. A criação do memorial foi uma parceria da Prefeitura de Osasco, por meio da Secretaria de Emprego, Trabalho e Renda (SETRE), com a ABREA. O memorial é uma escultura chamada “Árvore-Pulmão”, que materializa metaforicamente a luta pela vida de milhares de vítimas do mineral, que no final da vida não conseguem mais respirar em virtude das doenças provocadas pela fibra mortal.

 


A ABREA é fundamental para a sociedade brasileira tomar consciência dos males do amianto e a fibra assassina ser banida. Só que a atuação da ABREA não se limitou ao território brasileiro. Ela se espalhou, tornando a ABREA símbolo da luta pelo banimento do amianto no Brasil e no mundo. A prova disso é o comunicado de dez associações parabenizando-a pelos 30 anos. 

Dez associações do Reino Unido, Austrália, Japão e Itália assinam. PARABÉNS ABREA - “Já se passaram 30 anos desde a fundação da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto – ABREA –, em 9 de dezembro de 1995, em Osasco, Brasil.

 Por décadas, as empresas de amianto obtiveram lucros exorbitantes enquanto as vítimas morriam sem reconhecimento, sem tratamento e sem indenização. Passo a passo, os membros da ABREA, composta inteiramente por voluntários, trabalhou para mudar essa realidade. 

A ABREA tornou evidente o legado mortal dessa indústria letal, expondo médicos cúmplices das empresas, desafiando autoridades governamentais ineficazes e documentando a existência de um ambiente jurídico hostil. 

Os sucessos alcançados pela ABREA são inúmeros, e incluem: revolucionar o debate nacional sobre o amianto, passando de uma postura que aceitava o “uso controlado” do amianto para uma que denuncia todo e qualquer uso;  estabelecer jurisprudências que reconheçam o direito dos lesados de reivindicar indenização por danos morais, bem como por danos físicos; facilitar a proibição do amianto em níveis municipal, estadual e nacional; promover colaborações regionais e internacionais entre grupos de vítimas, sindicatos, centrais sindicais, associações médicas, organizações de saúde e segurança ocupacional e cientistas independentes. 

A Associação Italiana de Familiares e Vítimas do Amianto (Associazione Famigliari e Vittime dell’Amianto/AFeVA) mantém laços emocionais e familiares estreitos com a ABREA; muitos brasileiros afetados por doenças relacionadas ao amianto imigraram de áreas economicamente desfavorecidas da Itália. 

Ao parabenizar a ABREA por seu aniversário marcante, em sua mensagem de solidariedade, a presidente da AFeVA, Giuliana Busto, enfatizou o papel fundamental desempenhado pela ABREA “na luta comum contra o amianto”. Em sua manifestação, Sugio Furuya, da Rede Asiática para a Proibição do Amianto (ABAN), observou que: “A ABREA se destaca como um símbolo de solidariedade e companheirismo em toda a Ásia. Seus esforços contínuos para proibir as exportações de amianto para a Ásia salvaram e salvarão muitas vidas enquanto trabalhamos por um futuro livre de amianto para todos!” 

Durante 25 anos, o Secretariado Internacional para a Proibição do Amianto (IBAS) tem sido um parceiro ativo e solidário da ABREA. Recordando os muitos membros da ABREA que perderam a vida devido ao amianto, a coordenadora do IBAS, Laurie Kazan-Allen, afirmou: “A ABREA deu uma face a um desastre humano mundial. Os seus membros lideraram esforços no seu país, na América Latina e em todo o mundo para apoiar as vítimas, desafiar os dogmas da indústria e derrubar leis e precedentes legais injustos. A aliança ABREA-IBAS tem sido a pedra angular das iniciativas que impulsionaram a discussão sobre o amianto, transformando-o de uma questão de saúde ocupacional em um diálogo central sobre saúde pública, direitos humanos, justiça social e sustentabilidade.” 

Os grupos que emitem este comunicado à imprensa representam associações de vítimas do amianto, sindicatos, profissionais de saúde e outros que apoiam os expostos e lesionados pelo amianto na Europa, Ásia e Austrália. Estamos unidos em enviar os nossos melhores votos, neste aniversário marcante, a toda diretoria e membros da ABREA pelas suas três décadas de trabalho árduo. O mundo é um lugar melhor e mais seguro graças à ABREA! 

Assinam este comunicado: Secretariado Internacional para a Proibição do Amianto (Ban Asbestos Secretariat/IBAS)/Reino Unido; Associação Italiana de Familiares e Vítimas do Amianto (Associazione Famigliari e Vittime dell’Amianto/ AFeVA)/Itália; Rede Asiática para a Proibição do Amianto (Asian Ban Asbestos Network/ABAN)/Japão; Ajuda Sindical no Exterior (Union Aid Abroad – APHEDA)/Austrália; Sociedade Australiana de Doenças Relacionadas ao Amianto (Asbestos Diseases Society of Australia); Instituto de Pesquisa de Doenças Relacionadas ao Amianto e Poeiras (Asbestos and Dust Diseases Research Institute/ADDRI)/Austrália; Fórum do Grupo de Apoio às Vítimas do Amianto (Asbestos Victims Support Group Forum)/ Reino Unido. Apoio às Vítimas do Amianto de Merseyside (Merseyside Asbestos Victims Support)/Reino Unido; Mesotelioma Reino Unido (Mesothelioma UK) /Reino Unido. 

UMA MULHER DE LUTA - 


Nos 30 anos de ABREA, não se pode deixar de mencionar o trabalho da engenheira civil e auditora fiscal, Fernanda Giannasi, uma das fundadoras da Associação, incansável no acolhimento às vítimas, em denunciar os estragos provocados pelo amianto, em acompanhar os processos pelo banimento do mineral na Justiça brasileira. Em uma das entrevistas ao BLOG, Giannasi explicou porque não se sabe exatamente o número de mortos pelo amianto no Brasil.

 “Um número preciso de vítimas do amianto ou asbesto no Brasil ainda não foi possível de se obter. Por conta vários motivos: o  silêncio epidemiológico reinante no país em função de diversos mecanismos de invisibilidade social, tais como a inércia das instituições de saúde, que não cumprem seu papel de vigilância, como previsto em nossa legislação; pelos pactos estabelecidos entre empresas e vítimas, através de acordos extrajudiciais (mais de três mil instrumentos particulares de transação firmados pelas duas empresas líderes do mercado de fibrocimento e da mineração), que remuneram parcamente o silêncio das vítimas e de seus familiares pelas doenças adquiridas e pela ausência de formação médica especializada e de retaguarda laboratorial competente para diagnósticos de maior complexidade”. 

Eis a entrevista: 

BLOG: É um problema de grande subnotificação.... 

FERNANDA: Certamente e outro agravante para esta subnotificação está no fato de que as doenças relacionadas ao amianto são de grade latência, isto é, levam em média de 20 até 60 anos para se manifestarem, quando em geral o trabalhador já está afastado de seu local de trabalho. Os casos diagnosticados devem ser registrados tanto nos órgãos da Previdência Social como da Saúde, mas ainda isto é incipiente e representam somente a ponta de um imenso iceberg. 

BLOG: Quantas vítimas estão em tratamento? 

FERNANDA: Em todo o país, por onde se utilizou o amianto de maneira intensiva e sem nenhum controle, diariamente nos deparamos com novos casos de doenças sendo diagnosticadas, entre as quais a asbestose (fibrose pulmonar que endurece o pulmão, tornando-o rígido – o chamado “pulmão de pedra”), diversos tipos de cânceres, entre eles o de pulmão, laringe, aparelho digestório, ovário, túnica vaginal e o mesotelioma, chamado o “câncer do amianto”, que atinge as membras que envolvem o pulmão (pleura), a cavidade abdominal (peritônio) e o coração (pericárdio). São centenas de casos em tratamento nas diversas estruturas do Sistema Único de Saúde (SUS) e em entidades privadas para aqueles que celebraram os acordos extrajudiciais ou também chamados de instrumentos particulares de transação (IPT).

BLOG: Há indenizações? 

FERNANDA: Com a Emenda Constitucional 45, que atribuiu à Justiça do Trabalho o poder decisório em processos de indenização por doenças adquiridas no e pelo trabalho, as ações individuais das vítimas do amianto se tornaram mais céleres. E, em geral, mais bem-sucedidos em relação ao que ocorria anteriormente na esfera cível, em especial quanto aos valores de dano moral. Nosso país ainda não goza de uma cultura judicial sobre as ações civis públicas, coletivas ou também chamadas “class actions”, e se percebe uma certa timidez nos julgamentos destes processos, diferentemente do que ocorre nas ações individuais. Essas ações, depois da mencionada EC 45 têm sido indenizadas de maneira mais justa e rápida às vítimas e seus familiares. 

BLOG: É verídica a informação de que a Eternit continuará exportando as fibras de amianto para dezenas de países, incluindo Estados Unidos, Alemanha, Índia, Indonésia, Malásia e outros países asiáticos? A informação é documentada? 

FERNANDA: Sim. A empresa de mineração Sama do grupo Eternit continua sua produção nociva à saúde para fins de exportação, impunemente, mesmo após a decisão histórica do STF, em 2017, que baniu o amianto de nosso país, e continua a explorar e exportar essa matéria-prima cancerígena, graças a duas leis inconstitucionais do governo de Goiás, uma que permite a exportação e outra que dá sobrevida até 2029 para esta situação irregular e, por que não dizer, criminosa, condenando sociedades mais vulneráveis do que a nossa à doenças graves e até a morte de inocentes. Trata-se de um verdadeiro crime de racismo ambiental. 

BLOG: Onde estão localizadas as fábricas de amianto no Brasil? Quantas pessoas trabalham nessas fábricas? Estão cientes do perigo? 

FERNANDA: Atualmente só a mineração de amianto, em Minaçu, continua a explorar a fibra cancerígena. As demais fábricas substituíram esta matéria-prima reconhecidamente nociva para a saúde dos seres humanos. Na mineração, atualmente, trabalham, em média 300 empregados diretamente na mina de Cana Brava, da Sama, em Minaçu, no Estado de Goiás. A cidade tem ainda uma dependência econômica muito grande desta empresa, que é a maior atividade produtiva do local, o que faz com que a população tenha estabelecido um pacto de silêncio, negando fortemente a nocividade de sua principal riqueza local. Inclusive se auto intitula orgulhosamente de a “capital nacional do amianto”, como podemos ver no pórtico de entrada da cidade. Outros equipamentos públicos e privados de Minaçu têm a marca registrada do poderio econômico exercido pela atividade de exploração do minério de amianto, como pode-se ver na decoração do principal hotel da cidade, que tem o sugestivo nome de CRISOTILA (o amianto branco explorado em Minaçu) Palace Hotel, e na porta do fórum, ambos ostentando enormes pedras do minério in natura. 

BLOG:  O que as autoridades da saúde no Brasil têm feito pelas vítimas do amianto? E as autoridades da segurança do trabalho? 

FERNANDA: Muito pouco tem sido feito pelos órgãos de saúde e trabalho, em geral, no país, com raríssimas e notórias exceções como a Fundacentro e INCOR em São Paulo e a Fiocruz no Rio de Janeiro, que realizam os diagnósticos das doenças relacionadas ao amianto dos ex-empregados expostos, expondo a gravidade da situação. As fiscalizações praticamente estão paralisadas pelo desmonte sistemático de órgãos como o Ministério do Trabalho, restando apenas sabidamente a vigilância sanitária do estado de São Paulo e do município do Rio de Janeiro, que têm realizado diligências esporádicas nos estabelecimentos comerciais, apreendendo materiais, que ainda estão sendo vendidos para a população de baixa renda contendo amianto, que são de estoques remanescentes. 

BLOG: Quando a luta pelo banimento começou no Brasil? O que motivou essa luta? 

FERNANDA: A luta pelo banimento no Brasil se inicia mais efetivamente após o evento da conferência das Nações Unidas (ONU), a UNCED, popularmente conhecida como a Rio/92, onde tivemos a oportunidade de conhecer e interagir com movimentos sociais internacionais na luta para a eliminação dos produtos tóxicos, o qual incluía o amianto, a tecnologia nuclear etc. 

BLOG: Por que a senhora entrou nessa luta? 

FERNANDA: Desde 1983, quando fui admitida em concurso público para a auditoria fiscal do trabalho, em São Paulo, me dediquei a estudar e inspecionar empresas que utilizavam produtos e tecnologias cancerígenas. Em 1985, constituí com um colega médico o GIA-Grupo Interinstitucional do Asbesto para fiscalizar as empresas usuárias de amianto no estado de São Paulo. Isto, no momento em que a Organização Internacional do Trabalho (OIT), ligada à ONU, discutia se o amianto deveria ser proibido em todo o mundo ou permitido seu uso sob restritas condições de segurança. Dali para frente, os enfrentamentos com a indústria do amianto foram se sucedendo e se tornando cada vez mais acirrados, nos diversos campos, pois enfrentamos um dos mais organizados e poderosos lobbies industriais mundiais, comparado em importância e poderio ao do tabaco. 

BLOG:  A senhora ganhou o prêmio Faz a Diferença de O GLOBO por sua atuação pelo banimento do amianto no Brasil e no mundo. O que representou esse prêmio? 

FERNANDA: A coroação de um esforço, inicialmente solitário, mas que foi ganhando adeptos e se tornando uma luta coletiva ao longo desta jornada de 40 anos. O prestigioso prêmio tornou a nossa batalha ainda mais visível e palatável para uma grande parcela da sociedade brasileira. Uma grande honra tê-lo recebido junto a tantas personalidades brilhantes deste país. 

BLOG: No Brasil, quais os próximos passos para acabar de vez com o amianto? 

FERNANDA: O mais urgente no momento é a declaração pelo STF das imorais leis goianas, que permitem a exploração para fins de exportação até 2029. Outras ações serão necessárias para pôr um fim definitivo a este flagelo que será a desamiantização ou retirada do amianto das edificações públicas ou privadas. Neste sentido, várias ações estão em curso, do ponto de vista legal, com vários projetos de lei tramitando nas diversas esferas de nossos legislativos estaduais e federal, principalmente nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. 

PERFIL: 

FERNANDA GIANNASI é Engenheira Civil e de Segurança do Trabalho. Auditora Fiscal do Trabalho por 30 anos no Ministério do Trabalho e Emprego (MTb) em São Paulo, onde atuou na inspeção das condições de saúde e segurança no ambiente de trabalho com ênfase na insalubridade, letalidade e periculosidade dos agentes cancerígenos (amianto, nuclear, sílica) e outros tóxicos. Atualmente, aposentada, é consultora na área de saúde, trabalho e meio ambiente para entidades de trabalhadores (as) e vítimas de processos industriais. Fundou a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA) em 1995 e é coordenadora da Rede Virtual-Cidadã pelo Banimento do Amianto para a América Latina desde 1993. Tem recebido vários prêmios nacionais e internacionais, como mencionado anteriormente, entre os quais: a Ordem do Mérito Judiciário tanto pelo Tribunal Regional da 15ª. região (TRT -15), como pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) de Brasília. Em novembro de 2018, foi agraciada com o Prêmio Bernardino Ramazzini, o Pai da Medicina do Trabalho, pelo prestigiado Collegium Ramazzini, em Carpi, na Província de Módena, Itália, cidade de nascimento, no século XVIII, do ilustre médico. 

(FOTOS: MEMORIAL E GIANNASI) – 

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Criação de um fundo para o futuro de instalações nucleares levará à contratação de empresa via licitação internacional

 


Quanto custa descomissionar e desmobilizar a Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), em Resende (RJ), e as instalações de produção de Yellow Cake na Unidade de Concentrado de Urânio (URA), em Caetité, na Bahia, da Indústrias Nucleares do Brasil (INB)? Um documento obtido pelo Blog mostra que para chegar a estes valores, a INB criará um grupo de trabalho para elaborar o “Plano Preliminar de Descomissionamento e Desmobilização (FDD)” das unidades. A meta é contratar empresa especializada, via licitação internacional, para se chegar aos valores, com estimativas de custos e o prazo de vida útil das instalações. 


A estimativa é uma recomendação do Tribunal de Contas da união (TCU). A Amazul, empresa pública criada para desenvolver tecnologias ao programa nuclear brasileiro e setor nuclear da Marinha, foi consultada pela INB sobre a possibilidade de elaboração de planos preliminares de descomissionamento. Segundo especialista do setor, as exigências do fundo de descomissionamento estão centradas nas usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, em funcionamento, Angra 3, com obras paradas e destino indefinido. 

De acordo com a fonte, o fundo de descomissionamento da Eletronuclear tem como propósito garantir recursos financeiros suficientes, segregados e protegidos, para custear todas as atividades de descomissionamento das usinas nucleares até o final de da vida útil de cada uma das unidades. 


“O fundo de descomissionamento da Eletronuclear é um instrumento preventivo e regulado, destinado a assegurar que os custos futuros de descomissionamento das usinas de Angra sejam integralmente cobertos sem transferência de responsabilidades financeiras para o Estado ou para gerações futuras”, segundo a fonte. E completou: “O fundo não é uma conta separada em um banco externo; trata-se de um mecanismo contábil-regulatório reconhecido no Valor da Receita Anual (VR) das usinas”. 

O tema é complexo e pouco discutido, embora daqui a alguns anos as instalações terão que ser descomissionadas, comentou outra fonte. 

“Em termos financeiros, o fundo se  expressa como provisão contábil de descomissionamento, registrada no balanço da Eletronuclear como passivo regulatório; depósitos periódicos (via tarifa) necessários para atingir o montante estimado no horizonte de descomissionamento, atualizações anuais por índices econômicos e reavaliações de custo. Trata-se, portanto, de um fundo vinculado à tarifa e à prestação de serviços de geração nuclear, com aplicação restrita ao descomissionamento.” Nas estimativas de custo, o valor total necessário é calculado com base em inventário radiológico das instalações; estudo de engenharia de desmontagem (“Decommissioning Plan”); custos de armazenamento, tratamento e disposição final de rejeitos e combustíveis; custos de desativação, descontaminação, demolição e remediação do sítio, informou o especialista. 

O tema poderia ser bem mais debatido junto à sociedade, que no final, pagará as contas. 

(FOTOS: INB RESENDE – CAETITE - ELETRONUCLEAR) – 

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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Barragens de área de urânio em Caldas (MG) continuam em nível de emergência, diz ANM


 A Agência Nacional de Mineração (ANM) acaba de emitir parecer técnico sobre as barragens D4 e Bacia Nestor Figueiredo (BNF), da Unidade em Descomissionamento de Caldas (UDC), em Caldas (MG), após vistoria realizada entre os dias 25/09 01/10. O documento classifica as barragens D4 e a BNF em nível de emergência 1 no Sistema Integrado de Gestão de Barragens de Mineração (SIGBM), que é um sistema de gerenciamento desenvolvido pela ANM. Tanto a D4, construída como bacia de decantação, quanto a Bacia Nestor Figueiredo foram reclassificadas como barragens em 2023, após a ANM passar a regular e fiscalizar as estruturas de mineração das unidades da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), responsável pelo empreendimento, herança da ditadura. 

As barragens fazem parte da primeira mina de urânio (mina da cava), que começou a operar na década de 60 para atender à demanda do governo militar, que gerou um rastro de contaminação radioativa na região, em rios, lagos, solo, por exemplo. A BNF é uma estrutura de pequeno porte, que foi classificada como barragem pela ANM em razão da presença de sedimentos acumulados em seu reservatório. Após essa classificação, foi realizada a remoção de todo o sedimento contido em seu interior, e a estrutura é mantida permanentemente vazia. 



Com isso, a INB solicitou a retirada da BNF da Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), uma vez que, após as intervenções executadas, a estrutura não se enquadra mais nos critérios definidos pela política. 

FATOR DE SEGURANÇA MENOR - 

Durante a vistoria, o órgão regulador constatou a conclusão das obras para remoção dos sedimentos do reservatório e para impedir novos aportes de sedimentos. No entanto, a estrutura encontra-se com fator de segurança menor que o mínimo normativo, por isso permanece na PNSB. “A BNF já tem DPA (Dano Potencial Associado) baixo, mas como o fator de segurança ficou um pouco abaixo do que a norma pede, ela precisa de algumas adequações. 

CONTRATAÇÃO PARA INVESTIGAÇÕES ADICIONAIS - 

O primeiro passo, que está em contratação, é a realização de sondagens e investigações adicionais. “Como não temos muitos documentos ainda da barragem, é possível que, com essas novas sondagens, já se consiga atingir o fator de segurança para a retirada da política de barragens, sem fazer nenhuma intervenção”, esclarece Paulo Henrique Senedese Marinelli, engenheiro civil da Gerência de Descomissionamento de Caldas. 

Em relação à D4, está em fase de licitação a contratação de empresa para executar obras na estrutura para que ela atenda os critérios de segurança. “Com essas obras de adequação, será possível retirar a barragem do nível de emergência 1”, afirma Paulo Henrique.  No documento, o órgão informa que não foram identificadas anomalias. A ação teve início com a realização de uma sessão técnica, ocasião em que a equipe da INB apresentou a documentação e o histórico operacional das barragens. As etapas seguintes foram a vistoria do Plano de Segurança de Barragens (PSB), com o objetivo de verificar sua conformidade, e a inspeção visual nas duas estruturas para avaliar o estado de conservação e detectar eventuais anomalias aparentes. 

(FOTOS INB E BLOG) – 

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