segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Entidades científicas repudiam proposta que abre caminho para armas nucleares no Brasil

 

SBPC, ABC, SBF e SBQ pedem a rejeição integral da “PEC da bomba atômica” e reafirmam tratados que mantêm a América Latina livre de armamentos atômicos

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ao lado da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Sociedade Brasileira de Física (SBF) e da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) divulgaram nesta segunda-feira, 13 de outubro, uma nota conjunta em defesa da Constituição Federal e contra a proposta de emenda que pretende autorizar o desenvolvimento de armas nucleares no Brasil.A manifestação é uma resposta à PEC apresentada nesta semana pelo deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil - SP), que sugere permitir o uso da tecnologia nuclear para fins de defesa nacional em caso de ataques. A proposta, apelidada nas redes de “PEC da bomba atômica”, permitiria que as Forças Armadas desenvolvessem armamentos nucleares mediante autorização presidencial. 

No documento, as quatro entidades reafirmam o compromisso histórico da ciência brasileira com o uso exclusivamente pacífico da energia nuclear, um princípio consagrado na Constituição de 1988. As instituições alertam que alterar essa norma seria um “retrocesso civilizatório”, com impactos éticos, diplomáticos e morais graves, além de violar tratados internacionais que tornaram a América Latina uma zona livre de armas atômicas. 

“O Brasil, que construiu sua reputação internacional como nação promotora da paz e da cooperação científica, não precisa de bombas atômicas para ser soberano. Precisa, sim, de investimentos em educação, saúde, ciência e inovação, os verdadeiros pilares da soberania moderna”, argumentam na nota. As entidades conclamam, por fim, o Congresso Nacional a “rejeitar integralmente” a proposta e a reafirmar o compromisso do Brasil com a paz, a democracia e o uso responsável da ciência e da tecnologia. 

Leia abaixo a manifestação na íntegra: 

EM DEFESA DA CONSTITUIÇÃO E CONTRA A LEGALIZAÇÃO DE ARMAS NUCLEARES NO BRASIL

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Sociedade Brasileira de Física (SBF) e a Sociedade Brasileira de Química (SBQ) manifestam seu repúdio veemente à proposta de emenda constitucional que pretende permitir o desenvolvimento de armas nucleares no Brasil. A Constituição Federal de 1988, conquista histórica da sociedade brasileira, consagrou o princípio do uso exclusivamente pacífico da energia nuclear, uma conquista assegurada graças à mobilização de cientistas, educadores e movimentos sociais, liderados por entidades como a SBPC, ABC, SBF e SBQ. Esse dispositivo, inscrito no artigo 21, inciso XXIII, alínea “a”, é uma das expressões mais elevadas do compromisso do país com a paz, a ética e o desenvolvimento responsável da ciência. Revogar essa proibição significaria um retrocesso civilizatório, com consequências jurídicas, diplomáticas e morais irreparáveis. 

A proposta em discussão ameaça desmontar compromissos internacionais que o Brasil ajudou a construir, entre eles, o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP) e o Tratado de Tlatelolco, que fizeram da América Latina uma zona livre de armas atômicas. Romper com esses tratados não apenas violaria obrigações internacionais, como colocaria o país em rota de isolamento diplomático e perda de credibilidade global. As armas nucleares representam a antítese da ciência e da vida. São instrumentos de destruição em massa, cujas consequências humanas, ambientais e intergeracionais são incalculáveis. 

O Brasil, que construiu sua reputação internacional como nação promotora da paz e da cooperação científica, não precisa de bombas atômicas para ser soberano. Precisa, sim, de investimentos em educação, saúde, ciência e inovação, os verdadeiros pilares da soberania moderna. A justificativa de “dissuasão estratégica” é tecnicamente inconsistente e eticamente inaceitável. Nenhum país ganha segurança ao entrar em uma corrida nuclear. O custo de um programa bélico desse tipo seria astronômico, desviando recursos escassos das áreas que realmente constroem o futuro nacional. 

O Brasil deve reafirmar sua liderança ética, científica e pacífica no uso do átomo, fiel ao espírito de sua Constituição e à tradição diplomática que o consagrou como nação promotora da paz e da cooperação entre os povos. Trair esse princípio seria romper com um legado de responsabilidade e lucidez científica que nos distingue no cenário internacional. Em nome da Constituição, da ciência e da humanidade, conclamamos o Congresso Nacional a rejeitar integralmente essa PEC e a reafirmar o compromisso do país com a paz, a democracia e o uso responsável da energia nuclear e da tecnologia. Data: 13 de outubro de 2025 – 

Assinam: FRANCILENE PROCÓPIO GARCIA - Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); HELENA BONCIANI NADER; Presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC); SYLVIO CANUTO; Presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF); e ROSSIMIRIAM PEREIRA DE FREITAS; Presidente da Sociedade Brasileira de Química (SBQ). 

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sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Especialistas do setor nuclear criticam a PEC da "bomba atômica" do deputado Kim Kataguiri

 


Especialistas do setor nuclear nacional criticaram a Proposta de Emenda à Constituição (PEC), do deputado federal Kim Kataguiri, 29 anos, (União Brasil–SP), apresentada esta semana (7/10), que autoriza o desenvolvimento de armas nucleares no Brasil para fins de defesa do território nacional em caso de ataque. A PEC da “bomba nuclear”, como está sendo chamada, autoriza as Forças Armadas a desenvolvam a tecnologia a partir da autorização expressa do presidente da República. 

“A proposta é juridicamente inadmissível, estrategicamente desastrosa, economicamente insustentável e moralmente indefensável”, afirmou o engenheiro nuclear Leonam Guimarães, membro do grupo de assessoria da direção da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ex-presidente da Eletronuclear. 

Na opinião do integrante da AIEA, a PEC “destruiria conquistas diplomáticas e tecnológicas acumuladas em mais de meio século e colocaria o Brasil em rota de colisão com a comunidade internacional”. O Brasil, destacou, “não precisa de armas nucleares para ser respeitado; precisa, sim, reafirmar sua liderança ética, científica e pacífica no uso responsável do átomo”. A proposta correta, disse é “defender a Constituição, a soberania real e o futuro do País”. 

POTÊNCIAS USAM O PODER - 


A proposta do deputado também determina que o Brasil renuncie aos tratados internacionais que restringem o desenvolvimento de armas nucleares, como o TNP (Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares) e o Tratado de Tlatelolco. Ao justificar a PEC, o parlamentar afirma que o mundo vive uma nova era de instabilidade geopolítica, em que grandes potências usam o poder nuclear como instrumento de dissuasão e equilíbrio de forças. 

Para o ex-presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), mestre em engenharia pela Coppe/UFR, engenheiro Carlos Henrique da Costa Maria, o Brasil tem outras prioridades; nada tem a ver com armas nucleares. 

"O Brasil tem que avançar na exploração de suas jazidas de urânio e incrementar com rapidez todo o processo de enriquecimento”. Para isso, afirmou, “deve aumentar substancialmente o processo de transformação do yellow cake em gás de hexa fluoreto de urânio e ampliar significativamente o número de centrífugas”. E completou: “O Brasil é signatário do acordo de não proliferação de armas nucleares e, portanto, não deve produzir bombas atômicas”. 

Para o engenheiro Celso Cunha, presidente da Associação Brasileira do Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), "o setor nuclear tem muita coisa para fazer e esta não é uma delas. O deputado demonstra total desconhecimento da geopolítica e está olhando para interesses que não são os do país", comentou. E ironizou: "Não daremos palco a ele". 

CLIMA DE HISTERIA - 


A engenheira nuclear Olga Simbalista, acredita que um “clima de histeria” vem acometendo o mundo por conta de guerras e ameaças; e o deputado pode ter sido influenciado. 

“Este clima está acontecendo desde o início de duas guerras inimagináveis, uma na Europa, envolvendo Rússia e Ucrânia; outra no Oriente entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza. E, depois associadas às recentes manifestações do presidente dos EUA de anexar México, Panamá e Canadá ao território americano, comprar a Groenlândia, lançar ataque militar contra a Venezuela e outras sandices similares, é possível até ver nosso país ser também ameaçado, em particular devido a ambições quanto à posse da  Amazônia, tida como o pulmão da humanidade e, portanto pertencente a todos”, comentou. 

Olga Simbalista é membro da Academia Nacional de Engenharia, do Conselho de Notáveis da Confederação Nacional do Comércio, Conselho de Administração da Associação Comercial do rio de Janeiro (ACRJ) e da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), além da Seção Latino Americana da American Nuclear Society, por exemplo. 

Diante de tantos conflitos e ameaças, ela não apoia, mas faz uma espécie de mediação à ideia do deputado: “Como escreveu Guimarães Rosa, dito pelo personagem Riobaldo, em seu livro mais famoso, Grande Sertão: Veredas, Viver é muito perigoso”, comentou. “E está ficando cada vez mais”, alertou.

 (FOTOS: acervos pessoais)-

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quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Sindicado quer que a ANSN esclareça "acidente grave" com trabalhador em célula contendo resíduos radioativo e químico

 


O Sindicato dos Mineradores de Brumado e Microrregião (SINDMINE) quer que a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN) esclareça informações sobre o acidente com um trabalhador ocorrido no 1º deste mês (1/10) na Unidade de Concentração de Urânio (URA) da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Caetité/BA. O funcionário caiu em uma das oito células com material radioativo e químico da URA. Segundo o Sindicato, não se trata apenas de um “evento não usual”, como a INB e a ANSN divulgaram. “Trata-se de um acidente de trabalho grave, ocorrido em ambiente de alto risco químico e radiológico”, reiterou o SINDMINE em nota divulgada nesta quinta-feira (09/10).

O comunicado oficial da ANSN foi publicado no portal do governo federal em 7/10, confirma que o trabalhador caiu em um compartimento contendo solvente orgânico e resíduos de urânio, destaca a nota do Sindicato. A Autoridade também reconhece que a comunicação do fato pela empresa ocorreu apenas “algumas horas após o evento”, e que a investigação está sendo conduzida internamente pela própria operadora. O SINDMINE considera tais informações extremamente preocupantes, pois revelam “possíveis falhas na comunicação imediata de incidentes e na transparência das ações adotadas após o acidente”. 

ATRASO OU OMISSÃO DE INFORMAÇÃO - 

Em uma instalação que manipula material radioativo e químico, observou o Sindicato, “qualquer atraso ou omissão de informação compromete o princípio da segurança nuclear e o direito à proteção integral dos trabalhadores”. Por essa razão, o Sindicato encaminhou nesta quarta-feira (8 de outubro) o Ofício nº 189/25 à ANSN, solicitando: cópia da comunicação inicial feita pela INB sobre o evento, com data e hora de registro; cópia do relatório preliminar e dos registros de monitoração radiológica e toxicológica; informação sobre o acompanhamento in loco de fiscais da ANSN;  Esclarecimentos sobre os critérios de comunicação de “eventos não usuais”; e inclusão formal do SINDMINE como parte interessada no processo de apuração. 

O SINDMINE, reiterou na nota, que “reafirma seu compromisso histórico com a defesa da vida, da saúde e da segurança dos trabalhadores da INB, exigindo transparência e rigor técnico na apuração do ocorrido”. 

LEIA NO BLOG: 

03/10/2025 – Trabalhador cai em célula no setor de extração de urânio da INB na Bahia; 

05/10/2025 INB nega ("não procede") e confirma informação do Blog sobre operário que caiu em célula no setor de extração de urânio; 

06/10/2025 – Empregado da INB acidentado teve contato com materiais radioativo e químico, denuncia SINDMINE

23/04/2025 - 

Eventos climáticos extremos ainda afetam instalações com material radioativo. MCTI e Ibama prestam informações exclusivas ao Blog

13/01/2024 -  Vendaval paralisa planta de produção de urânio de Caetité

24/01/2024 - INB tem que informar sobre contaminação de urânio em Caetité (BA); refletores sem funcionar levam vigilantes a usarem lanternas em rondas noturnas

(FOTO: INB) – 

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terça-feira, 7 de outubro de 2025

Queda de operador em célula com material radioativo: ANSN "ações de fiscalização"

 


A Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN), recém formada, divulgou nesta terça-feira (07/10) que está acompanhando a situação do trabalhador da Unidade de Concentração de Urânio (URA),, em Caetité, na Bahia, que caiu dentro de uma das células com material radioativo e químico na quarta-feira da semana passada (1/10), A ANSN informou que está “coletando informações e realizando as ações de fiscalização cabíveis no âmbito de sua atuação”. 

Informou também que a empresa Indústrias Nucleares do Brasil (INB), operadora da URA, está conduzindo investigação interna e, conforme os procedimentos estabelecidos, deverá apresentar relatório detalhado à Autoridade sobre o evento. A organização foi comunicada. “do evento não usual, envolvendo um operador da instalação”. Só depois de o fato ser noticiado pelo Blog no dia 3/10, a INB divulgou nota interna de esclarecimento.


 “A comunicação inicial ocorreu algumas horas após o evento, ocasião em que foi informado que um trabalhador, durante atividade operacional nas células de reextração, sofreu uma queda no interior de um compartimento contendo solvente orgânico descarregado”, divulgou hoje a ANSN. O órgão, do Ministério de Minas e Energia (MME), reproduziu praticamente as mesmas informações da INB. Mas segundo a literatura disponível, é importante lembrar que, problemas de saúde de pessoas contaminadas, muitas vezes, se manifestam tempos depois. “O operador (trabalhador) foi imediatamente socorrido, encaminhado para higienização e posteriormente submetido à monitoração pelo Serviço de Proteção Radiológica da unidade, que não detectou contaminação radiológica nem observou indícios de ingestão ou incorporação de material proveniente do compartimento”, declarou a ANSN. 

E Mais: “Posteriormente, o trabalhador foi atendido pelo serviço médico da instalação e encaminhado para avaliação em hospital, onde também foi submetido a exames. Segundo informações da unidade, por recomendação médica, o operador permaneceu em observação por uma noite, recebendo alta no dia seguinte, após novos exames e avaliação médica”. 

MINA DE PROBLEMAS -

 


A lista de problemas da URA é conhecida. Em dezembro de 2024 a planta para a produção de urânio foi paralisada quando uma ventania, destelhou galpões e telhas que caíram sobre tanques. Na época, segundo a INB uma parte do telhado da AA-170 que cobre a área de estocagem de tambores, foi danificada, sendo que fragmentos de telhas e blocos caíram dentro da próprio AA-170, causando danos e exposição de um dos tambores. Fragmentos de telhas perfuraram duas mantas, a superior e inferior, na bacia de processo TQ 140, causando infiltração de efluentes contendo urânio para o selo de argila da própria bacia. Espera-se que os reparos tenham sido realizados.

 Na ocasião, a informação do BLOG foi confirmada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A área de produção do concentrado de urânio foi a mais danificada. Esta é uma prova de que eventos climáticos extremos podem afetar instalações que operam com material radioativo. Segundo o MCTI, a INB continuava implementando ações “remediadoras na área das bacias de processo, também afetada pelo evento climático extremo”. E mais: “Uma das bacias continuava inoperante devido à manutenção pendente”. Os problemas foram resolvidos? 

LEIA NO BLOG: 

03/10/2025 – Trabalhador cai em célula no setor de extração de urânio da INB na Bahia; 

05/10/2025 – INB nega ("não procede") e confirma informação do Blog sobre operário que caiu em célula no setor de extração de urânio; 

06/10/2025 – Empregado da INB acidentado teve contato com materiais radioativo e químico, denuncia SINDMINE

23/04/2025 - Eventos climáticos extremos ainda afetam instalações com material radioativo. MCTI e Ibama prestam informações exclusivas ao Blog

13/01/2024 -  Vendaval paralisa planta de produção de urânio de Caetité

24/01/2024 - INB tem que informar sobre contaminação de urânio em Caetité (BA); refletores sem funcionar levam vigilantes a usarem lanternas em rondas noturnas

(FOTOS: INB E EXCLUSIVAS BLOG) – 

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segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Empregado da INB acidentado teve contato com materiais radioativo e químico, denuncia SINDMINE

 


O funcionário da Unidade de Concentração de Urânio (URA), em Caetité, na Bahia, que caiu em uma das oito células do setor de extração de urânio (área 160), na quarta-feira (1/10), teve contato com solvente, resíduos radioativos de urânio, cloreto e ácido sulfúrico. Os materiais contaminantes atingiram o corpo da vítima (braços e quadril).  As informações constam em nota divulgada hoje (6/10) pelo Sindicato dos Mineradores de Brumado e Micro Região Filiado ao CTB e Dieese (SINDMINE) que cobra informações e medidas urgentes da Indústrias Nucleares do Brasil (INB) responsável pela instalação. 

O fato de a INB não ter acionado da Brigada de Emergência, sob a alegação de que não se tratava de emergência, é “grave falha nos protocolos de segurança em ambiente radioativo e químico”, afirmou o Sindicato que exige investigação imediata do acidente, com participação Sindical. O acidente ocorreu quando funcionário tentava realizar a limpeza do local de forma braçal, o que deveria ser feito por uma bomba de sucção. Enquanto a empresa minimiza o acidente divulgando em notas internas que o funcionário sofreu “pequenas escoriações”, ele relata exposição significativa, atingindo braços e quadril, o que configura risco sério à saúde ocupacional, informou o SINDMINE. 

“Além disso, o serviço estava sendo executado sem Licença de Trabalho (LT) e de forma inadequada, sem avaliação de risco em área crítica, com produtos químicos e radioativos, é uma falha grave e inaceitável’, destacou o Sindicato, que “manifesta profunda indignação e preocupação com o acidente”.

O SINDMINE cobra da INB medidas imediatas para garantir a segurança e integridade dos trabalhadores, entre elas, a publicação de nota oficial sobre o acidente; emissão imediata de comunicado público e medidas adotadas e acompanhamento do trabalhador. E mais: assistência integral ao trabalhador, garantia de acompanhamento médico, toxicológico e radiológico completo, com total transparência nos resultados dos exames. E investigação com participação sindical, instalação de comissão de investigação para apurar causas do acidente, especialmente a execução sem LT e o não acionamento da Brigada de Emergência, assegurando a participação efetiva do SINDMINE. 

O Sindicato também exige a revisão de protocolos e atualização imediata dos procedimentos de segurança na Área 160, onde o acidente ocorreu, “eliminando práticas manuais perigosas e investindo em métodos mecanizados seguros”. 

ACIDENTE - 

A INB divulgou nota interna sobre o caso do operário, revelado pelo BLOG anteontem, com exclusividade. O trabalhador caiu e se feriu ao pisar numa tampa de ferro que estava aberta, em uma das oito células do setor de extração de urânio (área 160) às 10h30 de quarta-feira (1/10). Em nota interna de esclarecimento a INB afirmou que a informação do BLOG “não procede”. Mas logo em seguida reiterou: “O fato envolveu um empregado que, durante atividade rotineira no setor de extração, sofreu uma queda em compartimento contendo solvente orgânico descarregado”. A empresa nega e confirma ao mesmo tempo. Não informa como e porque o empregado sofreu a queda. 

A reportagem informa que o trabalhador foi atendido, o mínimo que se espera. A INB também confirma e tenta amenizar a gravidade do ocorrido: “O trabalhador foi prontamente atendido pela equipe presente, recebendo os primeiros cuidados ainda no local”. E mais: “O empregado sofreu apenas pequenas escoriações, sem maior gravidade, e passa bem”. O Blog também informou que o trabalhador teve alta no dia seguinte. A INB tenta, mais uma vez desqualificar a gravidade do caso ao informar que a “atividade rotineira não demandava licença de trabalho específica da área de segurança”. Em quais situações há a necessidade de licença de trabalho? 

A INB, que só reconheceu o caso internamente. Admitiu que “por precaução foram realizados exames de imagem, laboratoriais e consulta ao Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox)”. Não seria uma obrigação da empresa? E completa: trabalhador “também será submetido a bioanálises e exames específicos adicionais”. O empregado, afirma a empresa, “está sob acompanhamento integral das áreas de Saúde Ocupacional, Segurança do Trabalho, Radioproteção e Serviço Social da INB”. A URA tem cerca de 280 empregados seletivos e 300 terceirizados.

ÚNICA MINERAÇÃO DE URÂNIO NO BRASIL - 

Segundo as informações oficiais da INB, na Unidade de Concentração de Urânio (URA), situada no município de Caetité (BA), está implantada a única mineração de urânio em atividade no país. Nela são realizadas as duas primeiras etapas do ciclo do combustível nuclear: a mineração e o beneficiamento do minério, que resulta no produto chamado concentrado de urânio ou yellowcake. A unidade ocupa uma área de 1.700 hectares, localizada em uma província mineral com recursos que chegam a 87 mil toneladas de urânio e onde estão identificados 17 depósitos minerais. 

De 2000 a 2015, a INB Caetité produziu 3.750 toneladas de concentrado de urânio a partir da extração a céu aberto de uma dessas jazidas – a mina Cachoeira. A mina que se encontra em operação hoje é a mina do Engenho. O concentrado de urânio produzido pela INB é transportado até o porto de Salvador, de onde segue para a Europa, onde é submetido a outro processo do ciclo do combustível nuclear: a conversão, que é a transformação do concentrado em gás (hexafluoreto de urânio – UF6). Somente em forma de gás o urânio pode ser enriquecido. 

(FOTO: INB) -– 

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domingo, 5 de outubro de 2025

INB nega ("não procede") e confirma informação do Blog sobre operário que caiu em célula no setor de extração de urânio.

 


A empresa Indústrias Nucleares do Brasil (INB) divulga nota bizarra sobre o caso do operário da Unidade de Concentração de Urânio (URA), em Caetité, na Bahia, que caiu e se feriu ao pisar numa tampa de ferro que estava aberta, em uma das oito células do setor de extração de urânio (área 160) às 10h30 de quarta-feira (1/10), conforme o blog divulgou com exclusividade. Em nota interna de esclarecimento a INB afirma que a informação “não procede”. Mas logo em seguida reitera: “O fato envolveu um empregado que, durante atividade rotineira no setor de extração, sofreu uma queda em compartimento contendo solvente orgânico descarregado”. A empresa nega e confirma ao mesmo tempo. Não informa como e porque o empregado sofreu a queda. 

A reportagem informa que o trabalhador foi atendido, o mínimo que se espera. A INB também confirma e tenta amenizar a gravidade do ocorrido: “O trabalhador foi prontamente atendido pela equipe presente, recebendo os primeiros cuidados ainda no local”. E mais: “O empregado sofreu apenas pequenas escoriações, sem maior gravidade, e passa bem”. O blog também informou que o trabalhador teve alta no dia seguinte. A INB tenta, mais uma vez desqualificar a gravidade do caso ao informar que a “atividade rotineira não demandava licença de trabalho específica da área de segurança”. 

Em quais situações há a necessidade de licença de trabalho? A INB, que só reconheceu o caso internamente, após a reportagem do BLOG, passa panos quentes na situação, pois a atividade é rotineira. Trabalho braçal, sem equipamento é rotina? E admite que “por precaução foram realizados exames de imagem, laboratoriais e consulta ao Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox)”. Não seria uma obrigação da empresa? E completa: trabalhador “também será submetido a bioanálises e exames específicos adicionais”. O empregado, afirma a empresa, “está sob acompanhamento integral das áreas de Saúde Ocupacional, Segurança do Trabalho, Radioproteção e Serviço Social da INB”.  A URA opera com cerca de 280 trabalhadores efetivos e 300 terceirizados.

AVALIAÇÃO DE RISCOS - 

O acidente ocorreu sem que a Brigada de Emergência da empresa fosse acionada. O trabalho estava sendo executado sem a licença de segurança, que inclui parecer técnico de avaliação de riscos, entre outras exigências. Até o momento a empresa não emitiu comunicado externo sobre o caso em sua página na internet. O documento Situação Anormal de Operação (SAO) foi emitido internamente. A vítima caiu dentro da célula de extração de uranio com solvente e ficou mergulhada até o quadril. Foi retirada e levada para o Hospital Nova Aliança, em Guanambi, a cerca de 80 quilômetros da URA. No ano passado, no mesmo local, três trabalhadores passaram por problemas parecidos e apresentaram reações alérgicas. 

O acidente ocorreu quando funcionário tentava realizar a limpeza do local de forma braçal, o que deveria ser feito por uma bomba de sucção. A vítima teve alta no dia (2/1) e terá que fazer exames de urina diários capazes de monitorar se está ou não o algum tipo de contaminação. 

NOTA INTERNA DA INB

“A Indústrias Nucleares do Brasil (INB) esclarece que não procede a informação veiculada no blog sobre a ocorrência registrada em 1º de outubro de 2025, em sua Unidade de Concentração de Urânio (URA), em Caetité (BA). O fato envolveu um empregado que, durante atividade rotineira no setor de extração, sofreu uma queda em compartimento contendo solvente orgânico descarregado. O trabalhador foi prontamente atendido pela equipe presente, recebendo os primeiros cuidados ainda no local. Esclarecemos os seguintes pontos: O empregado sofreu apenas pequenas escoriações, sem maior gravidade, e passa bem. A situação não foi caracterizada como emergência, razão pela qual não houve necessidade de acionar a brigada de emergência. A atividade em execução era rotineira e não demandava licença de trabalho específica da área de segurança. Por precaução, foram realizados exames de imagem, laboratoriais e consulta ao Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox). O trabalhador também será submetido a bioanálises e exames específicos adicionais. O empregado está sob acompanhamento integral das áreas de Saúde Ocupacional, Segurança do Trabalho, Radioproteção e Serviço Social da INB. A empresa reitera que todos os protocolos internos foram rigorosamente seguidos e os órgãos de controle foram notificados”. Quais? 

ÚNICA MINERAÇÃO DE URÂNIO NO BRASIL - 

Segundo as informações oficiais da INB, na Unidade de Concentração de Urânio (URA), situada no município de Caetité (BA), está implantada a única mineração de urânio em atividade no país. Nela são realizadas as duas primeiras etapas do ciclo do combustível nuclear: a mineração e o beneficiamento do minério, que resulta no produto chamado concentrado de urânio ou yellowcake

A unidade ocupa uma área de 1.700 hectares, localizada em uma província mineral com recursos que chegam a 87 mil toneladas de urânio e onde estão identificados 17 depósitos minerais. De 2000 a 2015, a INB Caetité produziu 3.750 toneladas de concentrado de urânio a partir da extração a céu aberto de uma dessas jazidas – a mina Cachoeira. 

A mina que se encontra em operação hoje é a mina do Engenho. O concentrado de urânio produzido pela INB é transportado até o porto de Salvador, de onde segue para a Europa, onde é submetido a outro processo do ciclo do combustível nuclear: a conversão, que é a transformação do concentrado em gás (hexafluoreto de urânio – UF6). Somente em forma de gás o urânio pode ser enriquecido. 

(FOTO: INB) -– 

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sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Trabalhador cai em célula no setor de extração de urânio da INB na Bahia

 


Um funcionário da Unidade de Concentração de urânio (URA), em Caetité, na Bahia, da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), pisou numa tampa de ferro que estava aberta, e caiu dentro de uma das oito células do setor de extração de urânio (área 160) às 10h30 de quarta-feira (1/10), de onde foi retirado por outros empregados, com diversos ferimentos. A Brigada de Emergência da empresa não foi acionada. 

O trabalho estava sendo executado sem a licença de segurança, que inclui parecer técnico de avaliação de riscos, entre outras exigências. Até o momento a empresa não emitiu comunicado sobre o caso em sua página na internet. O documento Situação Anormal de Operação (SAO) foi emitido internamente. 

A vítima caiu dentro da célula de extração de uranio com solvente e ficou mergulhada até o quadril. Foi retirada e levada para o Hospital Nova Aliança, em Guanambi, a cerca de 80 quilômetros da URA. No ano passado, no mesmo local, três trabalhadores passaram por problemas parecidos e apresentaram reações alérgicas.

O acidente ocorreu quando funcionário tentava realizar a limpeza do local de forma braçal, o que deveria ser feito por uma bomba de sucção. A vitima teve alta ontem (2/1) e terá que fazer exames de urina diários capazes de monitorar se está ou não o algum tipo de contaminação. 

(FOTO: INB ) – 

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