sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Eletronuclear anuncia cortes como demissões, com foco em Angra 3; empregados denunciam riscos na segurança das usinas nucleares

 


Depois de uma série de denúncias sobre a precariedade de atual gestão, que poderá colocar em risco a segurança das usinas Angra 1 e Angra 2, a Eletronuclear divulgou nesta sexta-feira (07/02) “medidas de austeridade” para viabilizar construção de Angra 3. Estre as medias, constam o desligamento de funcionários, cobrança de custos de manutenção das residências nas vilas, e a adoção do plano de demissão voluntária (PDV/PDI). Funcionários também divulgaram carta com alertas sobre os perigos envolvendo a falta de segurança nas instalações atômicas, a sobrecarga de trabalho, e as paradas por problemas nas unidades.  

Mas segunda a Eletronuclear, as medidas que serão adotadas resolverão parte dos problemas. Aprovada pelo Conselho de Administração, no dia 27 de janeiro, a nova estrutura organizacional da Eletronuclear entra em vigor a partir de 1º de abril de 2025, “trazendo uma economia estimada de R$ 3 milhões anuais”. Com a reformulação, haverá a “redução de níveis hierárquicos para otimizar a tomada de decisão; eliminação de sobreposição de atividades, melhorando a produtividade; e redução de quatro superintendências e 36 gerências/assessorias. 

Trata-se de uma redução significativa. Fontes do setor questionaram porque não ocorreu antes? E destacaram a preocupação de alterações nas áreas de operação e engenharia. Se for de Angra 1 e Agra 2, alertaram para a redução da segurança. 

PÁ DE CAL -

Os atrasos nas obras de Angra 3 são constantes. A usina, fruto do acordo nuclear Brasil-Alemanha durante a ditadura militar, começou a ser construída em 1984. As obras estão mais uma vez paradas, e caberá ao governo federal, através do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) decidir colocar uma pá de cal sobre o empreendimento ou criar mais uma expectativa de finalização, desta vez, adiando de 2028 para 2031. 

Mesmo todos os números apresentados pelo presidente da Eletronuclear, o advogado Raul Lycurgo Leite, no cargo desde 20/12/2023, não seriam suficientes para alavancar Angra 3, comentaram técnicos do setor. A usina já consumiu cerca de R$ 8 bilhões e precisaria de pelo menos outros R$ 23 bilhões para entrar em operação. Com a postergação da data para 2031, segundo ele, “desta maneira, o novo formato permite uma melhor utilização de mão-de-obra-realocando funcionários que estavam voltados aos serviços de operação e engenharia de Angra 3 para Angra 1 e Angra 2, em funcionamento. 

Técnicos questionaram este ponto, com preocupação. Realocar como assim? Se há déficit de pessoal apacitado nas duas centrais atômicas: E se Angra 3 ainda está com as obras civis paradas? 

FARTURA EM CARGOS DE CHEFIA - 

Enquanto a companhia contrata cerca de mil profissionais brasileiros e estrangeiros para as atividades de reabastecimento das usinas nucleares, enquanto não se fala em concurso público para áreas fundamentais de operação e segurança, a mesma carência não abarca todos os setores: “O organograma revogado, que estava em vigor desde 2022, tinha mais de 116 cargos de chefia e com a nova estrutura passa a ter 73 cargos. Ou seja, 43 cargos de chefes serão extintos ou incorporados por outras áreas para otimização dos recursos”. 

“Desde 2021, os custos da Eletronuclear com Pessoal, material, serviços de terceiros e outros, (PMSO) estavam mais de 50% acima do valor concedido em tarifa pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em 2022, o PMSO concedido pela Aneel era de R$1,1 bilhão, mas a empresa gastou R$1,6 bilhão. Ou seja, em 2022, R$500 milhões saíram do caixa da companhia sem cobertura tarifária. No ano seguinte, 2023, o PMSO concedido pela Aneel foi novamente de R$1,1 bilhão, mas a empresa gastou R$1,78 bilhão. Isto é, em 2023, aproximadamente R$700 milhões saíram do caixa da companhia sem cobertura tarifária”. 

Ainda em 2023, informou, “o orçamento para 2024 apontava para gastos na companhia com PMSO de R$2,4 bilhões, enquanto que o PMSO da Aneel era de R$1,4 bilhões. Se isso se concretizasse, seria um déficit de R$1 bilhão. Com medidas de racionalização já implementadas pela atual gestão da Eletronuclear, a empresa reduziu os gastos com PMSO em 2024 de R$2,4 bilhões para R$1,9 bilhão, ainda além do PMSO da Aneel de R$1,4 bilhão, mas invertendo a tendência. A meta é atingir o equilíbrio até o final de 2026, alinhando os custos ao PMSO regulatório da Aneel com os custos de PMSO da empresa”.  

"A redução do PMSO é essencial para garantir a viabilidade econômica da Eletronuclear e a continuidade de projetos estratégicos, como Angra 3. Desse modo, a referida mudança no organograma se faz necessária", afirma Lycurgo. Além disso, segundo ele, a empresa implementará a cobrança de uma taxa para custear serviços de manutenção das vilas residenciais destinadas aos funcionários em Angra dos Reis. A medida, que não se trata de um aluguel, visa cobrir despesas como limpeza, água, luz, telefone e IPTU. 

Os planos da Eletronuclear costumam divulgar para a sociedade que a salvação energética do país depende das usinas nucleares, com ênfase na necessidade de Angra 3.  Há cerca de dois anos, por exemplo, não se sabe quanto a companhia gastou para produzir outdoor instalados nas estações do metrô carioca, com a mensagem da salvação nuclear para o país. Vamos aos números que comprovam o contrário: a usina Angra 1 tem capacidade para produzir 640 MW; o equivalente a 10% da energia elétrica consumida na cidade do Rio de Janeiro, quando opera com 100% de sua potência. Já Angra 2, tem capacidade para produzir 1.350 MW, o equivalente a 20% da energia consumida no Rio. Angra 3, se entrar em operação, terá a mesma capacidade de Angra 2. As três usinas operando com 100% de potência poderão gerar o equivalente a 3% do consumo de energia elétrica do País. Sim, três por centro. "Angra 3 vai acender o futuro", mais uma promessa ou fakenews. 

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Um comentário:

  1. Seria bom se as autoridades do setor, incluindo o ministro, lesse a sua matéria e tomasse a providência cabível. Por exemplo: será que um advogado é a melhor solução para. Presidência do setor?

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