0 total de rejeitos radioativos de baixa e média atividade produzidos pelas usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, em 2022, foi de 55,25 metros cúbicos. A meta estabelecida pela Eletronuclear era de não superar o total de 107 metros cúbicos. Provavelmente o valor não foi ultrapassado porque as duas usinas foram desligadas algumas vezes no decorrer do ano por problemas diversos. As informações sobre os rejeitos constam no Relatório Anual de 2022 da Eletronuclear, divulgado nesta segunda-feira (03/07). Comprada da norte-americana Westinghouse em 1970, Angra 1 entrou em operação comercial em 1985. Já Angra 2, parte do pacote nuclear Brasil-Alemanha, assinado em 1975, em 2001. Desde então, exceto nos vários períodos de paralisação, são essas quantidades estimadas de rejeitos produzidos pelas usinas, valores não informados pela companhia. Em setembro do ano passado, a partir de denúncia do Globo, a companhia admitiu no Relatório Anual, que por conta de falha em uma válvula houve água radioativa “empoçada no teto de um edifício”.
A Eletronuclear informou no documento que realiza a coleta de amostras da fauna e flora, das águas e do solo, da água de chuva e de partículas do ar recolhidas por filtros, além de medições da temperatura da água do mar. As amostras passam, no laboratório, pela contagem das partículas radioativas contidas nessas amostras. Todos os anos, segundo a companhia, os resultados dessa verificação são comparados com as análises do período que antecedeu a operação das usinas.
“As conclusões são reportadas aos órgãos reguladores. O trabalho inclui uma atenção especial para a água do mar utilizada no sistema de refrigeração do núcleo do reator. O cuidado maior é com a temperatura da água que é descartada no mar, com o objetivo de evitar impactos ambientais. A água é utilizada em um sistema de resfriamento externo, e, portanto, não está sob risco de contaminação radiológica”. afirma. Mas não parece que foi assim no dia 16 de setembro do ano passado.
ÁGUA RADIOATIVA EMPOÇADA –
"No dia 16 de setembro durante a parada da usina de Angra 1 para reabastecimento, com o reator desligado, houve a liberação não programada de aproximadamente 90 litros de água com baixo teor de radioatividade (quantidade equivalente a dois tanques de combustível de um carro popular). A água era proveniente do sistema de purificação para retirada de partículas radioativas e seguia para um tanque de reciclagem. A falha em uma válvula permitiu que essa água ficasse empoçada no teto de um edifício de segurança e, com as chuvas nos dias seguintes, chegasse ao sistema de águas pluviais e fosse, inadvertidamente, lançada no mar. Assim que o vazamento foi detectado, a Eletronuclear intensificou a monitoração radiológica no local de despejo das águas pluviais.
O Laboratório de Monitoração Ambiental (LMA) da empresa realizou coletas conjuntas com o Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), e analisou amostras de água do mar e sedimentos marinhos coletados próximos às saídas de água de Angra 1. Também foram imediatamente isolados e reparados todos os componentes envolvidos na falha e revisados os procedimentos de manutenção e operação pertinentes, impedindo que um evento similar volte a ocorrer no futuro.
A monitoração não encontrou a presença de partículas radioativas artificiais (oriundas das atividades da usina) na água do mar. Somente em duas das oito amostras coletadas de sedimentos marinhos foram encontrados radionuclídeos artificiais (⁵⁴Mn, ⁵⁸Co, ⁶⁰Co e ⁹⁵Nb), porém em quantidade muito baixa. Face à pequena atividade radiológica encontrada nas amostras, pode-se concluir que nenhum impacto será observado ao homem ou ao meio ambiente. Vale esclarecer que o trabalho de monitoração radiológica no entorno das usinas nucleares é realizado desde antes do início de seu funcionamento, o que permite confrontar os resultados obtidos agora com os que existiam naturalmente na região.
Em razão das conclusões obtidas por meio das avaliações realizadas, o evento foi considerado em nível de incidente operacional, isto é, não houve a liberação de efluentes líquidos radioativos que pudessem expor o público a níveis de radiação acima dos limites estabelecidos, de acordo com a Norma CNEN-NN-3.01. Sendo assim, todas as análises e contabilizações radiológicas foram incorporadas ao relatório semestral de efluentes e rejeitos da proteção radiológica, de acordo com a Norma CNEN-NN 1.14. Mesmo assim, a empresa está revisando seus normativos para ser mais conservadora em seus critérios de notificação e transparente em sua comunicação com o público.
A Eletronuclear reitera que o incidente foi encerrado e suas causas estão sanadas, não existindo áreas impróprias ao acesso nem risco de agravamento da situação. O evento não ocasionou nenhum tipo de prejuízo às pessoas ou ao meio ambiente, conclusão referendada pelos próprios órgãos licenciadores — Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e CNEN.
A empresa foi autuada pelo Ibama e processada pela Justiça Federal de Angra dos Reis, mas mantém sua posição de não ter infringido nenhuma das normas estabelecidas e se defenderá em todas as instâncias cabíveis”, informoua companhia em seu Relatório Anual, destacando o caso.
A denúncia sobre a água radioativa jogada no mar foi divulgada pelo O Globo e, na sequência, amplamente noticiada pela imprensa. A principal denúncia era de que a companhia demorou a informar, escondendo o fato dos órgãos competentes.
FOTO: ELETRONUCLEAR –
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