segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Rejeitos radioativos: INB cancela visita à Caldas; prefeito aguarda justificativa e avisa que tomará providências

 


O presidente da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Carlos Freire Moreira, cancelou a visita agendada para ocorrer nesta terça-feira (14/09) ao município de Caldas (MG), onde a empresa estoca mais de 15 mil tambores com material radioativo e deverá receber pelo menos mais uma tonelada procedente da Usina de Santo Amaro (USIN), em São Paulo. 

A visita havia sido agendada com o prefeito de Caldas, Ailton Goulart, dias após a informação ter sido divulgada pelo blog no dia 27/8. O prefeito esteve na INB e cobrou providências a Freire Moreira: avisou que não aceitará o lixo radioativo na cidade. “Se for preciso, tomaremos medidas jurídicas”, afirmou.  

O prefeito disse que aguarda a confirmação sobre os motivos que levaram o presidente da INB cancelar a visita. É possível que ele esteja às voltas com os preparativos para a sua viagem a Viena, na Áustria, participando da 65ª Conferência da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA), que será realizada de 17 a 25 deste mês. 

ANTPEN LUTA NA JUSTIÇA - 

Os rejeitos radioativos fazem parte do estoque acumulado da Nuclemon, no Brooklin (SP), empresa da INB, que manuseou torta II e outros materiais nucleares, desde a década de 70.  A longa história gerou prejuízos materiais e humanos incalculáveis, como a contaminação de trabalhadores da empresa, que durante décadas, sem saber, manusearam elementos radioativos. Até hoje o caso da Nuclemon gera sofrimento e prejuízos aos ex-funcionários da empresa, fechada em 1992. 

Abandonados pelo poder público, as vítimas e familiares – pois muitos já morreram-, em 2006, fundaram a ANTPEN (Associação Nacional dos Trabalhadores da Produção de Energia Nuclear), para lutar pela causa. São dezenas de pedidos de indenização na Justiça Paulista. Até hoje, o máximo que as vítimas conseguiram foi o pagamento de um plano de saúde. 

USIN: TERRENO VALIOSO - 

No próximo dia 16/9, o prefeito terá reunião com a equipe do governador Romeu Zema. A Câmara de Vereadores já se manifestou com nota de repúdio contra a decisão da INB.  O caso de Caldas corre na Justiça paulista e de Pouso Alegre (MG). Na Justiça, a INB indica Caldas para receber mais material radioativo, alegando que o lugar é excelente para este objetivo. Indica também o município de Buena, em São Francisco de Itabapoana (RJ). 

Assim como o governo vendeu o terreno da Nuclemon no Brooklin por R$ 12.279,00 o metro quadrado; segundo fontes, a intenção da empresa é esvaziar e fazer o mesmo com o terreno da USIN avaliado hoje em cerca de R$ 3.469,55 por metro quadrado. 

TELHADO TROCADO - 

Com o encerramento das atividades da Nuclemon, em 1992, uma grande parte do material radioativo foi levado para Caldas. Lá, recentemente, INB teve que trocar o telhado de galpões que se deterioraram com o tempo. 

Segundo o cronograma de transferência da INB, conforme documentos do Ministério Público Federal – Procuradoria da República de São Paulo - a Torta II será transportada para o local neste primeiro semestre de 2021 e primeiro semestre de 2022 e, ainda, no primeiro bimestre de 2023. O transporte efetivo desse material está previsto para o primeiro semestre de 2025. 

Leia no blog: Destino de mina de urânio em Poços de Caldas é tema de seminário (18/9/2019); Lixo radioativo enterrado em Poços de Caldas tem que ser eliminado, exigem especialistas (21/09); Primeira mina de urânio é “herança maldita”: barragem pode se romper (20/11/2019); Primeiro exercício simulado em Caldas, para caso de acidente em barragem e mina e urânio desativada (17/12/2019); Risco de contaminação radioativa na troca de cobertura que abriga 15 mil tambores com Torta II, em MG (10/06/2021) – FOTO – INB - Caldas - 

3 comentários:

  1. Tania Malheiros vem fazendo um trabalho de denúncia social extremamente importante em sua página, comentando sobre o perigo das usinas nucleares e o descaso das autoridades com a população ao redor. É preciso divulgar para que possamos pedir transparência das autoridades em assunto tão importante. Parabéns à jornalista.

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  2. Tania Malheiros vem fazendo um trabalho de denúncia social extremamente importante em sua página, comentando sobre o perigo das usinas nucleares e o descaso das autoridades com a população ao redor. É preciso divulgar para que possamos pedir transparência das autoridades em assunto tão importante. Parabéns à jornalista.

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  3. Nos governos anteriores, a questão dos resíduos nucleares nunca foram resolvidos a tendo em vista o interesse e a saúde pública, imagina agora neste sem o mínimo de sensibilidade e compromisso com a população - basta ver os quase 600 mil mortes pela covid. É um abuso e um perigo para as comunidades atingidas. Parabéns pela matéria.

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