terça-feira, 6 de abril de 2021

Começou a transferência de combustível usado (urânio) das usinas nucleares para a UAS

 


A Eletronuclear confirmou o início da operação inédita de transferência de combustível usado (urânio irradiado) das piscinas das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, para a Unidade de Armazenamento a Seco (UAS), em Angra dos Reis, Costa Verde do Estado do Rio de Janeiro. A primeira transferência teria ocorrido sábado (03/04), começando por Angra 2, que está com as piscinas praticamente esgotadas.  

Como o blog tem noticiado, as piscinas das duas usinas que armazenam o combustível estão chegando ao limite. O esgotamento da piscina de Angra 2 ocorre em junho próximo; e o de Angra 1, está previsto novembro. Técnicos da área nuclear estão sendo treinados desde outubro para realizar o trabalho. 

Com capacidade para armazenar combustível usado até 2045, a UAS custará cerca de US$ 50 milhões. Inicialmente, terá 15 módulos, podendo chegar a 72. Cerca de 288 elementos combustíveis serão retirados de Angra 2 e 222, de Angra 1, abrindo espaço nas piscinas para o armazenamento de combustível por mais cinco anos. 

A Eletronuclear, gestora das usinas, garante que não é necessário um esquema de segurança especial para a transferência, porque a UAS está localizada dentro da central nuclear de Angra. 

“Os canisteres (filtros de carvão) com elementos combustíveis usados serão retirados das usinas hermeticamente fechados, com as tampas soldadas”. A tecnologia é “comprovadamente segura”, afirma a Eletronuclear. 

Segundo a estatal, existem unidades do tipo em operação em vários países do mundo, sendo que apenas nos Estados Unidos, há cerca de 80 instalações similares à UAS. Sua construção, garante, vem seguindo, com rigor, padrões de segurança internacionais e da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), órgão regulador e fiscalizador do setor nuclear brasileiro. Em março, a Eletronuclear realizou a simulação da transferência. 

JUSTIÇA -

 Recentemente, a Justiça Federal revogou a liminar que impedia a transferência. A ação civil pública foi movida no Ministério Público Federal, pelo procurador Igor Miranda. Entre outras coisas, o procurador argumenta que a UAS não tem segurança e corre riscos de acidentes com radiação.  A ação não tem sentença e ainda cabe recurso, o que não ocorreu até o momento. A revogação da liminar tem a assinatura da juíza substituta da 1ª Vara Federal de Angra, Daniela Berwanger Martins. 

A Eletronuclear divulgou que a magistrada “reconheceu a urgência” da transferência, de acordo com o cronograma atual, “sob o risco de ser preciso desligar, as duas usinas, de forma desnecessária”. Nesse caso, acrescentou, haveria prejuízo à estatal e à comunidade em geral pela falta de uma fonte de energia. 

O Conselho Indigenista Missionário (CIMI Regional Sul) contesta a decisão da magistrada. O CIMI representa as Comunidades Tradicionais de Angra Paraty e Ubatuba (FCT).  Seu principal propósito é auxiliar o diálogo junto às comunidades indígenas, quilombolas e caiçaras da região, para que tenham suas vozes consideradas, e que seus direitos garantidos no processo de implementação da UAS. 

PREVISÍVEL - 

Técnicos lembraram que o esgotamento das piscinas era previsível desde a inauguração comercial de Angra 1, em 1985 e de Angra 2, em 2001. Se as usinas estavam operando, gerando energia, naturalmente, teriam que receber novas recargas para substituir o combustível usado, desde então armazenados nas piscinas, há anos. “Era óbvio que as piscinas chegariam ao limite, o que acontece agora”, comentou um engenheiro da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que trabalhou em projetos de depósitos na década de 90. 

Pela complexidade de projetos envolvendo material radioativo, ele enfatizou que o setor nuclear deveria ter iniciado o processo de construção da UAS há mais tempo, dialogando com as partes, principalmente a população e seus representantes. Lembrou que, em caso de acidente, serão os primeiros a serem afetados. 

Ativistas reclamam da falta de divulgação do licenciamento do projeto pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que realizou uma audiência pública, no dia 22/01, no formato virtual, às 18h. A audiência do Ibama foi amplamente criticada pela Sociedade de Proteção Angrense (SAPÊ) e diversos ambientalistas. Muitos sequer conseguiram acessar o evento. Outros disseram que as suas perguntas não foram apresentadas no debate. 

Em nota, Ibama declarou: em relação ao licenciamento da UAS, encontra-se em fase de licenciamento de instalação. Lembramos, que a UAS, quando concluída, vai compor o empreendimento já licenciado e em operação da chamada Central Nuclear formado pelas usinas Angra 1 e Angra 2, “não se tratando, portanto, de um nada novo”. 

Mas os ambientalistas contestam a falta de respeito em relação às comunidades indígenas de Angra, que habitam os arredores da usina, muito antes da instalação nuclear ser cravada no local, nas décadas de 70 e 80. “O desrespeito é absoluto”, comenta Maria Clara Sevalho, da coordenação da SAPÊ. 

Outra fonte comentou que, por isso também, “é natural o medo” que a energia nuclear provoca nas pessoas. A Eletronuclear informou que a audiência virtual de 22/1 foi “o segundo evento realizado pela entidade (Ibama) para dar informações sobre o empreendimento à população da Costa Verde”.  

O BLOG divulga matérias sobre a UAS desde agosto de 2018. 

FOTO: UAS - Acervo Eletronuclear. 

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