Está quase esgotada a capacidade
de armazenamento do combustível usado (urânio enriquecido) pelas usinas
nucleares Angra 1 e Angra 2, em Angra dos Reis (RJ). Em janeiro, Angra 1 será
desligada para a troca de uma recarga com 222 elementos combustíveis. Em julho,
será a vez de Angra 2, com 288 elementos sendo substituídos. Ocorre que a
piscina destinada a guardá-los tem capacidade total de 2.336, mas 1.774 já
ocupam os espaços, sem incluirmos as próximas trocas em 2020.
Para se ter ideia da corrida contra do tempo,
a capacidade das piscinas ocorrerá em cerca de um ano e meio apenas. O produto
descartado das duas unidades atômicas é material precioso aos olhos dos
organismos internacionais de fiscalização: se reprocessados geram plutônio,
combustível para alimentar bombas atômicas. O Brasil domina a tecnologia, mas
não optou por este caminho, preferindo armazenar o urânio usado nas piscinas.
Até quando?
As instalações nucleares demandam outras urgências como o descarte
de material produzido, que não pode ser reaproveitado: são os rejeitos
radioativos, popularmente conhecidos como lixo atômico. Em qualquer país do
mundo esse lixo radioativo é problema. Mas estamos tratando do nosso, gerado
pelas usinas em Angra.
Nos últimos cinco anos, em média, Angra 1 produziu, por
ano, 100 metros cúbicos de rejeitos. A segunda usina: 10 metros cúbicos/ano.
Angra 1 contabiliza uma produção total de 3122,8 em metros cúbicos de rejeitos.
Angra 2: 169,2. Em um espaço de 3292 metros cúbicos cabem, portanto, 3.292.000
(três milhões e duzentos e noventa e dois mil litros).
Comprada da
norte-americana Westinghouse, em 1970, Angra 1 entrou em operação comercial em
1985. São, portanto, 35 anos de funcionamento, com várias paradas por defeitos
e 24 desligamentos para a troca de combustível. A unidade atômica teria que ser
paralisada há cerca de dois anos, mas está sendo modelada para viver mais duas
décadas. Há que se pensar no depois. Angra 2, que faz parte do pacote do acordo
nuclear Alemanha, assinado pelo general Geisel, em 1975, funciona desde 2001.Parou
16 vezes para a troca de combustível.
A Eletronuclear, gestora das usinas, terá
que desembolsar R$ 246 milhões para construir a Unidade de Armazenamento
Complementar a Seco de Combustível Irradiado (UAS), que receberá o combustível
usado, estocado nas piscinas. A previsão inicial era de que a UAS ficasse
pronta em maio do ano que vem, mas a data já passou para o final de 2020. Construindo
a UAS, haverá espaço para a transferência do lixo radioativo para as piscinas
destinadas aos elementos combustíveis. E assim, combustível e lixo estarão ocupando
seus espaços em Angra. Embora a energia produzida pelas usinas (640 MW, Angra 1
e 1.358 MW Angra 2), entre na rede nacional de distribuição, quem mais vai
querer ficar com o abacaxi da radiação? (Tania Malheiros - artigo publicado em O GLOBO, digital, de 25/12/2019)
Tania Malheiros seu artigo, muito bom, é da maior importância pois revela a real situação do brasil nesta área. Fiquei muito preocupada com o uranio praticamente disponível, ao deus dará. Continue com estas reportagens já tratadas em seus livros já que carecemos de mais noticias como as do seu blog. Parabéns.
ResponderExcluirTânia Malheiros é ua jornalista que se especializou em energia nuclear e se tornou com seus artigos e matérias num alerta sobre a situação e desempenho das unidades nucleares brasileiras. É precisa, cirúrgica em seus artigos e pir isso respeitada no setor. Parabéns e continue nesse trabalho prestando um excelente serviço à Nação.
ResponderExcluirÉ preciso lembrar os 3 livros de Tânia, o primeiro, "Brasil, a bomba oculta", lançado em 1993, "As histórias secretas do Brasil nuclear" de 1996, e o último, "Bomba atômica pra quê?", de 2018. Essas obras desnudam as peripécias, jogadas, interesses políticos que envolvem desde o começo a história e as histórias da energia nuclear no Brasil.
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