sábado, 31 de agosto de 2024

IPEN comemora 68 anos na liderança da produção de medicamentos para combater o câncer, mas com déficit de pessoal e rejeitos radioativos dos anos 70

 


O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), em São Paulo, um dos mais importantes da América Latina, está comemorando 68 anos de fundação esta semana, com atribuições fundamentais para garantir a saúde da população, mas dependendo de reposição no quadro de funcionários: dos cerca de 500, 60% já podem se aposentar. Enquanto o quadro de colaboradores é quase o mesmo. 

Em 2021, o IPEN foi alvo de disputas políticas pelo controle da produção de radioisótopos (medicamentos para diagnóstico e tratamento de combate ao câncer), mas a excelência do Instituto manteve o seu protagonismo do trabalho. O IPEN continua suprindo 85% da demanda nacional: são pelo menos dois milhões de procedimentos por ano via o Instituto. 

E na contramão de tantos avanços, ainda armazena rejeitos radioativos da década de 70, por falta de um depósito definitivo no País. O BLOG conversou com a diretora do IPEN, a engenheira química, Isolda Costa. Ela iniciou sua trajetória no IPEN no início dos anos 1980 como bolsista, e tornou-se a primeira mulher a ocupar o cargo de comando na Instituição. Eis a entrevista: 

BLOG: Como estão as atividades do IPEN no momento? 

ISOLDA: Temos pesquisas e ensino de excelência, dois programas de pós-graduação, o de Tecnologia Nuclear, com a Universidade de São Paulo; outro próprio, o Mestrado Profissional em Tecnologia das Radiações em Ciências da Saúde, além da Iniciação Científica, dos programas de pós-doutorado e estágios para alunos de graduação. Temos também duas áreas de produção, uma é a de radiofármacos, na qual suprimos 85% da demanda nacional, com cerca de dois milhões de procedimentos por ano.

 BLOG: Na área da radiação? 

ISOLDA: Temos também a única fábrica integrada de elemento combustível de toda a América Latina. Além disso, prestamos serviços, que incluem o recolhimento, depósito de rejeitos, serviços de calibração de equipamentos, de fontes, de detectores de radiação. O IPEN/CNEN também presta serviço de resposta à emergência radiológica no estado de São Paulo. 

BLOG: Outras pesquisas? 

ISOLDA: Temos a componente inovação, como parte da pesquisa. Importante salientar que há pesquisas básicas aplicadas, e no âmbito da pesquisa aplicada temos grandes investimentos com recursos orçamentários, usando a lei de inovação para fortalecer essa área.  

BLOG: Planos para o futuro. 

ISOLDA: Há muito a realizar, mas, no cenário atual, uma de nossas principais metas é incentivar, potencializar a área de inovação, que a gente acredita que as parcerias público-privadas serão o futuro. Também estamos estudando a mudança do modelo de gestão que nós temos hoje para a Rádiofarmácia, essa é uma das nossas metas para o futuro. 

BLOG: Como assim? 

ISOLDA: Temos o orçamento da União e projetos financiados pelas várias instâncias, que são parcerias com empresas, FAPESP, FINEP, CNPq. 

BLOG: No caso do radioisótopo houve a quebra do monopólio e o IPEN perderia a produção. Como ficou? 

ISOLDA: O IPEN/CNEN continua na produção como era antes da quebra do monopólio para a iniciativa privada porque nenhuma empresa ainda se capacitou para poder substituir. Eles previam que, em dois anos, teriam já instalação, mas isso não aconteceu. Portanto, o Instituto continua suprindo, abastecendo o mercado. 

BLOG: As importações de insumos continuam? 

ISOLDA: Nada mudou, por enquanto. O Instituto continua importando insumos da Rússia, da África do Sul e da Holanda. A perspectiva para o final deste ano e para 2025 é continuar importando, continuar atendendo a demanda. Inclusive, a gente tem projeto de modernização da área de produção do Iodo, para melhorar as condições de produção. 

BLOG: Como sobreviver? 

ISOLDA: O IPEN não tem repasse ao SUS, todo o nosso recurso que é gerado pela venda dos radiofármacos se transforma em uma GRU, ou seja, volta pro Caixa da União. E temos que esperar, todo ano, a aprovação da LOA, pra liberação dos recursos. 

BLOG: 

Qual a situação do contingente de servidores? 

ISOLDA: O número de servidores não chega a 500, dos quais 60% já podem se aposentar, e o número de colaboradores é praticamente o mesmo, 506. Estamos aguardando o concurso, provavelmente em janeiro, para dar mais fôlego a algumas áreas. Precisamos de, pelo menos, 50 vagas. 

BLOG: Por falta de depósitos, no passado, o IPEN servia também de depósito de material radioativo. E hoje? Onde está sendo armazenado (caso exista) o material radioativo descartado ou produzido pelo IPEN? 

ISOLDA: Na verdade, o IPEN armazena rejeitos desde os anos finais de 70 e continua até hoje recebendo rejeitos do próprio Instituto e do Estado de São Paulo. Então, nós não temos ainda problema de armazenamento. Os nossos depósitos são ativos e têm uma capacidade ainda grande, comparando com os outros depósitos existentes no Brasil, tipo Recife, Belo Horizonte. Somando a capacidade deles hoje, é menor do que o que o IPEN/CNEN ainda tem de espaço. 

BLOG: Novidade no aniversário? 

ISOLDA: Foi inaugurada a Unidade Móvel com Acelerador de Feixe de Elétrons para tratamento de efluentes industriais para fins de reuso. A unidade representa um avanço significativo na tecnologia de tratamento de efluentes, reforçando o compromisso do IPEN com a inovação e a sustentabilidade. O projeto contou com apoio da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA em sua sigla em Inglês), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), CNPq, Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A. (Nuclep) e Truckvan. O diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Wilson Aparecido Parejo Calvo, responsável pelo projeto, abiu a cerimônia de inauguração com uma apresentação na Sala de Seminários do CETER antes da visita às instalações. 

BLOG: Mensagem da direção do IPEN sobre a importância do Instituto para a sociedade, a ciência, estudantes, pesquisadores. 

ISOLDA: O IPEN desempenha um papel crucial na sociedade ao promover avanços significativos na área nuclear e correlatas, com destaque para saúde, meio ambiente, energias renováveis, lasers e aplicações, biotecnologia, ciência dos materiais, engenharia nuclear, metrologia das radiações, reatores, rejeitos e outras. Suas pesquisas e inovações contribuem para o desenvolvimento sustentável, oferecendo soluções que beneficiam tanto a população quanto o meio ambiente. Além disso, o IPEN é um importante centro de formação e capacitação para estudantes e pesquisadores, proporcionando um ambiente fértil para a troca de conhecimentos e o desenvolvimento de novas competências. Agradecemos a todos que colaboram e apoiam essa missão, pois juntos construímos um futuro mais promissor e sustentável. 

FOTO: ISOLDA COSTA - IPEN – CNEN – Produção de Reagentes Liofilizados para Radiognósticos. O PESQUISADOR Demerval Rodrigues participou de parte da entrevista. Colabore com o blog – seis anos de jornalismo independente – contribua via Pix: 21 99601-5849 - 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Em destaque

Bomba atômica! Pra quê? Brasil e Energia Nuclear - Editora Lacre

O livro “Bomba atômica! Pra quê? Brasil e Energia Nuclear”, da jornalista Tania Malheiros, em lançamento pela Editora Lacre, avança e apr...