quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Acidente nuclear em Fukushima adiou planos para instalação de usinas atômicas no Nordeste, que agora emergem

 


O maior terremoto da história do Japão, há 10 anos (11/03/2011), causou dois tsunamis – um deles com 15 metros de altura. Um tsunami danificou os geradores a diesel da usina nuclear de Fukushima Daiichi, responsável por manter funcionando o sistema ativo de resfriamento. Quatro reatores dessa usina tiveram aumento de pressão devido à temperatura, provocando explosões. Milhares de pessoas morreram. O que isso tem a ver com o Brasil? O acidente em Fukushima teria jogado uma pá de cal sobre o projeto brasileiro de construir pelo menos quatro usinas nucleares no Nordeste. A empresa norte-americana, Paul C. Rizzo Associates Inc, com sede em Pittsburgh, participou dos estudos, na gestão do contra-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva na presidência da Eletronuclear (2005/2015).

 Agora, o governo quer ressuscitar os planos adormecidos pelos efeitos devastadores de Fukushima. No relatório anual de 2020 da Eletronuclear, página 63, consta que “o pilar estratégico” da estatal busca viabilizar a construção de futuras usinas nucleares no país, alinhada com o Plano Nacional de Expansão de Energia do governo federal. O estudo considera um mínimo de quatro e um máximo de oito usinas de geração nuclear em operação até o ano de 2050. A empresa conduz os trabalhos de localização que serão aprofundados este ano. 

Defensores da indústria nuclear acham desnecessários novos estudos. “Não precisa refazer, mas sim prosseguir com os estudos de caracterização do sítio culminando com o licenciamento ambiental e o nuclear, e a aprovação no Congresso Nacional”, afirma Carlos Henrique da Costa Mariz, integrante da Academia Pernambucana de Engenharia, que gerenciou os primeiros estudos de implantação da Usina Nuclear do Nordeste, no âmbito do Programa Nuclear da Alemanha, assinado em 27 de junho de 1975.  Presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Carlos Mariz afirmou ao blog: 

“O Nordeste precisa de energia firme, de base, que possa estar presente com a potência máxima 24 horas por sete dias por semana.”. E garantiu: “Esse é um grande projeto para o setor”. 

No Nordeste, a cidade para abrigar a primeira usina já foi escolhida: é Itacuruba, em Pernambuco. “Itacuruba é um sítio nuclear considerado como excelente pelo engenheiro Paul Rizzo, grande especialista internacional, de Pittsburgh, que participou dos trabalhos de escolha de sítios nucleares no Brasil”, disse ele. 

Para convencer a população local sobre a necessidade da usina nuclear em Itacuruba, Carlos Mariz relembrou avaliações feitas há dez anos pelo norte-americano. A metodologia da pesquisa foi realizada por uma equipe técnica do Grupo de Analises de Risco Tecnológico e Ambiental (GARTA), vinculado ao Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (IVIG), independente, que atuava na Coordenação de Programas de Pós Graduação em Engenharia (Coppe). 

“Os trabalhos culminaram com a publicação do Atlas do Potencial Nuclear do Brasil indicando 40 potenciais sítios nucleares no Brasil. Foi concluído em 2011. O estudo de Itacuruba estava mais avançado e caminhava para um detalhamento maior, quando aconteceu Fukushima”, comentou. 

Ele acredita que a população contrária à instalação da usina, vai acabar se convencendo. “Os esclarecimentos para a população têm sido uma preocupação constante e, através de artigos, palestras, debates e audiência pública, justificamos por que e como a energia nuclear é a mais segura entre todas as formas de produção de eletricidade”. E garantiu: “Ela funciona a plena potência, independentemente do clima, e gera um grande desenvolvimento sócio econômico na região em que se insere”. 

Concluiu Mariz: “Além disso, salva vidas, como calculou o climatologista norte-americano James Hansen: seus cálculos indicam que, até hoje, mais de 1,8 milhão de vidas foram salvas por substituição da poluição provocada pela energia fóssil”. Mas parece não convencer em Itacuruba. 

Entidades civis de proteção ao meio ambiente como a Articulação Antinuclear Brasileira, que reúne cerca de 30 organizações civis; e a Diocese da Floresta, de Pernambuco, têm se manifestado em eventos presenciais (antes da pandemia) e virtuais, contra a ideia que se manteve submersa há mais de 10 anos, e que reaparece no momento com a presença de técnicos do sistema percorrendo a região do Rio São Francisco, o tão castigado “Velho Chico”.

(FOTO – Eletronuclear – 2011)  -

3 comentários:

  1. Sr. Mariz. Temos Sol durante o dia e ventos intensos a noite! Porque uma central eletronuclear, uma energia cara, suja e produtora de lixo atômico, as margens de um lago no rio S. Francisco, já esgotado e sem vasão hídrica segura para resfriar os reatores?

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  2. Sr. Mariz. Temos Sol durante o dia e ventos intensos a noite! Porque uma central eletronuclear, uma energia cara, suja e produtora de lixo atômico, as margens de um lago no rio S. Francisco, já esgotado e sem vasão hídrica segura para resfriar os reatores?

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  3. Mais um absurdo desse desgoverno contra o meio-ambiente. Temos de lutar contra essa ideia. Obrigado, Tânia, por sua bela reportagem.

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