Há
um cofre repleto de dinheiro contaminado com o elemento radioativo césio-137, guardado
a sete chaves há cerca de 30 anos, em algum lugar do Brasil sob os cuidados do
Governo Federal. O fato, revelado agora pelo então presidente da Comissão
Nacional de Energia Nuclear, o físico Rex Nazaré, foi mantido em sigilo até
hoje. A quantidade “excessiva de dinheiro” contaminado é “o suficiente para
deixar claro que houve outros interesses “ no recolhimento do aparelho com a cápsula
de césio 137, no Instituto Goiano de Radioterapia, no Centro da capital de Goiás,
usado no tratamento de câncer.
O
aparelho foi retirado do Instituto por catadores de um ferro-velho e encontrado
dentro de uma clínica abandonada. “Já imaginou o pânico que seria se o caso do
dinheiro contaminado vazasse? O dinheiro seria como um vírus”, comentou Rex
Nazaré ao BLOG. Segundo ele, o Governo Federal, a CNEN e o Serviço de
Inteligência trabalharam com informações junto aos bancos de Goiânia no
rastreamento do dinheiro e seu recolhimento. “Não era pouca coisa”, disse Rex Nazaré.
Além do governo federal, somente ele sabe o local do cofre com o dinheiro.
A
história do acidente de Goiânia chocou a opinião pública nacional e teve
repercussão mundial. De acordo com as notícias da época, no dia 13 de setembro
daquele ano, os catadores de papel Wagner Motta Pereira e Roberto Santos Alves
entraram no local, retiraram o aparelho, abriram algumas partes e venderam uma
delas, a que continha a cápsula com o césio-137, para Devair Alves Ferreira,
dono d um ferro-velho. Ao arrombar a cápsula, a golpes de marreta, Devair
liberou o césio, um pó brilhante, parecido com purpurina. A cápsula cm
césio-137 passou de mão em mão, em várias casas de família. Por fim, foi levada
de ônibus à Vigilância Sanitária por Maria Gabriela Ferreira, mulher de Devair.
Ela suspeitou que os problemas de saúde de sua família tivessem alguma relação
com o equipamento.
O
presidente da República, José Sarney, mandou prender os culpados. O ferro-velho
e as moradias dos pacientes mais contaminados foram demolidos. O Exército
deslocou pessoal para a região. Os médicos Orlando Alves Teixeira, Criseide
Castro Dourado e Carlos Figueiredo Bezzerril, sócios-proprietários do Instituto
de Radioterapia; e o responsável técnico do Instituto, físico hospitalar
Flamarion Barbosa Goulart, foram indiciados pela Polícia Federal (PF). Na CNEN,
houve um indiciado: o chefe do Departamento de Instalações e materiais
Nucleares, físico José Júlio Rosental. Mais tarde, a Procuradoria da República
solicitou a exclusão de Rosental do caso e a Justiça acolheu o pedido.
No
dia 23 de outubro de 1987 ocorreram as duas primeiras mortes. A menina Leide
das Neves Ferreira, de 6 anos, filha de Ivo Alves Ferreira e sobrinha de
Devair, foi uma das quatro vítimas fatais. A segunda vítima foi a tia da menina
e mulher de Devair, Maria Gabriela, de 38 anos. No dia 27 de outubro de 1987
morreu a terceira vítima: Israel Batista dos Santos, de 22 anos, que trabalhava
no ferro-velho e ajudara Devair a abrir o aparelho. No dia seguinte, morreu o
empregado do ferro-velho Admilson Alves de Souza, de 18 anos. O catador de
papel Roberto Santos Alves, de 21 anos, sobreviveu, mas teve o antebraço
amputado por causa das lesões provocadas pela contaminação. Cerca de 112 mil
pessoas que temiam estar contaminadas foram examinadas durante dois meses, no
Estádio Olímpico de Goiânia. A tragédia entrou para a história da energia
nuclear do Brasil e do mundo.
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