terça-feira, 23 de setembro de 2025

Governo anuncia exercício simulado de emergência nuclear para as centrais atômicas em Angra

 


Um exercício simulado de emergência nuclear será realizado em Angra dos Reis entre os dias 30/9 e 2/10, para avaliar, melhorar e treinar os procedimentos previstos no Plano de Emergência Externo do Estado do Rio de Janeiro (PEE/RJ) para a Central Nuclear, em relação à proteção da população, do meio ambiente das usinas nucleares e seus trabalhadores. Uma das novidades do exercício é o uso do “Cell Broadcast”, sistema de transmissão de mensagens e alarmes por SMS. O simulado prevê a mobilização de uma rede de cerca de 60 instituições, com centenas de profissionais, informou a Eletronuclear. 


O evento começa no dia 30, às 11h, com a apresentação de equipamentos e materiais à população. As atividades práticas simuladas, como ativação do sistema de alerta e alarme por sirenes; evacuação da central atômica: transporte de gerador móvel; remoção de radioacidentado em direção ao Centro Médico de Radiações Ionizantes (CMRI); evacuação de parcela da população residente nas Zonas de Planejamento de Emergência 3 e 5; coleta de amostras de solo, ar, água e vegetação na Guariba e na Praia Vermelha, entre outras. 

O planejamento do exercício foi realizado pelo Comitê de Planejamento de Resposta a Situações de Emergência Nuclear no Município de Angra dos Reis (Copren/AR) e pelo Comitê de Planejamento de Resposta a Evento de Segurança Física (Copresf/AR), que reúnem representantes da Eletronuclear; da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN);  da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN); das polícias Federal, Rodoviária Federal, Civil e Militar do Estado do Rio de Janeiro; da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil; das defesas civis do Estado do Rio de Janeiro e dos municípios de Angra dos Reis e Paraty; do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ); da Agência Brasileira de Inteligência (Abin); do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); e do Ministério da Saúde; entre outros órgãos, como a recém criada Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN). 

Durante o exercício, serão ativados o Centro Nacional de Gerenciamento de Emergência Nuclear (Cnagen), localizado em Brasília; o Centro Estadual de Gerenciamento de Emergência Nuclear (Cestgen), no Rio de Janeiro; o Centro de Coordenação e Controle de Emergência Nuclear (CCCEN) e o Centro de Informações de Emergência Nuclear (Cien), em Angra dos Reis. Além disso, será estabelecido um gabinete de crise na Central nuclear para proporcionar a coordenação e a resposta a eventos de segurança física fictícios. 

(FONTE E FOTOS: ELETRONUCLER) – 

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sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Silveira conversa com chineses sobre cadeia nuclear brasileira

 


O Brasil precisa acelerar a consolidação de sua cadeia nuclear e reduzir a dependência de importações de insumos estratégicos”, disse o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, nesta quinta-feira (18/9), em visita à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), em São Paulo (SP). Ao lado de executivos da estatal chinesa CGN Uranium, ele ressaltou que o país reúne reservas de urânio, tecnologia e know-how para ampliar a geração elétrica a partir da fonte nuclear. 

Segundo Silveira, parcerias internacionais podem ser decisivas para dar escala ao setor, especialmente diante do avanço global dos pequenos reatores modulares. O ministro defende que o Brasil tem muito para desenvolver podendo gerar divisas, impostos, emprego e renda. “Estamos dialogando com a CGN Brasil e a United Uranium Corporation (URC) para fortalecer a cadeia do urânio, unindo desenvolvimento econômico e sustentabilidade. O Brasil tem reservas, tecnologia e parcerias estratégicas que podem garantir energia limpa, empregos e renda para o nosso povo. É energia limpa e segura, capaz inclusive de substituir termelétricas a diesel em sistemas isolados do país”, afirmou. 

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Brasil ainda dependente da importação de combustível nuclear para manter em operação as usinas de Angra 1 e 2, em Angra dos Reis (RJ). As obras de Angra 3 continuam paralisadas. “Já na China, de acordo com os executivos da CGN e URC, as usinas nucleares são construídas em até cinco anos no país, adicionando à matriz elétrica local 10 gigawatts por ano”, afirmou. 

Silveira também aproveitou para reforçar a criação do Conselho Nacional de Política Mineral e do Conselho de Minerais Críticos e Estratégicos, ambos colegiados que contarão com a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva. O objetivo, segundo ele, é reduzir vulnerabilidades da economia brasileira, como a dependência da importação de potássio para fertilizantes, e impulsionar cadeias consideradas vitais para a soberania energética e alimentar. 

(FONTE E FOTO – ASCOM MME - USINAS: ELETRONUCLEAR ) – 

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quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Polícia Federal prende diretor da Agência Nacional de Mineração

 


A Polícia Federal (PF) prendeu, preventivamente, nesta quarta-feira (17/9), o diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), Caio Mário Trivellato Seabra Filho, e o ex-diretor da PF e atual diretor de Administração e Finanças do Serviço Geológico do Brasil (SGB), Rodrigo de Melo Teixeira. Os agentes federais também estão cumprindo a 79 mandados de busca e apreensão. Os dois foram presos no âmbito da Operação Rejeito, deflagrada pela Controladoria-Geral da União (CGU) e a PF esta manhã, para aprofundar as investigações sobre supostas fraudes no processo de autorização da exploração de minério de ferro em Minas Gerais. 

Advogado especialista em direito ambiental, Trivellato foi assessor de Resolução de Conflitos da diretoria da ANM entre 2020 e 2022, quando assumiu a Superintendência de Ordenamento Mineral e Disponibilidade de Áreas. Em maio de 2023, foi indicado para assumir, interinamente, a diretoria da ANM, voltando a integrar a diretoria colegiada em dezembro de 2023. Rodrigo Teixeira ingressou na PF em 1999, tendo ocupado várias posições de liderança na instituição, incluindo a Superintendência em Minas Gerais, que assumiu em 2018, e a Diretoria de Polícia Administrativa (2023/2024). Ele também foi secretário adjunto de Segurança da Prefeitura de Belo Horizonte (2019-2022); secretário adjunto da Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais (2015-2016) e presidente da Fundação do Meio Ambiente de Minas Gerais (2016-2018).

Por determinação da Justiça Federal, os investigados que ocupam cargos públicos serão cautelarmente afastados do exercício de seus cargos e funções. Todos os investigados deverão responder por crimes ambientais, usurpação de bens da união, corrupção ativa, corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e embaraçamento à investigação de organização criminosa. Segundo a PF, os investigados fraudavam autorizações e licenças ambientais que usavam para extrair, irregularmente, minério de ferro de locais tombados e próximos a áreas de preservação, “com graves consequências ambientais e elevado risco de desastres sociais e humanos”. 

Ainda de acordo com a PF, para obter as autorizações e licenças ambientais, os principais articuladores do esquema corrompiam servidores públicos em vários órgãos estaduais e federais de fiscalização e controle ambiental e de mineração, como a ANM. “A organização criminosa teria atuado para neutralizar a ação do Estado, dificultando as investigações e monitorando autoridades. Além disso, utilizou diversos artifícios para lavar o dinheiro obtido com as práticas ilícitas”, conforme a PF informou em nota. 

Os investigadores estimam que o grupo faturou ao menos R$ 1,5 bilhão ao longo do tempo, a mesma quantia que a Justiça Federal em Minas Gerais determinou o bloqueio das contas dos investigados. Além de Trivellato e Teixeira, outros 20 investigados, cujos nomes não foram confirmados, foram alvos de mandados judiciais de prisão preventiva. Em nota, a Agência Nacional de Mineração (ANM) informou que tomou conhecimento da operação da PF pela imprensa e que ainda não foi oficialmente comunicada sobre as determinações judiciais que deve cumprir. 

“Até o momento, não houve comunicação oficial à agência sobre eventuais medidas envolvendo servidores ou dirigentes”, diz a agência, destacando que, sempre que formalmente demandada, e observado o devido processo legal e a necessidade da continuidade do serviço regulatório, mantém o compromisso de colaborar com as autoridades. Também em nota, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) informou que não se manifesta sobre processos em andamento que envolvam seus colaboradores. “Reiteramos nosso compromisso com a ética, a legalidade e a transparência, e permanecemos à disposição para colaborar com as autoridades competentes”, declarou a SGB. 

(FONTE E FOTO: PF – Agência Brasil) – 

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CGU e PF apuram esquema bilionário de corrupção e danos ambientais em Minas Gerais

 


A Controladoria-Geral da União em parceria com a Polícia Federal, Ministério Público Federal e Receita Federal, participou, nesta quarta-feira (17/9), da Operação Rejeito, visando desarticular organização criminosa responsável por crimes ambientais e por atos de corrupção e de lavagem de dinheiro. CGU e PF apuram esquema bilionário de corrupção e danos ambientais em Minas Gerais. Operação Rejeito bloqueia R$ 1,5 bilhão em ativos ligados à organização criminosa. 

A apuração detectou que o grupo investigado teria corrompido servidores públicos em diversos órgãos estaduais e federais de fiscalização na área ambiental e de mineração, com a finalidade de obter autorizações e licenças ambientais fraudulentas. Essas autorizações eram utilizadas para usurpar e explorar irregularmente minério de ferro em larga escala, incluindo em locais tombados e próximos a áreas de preservação, com graves consequências ambientais e elevado risco de desastres sociais e humanos. A organização criminosa também atuou para neutralizar a ação do Estado, dificultando as investigações e monitorando autoridades. Além disso, utilizou diversos artifícios para lavar o dinheiro obtido com as práticas ilícitas. 

Valores e Impacto - 

Calcula-se que as ações criminosas tenham rendido um lucro de, ao menos, R$ 1,5 bilhão, ao grupo investigado. Destaca-se, ainda, que a investigação identificou projetos em andamento vinculados à organização criminosa com potencial econômico superior a R$ 18 bilhões. Os investigados poderão responder por crimes ambientais, usurpação de bens da união, corrupção ativa, corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e embaraçamento à investigação de organização criminosa. Diligências - Estão sendo cumpridos 79 mandados de busca e apreensão, 22 mandados de prisão preventiva, afastamento de servidores públicos, bloqueio de ativos no valor de R$ 1,5 bilhão e suspensão das atividades das pessoas jurídicas envolvidas, conforme determinação da Justiça Federal em Minas Gerais. 

Denúncias - 

A CGU, por meio da Ouvidoria-Geral da União (OGU), mantém a plataforma Fala.BR para o recebimento de denúncias. Quem tiver informações sobre esta operação ou sobre quaisquer outras irregularidades, pode enviá-las por meio de formulário eletrônico do Fala.BR. A denúncia pode ser anônima, para isso, basta escolher a opção “Não identificado”. 

O cadastro deve seguir, ainda, as seguintes orientações: No campo “Sobre qual assunto você quer falar”, basta marcar a opção “Operações CGU”; e no campo “Fale aqui”, colocar o nome da operação e a Unidade da Federação na qual ela foi deflagrada. 

FOTO  FONTE: Assessoria Especial de Comunicação Social da Controladoria-Geral da União – 

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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Ministro anuncia a criação de um novo CNPM destinado aos minerais críticos como as terras raras

 


O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou nesta segunda-feira (15/9) que, em 15 dias , o governo deve instalar um novo Conselho Nacional de Política Mineral (CNPM), destinado aos minerais críticos, como as tão cobiçadas terras raras. Silveira deu a declaração em entrevista à rádio "98 News". 

O órgão será presidido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo o ministro e terá a participação de 16 ministros de Estado, além de representantes da sociedade civil, de universidades e especialistas do setor. 

Entre os objetivos, estão o fortalecimento da cadeia desses mineraisa industrialização desses recursos e o estímulo ao desenvolvimento da indústria nacional, com atração de investimentos e geração de emprego e renda - já que o Brasil detém a segunda maior reserva de alguns minerais, como as terras raras, e o quarto, em urânio. 

A literatura científica informa que as terras raras formam um grupo de 17 elementos químicos presentes em diversos países. A maior parte das reservas conhecidas está concentrada na China e no Brasil. Esses elementos são fundamentais para a produção de smartphones modernos, carros elétricos e outras tecnologias avançadas, o que os torna estratégicos para a indústria global. 

“A minha proposta [...] vai nos permitir começar a planejar a mineração de forma adequada, vigorosa e sustentável”, anunciou o ministro. 

(FOTO: MME) -

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sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Césio-137: maior acidente radioativo em área civil do mundo completa 38 anos. Físico que contou a história real foi afastado do cargo em Goiânia

 



O maior acidente radioativo em área civil do mundo, ocorrido com uma cápsula de césio-137, em Goiânia (GO), completa 38 anos neste sábado (13/9), e vale à pena relembrar como se deu a sua descoberta casual,  por um físico natural de Presidente Prudente, interior de São Paulo, que no dia 29 de setembro daquele ano participava de comemoração familiar na cidade, como o Blog já divulgou com exclusividade. O Blog refaz o caminho do acidente conforme relatos preciosos do médico Walter Mendes Ferreira, que há poucos meses foi afastado do cargo de coordenador da unidade de Goiânia, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Depois da reportagem do Blog, ele foi homenageado pelo governo de Goiânia. A homenagem foi divulgada na página oficial da Comissão, que pela primeira vez reconheceu a dimensão da importância dele na história. Na verdade, a atuação de Walter impediu que a tragédia com o césio-137 tivesse desfecho muito pior. 

Vamos aos fatos. Em 1987, aos 29 anos, ele atuava como trabalhador autônomo, e comemorava o aniversário do pai quando foi acionado por um amigo médico, intrigado com o caso de duas pessoas internadas na região, com problemas e diagnóstico desconhecidos; diarreia, dor de cabeça, febre e queda de cabelos. O médico soube do caso em jantar na semana anterior, com amigos do setor da saúde. Walter, então, entrou no caso, sem ter a menor ideia do que se tratava. No mesmo dia, descobriu a origem, o furto do cilindro com o césio-137, no Instituto de Radioterapia em Goiânia, o local do ferro-velho para onde o material fora levado, e tudo mais. Uma de suas decisões mais importantes, impediu que bombeiros levassem o cilindro com o material radioativo para ser atirado no Rio Capim Puba. Ao mesmo tempo, descobriu que um detector de radiação estava na unidade da Nuclebras, na região, onde a estatal realizava prospecção de urânio. As informações estão registradas em relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). 

DEPOIMENTO – EXCLUSIVO PUBLICADO - 


Físico Walter Mendes Ferreira - Então coordenador do Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro Oeste, Unidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), em Goiás -

 “Falo para você sobre o que ocorreu em Goiânia há 37 anos, um acidente com a violação de uma fonte de radioterapia com césio 137. Minha história vinculada ao acidente é um caso interessante. Eu tinha 29 anos.  Estava de passagem por Goiânia, quando fui chamado por um amigo da Vigilância Sanitária para verificar se uma peça que estava na vigilância sanitária para saber se era radioativa ou não. Esse amigo me dizia que duas pessoas haviam levado esse material e colocado sobre uma cadeira na Vigilância Sanitária e que a peça era o artefato que estava causando mal a toda a família e que algumas pessoas estavam internadas no hospital de doenças tropicais. 

O nome dele era Jadson de Araújo Pires, diretor da fundação estadual do meio ambiente. Ele me relatou que no final de semana passado em uma reunião com alguns amigos entre eles um médico do hospital de doenças tropicais um médico lhe contou que havia onze pessoas internadas com vômito, febre, diarreia e perda de cabelo e me perguntou se podia ser radiação. Eu disse a ele que isso acontece com altíssimas doses de radiação. Eu não acreditava que em Goiás havia material para esse tipo de coisa e assim foi feito. 

E ele me disse que ia manter contato com um médico, dr. Alonso Monteiro e me ligaria relatando o que havia ocorrido e assim foi feito. Isso ocorreu no dia 29 de setembro de 1987, por volta das 8h30 da manhã, quando o Dr. Alonso me ligou dizendo a mesma coisa: que as pessoas estavam, com vômito, febre e diarreia e ele não conseguia fazer o diagnóstico sobre de qual doença tropical era.  E me perguntou novamente se podia ser radiação.  Eu disse que isso seria um caso muito sério. E que não havia material em Goiás para isso. 

E me perguntou se eu poderia checar uma peça de 23 quilos que estava na vigilância sanitária que havia sido deixada por uma senhora, a Dona Maria Gabriela e por um dos catadores que estava com ela. Eu disse que poderia verificar sobre o material radiativo, mas, no entanto, necessitaria de um equipamento especifico, um detector para fazer a medida. Ele me disse então que havia um escritório de prospecção de urânio em Goiânia da Nuclebras e se ele conseguisse o detector eu poderia efetuar essa medida.  Ele me disse que dois veterinários da vigilância Sanitária me procurariam para ir até o escritório da Nuclebrás e assim foi feito. 

O que ocorreu é que a uns 70 a 80 metros de distância com o detector ligado casualmente verifiquei que o detector a essa distância já dava sinal da presença do material radioativo bem acima do back ground. Eu achei que o detector estava com defeito. Retornamos ao escritório da Nuclebrás e pedimos ao chefe que me emprestasse um outro detector que estivesse corretamente calibrado.  Retornei novamente ao local e com o detector ligado no mesmo ponto ele saturou a medida. Tecnicamente isso significaria que os dois estavam com defeito ou eu estava num campo de radiação muito intenso. Fiquei com segunda opção. Nessa segunda vi que havia um caminhão de Bombeiros com três integrantes que estavam saindo com essa peça envolta num saco plástico que, segundo um deles, iriam jogar no Rio Capim Puba. Eu disse para eles, deixa esse material porque acho que é radioativo e eu preciso saber de onde veio esse material. Por sorte, os dois veterinários haviam anotado os endereços das duas pessoas que haviam levado o cilindro até o local.  

A Dona Maria Gabriela e o catador de papel do ferro velho, que moravam na parte central da cidade situado no setor norte. Eu dirigi até o local e me aproximando a um quarteirão do ferro velho o detector já dava sinal de presença de material radioativo. Eu fui diretamente ao ferro velho e perguntei a dois cantadores de papel, de onde havia sido retirado aquele cilindro. E eles informaram terem retirado o material de uma Clínica na Avenida Paranaíba com a avenida Tocantins, no instituto de Radiologia. Coincidentemente eu conhecia o Instituto que era o Instituto Goiano de Radioterapia. E perguntei pra eles se era o Instituto. Eles disseram exatamente. Perguntei quem havia levado o material para eles? Nós compramos de dois jovens da Rua 57.  

E como eu conhecia os médicos do hospital, perguntei a um deles o que havia acontecido com a Clínica e a fonte radiativa de Césio.  Fui informado por eles que uma fonte de cobalto havia sido transferida para um outro local já aprovado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear e havia deixado a fonte de césio 137 no antigo Instituto. Eu disse que provavelmente a sua fonte foi roubada. Eles disseram que era impossível. Fomos lá e fizemos uma monitoração e verificamos que não havia rastro de nenhum material radiativo e que o material havia sido roubado. Fiz contato com o secretário de saúde, avisei que era gravíssimo e perguntei se havia algum prospecto sobre a fonte de Césio, que havia sido importada em 1971.

Me perguntaram se eu tinha contato com o pessoal do Comissão Nacional de energia nuclear. O Dr. José Júlio Rosental, diretor da CNEN foi avisado e foram tomadas as primeiras providências. No Palácio das Esmeradas, avisamos às autoridades sobre a situação gravíssima. Foi decidido que todos as pessoas contaminadas seriam levadas para o antigo estádio olímpico. Voltamos ao ferro velho e evacuamos o local. Havia ainda um ferro velho dois, que também foi evacuado. Nesse ferro velho dois morava a menina Leide com a família. Quase todo o material havia ficado com a própria família. Tudo estava contaminado. O Dr. Rosental chegou a Goiânia às 00:30 do dia 30 de setembro de 1987 e a Comissão passou a assumir todas as ações e responsabilidade pelo acidente.” 

MEMÓRIA DO ACIDENTE - 

A história que chocou a opinião pública não pode ser esquecida. Uma cápsula de césio-137 – substância radioativa componente de um aparelho usado no tratamento de câncer, de propriedade do Instituto Goiano de Radioterapia (IGR), foi deixada na antiga sede do já desativado instituto. De acordo com as notícias da época, no dia 13 de setembro de 1987, os catadores de papel Wagner Motta Pereira e Roberto Santos Alves entraram no local, retiraram o aparelho, abriram algumas partes e venderam uma delas, a que continha a cápsula com o césio-137, para Devair Alves Ferreira, dono de um ferro-velho. Ao arrombar a cápsula, a golpes de marreta, Devair liberou o césio, um pó brilhante, parecido com purpurina. 

A cápsula com o césio 137 passou de mão em mão, em várias casas de família.  Por fim, foi levada de ônibus à Vigilância Sanitária por Maria Gabriela Ferreira, mulher de Devair. Ela suspeitou que os problemas de saúde da sua família tivessem alguma relação com o equipamento. O então presidente da República, José Sarney, mandou prender os culpados pelo acidente e visitou dez pessoas contaminadas, internadas no Hospital Geral do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) em Goiânia. O diretor-geral da Polícia Federal, Romeu Tuma, anunciou a abertura de inquérito. 

O presidente da CNEN, Rex Nazaré, admitiu a necessidade de rever as normas de licenciamento e fiscalização de instituições de Medicina Nuclear o país. O ferro-velho e as moradias dos pacientes mais contaminados foram demolidos. O Exército deslocou pessoas para região. Funcionários da CNEN ainda sem saber a dimensão do acidente, não tomaram precauções de segurança ao medirem a radiação: usavam calça jeans, tênis e sapatos. Os médicos Orlando Alves Teixeira, Criseide Castro Dourado e Carlos Bezzerril, sócios-proprietários do Instituto de Radioterapia; e o responsável técnico do instituto, físico hospitalar Flamarion Barbosa Coulart, foram indiciados pela Polícia Federal (PF). Na CNEN, só houve um indiciado: o chefe do Departamento de Instalações Nucleares e Materiais Nucleares, físico José Rosental. 

Mais tarde, a Procuradora da República solicitou a exclusão de Rosental do caso e a Justiça acolheu o pedido. Enquanto a CNEN afirmava que o caso estava sob controle, a cada dia apareciam outros focos de contaminação. No dia 23 de outubro de 1987 ocorreram as duas primeiras mortes. A menina Leide das Neves Ferreira, de 6 anos, filha de Ivo Alves Ferreira e sobrinha de Devair, foi uma das quatro vítimas fatais. Com as mãos contaminadas, Leide havia comido um pedaço de pão. Ela teve ulcerações na língua, boca e garganta, e lesões internas. A segunda vítima foi a tia da menina e mulher de Devair, Maria Gabriela, de 38 anos. Ambas morreram no Hospital Naval Marcilio Dias, no Rio de Janeiro, onde foram internadas com outros contaminados.  

No dia 27 de outubro daquele ano morreu a terceira vítima: Israel Batista dos Santos de 22 anos, que trabalhava no ferro-velho e ajudara Devair a abrir o aparelho. No dia seguinte, morreu o empregado do ferro-velho Admilson Alves de Souza, de 18 anos. O catador de papel Roberto Santos Alves, de 21 anos, sobreviveu, mas teve o antebraço amputado por causa das lesões provocadas pela contaminação. O medo da contaminação levou a uma atitude violenta os moradores da vizinhança do Cemitério-Parque, em Goiânia, onde a menina Leide foi sepultada. Eles atiraram pedras e pedaços de cruzes de concreto contra o cortejo, em protesto pela escolha do local para enterrar as vítimas da contaminação radioativa. 

O presidente da CNEN, Rex Nazaré Alves culpou os donos da clínica, que não teriam comunicado à Comissão a desativação do aparelho radiológico. Os donos, por sua vez, culparam os catadores de papel e a própria CNEN, que deixou de fiscalizar o equipamento na antiga sede do instituto. Cerca de 112 mil pessoas que temiam estar contaminadas foram examinadas durante dois meses no Estádio Olímpico de Goiânia. Para atender às vítimas do acidente, o governo de Goiás criou a Fundação Leide das Neves. Segundo a médica Maria Paula Curado, que presidiu a Fundação naquela época, 244 pessoas estavam realmente contaminadas e 50 delas tiveram que receber tratamento hospitalar. Entre as 50 pessoas, 28 tiveram lesões e queimaduras causadas pela radiação.  

Desse grupo, 10 pacientes foram submetidos a cirurgias plásticas reparadoras, das quais oito sofreram síndrome aguda da radiação, depressão da medula, hemorragias e distúrbios de comportamento. No grupo de pessoas mais graves, cinco pessoas contraíram câncer e duas estavam em tratamento, naquela época. “Mas não existe um exame sequer capaz de provar que o câncer foi provocado pelo acidente”, avisava a médica. Devair morreu em maio de 1994 de insuficiência renal e hepática, conforme atestado médico.  

LIXO RADIOATIVO - 

Além de famílias destroçadas e outras que lutam na Justiça para serem indenizadas, o acidente deixou um grande problema para o futuro: seis mil toneladas de rejeitos radioativos armazenados no depósito em Goiânia com atividade radioativa por pelo menos 300 anos. Nesse total, estão 1.343 caixas metálicas; 4223 tambores de 200 litros; 10 contêineres marítimos; e oito recipientes de concreto. 

 FOTO: CNEN – ARQUIVOS – BLOG - 

Leia no BLOG, em 16/9/2021: "Acidente com cápsula de césio-137 em Goiânia faz 34 anos. Foi batismo de fogo, deixou mortos, medo e seis mil toneladas de lixo radioativo”; em 28/09/2021: “Acidente com césio-137 em Goiânia, 34 anos depois”, por Célio Bermann. 

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segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Angra 1: começa a transferência do combustível usado (urânio irradiado) para as Unidades de Armazenamento a Seco

 



Durante quatro meses os combustíveis usados (urânio irradiado) da usina nuclear Angra 1 serão transferidos para a Unidade de Armazenamento Seco (UAS), na Central Nuclear de Angra. A transferência começou no dia 31 de agosto e foi divulgada pela Eletronuclear nesta segunda-feira (08/9). Os combustíveis usados não são considerados rejeitos radioativos, pois ainda possuem potencial energético que pode ser reaproveitado futuramente, a exemplo do que já fazem países como França, Rússia e Japão. Podem ser usados como plutônio, se um dia forem  reprocessados. 


Segundo a companhia, na primeira fase 37 elementos combustíveis, passarão por processo de soldagem da tampa do cânister — o invólucro metálico que, posteriormente, será armazenado no casco de concreto e aço chamado Hi-Storm. “A operação ainda envolve etapas de drenagem da água e secagem interna, garantindo total segurança para o armazenamento”, informou a companhia. 

Durante esta primeira semana, as atividades ocorrem no interior do Edifício do Combustível de Angra 1, em área controlada, onde os elementos são preparados para o armazenamento definitivo. Após o processo no Hi-Trac, um casco temporário, o subcasco é transferido para o Hi-Storm e, finalmente, destinado à UAS. 


O objetivo principal é liberar espaço nas piscinas das usinas para receber novos combustíveis, assegurando a continuidade operacional. As UAS têm capacidade de armazenamento por mais 25 anos. ““Com essa ação, os combustíveis usados serão transferidos para cascos de aço e concreto, aumentando a vida útil da piscina de Angra 1 em 20 anos”, segundo a companhia. 

(FOTO: Eletronuclear) – 

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sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Angra 3: retomada das obras deve voltar à pauta do CNPE, anuncia Alexandre Siveira

 


A retomada das obras da usina nuclear Angra 3 deve estar na pauta da reunião extraordinária do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), até o final deste mês, anunciou o ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira, nesta sexta-feira (5/9) no Rio. As decisões do CNPE sobre o destino da central atômica têm sido adiadas com frequência.  O mais recente adiamento ocorreu em reunião extraordinária no dia 18 de fevereiro. 


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não estaria disposto a ter problemas com a ministra Marina Silva, nada simpática à energia nuclear.  Segundo fontes, o assunto foi retirado da pauta. O ministro Alexandre Silveira sempre se posicionou favorável à retomada das obras, visitando, inclusive a central em novembro de 2023. 

Na reunião do CNPE, Silveira apresentou voto pela aprovação da resolução que liberava o empreendimento, mas não venceu a resistência da área econômica por conta dos altos custos que envolvem a usina. 

Angra 3 faz parte do acordo nuclear Brasil-Alemanha, assinado em plena ditadura militar (1975), que já consumiu pelo menos R$ 8 bilhões; e dependente de mais R$ 23 bilhões para ser concluída. Abandonar Angra 3 pode representar prejuízos de cerca de R$ 21 bilhões. Não basta aprovar a continuidade das obras, comentou uma fonte. “É preciso saber claramente e com planejamento assumido com responsabilidade de onde virão as cifras bilionárias”, comentaram fontes ao BLOG. 

Angra 3, se for concluída até 2031, segundo novas projeções, terá capacidade para gerar 1.350 Megawatts (MW), o equivalente a cerca de 20% da energia consumida na cidade do Rio de Janeiro, uma vez operando com 100% de sua capacidade, como Angra 2. Já Angra 1, gera a metade, nas mesmas condições, operado a 100%. O total representa 3% da energia consumida no Brasil. Vale lembrar que a energia não fica na cidade do Rio, pois faz parte do Sistema Interligado Nacional (SIN). 

 Conforme o BLOG vem divulgando há pelo menos quatro anos, a dívida da Eletronuclear com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal (CEF), era de R$ 6,4 bilhões, por conta de Angra 3. A empresa deve também a Framatome que estava tocando o empreendimento. O BNDES já divulgou quer não quer mais participar de Angra 3. A usina tem sido um poço de problemas, com obras paralisadas por ações judiciais, editais cancelados, denúncias de corrupção, entre outras. 

(FONTE: MME - ELETRONUCLEAR) 

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Energia nuclear: o presidente Lula é "corajoso, dialoga com o mundo", mas no futuro "vamos precisar de outros instrumentos", avisa ministro

 


Ao mencionar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou nesta sexta-feira (5/9), que o país tem hoje um líder “corajoso, que dialoga com o mundo e compreende a importância da soberania”, mas que, no futuro, “vamos precisar também de outros instrumentos". 

Observou que diante do atual cenário internacional, o Brasil precisa desenvolver tecnologia nuclear também para fins de defesa da soberania nacional. Embora defenda o uso da tecnologia nuclear para fins de geração de energia e na medicina., o ministro foi enfático: 


“Quero aqui ressaltar, mesmo que isso seja polêmico, que nós estamos vendo e vivendo arroubos internacionais muito graves no mundo, em especial nos últimos tempos”, afirmou. E completou: “Mas se o mundo continuar como está, um país que é gigante pela própria natureza, que tem 11% da água doce do planeta, que tem clima tropical, solo fértil e tantas riquezas minerais, é importante que a gente continue e leve muito a sério a questão nuclear no Brasil, porque no futuro nós vamos precisar da nuclear também, para defesa nacional, garantindo nossa soberania.”

 O ministro fez estas declarações  ao participar da cerimônia de posse dos novos diretores da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Artur Watt Neto, e da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN), Alessandro Facure Soares. 

Silveira destacou o processo de transição energética do país. Defendeu o fortalecimento da cadeia nuclear brasileira e lembrou que o país tem “uma das maiores reservas de urânio”, além de “tecnologia e profissionais altamente qualificados”. 

O ministro também defendeu o programa Gás do Povo, lançado pelo governo federal na véspera. Silveira destacou os impactos da migração para o gás de cozinha na saúde e citou casos de queimaduras e problemas respiratórios nas famílias que ainda dependem de lenha ou álcool para o preparo dos alimentos. 

(FOTO – MARINHA DO BRASIL - MME ) – 

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quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Pela primeira vez reator nuclear de pesquisa de 68 anos produz radioisótopo para combater o câncer, via convênio entre Marinha e IPEN

 


Militares da Marinha e técnicos do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), conseguiram produzir um radioisótopo (medicamento) para combater o câncer, em especial o de próstata, através do reator de pesquisa IEA-R1, que passou a operar em turnos de revezamento, de forma continua, na semana em que completa 68 anos. O material produzido pela primeira vez no reator passa a ser utilizado na Radiofarmácia do IPEN, dando origem a radiofármacos vitais para a medicina nuclear. 


A operação pode contribuir para reduzir a dependência externa no país na produção de radioisótopos. O IEA-R1 começa a funcionar na forma experimental produzindo pequenas quantidades de Lutécio-177, radioisótopo utilizado na marcação de moléculas específicas de alto valor terapêutico, considerado referência no tratamento de tumores neuroendócrinos e no combate ao câncer de próstata. O convênio entre Marinha e IPEN, válido até 2027, prevê ainda a produção nacional de Iodo-131 e a realização de novas pesquisas sobre elementos químicos a serem irradiados. 

Apenas em 2023 e 2024, o Brasil importou cerca de US$ 50 milhões em radioisótopos como Molibdênio-99, Iodo-131 e o próprio Lutécio-177, segundo o IPEN. A produção em grande escala tem potencial para gerar economia anual significativa, reforçar a soberania científica e tecnológica e ampliar o acesso da população a terapias nucleares avançadas. 

O Diretor-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, Almirante de Esquadra Alexandre Rabello de Faria, ressaltou a importância da formação dos militares: “Esse processo de qualificação é muito especial para o Programa Nuclear da Marinha. A gente fica feliz porque é um processo difícil e eles conseguiram. Isso demonstra que nosso pessoal tem potencial e muita capacidade. Essa formação vai ao encontro da natureza da profissão militar, que é servir. Esses militares estão servindo e prestando um serviço para produzir o bem, colaborando com a produção de radiofármacos e com sua entrega ao serviço de saúde”. 

O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Francisco Rondinelli Junior, destacou que a iniciativa simboliza um marco de cooperação institucional e de entrega direta à sociedade. “Este momento entrega para a sociedade profissionais capacitados, capazes de explorar o potencial da área nuclear em termos de aplicações, desenvolvimento e saúde. A utilização na medicina é apenas um dos exemplos, mas o alcance é muito maior. É, sem dúvida, um momento de muita satisfação e de celebração, fruto de uma parceria que deve continuar por muito tempo”, afirmou Rondinelli. 

A coordenadora do Centro de Radiofarmácia do IPEN, Elaine Bortoleti, destacou que a operação contínua do reator representa um marco após mais de uma década. “Já fazia mais de dez anos que o reator não operava de forma contínua. Essa retomada possibilita a produção de amostras de material radioativo que servem como matéria-prima essencial para a fabricação de radiofármacos utilizados na medicina nuclear. Produzir localmente traz autonomia, já que hoje praticamente quase tudo precisa ser importado. Mesmo sendo ainda uma produção experimental e em pequenas quantidades, é um primeiro passo muito importante, que abre expectativa de crescimento e de atender parte da nossa demanda por esses insumos fundamentais para a saúde”. 

A produção em grande escala tem potencial para gerar economia anual significativa, reforçar a soberania científica e tecnológica e ampliar o acesso da população a terapias nucleares avançadas, segundo o coordenador do contrato de parceria, designado pela Marinha, capitão de mar e guerra Enéas Tadeu Fernandes Ervilha, e o gerente do reator, Frederico Genezini, que destacaram  os avanços obtidos na cooperação entre a Marinha e o IPEN. “O progresso decorre do Acordo de Parceria para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, firmado entre o CTMSP e o IPEN/CNEN, cujo objetivo é capacitar operadores de reator nuclear e fomentar a pesquisa aplicada à produção de radioisótopo”. 

O comandante Enéas frisou, ainda, que a experiência dos operadores atende a parte dos requisitos de qualificação técnica nuclear exigidos aos futuros candidatos a operadores do Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (LABGENE) Este equipamento faz parte do projeto do primeiro submarino nuclear brasileiro. 

Eles falaram sobre o desempenho dos militares da Marinha no êxito do reator para a obtenção dos radioisótopos. Em 2023, quatro operadores sênior e seis operadores de reator foram licenciados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN); em 2024, outros nove conquistaram a habilitação. Neste ano, um supervisor e quatro técnicos de proteção radiológica já foram credenciados, enquanto cinco candidatos aprovados na prova escrita aguardam a avaliação prático-oral marcada para setembro. Os militares da Marinha alcançaram 100% de aprovação nos processos de licenciamento da CNEN. Esse resultado permitiu a formação de equipes de turno compostas por operadores da Força Naval e do IPEN, altamente qualificadas e em número suficiente para viabilizar o início da operação destinada à produção do Lutécio-177. 

Para o coordenador do programa de treinamento e professor José Roberto Berretta, a formação do IPEN é fundamental para preparar operadores de reatores. Ele destaca que a estratégia do curso é compartilhar ao máximo as informações sobre a instalação, proporcionando um aprendizado prático e aprofundado. 

O professor também ressalta que um bom operador de reator deve ter um conhecimento amplo de diferentes reatores, e não se limitar a apenas um. Essa abordagem, segundo ele, eleva os padrões de segurança operacional. Informaram que desde o início de agosto, a operação em regime contínuo, com turnos de vinte e quatro horas tem sido conduzida por equipes da Marinha e do IPEN. Após a obtenção da licença, os militares passaram a integrar oficialmente a rotina operacional do reator. 

“O Grupo de Proteção Radiológica é essencial para garantir que a operação em turnos ocorra com total segurança, tanto para o reator quanto para as equipes envolvidas. O trabalho assegura que cada etapa da produção do Lutécio-177 seja conduzida dentro dos mais rigorosos padrões de proteção radiológica e segurança nuclear”. 

A superintendente do IPEN, Isolda Costa, ressaltou que os resultados alcançados demonstram a importância da complementaridade entre as instituições, especialmente para garantir a transferência e a preservação de conhecimentos para as novas gerações. 

“O benefício dessa parceria é enorme. Sem o IPEN, não haveria transferência de conhecimentos, e sem os militares da Marinha não teríamos pessoal capacitado para operar o reator de forma contínua, inclusive, durante a madrugada. Essa sinergia é fundamental, pois garante a preservação do conhecimento, ao mesmo tempo em que forma novas gerações capazes de levar adiante esse legado para o futuro”, afirmou Isolda. 

“Com a validação concluída, a Marinha e o IPEN iniciaram a produção nacional de Lutécio-177, insumo essencial no tratamento do câncer. A iniciativa reduz a dependência de importações e amplia a oferta de radiofármacos, fundamentais para pacientes em todo o País”. 

BREVE HISTÓRIA DO REATOR, POR FREDERICO GENEZINI. 

"Na madrugada de 16 de setembro de 1957, o reator nuclear de pesquisas IEA-R1, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen/Cnen-SP), atingiu sua primeira criticalidade e permanece, desde então, operando com segurança. São inumeráveis as contribuições do reator na ciência, impulsionando o Programa Nuclear Brasileiro (PNB) há mais de seis décadas. 

O IEA-R1 é um reator de pesquisas tipo piscina, moderado e refrigerado à água e que utiliza elementos de berílio e de grafite como refletores. Operou nas duas primeiras décadas a uma potência de dois megawatts (2 MW), atualmente é licenciado para operar a uma potência máxima de 5 MW. Atua em P&D e serviços de irradiação com nêutrons para as seguintes finalidades: produção de radioisótopos para uso em Medicina Nuclear, produção de fontes radioativas para gamagrafia industrial e de radioisótopos para uso como radiotraçadores, irradiação de amostras para a realização de análises multielementares, pesquisas em Física Nuclear, serviços de neutrongrafia e treinamento de pessoal licenciado para operação de reatores".

(FOTOS E FONTES – AGÊNCIA DE NOTÍCIAS e ASSESSORIA DE IMPRENSA MARINHA) – FOTO IPEN – ARQUIVO BLOG) – 

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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

CSN estuda o reator nuclear de pequeno porte (RMRs), informou especialista na Coppe/UFRJ

 


A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), no município de Volta Redonda (RJ) está realizando estudos sobre o reator nuclear modular de pequeno porte (RMRs), informou Giovani Machado, sócio-fundador da Episteme Consultoria. A informação foi dada durante o evento sobre energia nuclear na descarbonização da matriz energética brasileira, realizado na Coppe/UFRJ, semana passada. Desde então, o Blog contata a CSN, que não se pronunciou sobre o caso.  

A Rússia é pioneira na produção dos reatores modulares e em maio assinou memorando com o Brasil para desenvolvimento do RMRs. 

Ex-diretor de estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Giovani falou que o estudo da CSN visa reduzir a necessidade de carvão em alto forno. Segundo ele, a energia nuclear vai além da geração elétrica: “Ela assegura confiabilidade, promove descarbonização e permite acoplamento com setores como hidrogênio, indústria térmica, navegação, defesa, data centers, além de gerar transbordamentos tecnológicos e benefícios socioeconômicos”. 

O presidente Getúlio Vargas fundou a CSN em1941 como um marco da industrialização brasileira, voltada para a produção de aço para as indústrias do país. A usina de Volta Redonda (RJ) foi inaugurada em 1946, impulsionando o desenvolvimento do parque industrial nacional. Após décadas de expansão e um período de greves e conflitos, a CSN foi privatizada em 1993, iniciando uma nova fase de modernização, diversificação de atividades, como a criação da CSN Mineração, e internacionalização. 


O professor Aquilino Senra (PEN/Coppe) destacou que a transição energética não será viável sem a participação da energia nuclear, por ser uma fonte despachável e sem intermitências. Ele ressaltou o avanço dos pequenos reatores modulares (SMRs), capazes de gerar até 300 MW, com operação automatizada e transporte facilitado.  Essas tecnologias abrem espaço para aplicações estratégicas, como transporte marítimo – responsável por cerca de 4% das emissões globais –, mineração e data centers. 

DOCUMENTO PARA A COP30 - 

O diretor do Departamento de Combustíveis Derivados do Petróleo do Ministério de Minas e Energia, Renato Dutra, reiterou que a política energética é uma política de Estado, guiada pelo trilema: sustentabilidade, segurança e equidade. “A transição precisa ser consistente, sem comprometer a segurança energética e sem agravar a pobreza energética”, disse. 


Neste sentido, sócio do BTG Pactual, Vittorio Perona, destacou para a importância da informação para a sociedade sobre a segurança do programa nuclear. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) também esteve representada por Patrícia Nunes, e as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) por Márcio Adriano Coelho da Silva, focando na visão integrada entre pesquisa, planejamento e setor produtivo. 

O evento “O Papel da Energia Nuclear na Descarbonização da Matriz Energética Brasileira”, integra uma série de debates organizados pela Coppe/UFRJ rumo à COP 30, abordando temas como mudanças climáticas, segurança energética e inovação tecnológica. “Cada escolha feita, entre os muitos caminhos possíveis para a descarbonização, implica em uma série de consequências, de prós e contras. O que a gente pretende, e esse é o papel da academia, é entender as consequências de nossas escolhas como país”, concluiu Suzana Kahn, diretora da Coppe, que moderou o encontro ao lado do professor Alan Lima, coordenador do Programa de Engenharia Nuclear (PEN). 

(FOTO: COPPE – PARTE DAS INFORMAÇÕES - COPPE) – CSN – GETTY IMAGENS - 

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