quinta-feira, 30 de junho de 2022

Justiça cassa plano de saúde de vítimas de radiação

 


Pelo menos cinquenta vítimas de contaminação por radiação na Nuclemon, sucedida pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), foram surpreendidas pela cassação de um plano de saúde, utilizado para tratamento de doenças decorrentes de trabalho com material radioativo.  A advogada Erica Barbosa Coutinho Freire de Souza, recorreu nesta quinta-feira (30/06) à Justiça solicitando maiores informações ao Juiz Mauricio Marchetti, da 20ª Vara do Trabalho de São Paulo, que cassou o plano de saúde já concedido anteriormente. 

Permanecem com direito ao plano cerca de 60 vítimas – cinco já morreram no decorrer do processo -, que integram ação inicial, movida pelo advogado Luiz Carlos Moro, representante da Associação Nacional dos Trabalhadores da Produção de Energia Nuclear (ANTPEN). A entidade foi fundada em 2006, para defender os ex-empregados.  

Na avaliação do magistrado, o direito das vítimas que ingressaram no processo depois, prescreveu.  Para a advogada, contudo, há que se levar em conta que "os alegados danos causados pela exposição dos obreiros a material radioativo não se manifestam em um mesmo momento”. E mais: o plano já havia sido concedido anteriormente.  

Para informar às vítimas sobre a cassação, a advogada Erica Coutinho, a ex-fiscal do Trabalho Fernanda Giannasi e a médica Maria Vera Cruz de Oliveira Castellano, que acompanham o caso desde a década de 1990, reuniram o grupo no Sindicato dos Químicos, em São Paulo. Integrantes da ANTPEN também participaram. A notícia causou comoção entre as vítimas. O ex-empregado da Nuclemon João Domingos Fagundes, que trabalhou na empresa de 1976 a 1989, disse que não sabe o que fazer, pois tem uma cirurgia agendada para 16 de setembro, que deverá ser cancelada. “Não tenho condições de pagar o tratamento; não sei o que fazer”. Outra vítima, Maria Aparecida de Lucena, com nódulos no pescoço, está com biópsia marcada. Se a decisão não for revogada, ela perderá o direito ao plano

“Esta sentença injusta do ponto de vista social, que esperamos seja revertida o mais rapidamente possível, sem maiores prejuízos para os ex-empregados da antiga Nuclemon (atual INB) em tratamentos de saúde, criará duas categorias de trabalhadores: os assistidos e os desassistidos em sua saúde, que é uma responsabilidade exclusiva da empresa, vitaliciamente, conforme previsto no artigo 12º. da Convenção 115 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)”, alerta Giannasi. 

A médica Maria Vera Castellano completou afirmando que o caso faz parte da “história de absurdos” cometidos contra trabalhadores brasileiros. “É revoltante eles terem esses direitos negados. É um caso de abandono sem precedentes”, disse a médica que acompanha os pacientes há décadas. 

FOTO: Reunião ANTPEN. 

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sexta-feira, 10 de junho de 2022

Angra 2 será desligada domingo para a troca de combustível: 160 estrangeiros foram contratados, de um total de 1.250 profissionais

 


Um contingente de 160 estrangeiros, de um total de 1.250 profissionais contratados participarão das atividades programadas para começar neste domingo (12/6), envolvendo à parada de Angra 2, para o reabastecimento da usina nuclear. Segundo a Eletronuclear, gestora das usinas, além da troca de combustível (urânio enriquecido), estão previstas manutenções, testes e inspeções periódicas exigidas por especificações técnicas. A duração estimada é de 42 dias.
 
O combustível é produzido pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Rezende (RJ), com participação da Urenco (consórcio de empresas da Inglaterra, Alemanha e Holanda). O valor estimado do investimento não foi divulgado.  

Serão realizadas em torno de 5.500 mil atividades, incluindo tarefas que foram postergadas nas duas últimas paradas, reduzidas ao mínimo necessário por conta da pandemia do coronavírus. A companhia informou que estão sendo adotadas medidas de segurança sanitária para minimizar o risco de contaminação dos profissionais envolvidos na parada, incluindo o uso de máscaras pelos contratados. 

Com esta parada, encerra-se o 18º ciclo de operação da usina, que entrou em funcionamento comercial em 2001. Angra 2 foi comprada no pacote do acordo nuclear Brasil-Alemanha, firmado pelo general Ernesto Geisel, em 27 de junho de 1975. A usina tem capacidade para produzir 1.350 Megawatts, quando funciona com 100% de sua potência sincronizada ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Isso representa a cerca de 20%da energia consumida na cidade do Rio de Janeiro. 

Segundo o superintendente da usina, Fabiano Portugal, Angra 2 operou durante 316 dias com uma potência média de 97,1%. Com esse fator de carga, o ciclo que passou foi o 8º melhor da história da usina”, comenta Portugal. 

A partir de domingo, algumas das principais atividades programadas são inspeções e testes do vaso de pressão do reator; inspeção por correntes parasitas e limpeza dos espelhos nos geradores de vapor; inspeção visual e medição de espessura do encamisamento dos elementos combustíveis após o descarregamento do núcleo; teste de pressão hidrostática do sistema primário; revisão de uma das turbinas de baixa pressão; inspeção no gerador elétrico principal; e revisão das válvulas principais e substituição de válvulas piloto do sistema de vapor principal. 

FOTO: Angra 2 – Empregados na área controlada - Acervo  Eletronuclear – 

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quinta-feira, 9 de junho de 2022

Livro de memórias do professor Luiz Pinguelli Rosa será lançado segunda-feira (13/6)

 


Memórias de Vargas a Lula: a resistência à ditadura e ao neoliberalismo
 é o título da autobiografia de Luiz Pinguelli Rosa, Professor Emérito e ex-diretor da Coppe/UFRJ, falecido em 3 de março, aos 80 anos. O lançamento da obra editada pela Contraponto será segunda-feira, 13 de junho, às 18h30, na livraria Argumento, na rua Dias Ferreira, 417, no Leblon. Todos estão convidados. 

Nas 500 páginas da obra Pinguelli resgata memórias de sua infância, no Centro do Rio de Janeiro, onde morava e trabalhava na alfaiataria do pai, Avilla Rosa, o qual define como um “alfaiate-filósofo-político”. O Rio era então capital do Brasil e a política “fervia”. Pinguelli adorava ouvir as conversas dos clientes que frequentavam o local, e diz que parte de sua formação deve-se a essas conversas sobre política na alfaiataria do pai. 

Na época, mal sabia ele que tal aprendizado lhe seria de grande valor em momentos decisivos de sua trajetória. Memórias pessoais e episódios históricos interagem em fluxo constante. Observador atento, o autor relata sua passagem pelo Exército, no qual chegou a Capitão, suas dissidências e decepções. Foi preso por manifestar-se contra o golpe militar de 1964 e mais tarde internado em um hospício, como represália, após ter pedido demissão do Exército. Pinguelli mergulha na resistência à ditadura. Ingressa na Coppe, onde foi eleito cinco vezes para diretor da instituição. 

Na academia Pinguelli se encontra. Expressa livremente suas críticas ao projeto nuclear brasileiro, à globalização, às privatizações, e à submissão ao neoliberalismo que descreve como “barbárie que assolou a humanidade, inclusive o Brasil”. O autor aponta continuidade no processo histórico que levou Vargas ao suicídio, e que depois “tentou impedir a posse de Juscelino. Passa pelos golpistas que derrubaram João Goulart, implantando a ditadura, e chega aos neoliberais que deram as cartas desde a redemocratização”. 

Segundo Pinguelli, um ponto comum entre eles é “a consolidação do capitalismo excludente da maioria do povo, integrando a economia brasileira de forma subalterna, em nível mundial”. E aprofunda a discussão, afirmando que a descontinuidade entre a ditadura e o neoliberalismo ocorreu na forma - pois foram conquistados os importantes direitos de eleger os governantes e de livre expressão - mas não no conteúdo dos objetivos maiores dos governos”... Embora cite como bom exemplo o programa Bolsa Família e outras ações do governo Lula que tiraram muitos brasileiros da pobreza, Pinguelli diz que “é preciso dar um passo adiante para a inclusão social em um nível mais justo e sustentável... Para o autor “é preciso civilizar o capitalismo selvagem que levou à crise mundial de 2008-2009 e imprimir algum componente socialista, no sentido mais amplo desta palavra”. 

Com sinceridade e elegância fala sobre o período no qual presidiu a Eletrobras, no primeiro governo do presidente Lula, o choque de ideias e sua saída da empresa, assim como os anos no qual foi secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, cujas reuniões eram presididas pelos presidentes Lula e depois Dilma, reunindo ministros e colaboradores de diferentes pastas. 

A obra revela um observador atento e curioso, descrevendo de evidências científicas e episódios da história da Ciência a características e peculiaridades de países e cidades pelas quais passou; um admirador da música popular brasileira, cujas letras foram escolhidas com esmero para iniciar capítulos e ilustrar passagens na obra. Revela também um autor generoso, que cita amigos, parceiros, colegas, pessoas conhecidas e mesmo desconhecidas que cruzaram o seu caminho e ou participaram das “lutas”, vitoriosas ou não; um homem sincero e idealista que apresenta sua obra da seguinte forma: 

“Conto uma história comum, porém sem o arrependimento dos que, além de mudarem de lado, renegam suas origens de esquerda (…). Escrevo na primeira pessoa, pois conto o que vi e como entendi as coisas. Falo, portanto, de mim mesmo, como um espelho refletindo o que acontecia a minha volta. Reconheço que nesta reflexão pode haver distorção. Tal como nos espelhos curvos. Entretanto, apesar de pessoal, o livro pretende ser de memórias políticas, colocando nos dois pratos da balança as derrotas da esquerda de um lado e as vitórias de outro. Como predominam as derrotas, pensei em chamá-lo memórias de um derrotado. Mudei de ideia. Não para esconder o sentimento de derrota, mas porque mantenho a esperança”. 

FONTE E FOTO Assessoria de Imprensa Coppe/UFRJ - 

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segunda-feira, 6 de junho de 2022

Angra 1 volta a operar após reparos em válvula

 


Desligada no dia 29/5, por causa de defeito na válvula de segurança do pressurizador, a usina nuclear Angra 1 foi reconectada neste domingo (05/6) ao Sistema Integrado Nacional (SIN), após a realização dos reparos, voltando a gerar energia, conforme o blog informou com exclusividade. Angra 1 é uma usina norte americana comprada da Westinghouse, na década de 70. 

A usina nuclear Angra 2, alemã, será desligada no próximo domingo (12/6) para a troca de combustível (urânio enriquecido), produzido pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB) com participação da Urenco (consórcio de empresas da Inglaterra, Alemanha e Holanda).  Angra 2 produz 1356 MW, o dobro de Angra 1, quando funciona com 100% de sua potência. 

FOTO: ANGRA 1 – ELETRONUCLEAR – 

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sexta-feira, 3 de junho de 2022

Cerca de 7.400 litros de rejeitos radioativos, incluindo de um navio de 1950, da Marinha, foram armazenados este ano no CDTN, em MG

 




Cerca de 7.400 litros de rejeitos e de fontes radioativas, fora de uso, estão armazenados no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), em Belo Horizonte (MG), desde o início do ano. O CDTN recebeu também rejeitos de um navio da década de 50, descomissionado pela Marinha Brasileira, que retirou da embarcação tinta de trítio (raro isótopo de hidrogênio radioativo) e um elemento radioativo. A Marinha não informou o nome e a história do navio, nem qual foi o material radioativo retirado do navio. O material do navio chegou ao CDTM em abril. Foram 14 tambores de 200 litros de rejeitos radioativos. 

Os rejeitos armazenados são derivados de diversas aplicações da energia nuclear, informou o CDTN. Outros quatro tambores de 200 litros também foram recebidos procedentes do Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste (CRCN-CO/CNEN), com detectores de fumaça e para-raios radioativos. O CDTN recebeu ainda 19 tambores de 200 litros de rejeitos radioativos sólidos provenientes do Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD/CNEN). 

“O recebimento de rejeitos radioativos no CDTN é uma das atribuições legais da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e também envolve atividades de tratamento e acondicionamento dos materiais, posteriormente armazenados de forma segura nas instalações do Centro, aguardando alternativas para deposição final no país”, informou a entidade. O material está armazenado no Depósito de Rejeitos Tratados e Fontes Fora de Uso – DFONTE, construído em 1995. 

DEPÓSITO DEFINITIVO: ACORDO COM A FRANÇA - 

Conforme o BLOG anunciou no dia 27 de outubro de 2020, em entrevista exclusiva com a engenheira nuclear do CDTN, Clédola Cassia Oliveira de Tello, o CDTN/CNEN, realiza projeto para implantação da instalação de deposição dos rejeitos radioativos de baixa e média níveis de atividade, com participação da empresa Francesa Agence Nationale pour la gestion des Dechets Radioactifs (ANDRA). 

“Diversos países possuem empresas públicas que têm a responsabilidade da gerência dos rejeitos radioativos, incluindo a deposição. Na França, a gerência de rejeitos radioativos está a cargo da empresa ANDRA, que foi responsável pela construção de dois repositórios, L’Aube e CIRES, na França e colaborou e colabora com a construção de outros em países da Europa e da Ásia. Uma vez que o conceito selecionado para o nosso repositório, conforme recomendado pelas normas brasileiras, é semelhante ao de L’Aube, e tendo ANDRA experiência comprovada na área, ela foi contratada para a elaboração do projeto conceitual. Este projeto está pronto e terá sua versão final tão logo se tenha o local para a construção do repositório”, comentou Clédola na época.

 O CDTN reiterou para o blog nesta sexta-feira (3/6) a continuidade da participação da ANDRA. 

“Este Repositório armazenará os rejeitos radioativos tratados provenientes da utilização da energia nuclear no Brasil nos campos da indústria, medicina, pesquisa, geração de energia e meio ambiente, bem como do descomissionamento de instalações radioativas e nucleares”. 

E mais: “Prevê-se um período de operação da instalação de 60 anos e de vigilância, após seu fechamento, de 300 anos. O conceito da instalação foi desenvolvido com o apoio da empresa francesa de gestão de rejeitos radioativos ANDRA e a seleção do local para sua instalação se encontra em andamento”, finalizou o CDTN. 

FONTES DE INFORMAÇÃO: EM FOCO/MARINHA e CDTN – 

FOTO: CDTN/CNEN. 

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