O projeto Jovem Cientista (JC) está comemorando seis anos de criação com o objetivo de elaborar propostas alternativas para conhecimento e divulgação da ciência, com ênfase em desmistificar as ciências nucleares. Ao contrário do passado quando tudo era secreto, escondido da sociedade, o JC sob o comando da fisica paulista Cibele Bugno Zamboni, desenvolve atividades visando à transparência dos fatos utilizando diversas ferramentas digitais. O BLOG foi em busca de alguns de seus participantes e constatou a diversidade de áreas nas quais atuam. Para se ter ideia, o JC reúne desde Marta Lucia Bognar, restauradora de quadros e aviadora dedicada à acrobacia; a Dalton Giovanni Nogueira da Silva, farmacêutico; além de Maria Gabriela Miquelino Benedito, também farmacêutica; e Thales Zanin dos Santos de Oliveira, fisico. Todos dedicados ao JC, no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo, onde o projeto vem sendo realizado com sucesso.
Exemplo feminino no mundo das ciências, desde que foi atraída pelos encantamentos do Universo, membro de entidades nacionais e internacionais, e coordenadora do Laboratório de Espectroscopia e Espectrometria das Radiações (LEE) do IPEN, Cibele comanda o programa e sempre defendeu a transparência das informações no setor nuclear. “Desde que iniciei na área nuclear senti a necessidade de passar esclarecimentos à sociedade. É a única situação em que a condição de gênero não pesou na minha carreira, pois sempre me perguntaram quando eu iria construir uma bomba e não se seria capaz de fazê-lo”, comentou.
Eis agora depoimentos de participantes do Jovem Cientista:
AVIADORA ACROBATA – o Brasil não se resume a samba e futebol -
Marta Lucia Bognar, restauradora de quadros do Museu de Policia Militar do Estado de São Paulo, tem como formação profissional a aviação, pois começou a voar aos 18 anos, como aeronauta na comercial e depois na década de 90, se dedicou à acrobacia aérea na atividade/de wingwalking uma modalidade no setor. Mas paralelamente, fez cursos para formação na área de Conservação e Restauro.
“Conheci o projeto Jovem Cientista ao frequentar o IPEN em 2022 e tive oportunidade de divulgar o “wingwalking” que envolve técnicas de aerodinâmica. Atualmente, participo no projeto na assessoria de Patrimônio histórico, Artístico e cultural e somos todos voluntários”.
Para ela, atuar na área cultural é “um desafio sempre muito importante”. E mais ainda pelo constante aprendizado na vida em todas as áreas. “Agradeço a oportunidade de falar sobre o assunto para poder contribuir e incentivar outros estudantes para conhecerem o projeto e participarem com sugestões e temas”.
E completou: “O país precisa de projetos e oportunidades que possam popularizar a área nuclear e divulgar trabalhos científicos que já são desenvolvidos. O Brasil não se resume a samba e futebol. Nós estamos à disposição”.
FARMACÊUTICO – combater a desinformação-
Dalton Giovanni Nogueira da Silva, 45 anos, filho de metalúrgico é farmacêutico de formação e sempre foi apaixonado por ciência e comunicação. No IPEN, começou a sua trajetória na área de pesquisa, especialmente com técnicas analíticas como a fluorescência de Raios X. Em 2017, teve o primeiro contato com divulgação científica participando de um concurso interno, produzindo um vídeo sobre o trabalho que realizava. “A experiência me mostrou como a ciência poderia — e deveria — chegar até as pessoas de forma acessível”.
Conheceu o Projeto Jovem Cientista em 2019, quando ele estava começando no Laboratório de Espectroscopia e Espectrometria das Radiações (LEER). “O que me chamou atenção foi justamente a proposta de desmistificar as ciências nucleares, quebrando o preconceito e o medo que muita gente ainda tem sobre o tema. Como farmacêutico e produtor de conteúdo, vi ali uma oportunidade incrível de unir minha formação com a vontade de comunicar ciência de maneira leve e criativa”.
Desde o começo o maior aprendizado, disse, foi descobrir como é possível transformar conceitos complexos em conteúdos simples e interessantes — seja em vídeo, tirinha, ou texto curto para redes sociais. “Outra importância é a possibilidade de dialogar com profissionais de várias áreas, o que enriquece demais a experiência”. Ele espera continuar contribuindo para a divulgação científica de forma acessível, aproximando temas como a energia nuclear, saúde e meio ambiente. “O maior desafio é justamente quebrar barreiras e combater a desinformação — principalmente nas redes sociais, onde muita coisa sem base científica circula com facilidade”.
Para quem está começando, tem uma mensagem: “não tenha medo de explorar novas áreas e de comunicar aquilo que você estuda. A ciência só faz sentido se ela alcançar as pessoas. Se você gosta de ensinar, de falar sobre ciência ou de produzir conteúdo, vá em frente — porque isso transforma vidas e quebra muros”.
E finaliza: “Acredito muito que o país poderia — e deveria — investir mais em projetos como esse. Divulgar ciência é tão importante quanto produzi-la, porque sem comunicação, o conhecimento fica restrito a poucos. Projetos acessíveis, interdisciplinares, que valorizem a participação de estudantes de todos os níveis, deveriam ser prioridade. Uma sugestão seria criar editais específicos para iniciativas de divulgação científica, incentivar parcerias com escolas e faculdades, e apoiar financeiramente a produção de conteúdo educativo de qualidade. Eu sou prova de como isso faz diferença — não só na formação profissional, mas na forma como a gente enxerga a ciência no dia a dia”.
FARMACÊUTICA – plantar uma semente de curiosidade.
Maria Gabriela Miquelino Benedito, 24 anos, filha de policial militar e pedagoga, farmacêutica, formada pelo Mackenzie com bolsa PROUNI, está cursando mestrado em tecnologia nuclear no IPEN/USP. Conheceu o projeto através da Cibele Zamboni, sua coordenadora. “Foi uma ótima oportunidade de participar do projeto e como aluna curiosa, topei”.
“Em minha formação vi o quanto a divulgação científica abre os olhos do mundo, muitas vezes relacionando coisas do cotidiano com curiosidades que nem imaginamos. Acredito que a divulgação aproxima os jovens da ciência, sendo assim podemos plantar uma semente de curiosidade e fascínio nos nossos futuros cientistas”, comentou.
Maria Gabriela participa do JC há mais de três anos. “O projeto esteve comigo na transição de aluna de graduação até o momento como mestranda. Meu maior aprendizado é ver como a ciência é vasta. E ainda que por trás de detalhes e curiosidades que nunca imaginamos existam anos de estudos e explicações fascinantes”, comentou. Seu objetivo agora é “fazer com que por meio de tirinhas divertidas ou fatos curiosos, um número maior de pessoas possa abrir os olhos para ciência, pois assim ganharemos espaço em um país que ainda prioriza outros setores”.
Para os novos participantes do JC, ela tem uma mensagem: “Acho que o amor pelo que se faz te diferencia. Aqueles que possuem uma chama acessa pra qualquer que for a área, não se frustrem quando as coisas parecerem fora de controle”. E os novos projetos? “Existem diversos projetos como USP (Universidade de São Paulo) de Portas Abertas, que oferecem a oportunidade de alunos verem um pouco das oportunidades que existem. Levar seu filho aos museus, ou alguém passeio que explore mais o que São Paulo pode oferecer. Precisamos de mais pessoas que brilhem os olhos pra ciência, precisamos de mais pessoas que lutem por esta causa”, completou.
FÍSICO – Conhecimento mais democrático -
Thales Zanin dos Santos de Oliveira, 23 anos, filho de coordenador de obras industriais e dentista aposentada, é formado em Física pelo Instituto Federal de São Paulo (licenciatura) e atualmente é estudante de doutorado em Tecnologia Nuclear no IPEN/USP. Por que ingressou no JC? “Sempre tive interesse em entender melhor o mundo ao nosso redor e, ao longo da minha trajetória, percebi que compartilhar conhecimento é tão importante quanto produzi-lo”.
Conheceu o projeto JC em 2022, trabalhando diretamente com a diretora do projeto e sua orientadora, Cibele Bugno Zamboni. E não parou mais. Ele acha que a ciência enfrenta grandes desafios para chegar até a população em geral, e iniciativas como o JC ajudam a reduzir essa distância.
“Meu maior aprendizado até agora tem sido perceber como a ciência pode ser mais acessível quando encontramos maneiras certas de comunicá-la. Quero continuar contribuindo para a pesquisa e para a formação de novos cientistas, sempre buscando maneiras de tornar o conhecimento mais democrático”. O físico também acredita que o Brasil deveria investir mais nesse tipo de projeto. “Popularizar a ciência é essencial para o desenvolvimento do país e para garantir que mais pessoas possam se beneficiar do conhecimento gerado nas universidades e centros de pesquisa”.
E assegura: “Quanto mais incentivo houver, maior será o impacto positivo na sociedade”.
CIBELE BUGNO ZAMBONI -
Desde que iniciou o trabalho na área nuclear sentiu a necessidade de passar esclarecimentos à sociedade. Cibele enfatiza que a divulgação cientifica sempre foi estimulada no IPEN e faz parte das atividades desenvolvidas pelo Laboratório de Espectroscopia e Espectrometria das Radiações (LEER), que coordena. “É uma atividade voluntária que teve início em 2005 e conta com a participação dos alunos. Considerando a visibilidade que as redes sociais proporcionam, em 2019 foi criado o Jovem Cientista (JC) e hoje estamos atuando em várias redes sociais com um bom retorno do público”, comenta.
Com o projeto JC foi o site jovem cientista (www.jovemcientista.com.br) que auxilia na divulgação do material didático disponibilizado pelo LEER, além de ser um facilitador na comunicação com a sociedade. O conteúdo do site envolve quatro menus: REPORTAGENS onde temas diversos são apresentados em maior profundidade, além abrir espaço para pesquisadores experientes falarem de sua carreira, desafios e perspectivas no campo de atuação; ENTREVISTAS realizadas por alunos com alunos, onde o estudante tem espaço para discutir seu trabalho; MINUTO NUCLEAR onde conceitos de física nuclear são abordados em vídeos de um minuto e CURIOSIDADES um espaço onde são apresentados temas variados, cujo objetivo é dialogar entre as várias áreas do conhecimento científico. Além do site, todo material produzido é disponibilizado em várias mídias sociais, como o canal do YouTube (Jovem Cientista), o perfil no Instagram (@jovemcientista.com.br) associado a uma página no Facebook (@jovemcientista.com.br), o perfil no TikTok (@jovemcientista.com.br) e ainda pelo LinkedIn e Twiter no perfil pessoal dos editores.
A dificuldade, segundo ela, é conseguir que os colegas se expressem sem tanto rigor técnico-científico de modo que um público leigo consiga assimilar. “Quando isso é alcançado é muito gratificante para equipe do JC, bem como para os colaboradores e convidados. Mas, a maior dificuldade, sem dúvida, é a obtenção de recursos financeiros. Hoje todos os gastos (registro e hospedagem do site) e investimentos (aquisição de programas de edição, recursos audiovisuais e cursos de comunicação) são oriundos dos participantes do LEER (meu e dos alunos) e de doações de parceiros e colaboradores que nos apoiam nessa iniciativa”.
A História mostra que o setor nuclear, no passado, era praticamente desconhecido da população. Mas Cibele discorda de tanto segredo. “A informação é fundamental. Tanto os benefícios como os riscos precisam ser esclarecidos, como ocorre com outras áreas. A energia nuclear é estigmatizada pelo seu uso bélico, mas pouco se ensina no meio acadêmico sobre os benefícios e avanços, tanto no âmbito de segurança como de novas tecnologias que podem beneficiar diversas áreas, como saúde, meio ambiente, marinho e aeroespacial, além de disponibilizar metodologias que permitem até cuidar do patrimônio artístico e cultural”.
Por isso, ela considera importante os esforços dos órgãos de fomento, como a FAPESP e o CNPq, em solicitar ao pesquisador que comunique à sociedade sua pesquisa em linguagem acessível. Para ela, é uma ação positiva, e deveria ser adotada por toda comunidade cientifica. “A implantação do Projeto Jovem Cientista e a criação do MINUTO NUCLEAR visam contribuir com a eliminação dessa lacuna. São ações pequenas, mas se forem propagadas pela comunidade científica podem reverter este estigma de danoso e prejudicial”. E completou: “Tem uma citação que sempre faço nos seminários que realizo de divulgação cientifica, que expressa bem o meu objetivo no que diz respeito a área nuclear, que é a seguinte: Energia nuclear não tenha receio, tenha conhecimento”.
PERSPECTIVAS -
“Como mencionado, os temas são sugeridos pelos alunos e, dentre as sugestões, já estamos trabalhamos na abordagem dos seguintes tópicos: Conheça o LABGENE (Laboratório de Geração Nucleoelétrica), Uso de Inteligência Artificial no Âmbito das Ciências, Diversidade na Área Nuclear, Energias Alternativas e Micro Reatores, além de manter a divulgação de realizações cientificas por pesquisadores renomados bem como de datas comemorativas no âmbito da ciência”, comentou Cibele.
COMPARTILHE SEU CONHECIMENTO -
Se você quiser sugerir um tema ou abordar algum assunto cientifico, já sabe onde atuar. A equipe do Projeto Jovem Cientista aguarda sua colaboração. Conta com um grupo de editores e tem a colaboração de especialistas de diversas áreas. Todo o trabalho de edição e produção é realizado pelos alunos. O projeto é aberto a todo estudante que tenha interesse em atuar em qualquer atividade de divulgação cientifica propondo temas, criando vídeos e conteúdo para mídias sociais bem como propondo novas ideias para projeto.
Para participar do projeto o estudante entra em contanto pelo e-mail: jovemcientista.contato@gmail.com ou pelas redes sociais, e expõe sua ideia. Se aprovada pela equipe de editores e colaboradores terá todo apoio técnico e cientifico para execução. Cito algumas participações interessante, como a de uma aluna do ensino médio que enviou um vídeo sobre visão ocular para divulgação cientifica. O material foi aprovado e divulgado no Instagram do JC (@jovemcientista.com.br). Outra participação interessante foi de um grupo de alunos de Radiologia, da Faculdade Estácio-Carapicuíba, que produziu vídeos sobre alguns mitos sobre radiação, e o material de divulgação foi disponibilizado no Instagram do JC. Desde a implantação do projeto JC mais 70 pessoas, entre estudantes e pesquisadores, já participaram de alguma atividade. “Venha fazer parte de projeto”, convida Cibele.
O IPEN pertence à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão subordinado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
(FOTOS: ACERVO PESSOAL) –
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