Pioneira da medicina nuclear no Brasil, Constância Pagano Gonçalves da Silva, morreu ontem (21/4) aos 97 anos, em São Paulo. Na década de 50, enquanto as mulheres eram desencorajadas a seguir a carreira cientifica, inspirada pela notável Marie Curie, Constância ingressou no então Instituto de Energia (IEA), atual Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), onde foi responsável por estruturar a primeira radiofarmácia pública do país e liderar a produção nacional de radioisótopos (medicamentos para diagnosticar e combater o câncer), como o iodo-131.
A experiência na França, em 1961, onde estagiou foi fundamental, pois lá ela se especializou na produção de radioisótopos. De volta ao país, liderou por décadas a divisão de radioquímica, além de coordenar a construção do complexo de laboratórios, inaugurado em 1975, essencial para o fornecimento de insumos à medicina nuclear em todo o Brasil, foi responsável por implantar sistemas de qualidade e estimular o desenvolvimento de novos radiofármacos, como o fluorodesoxiglicose (FDG).
Com mestrado em Tecnologia Nuclear e doutorado em Química Inorgânica, Constância liderou equipes técnicas e formou gerações de profissionais na área nuclear. Em 1998, como chefe do Departamento de Processamento de Material Radioativo do IPEN, comandava mais de 50 colaboradores, sempre com entusiasmo e espírito inovador. Após sua aposentadoria, foi agraciada com o título de Pesquisadora Emérita do Instituto.
Nascida em Cravinhos, interior do Estado de São Paulo, graduou-se em Química pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP (1951), obteve o mestrado em Tecnologia Nuclear pela Escola Politécnica da USP (1970) e o doutorado em Química Inorgânica pelo Instituto de Química da USP (1974). Teve também atuação inestimável na formação acadêmica de profissionais da área, orientando diversas dissertações de mestrado e teses de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Nuclear do IPEN/USP.
ISOLDA COSTA - IPEN
“Seu legado permanecerá vivo na ciência brasileira, inspirando novas gerações de pesquisadores. O IPEN se solidariza com seus familiares, amigos e colegas neste momento de perda irreparável. A Dra. Constância era rigorosa e exigente, qualidades que a levaram à excelência. Mas, ao mesmo tempo, era uma incentivadora, como toda grande mulher à frente de seu tempo. Formou toda uma geração de pesquisadores no IPEN, além de lutar pelo avanço do Brasil em uma área essencial, a medicina nuclear.
O trabalho de qualquer pioneira é árduo e muitas vezes só é plenamente reconhecido anos depois. Por isso, é nosso dever exaltar essa grande pesquisadora e gestora", declara Isolda Costa, diretora e superintendente do IPEN.
FRANCISCO RONDINELLI - CNEN
"Constância Pagano foi mais do que uma referência científica — foi exemplo de entusiasmo, pioneirismo e compromisso com a ciência pública. Sua trajetória deixa uma marca profunda na história da medicina nuclear brasileira. Seu legado seguirá nos inspirando”, afirmou o presidente da CNEN, Francisco Rondinelli Júnior.
Em nota oficial, a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN) também prestou tributo à pesquisadora: “Ao longo de mais de 60 anos de dedicação, liderou com excelência a radiofarmácia do IPEN/CNEN, sempre guiada pela responsabilidade com a saúde dos pacientes”, ressaltou a médica Elba Etchebehere. “A Medicina Nuclear Brasileira tem profundo orgulho da história e do legado deixado por essa grande radioquímica.”
(FOTO/FONTES: CNEN – IPEN - Revista Brasil Nuclear (ano 5, nº 17, abr-set 1998), da Associação Brasileira de Energia Nuclear – ABEN).
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