A reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), realizada nesta terça-feira (10/12/2024), para entre outros temas decidir sobre a retomada da construção da usina nuclear Angra 3, tomou uma decisão inusitada: decidiu adiar a decisão. A conclusão de Angra 3 estava na pauta da reunião do CNPE, que deveria decidir sobre a autorização para implantar a usina e o preço da energia que será comercializada pela Eletronuclear, empresa responsável pela operação e construção das usinas de Angra dos Reis. Contudo, ao fim e ao cabo, após pedido de vistas de participantes da reunião, a decisão sobre o futuro da usina Angra 3 foi adiada.
A decisão de retomar as obras da usina nuclear Angra 3 seria um marco estratégico para o setor energético brasileiro. Este projeto tem o potencial de ampliar a capacidade de geração de energia elétrica no país, garantindo maior segurança energética e diversificação da matriz energética. Além disso, Angra 3 oferece energia limpa e confiável, ao mesmo tempo que estimula a economia local por meio da geração de empregos diretos e indiretos.
A conclusão da usina nuclear Angra 3 também reforçaria a independência energética do Brasil em relação às fontes fósseis e ajudaria no cumprimento das metas climáticas, alinhando-se aos esforços globais de transição energética sustentável. Adicionalmente, o projeto consolidaria o domínio nacional da tecnologia nuclear, que é fundamental para a soberania e para aplicações em áreas como medicina e indústria.
No entanto, apesar do avanço representado pela retomada de Angra 3, o setor nuclear brasileiro ainda terá de enfrentar desafios significativos. Um deles é a formação e retenção de profissionais qualificados. A capacitação de recursos humanos na área nuclear precisa acompanhar as demandas do setor, o que inclui engenheiros nucleares e especialistas em áreas correlatas. Não basta concluir e operar Angra 3; é necessário expandir a cadeia de suprimentos e investir na formação de talentos.
Um exemplo claro é o curso de engenharia nuclear da Escola Politécnica da UFRJ, iniciado em 2012 sem nenhum apoio governamental. Muitos formados nesse curso migraram para outras áreas do conhecimento ou para o exterior, devido à falta de oportunidades no mercado nuclear brasileiro. Esse êxodo, conhecido como fuga de cérebros, prejudica o país, que perde profissionais qualificados enquanto outros países se beneficiam de suas competências.
A fuga de cérebros, causada por fatores como instabilidade econômica, baixos investimentos em ciência e tecnologia e desvalorização de carreiras científicas, dificulta a inovação e o desenvolvimento econômico no Brasil. Para enfrentar esse problema, é essencial ampliar os investimentos em educação, criar políticas para retenção de talentos e melhorar as condições de trabalho no setor nuclear.
Aproveitando o momento de indecisão, recomenda-se que o CNPE na próxima reunião proponha, como contrapartida à aprovação da retomada das obras da usina nuclear Angra 3, a implantação de um programa específico para formação de especialistas em energia nuclear, envolvendo universidades nacionais de excelência. Esse programa deve incluir bolsas de estudo para alunos, subsídios para as universidades participantes e um acompanhamento contínuo para alinhar a formação com as demandas do setor. Somente com uma estratégia integrada será possível fortalecer a base tecnológica e garantir o sucesso do programa nuclear brasileiro.
PERFIL –
AQUILINO SENRA - Doutor em Ciências da Engenharia Nuclear e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lotado desde 1977 no Programa de Engenharia Nuclear da COPPE/UFRJ.
(FOTO – ACERVO PESSOAL) –
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