A “Missão Salto”, da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com sede em Viena, na Áustria, desembarca na Central Nuclear de Angra dos Reis, na primeira semana de junho, para avaliar se a usina Angra 1, comprada da norte-americana Westinghouse na década de 70 e inaugurada em 1985, tem condições técnicas e seguras de superar o seu envelhecimento e durar mais duas décadas. Em projetos de melhorias de segurança e modernização de sistemas e equipamentos da usina de 2024 até 2028, os investimentos previstos giram em torno de R$ 3 bilhões.
Muito mais será preciso.
A Eletronuclear está negociando um empréstimo-ponte (mútuo) de cerca de R$ 800
milhões, em condições de mercado com os seus principais acionistas (ENBPar e
Eletrobras) para financiar os investimentos já realizados em 2024 e aqueles
ainda previstos no ano em curso. Trata-se de solução a curto prazo,
enquanto a companhia negocia o financiamento efetivo com o banco
norte-americano Eximbank dos aportes necessários até 2028 para finalizar a
modernização da usina.
A licença de operação de
Angra 1 termina no dia 23 de dezembro. O processo de obtenção da renovação da
Licença de Operação (LO) de Angra 1, foi solicitada à Comissão de Energia
Nuclear (CNEN, oficialmente em 2019. Em 2023, a Eletronuclear submeteu 16
relatórios à CNEN, contendo, entre outras coisas, avaliações aos fatores de
segurança definidos pela AIEA. Segundo a Eletronyclear, a partir das
avaliações, a CNEN emitiu 166 exigências, que foram analisadas e respondidas
pela equipe técnica da companhia, com suporte da empresa Amazul em abril deste
ano.
Com base nesse processo,
foi realizada a revisão da terceira e última Reavaliação Periódica de Segurança
(RPS) antes do fim da vigência atual da usina - 23 de dezembro de 2024. “O
documento foi apresentado inicialmente à CNEN em dezembro de 2023”, informou a
Eletronuclear. “Trata-se da documentação produzida pela empresa a cada dez anos
para assegurar que a usina continue operando com segurança e confiabilidade.
Dessa vez, o material obteve foco no processo chamado de Long Term Operation
(LTO) - em português Operação de Longo Prazo”.
Entre os itens
analisados neste documento, estão o desempenho de segurança, planejamento de
emergência e impacto radiológico no meio ambiente, sistema de gerenciamento e
cultura de segurança, qualificação de equipamentos e o uso da experiência de
outras usinas.
Além deste método de
avaliação, a Eletronuclear também utiliza o processo americano chamado de
License Renewal Aplication (LRA), administrado pela Nuclear Regulatory
Commission (NRC) para demonstrar a capacidade de Angra 1 em operar por mais
duas décadas.
Duas revisões já foram feitas, e uma terceira está em andamento.
“O processo de
negociação com o órgão deve se estender até o final deste ano para finalizar
essas etapas. Mas a empresa está preparada e segue tendo diálogo constante com
a Cnen. Estamos conseguindo demonstrar que Angra 1 poderá continuar operando
com eficiência e segurança”, aponta José Augusto do Amaral, superintendente de
Engenharia de Apoio à Operação e responsável pela LTO.
A Missão Salto estará na
centra nuclear de 4 a 13 de junho. A “Salto” precedida de três missões
anteriores preparatórias: a primeira em 2013, a segunda em 2018 e a terceira em
2022.
Entre as medidas para
esticar a vida de angra 1 por mais duas décadas, constam: a troca dos geradores
de vapor, aplicação de sobrecamada de solda - conhecida como weld overlay
- nos bocais do pressurizador, troca da tampa do vaso de pressão do reator e
substituição dos transformadores principais. Também foram implementados alguns
programas, como o gerenciamento do envelhecimento, gerenciamento da
obsolescência, além de inspeções e manutenção de sistemas, estruturas e
componentes da usina.
Angra 1 opera com um reator
de água pressurizada (PWR), com 640 megawatts de potência, o equivalente a 10% da
energia elétrica consumida pela cidade do Rio d e janeiro. Angra 1 já foi desligada mais de 40 vezes por
problemas diversos como ações judiciais, defeitos em equipamentos, entre outros.
Segundo a Eletronuclear,
em 2023, Angra 1 gerou 4,78 milhões de MWh. O fator de carga (Load Factor) -
que representa a energia elétrica líquida realmente entregue ao Sistema
Interligado Nacional dividida pela capacidade de Angra 1 - dos últimos 5 anos é
de 88,24%. Ou seja, é como se a usina tivesse operado 322 dias por ano em sua
capacidade máxima.
A central atômica foi
adquirida da empresa americana Westinghouse sob a forma de “turn key”, como um
pacote fechado, que não previa transferência de tecnologia por parte dos
fornecedores. “No entanto, a experiência acumulada pela Eletronuclear em todos
esses anos de operação comercial, com indicadores de eficiência que superam o
de muitas usinas similares, permite que a empresa tenha, hoje, a capacidade de
realizar um programa contínuo de melhoria tecnológica e incorporar os mais
recentes avanços da indústria nuclear”, assegura a companhia.
Questões preocupantes
giram em torno da central Nuclear de Angra dos Reis onde funciona também a Angra
2, comprada no pacote do acordo Nuclear com a Alemanha. Conforme auditorias do
Tribunal de Contas da União (TCU), sem depósito definitivo (CENTENA) para armazenar
rejeitos de baixa e média atividade de Angra 1 e Angra 2, as centrais atômicas
terão de ser desligadas em 2028.
As Unidades de Armazenamento
a Seco (UAS) onde os elementos combustíveis usados (urânio irradiado) estão
sendo depositados, têm capacidade para operar até 2045. E depois? Sem
investimentos em recursos humanos, na formação e qualificação de especialistas,
o preço a pagar poderá ser bem mais alto. FOTO: CENTRAL NUCLEAR DE ANGRA –
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