Os notáveis compositores Cartola e Carlos Cachaça marcaram seus nomes na história, também, por serem os primeiros a homenagear um dos maiores físicos brasileiros, com o samba “Ciência e Arte”, no carnaval de 1947. O genial cientista César Lattes, que neste ano de 2024 está sendo homenageado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), no centenário de seu nascimento, foi saudado pela dupla de sambistas quando a Estação Primeira de Mangueira, escola de samba do Rio de Janeiro, foi uma das primeiras a abordar o tema ciência e arte em um samba-enredo. Em 1947, com “Brasil, ciência e arte”, título também divulgado da composição de Carlos Cachaça e Cartola, a escola conquistou o segundo lugar no carnaval carioca. O samba-enredo celebra o físico brasileiro César Lattes, o primeiro cientista no mundo a produzir artificialmente a partícula Meson pi, capaz de manter os prótons unidos.
A descoberta teve grande repercussão mundial na Física Moderna, mas Lattes teria sido injustiçado. O cientista japonês Hideki Yukava que previu teoricamente a existência da partícula em 1935 e o inglês Cecil Frank Powell que detectou o Meson pi, na natureza, ganharam o Prêmio Nobel, segundo Isaac Asimov, em Gênios da Humanidade, da Bloch Editores.
Injustiças à parte, Cartola e Carlos Cachaça compuseram a obra-prima gravada inclusive pelo mestre cantor e compositor baiano, Gilberto Gil. Eis a letra: "Tu és meu Brasil em toda parte/Quer na ciência ou na arte/Portentoso e altaneiro/Os homens que escreveram tua história/Conquistaram tuas glórias/Epopeias triunfais/Quero neste pobre enredo/Reviver glorificando os homens teus/Levá-los ao panteão dos grandes imortais/Pois merecem muito mais/Não querendo levá-los ao cume da altura/Cientistas tu tens e tens cultura/E neste rude poema destes pobres vates/Há sábios como Pedro Américo e Cesar Lattes”.
SBPC HOMENAGEIA CESAR LATTES E JOHANNA DOBEREINNER -
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) está realizando no Congresso Nacional, em Brasília, a exposição sobre o centenário Cesar Lattes e Johanna Döbereiner. Aberta no dia 6/8, a mostra ficará à disposição do público durante um mês, no Corredor Tereza da Câmara dos Deputados – “Túnel do Tempo”. Com curadoria de Ildeu de Castro Moreira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente de honra da SBPC, a mostra aborda a história desses dois cientistas, cujos centenários de nascimento se comemoram neste ano.
Döbereiner e Lattes foram importantes para a ciência brasileira deixaram um imenso legado para o País e que persiste até hoje. Para a realização da exposição, a SBPC contou com a colaboração de outras instituições, como a Academia Brasileira de Ciências (ABC), o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPC), o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e a Embrapa, além da deputada federal Benedita da Silva.
“Cesar Lattes é um dos cientistas brasileiros mais renomados do País. Ele fez muito pela ciência mundial e pela ciência no Brasil. Sua trajetória demonstra não apenas um comprometimento com a física experimental, mas também com o desenvolvimento científico do País. Lattes utilizou seu imenso capital científico para contribuir para a institucionalização e o avanço da ciência brasileira”, ressalta Ildeu de Castro Moreira.
Lattes, relembra, ficou conhecido por ser um dos descobridores da partícula subatômica méson pi (píon) nos raios cósmicos e depois em detectá-la em acelerador de partícula. Ela tem tal importância que o Prêmio Nobel de Física foi concedido a Cecil Powell (1950), um de seus descobridores nos raios cósmicos, e o outro a Hideki Yukawa (1949), que previu a existência desta partícula importante para a coesão do núcleo atômico. Para além de suas descobertas científicas, Cesar Lattes foi fundamental para a criação de várias instituições e centros de pesquisas. Um deles foi o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, que ajudou a fundar em 1949.
SETE VEZES INDICADO PARA O PRÊMIO NOBEL -
Ildeu Moreira lembra ainda que, além do CBPF, Lattes foi um dos fundadores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em 1951. A criação do CNPq foi um movimento estratégico para o desenvolvimento da ciência no Brasil. Lattes, ainda, contribuiu também para o estabelecimento do Instituto de Física Gleb Wataghin, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e para diversas outras iniciativas importantes de cooperação científica internacional, como a Cooperação Brasil-Japão, iniciada por ele e Yukawa em 1959. Lattes foi indicado sete vezes para o prêmio Nobel de Física.
Johanna Döbereiner, também homenageada pelo seu centenário de nascimento, “foi pioneira no estudo da biologia do solo e na pesquisa sobre a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) nas plantas por meio de bactérias descoberta que revolucionou a agricultura e que economiza, a cada ano, bilhões de dólares para a agricultura brasileira”, exalta Ildeu de Castro Moreira.
PROCESSO BIOLÓGICO -
Ele destacou que uma grande descoberta de Johanna, que a tornou cientificamente reconhecida no mundo, foi a de que gramíneas como o milho e o trigo também podem se beneficiar desse processo biológico. Nascida em 28 de novembro de 1924 na então Tchecoslováquia, Johanna Döbereiner se formou em Engenharia Agrônoma pela Universidade de Munique, migrou para o Brasil em 1950 e se naturalizou brasileira. Trabalhou no Instituto de Ecologia e Experimentação Agrícola, hoje Embrapa Agrobiologia. Por seu trabalho, recebeu inúmeros prêmios internacionais e foi indicada ao Prêmio Nobel de Química, em 1997. Em 2018, foi homenageada em um selo postal brasileiro, juntamente com Cesar Lattes, e está consagrada como uma das maiores cientistas brasileiras.
Para Moreira, expor a vida desses cientistas nos corredores do Congresso tem como objetivo mostrar aos parlamentares e a todos que trabalham e passam pelo Congresso Nacional, a importância da pesquisa científica no desenvolvimento econômico e social do País e de se investir nela. “Queremos também mostrar que temos capacidade humana no Brasil capaz de contribuir para o seu desenvolvimento e que investir em ciência básica pode trazer benefícios significativos para o País”, finaliza.
POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA -
A secretária-geral da SBPC, Claudia Linhares, afirma que a entidade vem fazendo um grande investimento em exposições como meio efetivo de divulgação e popularização da ciência. “Ao expor no Congresso Nacional, queremos não apenas que os parlamentares tenham dimensão da ciência que se fez e se faz no Brasil, mas também que esse conhecimento chegue ao grande público que transita pelo Congresso Nacional. Nos últimos anos fizemos belíssimas exposições no Congresso: Centenário do Eclipse de Sobral, Bicentenário do Fritz Muller e Faces da Ciência, esta última, em comemoração do bicentenário da independência, era uma pequena amostra de cientistas relevantes ao longo dos 200 anos da República. Mais uma vez, esperamos que essa exposição do centenário do Lattes e Döbereiner revele e sensibilize os parlamentares da importância fundamental para o Brasil dos investimentos em pesquisa científica”.
(FOTOS: ACERVO – CESAR LATTES –
(Fontes: Núcleo de Estudos da Divulgação Científica/Carnaval - SBPC - Brasil, a Bomba Oculta - Gryphus/1993) –
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Tânia Malheiros nos dando, como sempre, informações relevantes e surpreendentes. Obrigada!
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