Mais uma vítima
do trabalho com radiação, na Nuclemon, em São Paulo, sucedida pela estatal
Indústrias Nucleares do Brasil (INB), morreu de câncer esta semana, sem receber
a indenização requerida na Justiça. Seu nome é Otaviano Inácio de Oliveira, 63
anos, que trabalhou sozinho num forno do setor de tório (material radioativo),
de março de 1977 a agosto de 1993, quando foi demitido.
“Me mandaram embora quando a
empresa fechou”, contou Otaviano, no ano passado, durante entrevista, enquanto
amparava a bolsa injetada em seu corpo, parte do tratamento, após a extração de
tumor maligno no intestino. Otaviano
pesava cerca de 45 quilos e mal conseguia falar. Até hoje, dezenas de ex-trabalhadores da
Nuclemon, a maioria doentes, lutam na Justiça, para tentar receber
indenizações.
A Nuclemon (sucessora da Usina de Santo Amaro/USAM) funcionou no
bairro paulistano do Brooklin, entre as décadas de 40 e 90, período em que
chegou a ter entre 500 a 700 empregados na planta, manuseando material
radioativo, extraído de terras raras, como urânio e tório, sem as mínimas
condições de segurança. As areias monazíticas eram subtraídas do litoral das
praias do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia.
A empresa fechou no início da
década de 90, após denúncia de contaminação divulgada pela imprensa, deixando
como herança um número incontável de doentes. Na época, várias inspeções comprovaram
contaminação nos estabelecimentos de beneficiamento das terras raras do
Brooklin e de Interlagos (USIN), para onde o material radioativo era também
transportado.
Inicialmente foram identificados cerca de 150 trabalhadores
doentes, pela médica Maria Vera Cruz de Oliveira Castellano, do Centro de
Referência em Saúde do Trabalhador de Santo Amaro (CEREST). Ela começou a
observar um grande número de trabalhadores da empresa que procurava o local com
problemas graves de saúde. O cerco às instalações da empresa teve a
participação do então Ministério do Trabalho, através da auditora fiscal do
Trabalho, Fernanda Giannasi; a direção do Sindicato dos Químicos de São Paulo; e
o Ministério Público Estadual.
Os casos de doentes por contaminação radioativa
motivaram a criação da Associação Nacional dos Trabalhadores da Produção de
Energia Nuclear (ANTPEN), presidida por José Venâncio Alves. A entidade reúne hoje
cerca de 200 vítimas e familiares dos que já morreram.
A ANTPEN luta, desde
então, para que as vítimas tenham pelo menos tratamento, através de plano de
saúde, o que já foi várias vezes contestado pela empresa na Justiça.
COVID-19 e
VITIMAS -
No início de abril, o Blog divulgou uma decisão da Justiça, favorável
aos ex-trabalhadores, por conta do coronavírus (COVID-19). A pandemia pesou na
decisão judicial determinando a concessão de plano de saúde para cerca de 200
trabalhadores.
A decisão tem a assinatura do juiz titular da 20ª Vara do
Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região de São Paulo, Eduardo Marques Vieira
Araújo, atendendo ao pedido da ANTPEN.
O magistrado levou em conta que a maior
parte dos trabalhadores têm mais de 50 anos e está vulnerável, “devido à
fragilidade do sistema imunológico, tornando o caso ainda mais delicado”.
Segundo a advogada Érica Coutinho, que defende à ANTPEN, até agora apenas 60
associados, que integram uma outra ação, movida pelo advogado Luis Carlos Moro,
são assistidos pelo plano de saúde. Mas a decisão do magistrado Eduardo Marques
Vieira Araújo, abrange todo o grupo, e familiares de trabalhadores falecidos.
“O juiz verificou a urgência da situação, diante da COVID-19, porque o plano de
saúde estanca a sangria do problema”, comentou a advogada. Segundo ela, o juiz
analisou o perigo da demora do atendimento aos enfermos, diante da pandemia que
se alastra no país. O magistrado analisou também a verdade dos fatos, de acordo
com os documentos que estão no processo.
“Esperamos que a Justiça seja
cumprida, porque os trabalhadores estão morrendo ao longo de todo esse
processo, que ainda terá uma sentença final, na qual requeremos outros
benefícios como tratamento de quimioterapia, radioterapia, psicológico, entre outros”,
informou a advogada. Segundo ela, a INB
não contestou a decisão.
Lamentável a morosidade de nossa Justiça causando muitas mortes de trabalhadores em todo Brasil em todas áreas
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