Especialistas do setor nuclear nacional criticaram a Proposta de Emenda à Constituição (PEC), do deputado federal Kim Kataguiri, 29 anos, (União Brasil–SP), apresentada esta semana (7/10), que autoriza o desenvolvimento de armas nucleares no Brasil para fins de defesa do território nacional em caso de ataque. A PEC da “bomba nuclear”, como está sendo chamada, autoriza as Forças Armadas a desenvolvam a tecnologia a partir da autorização expressa do presidente da República.
“A proposta é juridicamente inadmissível, estrategicamente desastrosa, economicamente insustentável e moralmente indefensável”, afirmou o engenheiro nuclear Leonam Guimarães, membro do grupo de assessoria da direção da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ex-presidente da Eletronuclear.
Na opinião do integrante da AIEA, a PEC “destruiria conquistas diplomáticas e tecnológicas acumuladas em mais de meio século e colocaria o Brasil em rota de colisão com a comunidade internacional”. O Brasil, destacou, “não precisa de armas nucleares para ser respeitado; precisa, sim, reafirmar sua liderança ética, científica e pacífica no uso responsável do átomo”. A proposta correta, disse é “defender a Constituição, a soberania real e o futuro do País”.
POTÊNCIAS USAM O PODER -
A proposta do deputado também determina que o Brasil renuncie aos tratados internacionais que restringem o desenvolvimento de armas nucleares, como o TNP (Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares) e o Tratado de Tlatelolco. Ao justificar a PEC, o parlamentar afirma que o mundo vive uma nova era de instabilidade geopolítica, em que grandes potências usam o poder nuclear como instrumento de dissuasão e equilíbrio de forças.
Para o ex-presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), mestre em engenharia pela Coppe/UFR, engenheiro Carlos Henrique da Costa Maria, o Brasil tem outras prioridades; nada tem a ver com armas nucleares.
"O Brasil tem que avançar na exploração de suas jazidas de urânio e incrementar com rapidez todo o processo de enriquecimento”. Para isso, afirmou, “deve aumentar substancialmente o processo de transformação do yellow cake em gás de hexa fluoreto de urânio e ampliar significativamente o número de centrífugas”. E completou: “O Brasil é signatário do acordo de não proliferação de armas nucleares e, portanto, não deve produzir bombas atômicas”.
Para o engenheiro Celso Cunha, presidente da Associação Brasileira do Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), "o setor nuclear tem muita coisa para fazer e esta não é uma delas. O deputado demonstra total desconhecimento da geopolítica e está olhando para interesses que não são os do país", comentou. E ironizou: "Não daremos palco a ele".
CLIMA DE HISTERIA -
A engenheira nuclear Olga Simbalista, acredita que um “clima de histeria” vem acometendo o mundo por conta de guerras e ameaças; e o deputado pode ter sido influenciado.
“Este clima está acontecendo desde o início de duas guerras inimagináveis, uma na Europa, envolvendo Rússia e Ucrânia; outra no Oriente entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza. E, depois associadas às recentes manifestações do presidente dos EUA de anexar México, Panamá e Canadá ao território americano, comprar a Groenlândia, lançar ataque militar contra a Venezuela e outras sandices similares, é possível até ver nosso país ser também ameaçado, em particular devido a ambições quanto à posse da Amazônia, tida como o pulmão da humanidade e, portanto pertencente a todos”, comentou.
Olga Simbalista é membro da Academia Nacional de Engenharia, do Conselho de Notáveis da Confederação Nacional do Comércio, Conselho de Administração da Associação Comercial do rio de Janeiro (ACRJ) e da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), além da Seção Latino Americana da American Nuclear Society, por exemplo.
Diante de tantos conflitos e ameaças, ela não apoia, mas faz uma espécie de mediação à ideia do deputado: “Como escreveu Guimarães Rosa, dito pelo personagem Riobaldo, em seu livro mais famoso, Grande Sertão: Veredas, Viver é muito perigoso”, comentou. “E está ficando cada vez mais”, alertou.
(FOTOS: acervos pessoais)-
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