segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Empregado da INB acidentado teve contato com materiais radioativo e químico, denuncia SINDMINE

 


O funcionário da Unidade de Concentração de Urânio (URA), em Caetité, na Bahia, que caiu em uma das oito células do setor de extração de urânio (área 160), na quarta-feira (1/10), teve contato com solvente, resíduos radioativos de urânio, cloreto e ácido sulfúrico. Os materiais contaminantes atingiram o corpo da vítima (braços e quadril).  As informações constam em nota divulgada hoje (6/10) pelo Sindicato dos Mineradores de Brumado e Micro Região Filiado ao CTB e Dieese (SINDMINE) que cobra informações e medidas urgentes da Indústrias Nucleares do Brasil (INB) responsável pela instalação. 

O fato de a INB não ter acionado da Brigada de Emergência, sob a alegação de que não se tratava de emergência, é “grave falha nos protocolos de segurança em ambiente radioativo e químico”, afirmou o Sindicato que exige investigação imediata do acidente, com participação Sindical. O acidente ocorreu quando funcionário tentava realizar a limpeza do local de forma braçal, o que deveria ser feito por uma bomba de sucção. Enquanto a empresa minimiza o acidente divulgando em notas internas que o funcionário sofreu “pequenas escoriações”, ele relata exposição significativa, atingindo braços e quadril, o que configura risco sério à saúde ocupacional, informou o SINDMINE. 

“Além disso, o serviço estava sendo executado sem Licença de Trabalho (LT) e de forma inadequada, sem avaliação de risco em área crítica, com produtos químicos e radioativos, é uma falha grave e inaceitável’, destacou o Sindicato, que “manifesta profunda indignação e preocupação com o acidente”.

O SINDMINE cobra da INB medidas imediatas para garantir a segurança e integridade dos trabalhadores, entre elas, a publicação de nota oficial sobre o acidente; emissão imediata de comunicado público e medidas adotadas e acompanhamento do trabalhador. E mais: assistência integral ao trabalhador, garantia de acompanhamento médico, toxicológico e radiológico completo, com total transparência nos resultados dos exames. E investigação com participação sindical, instalação de comissão de investigação para apurar causas do acidente, especialmente a execução sem LT e o não acionamento da Brigada de Emergência, assegurando a participação efetiva do SINDMINE. 

O Sindicato também exige a revisão de protocolos e atualização imediata dos procedimentos de segurança na Área 160, onde o acidente ocorreu, “eliminando práticas manuais perigosas e investindo em métodos mecanizados seguros”. 

ACIDENTE - 

A INB divulgou nota interna sobre o caso do operário, revelado pelo BLOG anteontem, com exclusividade. O trabalhador caiu e se feriu ao pisar numa tampa de ferro que estava aberta, em uma das oito células do setor de extração de urânio (área 160) às 10h30 de quarta-feira (1/10). Em nota interna de esclarecimento a INB afirmou que a informação do BLOG “não procede”. Mas logo em seguida reiterou: “O fato envolveu um empregado que, durante atividade rotineira no setor de extração, sofreu uma queda em compartimento contendo solvente orgânico descarregado”. A empresa nega e confirma ao mesmo tempo. Não informa como e porque o empregado sofreu a queda. 

A reportagem informa que o trabalhador foi atendido, o mínimo que se espera. A INB também confirma e tenta amenizar a gravidade do ocorrido: “O trabalhador foi prontamente atendido pela equipe presente, recebendo os primeiros cuidados ainda no local”. E mais: “O empregado sofreu apenas pequenas escoriações, sem maior gravidade, e passa bem”. O Blog também informou que o trabalhador teve alta no dia seguinte. A INB tenta, mais uma vez desqualificar a gravidade do caso ao informar que a “atividade rotineira não demandava licença de trabalho específica da área de segurança”. Em quais situações há a necessidade de licença de trabalho? 

A INB, que só reconheceu o caso internamente. Admitiu que “por precaução foram realizados exames de imagem, laboratoriais e consulta ao Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox)”. Não seria uma obrigação da empresa? E completa: trabalhador “também será submetido a bioanálises e exames específicos adicionais”. O empregado, afirma a empresa, “está sob acompanhamento integral das áreas de Saúde Ocupacional, Segurança do Trabalho, Radioproteção e Serviço Social da INB”. A URA tem cerca de 280 empregados seletivos e 300 terceirizados.

ÚNICA MINERAÇÃO DE URÂNIO NO BRASIL - 

Segundo as informações oficiais da INB, na Unidade de Concentração de Urânio (URA), situada no município de Caetité (BA), está implantada a única mineração de urânio em atividade no país. Nela são realizadas as duas primeiras etapas do ciclo do combustível nuclear: a mineração e o beneficiamento do minério, que resulta no produto chamado concentrado de urânio ou yellowcake. A unidade ocupa uma área de 1.700 hectares, localizada em uma província mineral com recursos que chegam a 87 mil toneladas de urânio e onde estão identificados 17 depósitos minerais. 

De 2000 a 2015, a INB Caetité produziu 3.750 toneladas de concentrado de urânio a partir da extração a céu aberto de uma dessas jazidas – a mina Cachoeira. A mina que se encontra em operação hoje é a mina do Engenho. O concentrado de urânio produzido pela INB é transportado até o porto de Salvador, de onde segue para a Europa, onde é submetido a outro processo do ciclo do combustível nuclear: a conversão, que é a transformação do concentrado em gás (hexafluoreto de urânio – UF6). Somente em forma de gás o urânio pode ser enriquecido. 

(FOTO: INB) -– 

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